sexta-feira, 14 de agosto de 2020

14AGO - UM VOO PARA ASSIS - Por uma campanha para trazer a Azul Linhas Aéreas Brasileiras

 Cláudio Messias*

É de conhecimento a partir das postagens que faço aqui no Blog que atuo na imprensa desde 1985, tendo começado como aprendiz de técnica de externa na rádio Cultura AM, da Família Camargo. E decorridos esses 35 anos vi passar por Assis,SP, minha cidade natal, algumas companhias aéreas, seja em voos regulares, seja em operações esporádicas.

A operação de voos na cidade é facilitado, nesse tempo todo, pela estrutura do aeroporto estadual local. Aeronaves de médio e grande porte podem descer aqui sem esforço algum. E até bem pouco tempo atrás essas operações poderiam ser feitas, inclusive, à noite, pois havia um sistema de iluminação que segundo Amaral, antigo funcionário do aeroporto, hoje aposentado, dizia colocar Assis, à época (me refiro aos anos 1990) em vantagem em relação a Ourinhos, Marília e Presidente Prudente.

Dos anos 1980 pra cá dá para listar as empresas que ensaiaram implantar voos regulares em Assis: Pantanal (depois adquirida e incorporada pela/à TAM), Presidente Linhas Aéreas e, enfim, a TAM, com os voos charters que todo final de semana faziam dezenas de pessoas se dirigirem às margens da SP-270 para ver aterrissagens e decolagens dos lendários Fokker-100, hoje aposentados pela companhia.

É fato que Assis sempre reivindicou um voo regular com destino a São Paulo e/ou Mato Grosso do Sul, mas, pouco fez para que isso se tornasse regular. Cito o exemplo da Presidente Linhas Aéreas, que em 1997 iniciou operação partindo de Presidente Prudente, sua sede, passando por Assis, Ourinhos e, enfim, descendo em Congonhas. Sim, descia em Congonhas, no miolo da cidade de São Paulo.

Naquele voo inaugural estávamos, pelo Voz da Terra, eu e Fernando Meyer, diretor do setor gráfico. Além de nós e outros passageiros que já vinham de Prudente, o médico Roberto de Mello. Esse último comemorava a conquista para a cidade, pois seus deslocamentos à capital, para compromissos, eram semanais. 

Saímos de Assis às 8h30, passamos em Ourinhos 20 minutos depois e seguimos para São Paulo. Se a memória não falha, a aeronave era um Brasília. Silenciosa, em 50 minutos estava operando para descer em Congonhas, naquela cena famosa de parecer quase encostar no topo dos prédios dos arredores do aeroporto.

Pouco mais de um mês depois eu cumpria uma pauta jornalística com Roberto de Mello e o médico lamentava estar vendo cada vez menos passageiros nos voos da Presidente. De diários, os voos passaram a trissemanais, até que ficaram ofertados uma vez por semana. E até que a companhia desativou a linha de Assis, mantendo somente Prudente/São Paulo.

Naquela época do Cierga, hoje Civap, era forte, tinha a liderança de Zeca Santilli, então prefeito de Assis, mas, jamais colocou em pauta um tipo de política regional de apoio à operação da companhia aérea. Pelo contrário, prefeitos e presidentes de Câmaras, enfim, as prefeituras preferiam deslocar veículos oficiais para a capital a dialogar em convênio para aquisição de passagens que representassem custo similar ao erário.

Enfim, essa foi a derradeira experiência de Assis com uma linha aérea tendo como destino a capital paulista. Depois disso, os voos turísticos que levavam principalmente passageiros para Porto Seguro, na Bahia, acabaram saindo de Assis e ganhando como ponto de partida do aeroporto de Londrina, que, então, recebeu investimento pesado da Infraero. Igual roteiro seguiu o aeroporto de Presidente Prudente, que de 2014 pra cá passou a ser referência das agências de viagens, dada a dificuldade que as cidades de Londrina e Marília enfrentam nos períodos do ano em que há prevalência de nevoeiro e consequente baixa visibilidade.

Como postei anteriormente aqui no Blog, no dia 23 de julho retornei de Campina Grande, na Paraíba, onde trabalho, para Assis. Com a pandemia da Covid-19 as companhias aéreas suspenderam mais de 90% dos voos em todo o país, por falta de passageiros e por obediência aos protocolos de biossegurança. E minhas "férias" (somos obrigados a cumprir o recesso de julho, agendado como direito um ano antes) começaram com uma viagem de ônibus semi-leito de Campina Grande a Recife, na madrugada do dia 23. Às 9h20 decolamos de Recife, às 12h40 descemos em Campinas e às 14h20 saímos de Campinas para Marília.

A história já foi relatada, mas vale ressaltar: quando fiz o check-in de Campinas para Marília só apareciam 9 assentos. Motivo: a aeronave não era o tradicional ATR, mas um Cessna Comodoro. Fui, então, atrás de notícias sobre essa tal aeronave. E assustei ainda mais quando vi o porte. Logo imaginei que poderia virar manchete de noticiário, pensando no trágico.

Meu amigo Alessandro Palma visualizou postagem que fiz no Grupo TG 1989 (grupo de WhatsApp com parte dos ex-atiradores do Tiro de Guerra em 1989) e me acalmou. Conhecia, ele, a aeronave, já tinha voado em modelo igual e disse ser tranquilo demais.

Claro, bobagem minha a desconfiança. Quando o ônibus da concessionária de administração de Viracopos estacionou ao lado daquele avião pequeno, o coração safenado deu, porém, um aperto. Mas, dali em diante, só coisas boas. Aeronave confortável, uma interação com os pilotos muito interessante, um visual panorâmico que é exclusivo desse modelo, uma aterrissagem cuja tranquilidade pode ser conferida no video que postei sobre, enfim.

Durante os quase 80 minutos de interação com os demais passageiros dialoguei bastante com um jovem piloto da própria Azul, que estava indo a Marília em folga. Vestia, inclusive, o traje de piloto. E relatei a ele toda essa experiência que aqui cito, de ter testemunhado, como jornalista, as diversas tentativas de se implantar um voo regular de Assis a São Paulo.

O próprio piloto, em folga, da Azul, que antes da decolagem discursava meio que acalmando os ânimos daqueles, iguais a mim, que assustaram com o porte do Cessna, citava que com a retomada da normalidade tanto da economia quanto do mercado do setor aéreo, depois da pandemia, surgiria a oportunidade de cidades com aeroporto estruturado solicitarem, por que não, o uso desses modelos de pequeno porte para, quem sabe, início de uma cultura de voos domésticos que viabilize inclusive adoção de aeronaves maiores.

Estávamos em três passageiros de Assis no mesmo voo. E os três fazem uso praticamente mensal de voos, seja da Azul ou de outras companhias, cruzando o Brasil e o mundo afora. E nós, nessas condições, seríamos amplamente contemplados com um voo doméstico de Assis a Campinas, pela Azul, com os Cessna Caravan.

Fiz uma simulação, hoje, de valores. Os prints de tela estão anexados a essa postagem. Viajar de Marília a Campinas pela Azul, em ida e volta, sai no custo de 280 reais. De Assis a São Paulo em ônibus comum o custo é de 260 reais.

Se alguém lamentar que descer em Campinas é incômodo é porque desconhece que a Azul tem ônibus próprio que leva passageiros, de hora em hora, de Viracopos a, por exemplo, os terminais Barra Funda e Tietê. O tempo desse deslocamento raramente passa de 1 hora, dependendo do congestionamento das marginais. Se, pois, de Assis a Campinas o voo for de 2 horas de duração, mais 1 hora até a Barra Funda (de onde se pega metrô para qualquer lugar da capital, ou mesmo Uber), arredonde-se 3 horas e meia de deslocamento.

De ônibus, todos sabem, tem de se sair de Assis meia-noite ou perto desse horário e chegar em São Paulo por volta de 6h00 ou 7h00, dependendo também de trânsito. Ficam-se seis horas dentro do ônibus, seja qual for o horário da viagem. Isso, para quem tem compromissos na cidade de São Paulo. Quem depende de voos saindo de Congonhas, Guarulhos ou mesmo Viracopos ou já sai cansado para o aeroporto ou chega à rodoviária esgotado, tendo de enfrentar 6 intermináveis horas até Assis.

Não se trata, pois, de campanha contra as companhias de ônibus. Minha opinião de que pagamos muito caro pela passagem de ônibus advém de anos e anos, mas, repito, a reflexão da opção das companhias aéreas para o trecho Assis/S. Paulo ou Assis/Campinas beneficiaria não somente passageiros regulares de voos domésticos, mas também a quem voa para fora do país ou regiões como Norte, Nordeste e Sul, que são mais desgastantes.

Assis, hoje, é um referencial universitário, favorecido principalmente pela conquista do curso de Medicina, mas já antes consolidado pela Unesp e, em sequência, pela Fema e pela própria Unip. O setor de agronegócios, todos sabemos, é outro filão consumidor do mercado aéreo brasileiro e poderia ser contemplado, aqui, com um voo regular.

Falar de voo diário pode ser exagero de início. Mas, voos às segundas, quartas e sextas, por que não?

De minha humilde ação estou, solitário, iniciando uma campanha para que Assis se manifeste sobre a viabilidade de implantação de voos da Azul com destino a Campinas. Como é de conhecimento, político não sou, nem nunca fui. Portanto, não me associo a liderança política alguma. E se essa frente de diálogo com a Azul for atravessada por qualquer que seja a figura da cidade ou região, imediatamente me afasto.

Como passageiro regular da Azul desde 2012 conheço o suficiente a companhia aérea para entendê-la como competente operadora do setor aéreo, sem ter dependido de ações político-partidárias para chegar à condição de liderança de mercado em que se encontra. Tem os preços mais viáveis, sempre, nos trajetos que faço pelo país todo. E, quero crer, praticaria preços similares ao que oferta em Marília e Presidente Prudente nessa nova demanda, caso assim der certo.

Penso que devamos tomar ações como essa que, se dão certo, implicam em benefícios a uma coletividade. O que a Azul puder fazer de bem, num voo novo, para mim, certamente representará contemplar a realidade cotidiana e profissional de muitos/as outros/as.

Amo minha cidade, a respeito severamente e comprovação disso é que, apesar de estar estabelecido profissionalmente em Campina Grande, na Paraíba, desde 2014, é aqui onde vivo e convivo com minha família, minha esposa, meus filhos, cada um numa realidade que, igual à minha, requer voos, longos trajetos.


* Professor universitário, é doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.


Rozana, que costuma ter tensão em voos, estava mais tranquila do que eu.

A visão pela janela é ampla: imagem feita logo após a decolagem

Em pouco mais de uma hora de viagem fizemos, claro, amizades



Altitude máxima atingida, abaixo, em aerovia, de modelos como os ATR
Parâmetro de preço de Marília a Campinas, pela Azul

Valor de passagem de ônibus Assis/S. Paulo na mesma data
'Card' da campanha que estou, sozinho, iniciando. Se vai dar certo, saberemos depois.


14AGO - MEDO DE AVIÃO - Aterrissagem no Cessna Caravan da Azul no Aeroporto de Marília, SP

quinta-feira, 5 de março de 2020

05MAR - O adeus ao comunicador e educador Juvenal Zanchetta


Cláudio Messias*

Imagem: Jornal da Segunda Online


Certa vez postei, em uma rede social, ante a uma de tantas barbáries que nos últimos anos fazem vítimas os comunicadores que cobrem atos de assassinos, que “quando um jornalista tomba, a democracia sucumbe”. Houve compartilhamentos, comentários, enfim, esse movimento todo que a velocidade das mídias sociais faz protagonizar.

Hoje, pela manhã, no meio do nosso café, em casa, aqui em Campina Grande, PB, somos surpreendidos pelo tombar de mais um colega. O comunicador e educador Juvenal Zanchetta Júnior. O câncer o tirou de nós e, como é típico dessa doença, de uma forma violenta. Violência não só delongada por mais de uma década de tratamentos no Brasil e nos Estados Unidos, mas advinda da vivência, nossa, com esse homem que jamais desistiu do prazer de viver.

Conheci o Zanchetta professor de inglês na condição de seu aluno, no Clybas, em 1986. Aulas nas noites de terças e quintas-feiras, depois do recreio. Às quintas eu levava exemplares da revista Bizz, com letras traduzidas, e ele levava a música em fita K-7, para ser reproduzida em radiogravador. Eu, redator e técnico de som na rádio Cultura AM/FM; ele, locutor na rádio Antena Jovem, recém-inaugurada, e estudante de Letras na Unesp.

Em 1988 recebi convite e aceitei trocar, no final do ano,  a Cultura pela Antena Jovem. Eu e Zanchetta quase trabalhamos juntos na ocasião. Ele, então formado em Letras, foi seguir seu trajeto como educador no início de 1989. Nossos reencontros, esporádicos, ocorriam em partidas de futebol na Crevapa ou na sede social dos funcionários da Nova América. Ou, ainda, nos torneios imprensa ou em ocasiões em que jornalistas de Assis se reuniam, como na ocasião da fundação do Jornal da Segunda, capitaneado por Reinaldo Nunes, o Português, e Júlio Cézar Garcia.

Em 1993, quando transitei do rádio para o jornal impresso, Juvenal Zanchetta era chefe do departamento de Comunicação da Prefeitura, gestão de José Santilli Sobrinho. Essa relação que ora misturava amizade, ora o lado profissional, foi um tanto conflitante quando assumi a função de editor do jornal A Gazeta do Vale, dada a forte personalidade do colega.

Ainda na gestão de Zeca Santilli mais uma experiência profissional entre ambos. Sob mediação da agência de publicidade MCP fui contratado como assessor de imprensa da feira agropecuária Ficar, em 1995, mantendo elo de trabalho com o departamento de Comunicação da Prefeitura chefiado por Zanchetta.

Na imprensa de Assis essa relação de amizade profissional foi findada em 1996, com o término do mandato de Zeca Santilli. À época eu ocupava a função de supervisor administrativo da sucursal de Assis do jornal Oeste Notícias, de Presidente Prudente.

Voltamos a reencontrar em 2004. Juvenal Zanchetta, apesar da passagem pela Prefeitura, fazia carreira na Unesp de Assis, como professor efetivo vinculado ao departamento de Educação. Naquele ano, começando a encerrar minha carreira formal de jornalista, eu havia voltado de Marília e dava início à graduação em História na Unesp.

No início do primeiro ano de curso tomei um café com Juvenal, na cantina da Unesp. Ele lecionava uma disciplina no curso de História e eu comentava que voltaria a ser aluno seu, com o que ele discordou, comentando: “estou iniciando um tratamento severo de saúde e justamente agora vou abdicar de dar essa disciplina”. Era, ali, o início de uma batalha pela sobrevivência.

Juvenal esteve nos Estados Unidos fazendo tratamentos caros. Reencontramos nos corredores da Unesp em 2007, quando eu estava prestes a me formar. Ele, vinculado ao programa de pós-graduação em Educação da Unesp em Marília, ouviu sobre meu objeto de mestrado, inter-relacionando Comunicação e Educação, e deu conselhos. Minha pesquisa, apontou, não estaria em Assis, Marília ou outra unidade da Unesp; estaria em São Paulo.

Duro nas palavras e de uma sinceridade temperada por palavras ora sarcásticas, ora bem-humoradas e/ou irônicas, Juvenal criticou meu objeto de pesquisa na pós-graduação. Definiu minha pretensão de analisar a produção midiática no espaço da escola como “chapa-branca”. Doeu ouvir falar aquilo de meu “filho”, pois concebemos nossos fenômenos científicos com um arcabouço teórico que advém de nosso capital cultural, de nossa identidade. E, como tudo na vida, bastou o tempo passar para agora, recentemente, após concluir meu doutorado, saber, eu, entender em que ponto o colega estava e está certo.

Casei em junho de 1994 e ainda guardo uma taça de um jogo de copos de cerveja que Juvenal me deu de presente. Não foi à igreja, por compromissos outros, mas passou em casa para deixar. 

A esposa, Rozana, anos depois igualmente protagonizaria história de vivência profissional com meu amigo. Formada em Letras pela mesma Unesp/Assis, ingressou como professora efetiva do departamento de Educação de Juvenal em 2009, estreitando, novamente, os momentos de vivência.

Em 2015 a minha saúde também fragilizou. Eu, submetido, às pressas, a uma cirurgia cardíaca, e Juvenal tratou de tranquilizar Rozana. E ele estava certo. Perto de sua briga pela vida, a minha era mais tênue. Era e é.

Por esses anos todos, desde 2004, testemunhamos um Juvenal Zanchetta Júnior que apesar de tudo jamais abdicou de sua responsabilidade para com a pesquisa científica. Faleceu, hoje, no último capítulo de briga ferrenha contra o câncer. Apenas 56 anos de idade e com planos ativos de aposentadoria vindoura, não sem antes fazer o concurso, já aberto, de professor Titular. Não deu tempo e, agora, sobra-nos o lamento por mensurar o quão é injusto, dolorido e cruel é a comunidade científica despedir-se de um protagonista tão jovem, tão forte, tão eternamente vivo nas linhas escritas que deixou.

Apenas concluindo o enunciado que abre essa homenagem póstuma, a democracia está sucumbida pois perdemos mais numa voz indignada com o momento cruelmente avassalador por que passa, política e partidariamente, o país.

* Jornalista e historiador, é doutor em Ciências da Comunicação pela USP e professor na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.