quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Os meus 107 motivos para amar Assis


12 Julho 2012


Cláudio Messias*


1 1.  Aqui nasci, no Hospital Sorocabana, no nono dia de fevereiro de 1970.
 
2.   Assis tem a Escola Clybas, que um dia foi IEE ou, simplesmente, Instituto. Lá, cursei da primeira série ao primeiro colegial.
 
3.   De maior erosão urbana do país na década de 1960 (dado questionável esse) o Buracão foi transformado em área de lazer frequentada pela cidade inteira. É o nosso Ibirapuera.
 
4.   O melhor pãozinho francês que já comi nas minhas passagens por quatro cantos do país está na Padaria Pão da Vida, na vila Operária.
 
5.    Ir à feira-livre às quintas, na Santa Cecília, e aos domingos, a Praça da Bandeira, e rever amigos, enfim, viver em comunidade.
 
6.   Tomar caldo de cana; hoje, na tiazinha que em dias de sol atende no calçadão do Parque Buracão; no passado, na garapeira que ficava na praça do Hospital Sorocabana.
 
7.   A Associação Atlética Ferroviária, cujos áureos tempos coincidiram com a fase pré-privatização da Fepasa. Lá, depois de nadar com meus irmãos, comer suspiro de groselha e paçoca, quando havia trocados no bolso.
 
8.   Na base da saudade, frequentava o ponto do seo João da Banca, na J.V., onde comprava revistas encalhadas de mulheres peladas, ou revistas peladas de mulheres encalhadas.
 
9.   Aqui, no número 1203 da Santos Dumont, continua em pé, feita em madeira, a casa que era de minha avó paterna, local onde subi em pés de goiaba, laranja, jabuticaba e mexerica, e também tratei de galos e galinhas e aprendiz a fazer horta.
 
10.               As melhores e mais ressecantes intestinais jabuticabas que já chupei ficavam e ficam nos resistentes pomares do Buracão e do museu, hoje Casa de Taipas.
 
11.               Lembrar das aulas de seo Orlando, professor de Desenho e Matemática no Instituto, famoso por suas filosóficas colocações sobre a vida e seus tiques de soprar “shii, shii” e gesticular com os dedos indicador e médio em riste.
 
12.               Sentir um aperto no peito sabendo que o apito do depósito da Fepasa não ecoa mais para nos chamar, às 11h00, para o banho seguido de almoço antes de ir para a escola.
 
13.               Ainda sentir o cheiro do primeiro churrasco que comi, no casamento de meu tio Luis Sussel, no início da década de 1980.
 
14.               Ter o Centro Social Urbano à disposição, com quiosques para churrascos e festas e piscina olímpica para a diversão, de graça. CSU inaugurado com a vinda de Paulo Maluf à cidade.
 
15.               Deixar o carro na garagem e, no caminho ao centro, refazer os diversos trajetos possíveis, atentando ao movimento de cada uma das casas que ora ainda lá estão, ora deram lugar à intermitente renovação.
 
16.               Parar na Praça da Bíblia, antiga Praça Sorocabana, sentar em um banco e rever, na memória, minhas brincadeiras no parquinho, a fonte iluminada ligada nas noites de domingo e meus filhos capotando das bicicletas e vindo até mim chorando com a boca aberta feito uma caçapa.
 
17.               Ir ao Cinemão, o Cine Piracaia, da FAC, e lembrar que ali sentei pela primeira vez para ver “Os Saltimbancos Trapalhões”, depois, pela primeira vez com aquela que hoje seria minha esposa, vendo “O Mistério de Candman” (eu disse a ela que era comédia, mas era um terror de lascar), mais adiante com meus filhos saindo do colo, vendo a animação “Alladin” e, mais recentemente, “Os Vingadores”. Antes, saindo e comendo cachorro-quente que só tinha pão, molho de tomate, salsicha, cat-chup e mostarda, de seu Onofre, na Praça da Bandeira.
 
18.               Ter sonhado com o estádio do Vocem quando ia à Ferroviária e, no inferninho, arriscava a vida sem saber nas arquibancadas de madeira. Tudo para ver o Esquadrão da Fé quase subir para a Primeira Divisão.
 
19.               Ter pisado no palco, também chamado de terreiro, onde seria o Tonicão. E ali ter jogado no São José, time do hoje coveiro Bodão, irmão de Zé David, o maior ídolo da história do Vocem.
 
20.               Ter experimentado por alguns meses a rotina de goleiro dentão do Vocem, conduzido e apresentado por seo Limpião, amigo de ferrovia de meu pai e roupeiro do Esquadrão da Fé.
 
21.               Recordar do tempo em que, nas férias, ‘caçávamos’ minas Buracão adentro. Não piriguetes, mas nascentes de água mesmo, que davam origem ao Fortuninha. Sem esgoto e com direito a encontrar lebistes para colocar em aquário.
 
22.               Olhar para a avenida Dom Antônio e lembrar que ali, trinta anos atrás, não havia canteiro central, parte da via era de terra e tinha a delimitação de onde acabava a cidade, perto do então Irmãos Furlan; dali por diante, só a “faculdade”, hoje Unesp.
 
23.               Saudade de uma época em que ir ao Mercadão exigia colocar roupa “de sair”, principalmente aos sábados, quando a população rural ali se reunia para as compras.
 
24.               A primeira compra com meu primeiro salário, de office-boy, na antiga loja Sabeh, na esquina do cinema: uma camisa pólo branca, paga à vista. Na companhia de meus amigos Josimar Peres, Paulo Barata Ramos, Brás Xavier e Marcinho Gatti. Isso, em 1985.
 
25.               Jogar futebol em sistema de “golzinho”, na rua, ora em vias como a Cândido Mota, ora na Sílvio Bombonatti.
 
26.               Conversas até as primeiras horas da madrugada com os amigos na Praça da Bíblia, sem risco de assaltos e, inclusive, vendo casas com as portas abertas e as TVs, ligadas.
 
27.               O primeiro gole de cerveja, com a mesma turma de amigos, na pizzaria Duas Rodas, recebendo a visita, à mesa, de Nelinho, o Poeta Navegante, que até que tentou, mas não conseguiu vender exemplar de seu livro àquela turma de jovens que mal recebiam um salário mínimo por mês.
 
28.               Meu primeiro tombo de bicicleta, simultâneo às minhas pedaladas iniciais, não foi na monareta Monark que sofridamente nossos pais nos deram, em casa, em 1979; foi um ano antes, quando, com oito anos de idade subi numa Barra Circular de Marquinhos Nogueira, pedalei Santos Dumont abaixo e percorri duas quadras, até esfarelar bicicleta e joelho na sarjeta. Sim, a rua era asfaltada. O condutor é que era desproporcional ao tamanho do veículo.
 
29.               O inicial dos diplomas no Instituto, em curso de datilografia com seo Adélio, que nos fazia ritualmente dobrar as capas cinzas das Olivetti nas emendas, condição de avaliação final. Não sei onde foram parar, mas devem existir, por algum arquivo de família, páginas e mais páginas que datilografei sobre a vida, pré-fase de meu ingresso, anos depois, no jornalismo, quando passei a datilografar informações da vida cotidiana. E nunca mais parei.
 
30.               Comprar a granel no empório do seo Cândido, naquela fase em que, no final dos anos 1970, a Dom Antônio ainda não era asfaltada, nem a avenida Glória. Tudo marcado na caderneta, para meu pai pagar no início do mês seguinte.
 
31.               Buscar arroz na arrozeira em frente ao posto Toninho Rabelo, com cuidado ao passar por trás dos cavalos e/ou carroças ali estacionados. Ali retornei em 1998, com Lúcio Coelho, em reportagem alusiva ao aniversário de Assis.
 
32.               A amizade com a perseverante dupla Feliz e Fiel, que por tantos anos batalhou para conseguir gravar o primeiro disco, cuja contracapa trazia foto feita no trevo do auto posto Novoeste, com imagem da empresa de ônibus Florínea ao fundo.
 
33.               O contato com Piracaia, um anônimo violeiro a mim apresentado por Shelton, nome artístico que compunha dupla sertaneja Chips & Shelton. Entrevista mostrou Piracaia à cultura regional, rendendo tributo ao violeiro que dá nome ao Cine Municipal.
 
34.               Contrapor realidades em que ser rico era morar no edifício residencial Buralli, que anos depois teve todo o térreo ocupado pela mais popular das redes de magazine, a Casas Bahia, e olhar, hoje, para prédios que reúnem famílias igualmente felizes mas não necessariamente ricas em fortunas, como s conjuntos da CDHU.
 
35.               Ser amigo e, assim quer a vida, paciente de Eduardo Andreguetti e Valcir Coronado Antunes, reconhecidos pelo meio médico como uma das maiores autoridades da oftalmologia no país.
 
36.               Não me recordar, hoje, de ter cansaço quando saía da Santa Cecília e ia até duas quadras atrás da Prefeitura para me divertir em parques de diversões e em circos que vinham à cidade.
 
37.               Olhar para trás e saber reconhecer que uma surra ou alguns tapas de meus pais não foram agressões, mas, sim, uma fórmula de educação que dava e deu certo, comigo e com meus dois irmãos.
 
38.               Sentir saudade e perceber que nunca mais vi crianças repetindo as nossas brincadeiras de infância, como pique-latinha, puxa-puxa-cabelinho e mãe-da-rua.
 
39.               O orgulho que tive de minha cidade quando, em 1983, recebi a medalha de prata nos Jogos Escolares, em Marília, competição em que a cidade ficou à frente de Prudente e atrás somente de Marília. Minha modalidade: salto em altura, treinado por Parracho, o mais determinado e comprometido professor de Educação Física que já conheci.
 
40.               O sorriso amarelo que esbocei quando fui escolhido um dos tantos cabos do Tiro de Guerra na turma do subtenente Barcarolo, em 1989. Eu, com tantas críticas contra o regime, tendo de fazer TG e, ainda por cima, colocar a braçadeira branca de comando de turma. Ano com muitas história, sofrimento diário, mas, hoje, motivo de saudade.
 
41.               A sensação de felicidade quando retornei de São Paulo em 1993 para matricular-me no curso de Letras da Unesp em primeira chamada. Em 1992 eu havia feito supletivo no Henrique Zolner. Retorno à minha cidade, depois do inferno de vivência na capital por alguns meses. Daqui nunca mais saí, em residência, apesar de continuar via de regra trabalhando fora.
 
42.               Comer esfirra e tomar Coca-Cola todos os dias, depois das seis da tarde, na lanchonete Luiz XV, na Praça da Bandeira, de meu amigo Jorge.
 
43.               Saborear coxinha de frango e, depois, um picolé Tablito na lanchonete KibonCity.
 
44.               Inesquecível o primeiro sundae que tomei, aos 11 anos de idade, na companhia de Maião (Caixa Federal), a namorada dele na época (não me recordo o nome), Eliane (irmã) e Vitinho (cunhado na época). Isso, na Gullet’s.
 
45.               A pele da minha língua até hoje não se recompôs do primeiro churros que comi ali, em frente ao local onde hoje é o Assis Plaza Shopping. Isso lá pelos idos de 1983, quando o grande barato era sair para a avenida para comer churros. A massa estava pelando por dentro e, claro, na base da hipérbole, levou um pedaço da língua.
 
46.               Comprar - na época em que a vigilância sanitária permitia criar frangos, enfim, ter um verdadeiro sítio no quintal – quirera na moageira, situada nas proximidades da linha férrea, entre a Siqueira Campos e a rua Dr. Teixeira de Camargo, na vila Operária. Tarefa atribuída por minha avó paterna Florcela.
 
47.               Regar a plantação de couve que meu vodastro (segundo esposo de minha avó Florcela) Zé Rosa cultivava no terreno onde meu pai, José Messias, posteriormente ergueu nossa casa, hoje minha residência. As folhas de couve envelhecidas eram colhidas, picadas à faca e servidas aos mesmos frangos e galinhas que me levavam semanalmente à moageira.
 
48.               Escavar a calçada em frente à minha casa e encontrar a terra batida originária da antiga estrada de terra que ligava o centro de Assis à Água do Cervo, confirmando, assim, a história oral contada por meus antepassados, dando conta de que antes da rua André Perini havia outra via principal de acesso urbano da população rural.
 
49.               Recordar das boas e longas conversas com o saudoso Jurandir, histórico atendente da sorveteria Cristal.
 
50.               Ter sido amigo de infância de João Quarta-feira, tradicional balconista de João Corinthiano na pastelaria da avenida J.V. da Cunha e Silva.
 
51.               Na casa de Antônio Nogueira, o Tonho, amigo de trabalho de meu pai na Fepasa, ter assistido à final Corinthians 1 x 0 Ponte Preta, no Campeonato Paulista de 1977, marco inicial de meu ingresso ao bando de loucos mais apaixonados do Brasil.
 
52.               Não ter perdido um jogo sequer do Vocem, em Assis, seja na Ferroviária, seja no Marcelino de Souza, seja no Tonicão. Ora como torcedor, ora como jornalista. No início, despertado pelo carro de som Veraneio de Canton, o Gordo da Aviauto, que aos domingos pela manhã fazia a convocação da torcida mariana.
 
53.               Sair, em um domingo de 1986, com meus amigos Paulo Barata, Josimar Perez e Vágner Maracaí para uma caminhada seguindo os trilhos da Fepasa, sentido Horto Florestal. E dar conta somente no final da aventura de que o tempo de retorno é no mínimo o mesmo daquele levado para ir. Ou seja, chegamos às respectivas casas nas primeiras horas da segunda-feira, com direito puxões de orelhas.
 
54.               Correr, com chuteiras nos pés e luvas nas mãos, ou seja, trajado, desde o campo do Cabral até aqui em casa, depois de um, diríamos, competitivo jogo entre o time montado por Fábio Manfio e o Cabral. O jogo não acabou, assim como até hoje não tive coragem de voltar para buscar minha tralha, tamanha foi a pancadaria.
 
55.               Tocar a música “Paloma”, na rádio Cultura FM, em 1986, num domingo, antes das 7h00, a pedido de um cantor negro e outro cantor loiro, de cabelos encaracolados, formando uma dupla que, a bordo de um Fusca cor de abóbora, passou aquela manhã tocando e cantando na Banca do Clóvis, no térreo da emissora, praticamente não vendeu nada e terminou o dia dividindo um marmitex do restaurante Dona Chica. Essa dupla respondia pelo nome de João Paulo & Daniel, a quem reencontrei nas ‘Ficar’ da vida, relembrei tal episódio e selei  amizade.
 
56.               Na mesma mesa de som, em 1985, receber LP das mãos de outros dois jovens, com cara de caipira, pedindo para entregar o disco para o discotecário da rádio Cultura. Na contracapa a marca à caneta da faixa “Contradições”, primeiro sucesso, em Assis, de Leandro & Leonardo. Música, aliás, que dupla sempre ignorou como sendo o primeiro sucesso, atribuindo fama a “Solidão”, de 1987.
 
57.               A compra de meu primeiro microcomputador, um TK-90X, em 1985, na SóSom, principal referência da cidade quando o assunto era compra de aparelhos de som.
 
58.               Jogar bilhar no Campeões do Taco, tomando referigerante ou cerveja, paquerando o movimento na calçada da Rui Barbosa e tendo de adequar à regra de não usar bermuda nem camiseta regata.
 
59.               Ter sido o Tio Claudinho no programa Rádio Criança, na Cultura FM, na companhia do mestre Toninho Scaramboni, o Tio Toninho. Uma época – década de 1980 -  em que passávamos mais horas na emissora, aos finais de semana, do que em casa.
 
60.               Compor a equipe que tinha Sérgio Pena, Toninho Scaramboni, Beto Balanço e Eduardo Camargo Neto. Um time que se reunia na antiga VideoHouse e decidia, a cada virada de estação do ano, slogan da emissora, vinhetas a serem gravadas, o estilo da programação e promoções como Gincana de Verão, Rock Cidade, Caça ao X e Tardes do Recadinho.
 
61.               Contextualizar com os olhos, com as mãos, as aulas de seo Geraldo, professor de Geografia, neste Ginásio, indo ao Horto Florestal e, na companhia dos guias, passar tardes inteiras aprendendo sobre flora e fauna típicas do cerrado.
 
62.               Acumular remorso pelas rolinhas e pombas que matei com pedradas de estilingue. Remorso, mas não arrependimento, pois todas as caças foram devidamente preparadas e consumidas por mim, sob orientação de meu pai. E dos meus estilingues nunca saiu uma pedra sequer que ferisse alguém ou provocasse danos materiais em casas e/ou prédios.
 
63.               Passar tardes inteiras na Praça Sorocabana trocando figurinhas ou batendo bafão de álbuns da Copa de 1982 ou de celebridades da TV.
 
64.               Ouvir, aos finais das tardes de sábado, na década de 1970, os alto-falantes da igreja Santa Cecília, tocando músicas sacras ou então gravações de sinos, convocando a comunidade para a missa.
 
65.               Testemunhar a engenharia, ou seja, o homem, controlando o Buracão e colocando fim à lenda de que a erosão consumiria toda a cidade.
 
66.               Lembrar da moto Turuna vermelha, 1978, que comprei de Rubinho, colega de rádio Cultura, em 1987, e do Fusca 1962, branco, com lataria Fafá de 1982, comprado em 1990. Meus primeiros veículos, numa época em que capacete e cinto de segurança não eram acessórios de segurança obrigatórios e que tirar CNH, só depois de comprado o carro ou a moto.
 
67.               Comer cachorro-quente de Afonso, atrás da Riachuelo, na Praça dos Expedicionários. Cachorro-quente simples e Coca-Cola, eis o cardápio.
 
68.               Aguardar com ansiedade o retorno de viagem de Ernesto, da Hob´s Sport, que vinha, nos anos 1980, de Santos e/ou São Paulo com novidades da moda do litoral. Calças Fico, camisetas Poente Sul e tênis AllStar.
 
69.               Ter recusado tirar foto trajando terno para colocar no RG e na carteira de trabalho, no estúdio da Curt na avenida Marechal Deodoro. Rompi essa regra no Ringo Foto. E não fui o único.
 
70.               Juntar-me ao movimento popular que impediu a desativação da Escola João Mendes Júnior, no final dos anos 1990, pretendida como sede da Diretoria de Ensino. Meu filho mais novo, Júlio, lá estudaria meia década depois, no primeiro ano do ensino fundamental, repetindo trajetória da mãe.
 
71.               Comer canja na Cantina do Alemão, na Capitão Francisco Rodrigues Garcia, após os bailes de carnaval no Recreativo ou no Gema, a trabalho ou simplesmente na folia.
 
72.               Somar incontáveis amizades feitas no Porão, privilegiado pelas oportunidades de ser DJ com Marcos Biondi e Caio.
 
73.               Verificar diariamente a caixa postal da Rádio Cultura, nos Correios, na expectativa de discos compactos, de vinil, enviados por Mezinho, diretamente dos Estados Unidos, com os lançamentos musicais da época. Viagem da mercadoria chegava a durar 20 dias em 1988.
 
74.               Guardar o privilégio de ter trabalhado com Isaías Gomes, o Gordo, no programa Sertanejo Bom Demais, na Cultura 2 FM. Gordo está na história do rádio como o primeiro locutor a colocar um programa de músicas sertanejas no FM no Brasil; em 1986, na Antena Jovem.
 
75.               Entrar na Catedral, sentar e sentir a presença Dele, o Pai, como que sentado em cada um dos quatro lados.
 
76.               Rezar em agradecimento pela oportunidade de trabalho ao lado de hoje estrelas no céu chamadas Luiz Luz, Nelson Fernandes Bentinho, Celso Camilo Costa, Augusto Nunes e Isaías Silva.
 
77.               Sair para caminhar, pela manhã, no Parque Buracão, e cumprimentar cada um dos dezenas de vizinhos pelo caminho, no verdadeiro espírito de vivência em comunidade que só aqui, no interior, encontramos.
 
78.               Sentir o bem estar de retorno à minha terrinha quando em retorno de viagem para fora das linhas fronteiriças de município, estado ou país.
 
79.               Poder optar por comprar com qualidade em qualquer um dos hipercenters situados nos quatro cantos da cidade.
 
80.               Comer pastel na barraca do Messias (que não é meu parente, até que se prove o contrário), na feira-livre, toda quinta-feira, aqui, a três quadras de casa.
 
81.               Ser leitor, colaborador e testemunha ocular da fundação e manutenção do único jornal de esquerda com circulação ininterrupta de que tenho notícias no país, ou seja, o Jornal da Segunda.
 
82.               Fazer compras de material de construção e utilidades para a casa, assinar a caderneta e só pagar, sem juros, no mês seguinte. E, melhor que isso, ser recebido e chamado pelo nome, com direito a longas conversas sobre futebol e sobre a vida por todos os funcionários da Trevo, na Dom Antônio. Confiança à base do fio-de-bigode do empresário Carlinhos.
 
83.               Ser participante de grupo de reunião católico que é uma continuação do Encontro de Casais com Cristo de 2010, ocasião ímpar em que senti o toque de Maria e abri as portas de minha casa e de minha vida a Deus.
 
84.               Passar pelas instalações do Mercado Modelo Municipal e recordar desde o tempo em que ia ao São José Calçados comprar cadarço para o kichute até o período em que trabalhei como vendedor, em 1989, na Sertaneja Discos, emprego que permitiu amizade com Rozana, hoje minha esposa e mãe dos meus filhos.
 
85.               Sentir na memória o gosto da paçoca que comprava no Bar do seo Paulo, na Santos Dumont, numa época em que os doces eram expostos em pratos nos balcões de madeira e que chocolate era coisa de rico.
 
86.               Acumular lembranças de uma época em que as férias de julho e dezembro/janeiro eram aguardadas com ansiedade para viagens; não a outras cidades, mas ao mundo de sonhos que encontrava nos sítios que frequentava nas redondezas, distantes 15 a 20 km da cidade. Isso, de bicicleta monareta.
 
87.               Ter levado almoço a meu pai, José, todas as manhãs, a pé, até as imediações da antiga Ultrafértil, no pontilhão da linha férrea que passa sobre a rodovia Raposo Tavares. Isso, pelo período em que aquele trecho passou por manutenção, em 1982. E não me recordo de cansaço.
 
88.               Lembrar do cheiro das flores que brotavam nas árvores da Praça da Catedral, à noite, numa época em que a Banda Santa Cecília tocava no coreto, aos domingos.
 
89.               Casar na gélida tarde de 25 de junho de 1994, na Capela Santo Antônio, com a benção de padre Maurílio.
 
90.               Batizar meus dois filhos na Paróquia Santa Cecília, onde eles fizeram a primeira comunhão e mantêm o caminho de relação com Deus.
 
91.               Ter feito minha graduação em História na Unesp e, assim, descoberto minha vocação para o ensino e meu compromisso com a educação.
 
92.               Lecionar as primeiras aulas na Escola Léo Pizzato e, ali, implantar o Projeto Jornal D´Escola, base para a pesquisa de mestrado que desenvolvi na Universidade de São Paulo.
 
93.               Olhar para a cidade e vê-la com déficit habitacional cada vez menor, realidade compatível a índices que tornam este um dos melhores locais dos país para se viver.
 
94.               Ser docente no ensino superior em minha cidade e encontrar, aqui, um dos mais fortes mercados universitários do Estado, com cinco instituições e mais de 20 cursos.
 
95.               Ver as pesquisas em biotecnologia prosperarem país e mundo afora e saber que é daqui o primeiro curso de ensino superior na área.
 
96.               Transitar desde a Raposo Tavares até a Castello Branco por pistas duplicadas e saber que foi daqui o movimento político que conseguiu pôr fim ao Corredor da Morte, em 1998.
 
97.               Reencontrar permanentemente amigos, seja qual for o canto do país em que esteja, e ouvir recordações sempre boas, positivas, de minha cidade.
 
98.               Apresentar-me Brasil afora, em eventos científicos, e na ampla maioria das vezes não precisar especificar a localização geográfica de minha cidade àqueles com quem dialogo.
 
99.               Na pior de todas as enfermidades que já tive, ter tratado, em 2010, da dengue que contraí, sendo socorrido no Pronto Atendimento da Vila Maria Izabel. Atendimento público igual e em alguns aspectos melhor do que o ofertado por plano de saúde.
 
100.           Saber que 100% da água que abastece a cidade é tratada e que seu retorno, em forma de esgoto, é igualmente cuidado na totalidade.
 
101.           Ver que há, sim, ruas e avenidas com problemas de conservação do pavimento, mas que, em contrapartida, quase a totalidade das vias públicas está asfaltada.
 
102.           Acompanhar todos os terrenos vagos da avenida Dom Antônio sendo ocupados por construções, comprovação de que a economia local, muito mais que aquecida, é estável.
 
103.           Ouvir de meus filhos a mesma declaração de amor pela cidade, em um prenúncio de busca por objetivos de estudos lá fora, porém com permanente retorno ao ninho.
 
104.           Receber constantemente notícias de investimentos de grupos empresariais de fora, na cidade, atraídos pelo perfil de consumo da população local.
 
105.           Não sentir falta alguma da primeira centena de milhar de habitantes.
 
106.           Ser privilegiado com o fato de ter o nome de Assis na denominação do portal de notícias de maior credibilidade da região: Assiscity.
 
107.           Ter você, raro e exceto leitor, nessa minha trajetória de 27 anos dedicados à comunicação iniciada aqui, em Assis, a Cidade Fraternal.



*Jornalista, historiador e professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.


FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


AUSÊNCIA I

Fiquei longe dos textos, aqui, por três semanas. Primeiro, por estar concluindo os dois artigos que levarei a Fortaleza em setembro, no II Colóquio Binacional Brasil-Chile e no XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, ambos promovidos pela Intercom.

AUSÊNCIA II

Escritas as 30 páginas que totalizam os dois artigos peguei na colher de pedreiro e depois na cerra e no martelo e ergui a escada que dá acesso de um pavimento a outro em minha casa, cuja reforma está nos ajustes finais. Em texto futuro faço, aqui, a postagem do passo a passo da escada e dos motivos que me levaram a assumir a empreitada.

AUSÊNCIA III
Por fim, fiz a opção por esperar passar o calor tanto das festividades comemorativas ao aniversário da cidade quanto das especulações envolvendo candidaturas a prefeito e vereadores. Confesso que jamais, durante esses 27 anos de vivência na imprensa, vi e/ou ouvi tamanho arsenal de dejetos orgânicos prestes a serem lançados nos ventiladores.

FORA
Embarco dia 18, ou seja, semana que vem, para o Rio de Janeiro, para o V Seminário Globo/Intercom. A viagem é de 4 dias, mas somente dois deles serão dedicados a atividades e debates sobre comunicação, no Projac. Somos em 20 os pesquisadores cuja produção científica foi escolhida pelos organizadores do seminário.

PUXÃO DE ORELHA

Senti falta, como usuário, de atualização dos sites de notícias da cidade sobre o resultado das convenções municipais que definiram as candidaturas a prefeito. Tem sido a tônica, aliás, de os websites não atualizarem conteúdos a partir das tardes de sábado, retornando somente na segunda pela manhã. Isso os torna comuns se comparados ao marasmo de conteúdo dos sites de jornais impressos, que são uma calamidade.

COLHEITA I
A pauta de política é tradicionalmente uma das mais consumidas pelo leitor assisense. Demonstração disso é a audiência do Jornal da Segunda Online, que apesar de desabastecido de conteúdo em comparação com a época em que seu responsável, o jornalista Reinaldo Nunes, estava vinculado à reportagem da rádio Cultura, voltou a registrar média de acessos superior a mil visualizações/dia.

COLHEITA II

Antes das convenções municipais a média de acessos/dia do Jornal da Segunda Online estava na casa de 800. Em julho esse índice subiu para 1.200 acessos/dia. Detalhe: o site foi o primeiro a elencar todas as SETE candidaturas a prefeito que a cidade tem no momento.

OFFLINE

A campanha eleitoral deste ano traz a novidade da internet como plataforma de promoção dos candidatos a prefeito e vereadores. Segundo a Lei nº 9.504/97, art. 57-B, contudo, as redes sociais só podem ser usadas para contas dos próprios candidatos e com postagens direcionadas a amigos que pertençam a seus grupos. O mesmo acontece com as mensagens eletrônicas, ou seja, os e-mails. Postagens e mensagens aleatórias, disparadas sem o consentimento do receptor, podem custar ao candidato, desde que denunciado, de R$ 5 mil a R$ 30 mil. Além da perda do voto, claro.

HISTÓRIA

O assisense Waldyr Max Júnior teve uma iniciativa interessante e que deveria ser repetida ou incrementada por aqueles que têm acervos pessoais, não públicos, com fotografias que representem marcos da história de Assis. Ele está postando no Facebook, há algumas semanas, fotos que como historiador e jornalista confesso jamais ter visto. São registros, por exemplo, da época em que a cidade nem casas tinha, resumindo-se a um acampamento com barracas dos nossos primeiros posseiros, antes de 1900.

OPÇÃO

Minha amiga Inês Pimentel surpreendeu e trocou a candidatura a prefeita pela de vereadora em Cândido Mota. Em levantamento que tive acesso ela era apontada como nome forte na tentativa de sucessão de Roberto Bueno. Mas, o desgaste de ocupar o cargo de vice-prefeito por oito anos e o alto investimento que uma candidatura a prefeita exige a fizeram optar por tentar uma vaga na Câmara. Toda sorte a ela, pessoa digna, séria e, principalmente, ética.

MUDANÇAS

Na primeira semana de trabalho a nova diretoria do Assis Tênis Clube promoveu mudanças na forma de gestão. A começar pelo horário de expediente da secretaria do clube.

PERIGO CONSTANTE

Alterar o sentido de direção da avenida Rui Barbosa teve outras implicações além da distribuição de tráfego a vias marginais como Floriano Peixoto, Smith de Vasconcelos e 9 de Julho. Atravessar, mesmo que na faixa, a avenida central da cidade exige sensações fortes. Com três faixas livres, os condutores exageram na velocidade e ainda não desenvolveram a cultura de respeitar as faixas para pedestres.

LIVRE I

Dia desses estacionei na 9 de Julho e fui até a Rui Barbosa para serviços bancários. Ao pagar o cartão de zona azul com cédula de 10 reais fui informado pela simpática agente de que não haveria troco suficiente. Disse, então, que pagaria quando retornasse, pois no caminho de volta passaria na papelaria para comprar alguns artigos e trocaria os R$ 10.

LIVRE II

Recordando de situação semelhante em que fui multado, em Marília, em 2001, voltei quase uma hora depois ao local onde meu carro estava estacionado, temendo a autuação. Reencontrei a simpática agente da zona azul, que coerentemente não colocou a advertência amarela de estacionamento sem recolhimento da taxa.

LIVRE III

Confidenciei àquela moça meu temor, no trajeto, de retornar ao carro e ter sido multado. Mas fui confortado por ela, que me disse: “o senhor pode ficar tranquilo, pois os agentes de trânsito quase nunca passam por aqui conferindo”.

LIVRE IV

Confesso que não sei como funciona o sistema de recolhimento das tarifas de zona azul da cidade, nem a destinação dada a esse recurso. Mas lembro-me que quando da implantação do serviço municipal de trânsito o salário dos agentes advinha do montante arrecadado com multas e serviços tarifados como a zona azul. E, convenhamos, sem fiscalização efetiva o serviço de zona azul fica desguarnecido.

LIVRE V

Em Marília fui multado duas vezes, em frente ao Jornal da Manhã, onde trabalhava. O motivo é o mesmo: vencimento do cartão de estacionamento na zona azul. As aplicações é que foram distintas: uma por agente de trânsito e outra por policial militar. Aqui em Assis não vejo policiais militares fazendo esse tipo de fiscalização.

MISSÃO CUMPRIDA

Meu amigo e vizinho Lincoln de Oliveira Lima despede-se da farda. Trinta anos e seis meses dedicados à Polícia Militar. Quem o conhece sabe que sua passagem pelo comando da instituição coincide com o período em que a Polícia mudou radicalmente sua relação pública com as representações da sociedade.

FOLGA

Alguns estabelecimentos comerciais abrem de domingo a domingo e fazem nascer uma cultura de o consumidor encontrar, a qualquer dia da semana, artigos de que precisa. Os proprietários, contudo, não têm descanso. Alguns dão o merecido basta e passam a fechar aos domingos e feriados. É o que decidiram os irmãos Rose Zé, da Ração & Cia, na Dom Antônio. Desde junho o comércio mudou a postura de atendimento.

GIRAMUNDO I

Citei repetidas e cansativas vezes, aqui, a reforma de minha casa. A estou encerrando nesta semana com serviços contratados de seo Severino, um pernambucano de 71 anos de idade. É o sexto construtor que por aqui passa em 13 meses, e com um detalhe curioso: foi ele quem construiu, contratado por meu pai, em 1980, a casa onde passei a adolescência, a juventude, casei e tive meus filhos. Compramos o imóvel de meus pais em 2011. E cá temos seo Severino conosco novamente, mostrando que honestidade, além de valor raro, é para poucos.

CAÇAMBA I

Aprendi com meu pai que certos estresses não compensam ser nem observados. Mas, nessa reforma de 13 meses de duração alguns episódios foram, diríamos surpreendentes. Um deles é o uso coletivo, quase comunitário, da caçamba para entulhos. Interessante como todo mundo sente-se seu vizinho, seu amigo, quase seu parente nessas horas, e vê-se no direito de usar a sua caçamba.

CAÇAMBA II

Há duas semanas, por exemplo, somente 1/3 da caçamba havia sido utilizado pela minha obra. Os outros 2/3 eram de plantas e móveis velhos colocados por outrem. Pedi, então, a troca da caçamba. Só que no intervalo entre o caminhão levar a caçamba cheia e trazer a vazia alguém veio jogar galhos de árvore. E na falta da caçamba jogou na rua mesmo. Sim, deixou o amontoado aqui mesmo, em frente ao meu portão.

QUEM NÃO TEM CAÇAMBA...

Cena interessante testemunhei no início do ano, cruzando a rua Piratininga pela João Ramalho. Parei o carro para uma senhora de uns 70 anos de idade arrastar um galho em cada braço, rua afora e abaixo. Como não havia nenhum veículo atrás do meu, fiquei aguardando para ver onde a velhinha jogaria aquele entulho. E vi: no gramado da praça da igreja Santa Cecília!

CÁ ENTRE NÓS...

... Se7e?

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