terça-feira, 13 de agosto de 2013

MEDIDA INCERTA - Abaixo da casa dos 94 kg

Cláudio Messias*

Perder peso requer dupla disposição. A primeira delas, claro, é por controlar os tipos de alimentos que entram no organismo. Já a outra disposição é literal, ou seja, conciliar a reeducação alimentar com algum tipo de atividade física que fuja da rotina. Exercitar o corpo faz é, entendo, o principal estímulo para que os resultados venham em forma não apenas de gordura eliminada, mas, essencialmente, em qualidade de vida.

Em abril do ano passado, quando ainda figurava como colunista colaborador do site Assiscity, de minha amiga Bruna Fernandes, iniciei publicamente o desafio de reduzir meu índice de massa corporal. Havia retornado profissionalmente de compromissos em Florianópolis e, na balança, o pesadelo de chegar aos 104 quilos. Tudo isso já foi narrado aqui, no Blog, mas aqueles que agora chegam a esse espaço precisam entender o contexto para saber que "medida incerta" é, na realidade, uma paródia ao quadro do programa Fantástico.

Não, não tenho um personal trainer que monitora minhas atividades. E nem recorri a nutricionistas ou nutrólogas. O único profissional médico que consultei, ainda assim por rotina, é meu cardiologista, o competente Marcos Elias Nicolau. Não houve determinação, mas, sim, orientação: reduzir o consumo, em meu cardápio diário, de três elementos: sal, açúcar e gordura animal. Comecei pelo açúcar, em 2010, avancei 2011 reduzindo o sal e passei 2012 substituindo a gordura animal.

A pergunta frequente, aqui, é: se reduzi isso tudo, como posso ter chegado aos inéditos 104 quilos em abril do ano passado. Respondo: estresse e ansiedade gerados pela gestão da reforma de nossa casa, um desafio que consumiu 15 meses de nossa vida em família. Comíamos com qualidade, porém exagerávamos na quantidade. E com estresse o ânimo para as atividades físicas é nenhum. Comida demais, exercício de menos. Mas, nada pode contra um outro fator básico: a decisão. Sim, muito mais do que vontade, entendo que precisamos tomar decisões. E há decisões tomadas contra a vontade.

Foi contra a vontade do corpo e da alma que comecei, em abril de 2012, a incluir uma rotina permanente de exercícios em minha vida cotidiana. Para compensar os neurônios que a academia e a pesquisa científica consomem tirei igualmente do corpo as células de gordura. Caminhadas matinais de uma hora, três vezes por semana, somadas a hidroginástica, no clube, nos inícios de noite. Refiz meus grupos de amizade e incluí na agenda semanal o compromisso de toda quarta-feira à noite jantar com o pessoal da bocha, no mesmo clube. Não jogo bocha até hoje; apenas observo. Mas a cada cardápio diferente controlo o ímpeto e como somente o necessário. Novas amizades e nova auto-postura frente ao pecado da gula.

Em janeiro deste ano comecei a correr. Comecei no Parque Buracão, mas sentia fortes dores na coluna. Tenho uma escoliose diagnosticada pelo ortopedista André Mello. E a recomendação, então, foi para que minhas caminhadas e minhas corridas acontecessem em pista com pedriscos. O motivo: esse tipo de piso diminui o atrito do corpo - com excesso de peso - com o solo. Deu resultado e, a partir de maio, comecei a intercalar voltas, na pista, com caminhada e corrida. A cada 3 voltas no campo, 1 quilômetro. Assim, inicio com 6 voltas caminhando, corro mais 6 voltas e encerro com 6 voltas de caminhada.

Depois de iniciado o desafio, em abril do ano passado, completei um ano dessa rotina perdendo 8 quilos. Repito: não fiz regime algum, muito menos sacrifiquei refeições. O que adotei, sim, foi um cardápio alternativo. Meu café da manhã ainda contém café preto, leite, pão francês e margarina. Mas, de vez em quando incluo frutas como primeira refeição do dia e, quando sento à mesa do café, tenho café preto, pão integral e margarina light sem sal. No almoço, arroz ora branco, ora integral) temperado com o mínimo de sal e apenas um fio de azeite, feijão cozido e temperado com mínimo de sal e um fio de azeite, carnes ou cozidas ou assadas; jamais fritas. No final do dia, café da tarde com a família, repetindo o cardápio da manhã, e, à noite, frutas da época substituem o jantar. Em dias de fome inevitável, como no invernão, belisco uma carne do almoço.

Dois meses atrás postei, aqui, que vinha mantendo a queda sensível de peso até janeiro deste ano, mas que, de repente, comecei a ganhar peso simultaneamente à redução da medida abdominal. Como podia perder barriga e engordar simultaneamente? Nosso instrutor de hidroginástica no clube, Paulo, deu a explicação: com o novo ritmo de atividades físicas (além da hidroginástica eu ficava na piscina por mais 40 minutos, praticando corrida dentro d´água e exercícios abdominais na escada de acesso) eu ganhava massa muscular, e não gordura. A tendência era que por alguns meses esse equilíbrio do corpo ocorresse, com a certeza de que pararia.

Paulo é um dos profissionais que mais respeito. Professor de natação, conseguiu fazer com que minha sogra aprendesse a nadar. E, no meu caso, estava certíssimo. De quatro semanas para cá percebi que o movimento do marcador de peso da balança começou a mudar. Minha medida abdominal caiu mais um centímetro (agora, 105 centímetros), enquanto meu peso está na casa dos 94 quilos cravados. Estou, portanto, 10,7 quilos abaixo da medida de abril do ano passado.

Em minha rotina há reflexo direto dessa alteração feita tanto no cardápio quanto na carga de exercícios. As noites de sono, já disse aqui, são muito melhores e controladas. Ao ponto de aquela preguiça de depois do almoço já não representar, necessariamente, a sesta de repouso. Não sei se isso tem relação com as mudanças por que optei, mas é fato que não tiro o cochilo que durante décadas marcou meus períodos de almoço. Dormia de 15 minutos a meia hora, todos os dias. Simplesmente, não tenho sono depois do almoço. À noite, contudo, 23h30 é meu limite para começar os bocejos. Às 6h30 do dia seguinte estou em pé.

Algumas situações cômicas surgem nessa experiência de perder peso, gordura. Uma delas é que as calças 48 estão largas e deram lugar a calças 42. Afinal, são 11 centímetros a menos de circunferência abdominal. E se recorro a cintos para auxiliar a segurá-las, os furos de prender a fivela estão 'virgens', de maneira que fiquem expostos os três furos antes usados e já devidamente marcados. Nada comparável às cuecas. Inventar de usar uma cueca da época do início, ou seja, de abril do ano passado, é saber que ela vai deslizar cintura abaixo. Dia desses eu estava no supermercado e quando fui tirar a lista de produtos do bolso senti algo estranho lá no fundo, na altura do meio da coxa. Era o elástico da cueca, que havia descido.

Daqui por diante fico em estado de alerta, pois, como já sentenciei aqui, não quero entrar na neura de emagrecer a todo custo. Curto, sim, o bem estar proporcionado por um Cláudio Messias 10 quilos mais magro. Lembro, assim, de um quadro do programa homônimo Bem Estar, da Globo, em que uma repórter sai às ruas de uma grande cidade e leva um pacote de arroz nas mãos. Ela solta o pacote nas mãos do entrevistado ou da entrevistada e faz alusão ao desafio que é perder 5 quilos de peso. Quando aquele programa foi ao ar eu havia perdido 8 quilos e já me sentia feliz. Hoje, vejo que tirei de minha massa corporal o equivalente a dois pacotes de 5 quilos, não de arroz, mas de gordura.

Imaginei que chegaria aos 94 quilos somente em dezembro. Dois meses atrás deduzi, aqui, que as férias de julho, quando a família Lopes & Messias passa manhãs, tardes, noites e madrugadas confinada dentro de casa, me colocariam alguns quilos extras. Mas, não. Como sou o piloto do fogão quando estou em casa, esforço ao máximo para manter sal, açúcar e gordura animal como atores coadjuvantes no nosso espetáculo gastronômico. Deu certo, e o surpreendente é ver que continuo sem sacrificar minha cervejinha às quartas-feiras, aos sábados e aos domingos. Bebo moderadamente, procurando não exceder 4 latinhas em cada um desses dias.

Olho, agora, para dezembro e imagino que possa chegar lá, ao final do ano, com 92 quilos. É o limite daquilo que estabeleci, para que não ganhe aspecto de doente e não tenha, como em 2002, que explicar a uma vizinha que não, não com câncer, Aids ou qualquer outra doença séria. Estava - e estou-, sim, mais saudável do que nunca.





*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.


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