12 Julho 2012
Cláudio Messias*
1 1. Aqui nasci, no Hospital Sorocabana, no nono
dia de fevereiro de 1970.
2.
Assis tem a
Escola Clybas, que um dia foi IEE ou, simplesmente, Instituto. Lá, cursei da
primeira série ao primeiro colegial.
3.
De maior erosão
urbana do país na década de 1960 (dado questionável esse) o Buracão foi
transformado em área de lazer frequentada pela cidade inteira. É o nosso
Ibirapuera.
4.
O melhor
pãozinho francês que já comi nas minhas passagens por quatro cantos do país
está na Padaria Pão da Vida, na vila Operária.
5.
Ir à feira-livre às quintas, na Santa Cecília,
e aos domingos, a Praça da Bandeira, e rever amigos, enfim, viver em
comunidade.
6.
Tomar caldo de
cana; hoje, na tiazinha que em dias de sol atende no calçadão do Parque
Buracão; no passado, na garapeira que ficava na praça do Hospital Sorocabana.
7.
A Associação
Atlética Ferroviária, cujos áureos tempos coincidiram com a fase
pré-privatização da Fepasa. Lá, depois de nadar com meus irmãos, comer suspiro
de groselha e paçoca, quando havia trocados no bolso.
8.
Na base da
saudade, frequentava o ponto do seo João da Banca, na J.V., onde comprava
revistas encalhadas de mulheres peladas, ou revistas peladas de mulheres
encalhadas.
9.
Aqui, no número
1203 da Santos Dumont, continua em pé, feita em madeira, a casa que era de
minha avó paterna, local onde subi em pés de goiaba, laranja, jabuticaba e
mexerica, e também tratei de galos e galinhas e aprendiz a fazer horta.
10.
As melhores e
mais ressecantes intestinais jabuticabas que já chupei ficavam e ficam nos
resistentes pomares do Buracão e do museu, hoje Casa de Taipas.
11.
Lembrar das
aulas de seo Orlando, professor de Desenho e Matemática no Instituto, famoso
por suas filosóficas colocações sobre a vida e seus tiques de soprar “shii,
shii” e gesticular com os dedos indicador e médio em riste.
12.
Sentir um
aperto no peito sabendo que o apito do depósito da Fepasa não ecoa mais para
nos chamar, às 11h00, para o banho seguido de almoço antes de ir para a escola.
13.
Ainda sentir o
cheiro do primeiro churrasco que comi, no casamento de meu tio Luis Sussel, no
início da década de 1980.
14.
Ter o Centro
Social Urbano à disposição, com quiosques para churrascos e festas e piscina
olímpica para a diversão, de graça. CSU inaugurado com a vinda de Paulo Maluf à
cidade.
15.
Deixar o carro
na garagem e, no caminho ao centro, refazer os diversos trajetos possíveis,
atentando ao movimento de cada uma das casas que ora ainda lá estão, ora deram
lugar à intermitente renovação.
16.
Parar na Praça
da Bíblia, antiga Praça Sorocabana, sentar em um banco e rever, na memória,
minhas brincadeiras no parquinho, a fonte iluminada ligada nas noites de
domingo e meus filhos capotando das bicicletas e vindo até mim chorando com a
boca aberta feito uma caçapa.
17.
Ir ao Cinemão,
o Cine Piracaia, da FAC, e lembrar que ali sentei pela primeira vez para ver
“Os Saltimbancos Trapalhões”, depois, pela primeira vez com aquela que hoje
seria minha esposa, vendo “O Mistério de Candman” (eu disse a ela que era
comédia, mas era um terror de lascar), mais adiante com meus filhos saindo do
colo, vendo a animação “Alladin” e, mais recentemente, “Os Vingadores”. Antes,
saindo e comendo cachorro-quente que só tinha pão, molho de tomate, salsicha,
cat-chup e mostarda, de seu Onofre, na Praça da Bandeira.
18.
Ter sonhado com
o estádio do Vocem quando ia à Ferroviária e, no inferninho, arriscava a vida
sem saber nas arquibancadas de madeira. Tudo para ver o Esquadrão da Fé quase
subir para a Primeira Divisão.
19.
Ter pisado no
palco, também chamado de terreiro, onde seria o Tonicão. E ali ter jogado no
São José, time do hoje coveiro Bodão, irmão de Zé David, o maior ídolo da
história do Vocem.
20.
Ter
experimentado por alguns meses a rotina de goleiro dentão do Vocem, conduzido e
apresentado por seo Limpião, amigo de ferrovia de meu pai e roupeiro do
Esquadrão da Fé.
21.
Recordar do
tempo em que, nas férias, ‘caçávamos’ minas Buracão adentro. Não piriguetes,
mas nascentes de água mesmo, que davam origem ao Fortuninha. Sem esgoto e com
direito a encontrar lebistes para colocar em aquário.
22.
Olhar para a
avenida Dom Antônio e lembrar que ali, trinta anos atrás, não havia canteiro
central, parte da via era de terra e tinha a delimitação de onde acabava a
cidade, perto do então Irmãos Furlan; dali por diante, só a “faculdade”, hoje
Unesp.
23.
Saudade de uma
época em que ir ao Mercadão exigia colocar roupa “de sair”, principalmente aos
sábados, quando a população rural ali se reunia para as compras.
24.
A primeira
compra com meu primeiro salário, de office-boy, na antiga loja Sabeh, na
esquina do cinema: uma camisa pólo branca, paga à vista. Na companhia de meus
amigos Josimar Peres, Paulo Barata Ramos, Brás Xavier e Marcinho Gatti. Isso,
em 1985.
25.
Jogar futebol
em sistema de “golzinho”, na rua, ora em vias como a Cândido Mota, ora na
Sílvio Bombonatti.
26.
Conversas até
as primeiras horas da madrugada com os amigos na Praça da Bíblia, sem risco de
assaltos e, inclusive, vendo casas com as portas abertas e as TVs, ligadas.
27.
O primeiro gole
de cerveja, com a mesma turma de amigos, na pizzaria Duas Rodas, recebendo a
visita, à mesa, de Nelinho, o Poeta Navegante, que até que tentou, mas não
conseguiu vender exemplar de seu livro àquela turma de jovens que mal recebiam
um salário mínimo por mês.
28.
Meu primeiro
tombo de bicicleta, simultâneo às minhas pedaladas iniciais, não foi na monareta
Monark que sofridamente nossos pais nos deram, em casa, em 1979; foi um ano
antes, quando, com oito anos de idade subi numa Barra Circular de Marquinhos
Nogueira, pedalei Santos Dumont abaixo e percorri duas quadras, até esfarelar
bicicleta e joelho na sarjeta. Sim, a rua era asfaltada. O condutor é que era
desproporcional ao tamanho do veículo.
29.
O inicial dos
diplomas no Instituto, em curso de datilografia com seo Adélio, que nos fazia
ritualmente dobrar as capas cinzas das Olivetti nas emendas, condição de
avaliação final. Não sei onde foram parar, mas devem existir, por algum arquivo
de família, páginas e mais páginas que datilografei sobre a vida, pré-fase de
meu ingresso, anos depois, no jornalismo, quando passei a datilografar
informações da vida cotidiana. E nunca mais parei.
30.
Comprar a
granel no empório do seo Cândido, naquela fase em que, no final dos anos 1970,
a Dom Antônio ainda não era asfaltada, nem a avenida Glória. Tudo marcado na
caderneta, para meu pai pagar no início do mês seguinte.
31.
Buscar arroz na
arrozeira em frente ao posto Toninho Rabelo, com cuidado ao passar por trás dos
cavalos e/ou carroças ali estacionados. Ali retornei em 1998, com Lúcio Coelho,
em reportagem alusiva ao aniversário de Assis.
32.
A amizade com a
perseverante dupla Feliz e Fiel, que por tantos anos batalhou para conseguir
gravar o primeiro disco, cuja contracapa trazia foto feita no trevo do auto
posto Novoeste, com imagem da empresa de ônibus Florínea ao fundo.
33.
O contato com
Piracaia, um anônimo violeiro a mim apresentado por Shelton, nome artístico que
compunha dupla sertaneja Chips & Shelton. Entrevista mostrou Piracaia à
cultura regional, rendendo tributo ao violeiro que dá nome ao Cine Municipal.
34.
Contrapor
realidades em que ser rico era morar no edifício residencial Buralli, que anos
depois teve todo o térreo ocupado pela mais popular das redes de magazine, a
Casas Bahia, e olhar, hoje, para prédios que reúnem famílias igualmente felizes
mas não necessariamente ricas em fortunas, como s conjuntos da CDHU.
35.
Ser amigo e,
assim quer a vida, paciente de Eduardo Andreguetti e Valcir Coronado Antunes,
reconhecidos pelo meio médico como uma das maiores autoridades da oftalmologia
no país.
36.
Não me
recordar, hoje, de ter cansaço quando saía da Santa Cecília e ia até duas
quadras atrás da Prefeitura para me divertir em parques de diversões e em
circos que vinham à cidade.
37.
Olhar para trás
e saber reconhecer que uma surra ou alguns tapas de meus pais não foram
agressões, mas, sim, uma fórmula de educação que dava e deu certo, comigo e com
meus dois irmãos.
38.
Sentir saudade
e perceber que nunca mais vi crianças repetindo as nossas brincadeiras de
infância, como pique-latinha, puxa-puxa-cabelinho e mãe-da-rua.
39.
O orgulho que
tive de minha cidade quando, em 1983, recebi a medalha de prata nos Jogos
Escolares, em Marília, competição em que a cidade ficou à frente de Prudente e
atrás somente de Marília. Minha modalidade: salto em altura, treinado por
Parracho, o mais determinado e comprometido professor de Educação Física que já
conheci.
40.
O sorriso
amarelo que esbocei quando fui escolhido um dos tantos cabos do Tiro de Guerra
na turma do subtenente Barcarolo, em 1989. Eu, com tantas críticas contra o
regime, tendo de fazer TG e, ainda por cima, colocar a braçadeira branca de
comando de turma. Ano com muitas história, sofrimento diário, mas, hoje, motivo
de saudade.
41.
A sensação de
felicidade quando retornei de São Paulo em 1993 para matricular-me no curso de
Letras da Unesp em primeira chamada. Em 1992 eu havia feito supletivo no
Henrique Zolner. Retorno à minha cidade, depois do inferno de vivência na
capital por alguns meses. Daqui nunca mais saí, em residência, apesar de
continuar via de regra trabalhando fora.
42.
Comer esfirra e
tomar Coca-Cola todos os dias, depois das seis da tarde, na lanchonete Luiz XV,
na Praça da Bandeira, de meu amigo Jorge.
43.
Saborear
coxinha de frango e, depois, um picolé Tablito na lanchonete KibonCity.
44.
Inesquecível o
primeiro sundae que tomei, aos 11 anos de idade, na companhia de Maião (Caixa
Federal), a namorada dele na época (não me recordo o nome), Eliane (irmã) e Vitinho
(cunhado na época). Isso, na Gullet’s.
45.
A pele da minha
língua até hoje não se recompôs do primeiro churros que comi ali, em frente ao
local onde hoje é o Assis Plaza Shopping. Isso lá pelos idos de 1983, quando o
grande barato era sair para a avenida para comer churros. A massa estava
pelando por dentro e, claro, na base da hipérbole, levou um pedaço da língua.
46.
Comprar - na
época em que a vigilância sanitária permitia criar frangos, enfim, ter um
verdadeiro sítio no quintal – quirera na moageira, situada nas proximidades da
linha férrea, entre a Siqueira Campos e a rua Dr. Teixeira de Camargo, na vila
Operária. Tarefa atribuída por minha avó paterna Florcela.
47.
Regar a
plantação de couve que meu vodastro (segundo esposo de minha avó Florcela) Zé
Rosa cultivava no terreno onde meu pai, José Messias, posteriormente ergueu
nossa casa, hoje minha residência. As folhas de couve envelhecidas eram
colhidas, picadas à faca e servidas aos mesmos frangos e galinhas que me
levavam semanalmente à moageira.
48.
Escavar a
calçada em frente à minha casa e encontrar a terra batida originária da antiga
estrada de terra que ligava o centro de Assis à Água do Cervo, confirmando,
assim, a história oral contada por meus antepassados, dando conta de que antes
da rua André Perini havia outra via principal de acesso urbano da população
rural.
49.
Recordar das
boas e longas conversas com o saudoso Jurandir, histórico atendente da
sorveteria Cristal.
50.
Ter sido amigo
de infância de João Quarta-feira, tradicional balconista de João Corinthiano na
pastelaria da avenida J.V. da Cunha e Silva.
51.
Na casa de
Antônio Nogueira, o Tonho, amigo de trabalho de meu pai na Fepasa, ter
assistido à final Corinthians 1 x 0 Ponte Preta, no Campeonato Paulista de
1977, marco inicial de meu ingresso ao bando de loucos mais apaixonados do
Brasil.
52.
Não ter perdido
um jogo sequer do Vocem, em Assis, seja na Ferroviária, seja no Marcelino de
Souza, seja no Tonicão. Ora como torcedor, ora como jornalista. No início,
despertado pelo carro de som Veraneio de Canton, o Gordo da Aviauto, que aos
domingos pela manhã fazia a convocação da torcida mariana.
53.
Sair, em um
domingo de 1986, com meus amigos Paulo Barata, Josimar Perez e Vágner Maracaí
para uma caminhada seguindo os trilhos da Fepasa, sentido Horto Florestal. E
dar conta somente no final da aventura de que o tempo de retorno é no mínimo o
mesmo daquele levado para ir. Ou seja, chegamos às respectivas casas nas
primeiras horas da segunda-feira, com direito puxões de orelhas.
54.
Correr, com
chuteiras nos pés e luvas nas mãos, ou seja, trajado, desde o campo do Cabral
até aqui em casa, depois de um, diríamos, competitivo jogo entre o time montado
por Fábio Manfio e o Cabral. O jogo não acabou, assim como até hoje não tive
coragem de voltar para buscar minha tralha, tamanha foi a pancadaria.
55.
Tocar a música
“Paloma”, na rádio Cultura FM, em 1986, num domingo, antes das 7h00, a pedido
de um cantor negro e outro cantor loiro, de cabelos encaracolados, formando uma
dupla que, a bordo de um Fusca cor de abóbora, passou aquela manhã tocando e
cantando na Banca do Clóvis, no térreo da emissora, praticamente não vendeu
nada e terminou o dia dividindo um marmitex do restaurante Dona Chica. Essa
dupla respondia pelo nome de João Paulo & Daniel, a quem reencontrei nas
‘Ficar’ da vida, relembrei tal episódio e selei
amizade.
56.
Na mesma mesa
de som, em 1985, receber LP das mãos de outros dois jovens, com cara de
caipira, pedindo para entregar o disco para o discotecário da rádio Cultura. Na
contracapa a marca à caneta da faixa “Contradições”, primeiro sucesso, em
Assis, de Leandro & Leonardo. Música, aliás, que dupla sempre ignorou como
sendo o primeiro sucesso, atribuindo fama a “Solidão”, de 1987.
57.
A compra de meu
primeiro microcomputador, um TK-90X, em 1985, na SóSom, principal referência da
cidade quando o assunto era compra de aparelhos de som.
58.
Jogar bilhar no
Campeões do Taco, tomando referigerante ou cerveja, paquerando o movimento na
calçada da Rui Barbosa e tendo de adequar à regra de não usar bermuda nem
camiseta regata.
59.
Ter sido o Tio
Claudinho no programa Rádio Criança, na Cultura FM, na companhia do mestre
Toninho Scaramboni, o Tio Toninho. Uma época – década de 1980 - em que passávamos mais horas na emissora, aos
finais de semana, do que em casa.
60.
Compor a equipe
que tinha Sérgio Pena, Toninho Scaramboni, Beto Balanço e Eduardo Camargo Neto.
Um time que se reunia na antiga VideoHouse e decidia, a cada virada de estação
do ano, slogan da emissora, vinhetas a serem gravadas, o estilo da programação
e promoções como Gincana de Verão, Rock Cidade, Caça ao X e Tardes do
Recadinho.
61.
Contextualizar
com os olhos, com as mãos, as aulas de seo Geraldo, professor de Geografia,
neste Ginásio, indo ao Horto Florestal e, na companhia dos guias, passar tardes
inteiras aprendendo sobre flora e fauna típicas do cerrado.
62.
Acumular
remorso pelas rolinhas e pombas que matei com pedradas de estilingue. Remorso,
mas não arrependimento, pois todas as caças foram devidamente preparadas e
consumidas por mim, sob orientação de meu pai. E dos meus estilingues nunca
saiu uma pedra sequer que ferisse alguém ou provocasse danos materiais em casas
e/ou prédios.
63.
Passar tardes
inteiras na Praça Sorocabana trocando figurinhas ou batendo bafão de álbuns da
Copa de 1982 ou de celebridades da TV.
64.
Ouvir, aos
finais das tardes de sábado, na década de 1970, os alto-falantes da igreja
Santa Cecília, tocando músicas sacras ou então gravações de sinos, convocando a
comunidade para a missa.
65.
Testemunhar a
engenharia, ou seja, o homem, controlando o Buracão e colocando fim à lenda de
que a erosão consumiria toda a cidade.
66.
Lembrar da moto
Turuna vermelha, 1978, que comprei de Rubinho, colega de rádio Cultura, em
1987, e do Fusca 1962, branco, com lataria Fafá de 1982, comprado em 1990. Meus
primeiros veículos, numa época em que capacete e cinto de segurança não eram
acessórios de segurança obrigatórios e que tirar CNH, só depois de comprado o
carro ou a moto.
67.
Comer
cachorro-quente de Afonso, atrás da Riachuelo, na Praça dos Expedicionários.
Cachorro-quente simples e Coca-Cola, eis o cardápio.
68.
Aguardar com
ansiedade o retorno de viagem de Ernesto, da Hob´s Sport, que vinha, nos anos
1980, de Santos e/ou São Paulo com novidades da moda do litoral. Calças Fico,
camisetas Poente Sul e tênis AllStar.
69.
Ter recusado
tirar foto trajando terno para colocar no RG e na carteira de trabalho, no estúdio
da Curt na avenida Marechal Deodoro. Rompi essa regra no Ringo Foto. E não fui
o único.
70.
Juntar-me ao
movimento popular que impediu a desativação da Escola João Mendes Júnior, no
final dos anos 1990, pretendida como sede da Diretoria de Ensino. Meu filho
mais novo, Júlio, lá estudaria meia década depois, no primeiro ano do ensino
fundamental, repetindo trajetória da mãe.
71.
Comer canja na
Cantina do Alemão, na Capitão Francisco Rodrigues Garcia, após os bailes de
carnaval no Recreativo ou no Gema, a trabalho ou simplesmente na folia.
72.
Somar
incontáveis amizades feitas no Porão, privilegiado pelas oportunidades de ser
DJ com Marcos Biondi e Caio.
73.
Verificar
diariamente a caixa postal da Rádio Cultura, nos Correios, na expectativa de
discos compactos, de vinil, enviados por Mezinho, diretamente dos Estados
Unidos, com os lançamentos musicais da época. Viagem da mercadoria chegava a
durar 20 dias em 1988.
74.
Guardar o
privilégio de ter trabalhado com Isaías Gomes, o Gordo, no programa Sertanejo
Bom Demais, na Cultura 2 FM. Gordo está na história do rádio como o primeiro
locutor a colocar um programa de músicas sertanejas no FM no Brasil; em 1986,
na Antena Jovem.
75.
Entrar na
Catedral, sentar e sentir a presença Dele, o Pai, como que sentado em cada um
dos quatro lados.
76.
Rezar em
agradecimento pela oportunidade de trabalho ao lado de hoje estrelas no céu
chamadas Luiz Luz, Nelson Fernandes Bentinho, Celso Camilo Costa, Augusto Nunes
e Isaías Silva.
77.
Sair para
caminhar, pela manhã, no Parque Buracão, e cumprimentar cada um dos dezenas de
vizinhos pelo caminho, no verdadeiro espírito de vivência em comunidade que só
aqui, no interior, encontramos.
78.
Sentir o bem
estar de retorno à minha terrinha quando em retorno de viagem para fora das
linhas fronteiriças de município, estado ou país.
79.
Poder optar por
comprar com qualidade em qualquer um dos hipercenters situados nos quatro
cantos da cidade.
80.
Comer pastel na
barraca do Messias (que não é meu parente, até que se prove o contrário), na
feira-livre, toda quinta-feira, aqui, a três quadras de casa.
81.
Ser leitor,
colaborador e testemunha ocular da fundação e manutenção do único jornal de
esquerda com circulação ininterrupta de que tenho notícias no país, ou seja, o
Jornal da Segunda.
82.
Fazer compras
de material de construção e utilidades para a casa, assinar a caderneta e só
pagar, sem juros, no mês seguinte. E, melhor que isso, ser recebido e chamado
pelo nome, com direito a longas conversas sobre futebol e sobre a vida por
todos os funcionários da Trevo, na Dom Antônio. Confiança à base do
fio-de-bigode do empresário Carlinhos.
83.
Ser
participante de grupo de reunião católico que é uma continuação do Encontro de
Casais com Cristo de 2010, ocasião ímpar em que senti o toque de Maria e abri
as portas de minha casa e de minha vida a Deus.
84.
Passar pelas
instalações do Mercado Modelo Municipal e recordar desde o tempo em que ia ao
São José Calçados comprar cadarço para o kichute até o período em que trabalhei
como vendedor, em 1989, na Sertaneja Discos, emprego que permitiu amizade com
Rozana, hoje minha esposa e mãe dos meus filhos.
85.
Sentir na
memória o gosto da paçoca que comprava no Bar do seo Paulo, na Santos Dumont,
numa época em que os doces eram expostos em pratos nos balcões de madeira e que
chocolate era coisa de rico.
86.
Acumular
lembranças de uma época em que as férias de julho e dezembro/janeiro eram
aguardadas com ansiedade para viagens; não a outras cidades, mas ao mundo de
sonhos que encontrava nos sítios que frequentava nas redondezas, distantes 15 a
20 km da cidade. Isso, de bicicleta monareta.
87.
Ter levado
almoço a meu pai, José, todas as manhãs, a pé, até as imediações da antiga
Ultrafértil, no pontilhão da linha férrea que passa sobre a rodovia Raposo
Tavares. Isso, pelo período em que aquele trecho passou por manutenção, em
1982. E não me recordo de cansaço.
88.
Lembrar do
cheiro das flores que brotavam nas árvores da Praça da Catedral, à noite, numa
época em que a Banda Santa Cecília tocava no coreto, aos domingos.
89.
Casar na gélida
tarde de 25 de junho de 1994, na Capela Santo Antônio, com a benção de padre
Maurílio.
90.
Batizar meus
dois filhos na Paróquia Santa Cecília, onde eles fizeram a primeira comunhão e
mantêm o caminho de relação com Deus.
91.
Ter feito minha
graduação em História na Unesp e, assim, descoberto minha vocação para o ensino
e meu compromisso com a educação.
92.
Lecionar as
primeiras aulas na Escola Léo Pizzato e, ali, implantar o Projeto Jornal
D´Escola, base para a pesquisa de mestrado que desenvolvi na Universidade de
São Paulo.
93.
Olhar para a
cidade e vê-la com déficit habitacional cada vez menor, realidade compatível a
índices que tornam este um dos melhores locais dos país para se viver.
94.
Ser docente no
ensino superior em minha cidade e encontrar, aqui, um dos mais fortes mercados
universitários do Estado, com cinco instituições e mais de 20 cursos.
95.
Ver as
pesquisas em biotecnologia prosperarem país e mundo afora e saber que é daqui o
primeiro curso de ensino superior na área.
96.
Transitar desde
a Raposo Tavares até a Castello Branco por pistas duplicadas e saber que foi
daqui o movimento político que conseguiu pôr fim ao Corredor da Morte, em 1998.
97.
Reencontrar
permanentemente amigos, seja qual for o canto do país em que esteja, e ouvir
recordações sempre boas, positivas, de minha cidade.
98.
Apresentar-me
Brasil afora, em eventos científicos, e na ampla maioria das vezes não precisar
especificar a localização geográfica de minha cidade àqueles com quem dialogo.
99.
Na pior de
todas as enfermidades que já tive, ter tratado, em 2010, da dengue que contraí,
sendo socorrido no Pronto Atendimento da Vila Maria Izabel. Atendimento público
igual e em alguns aspectos melhor do que o ofertado por plano de saúde.
100.
Saber que 100%
da água que abastece a cidade é tratada e que seu retorno, em forma de esgoto,
é igualmente cuidado na totalidade.
101.
Ver que há,
sim, ruas e avenidas com problemas de conservação do pavimento, mas que, em
contrapartida, quase a totalidade das vias públicas está asfaltada.
102.
Acompanhar
todos os terrenos vagos da avenida Dom Antônio sendo ocupados por construções,
comprovação de que a economia local, muito mais que aquecida, é estável.
103.
Ouvir de meus
filhos a mesma declaração de amor pela cidade, em um prenúncio de busca por
objetivos de estudos lá fora, porém com permanente retorno ao ninho.
104.
Receber
constantemente notícias de investimentos de grupos empresariais de fora, na
cidade, atraídos pelo perfil de consumo da população local.
105.
Não sentir falta
alguma da primeira centena de milhar de habitantes.
106.
Ser
privilegiado com o fato de ter o nome de Assis na denominação do portal de
notícias de maior credibilidade da região: Assiscity.
107.
Ter você, raro
e exceto leitor, nessa minha trajetória de 27 anos dedicados à comunicação
iniciada aqui, em Assis, a Cidade Fraternal.
*Jornalista, historiador e
professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
AUSÊNCIA I
Fiquei longe dos textos,
aqui, por três semanas. Primeiro, por estar concluindo os dois artigos que
levarei a Fortaleza em setembro, no II Colóquio Binacional Brasil-Chile e no
XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, ambos promovidos pela
Intercom.
AUSÊNCIA II
Escritas as 30 páginas que
totalizam os dois artigos peguei na colher de pedreiro e depois na cerra e no
martelo e ergui a escada que dá acesso de um pavimento a outro em minha casa,
cuja reforma está nos ajustes finais. Em texto futuro faço, aqui, a postagem do
passo a passo da escada e dos motivos que me levaram a assumir a empreitada.
AUSÊNCIA III
Por fim, fiz a opção por
esperar passar o calor tanto das festividades comemorativas ao aniversário da
cidade quanto das especulações envolvendo candidaturas a prefeito e vereadores.
Confesso que jamais, durante esses 27 anos de vivência na imprensa, vi e/ou
ouvi tamanho arsenal de dejetos orgânicos prestes a serem lançados nos
ventiladores.
FORA
Embarco dia 18, ou seja,
semana que vem, para o Rio de Janeiro, para o V Seminário Globo/Intercom. A
viagem é de 4 dias, mas somente dois deles serão dedicados a atividades e
debates sobre comunicação, no Projac. Somos em 20 os pesquisadores cuja
produção científica foi escolhida pelos organizadores do seminário.
PUXÃO DE ORELHA
Senti falta, como usuário,
de atualização dos sites de notícias da cidade sobre o resultado das convenções
municipais que definiram as candidaturas a prefeito. Tem sido a tônica, aliás,
de os websites não atualizarem conteúdos a partir das tardes de sábado, retornando
somente na segunda pela manhã. Isso os torna comuns se comparados ao marasmo de
conteúdo dos sites de jornais impressos, que são uma calamidade.
COLHEITA I
A pauta de política é
tradicionalmente uma das mais consumidas pelo leitor assisense. Demonstração
disso é a audiência do Jornal da Segunda Online, que apesar de desabastecido de
conteúdo em comparação com a época em que seu responsável, o jornalista
Reinaldo Nunes, estava vinculado à reportagem da rádio Cultura, voltou a
registrar média de acessos superior a mil visualizações/dia.
COLHEITA II
Antes das convenções
municipais a média de acessos/dia do Jornal da Segunda Online estava na casa de
800. Em julho esse índice subiu para 1.200 acessos/dia. Detalhe: o site foi o
primeiro a elencar todas as SETE candidaturas a prefeito que a cidade tem no
momento.
OFFLINE
A campanha eleitoral deste
ano traz a novidade da internet como plataforma de promoção dos candidatos a
prefeito e vereadores. Segundo a Lei nº 9.504/97, art. 57-B, contudo, as redes
sociais só podem ser usadas para contas dos próprios candidatos e com postagens
direcionadas a amigos que pertençam a seus grupos. O mesmo acontece com as
mensagens eletrônicas, ou seja, os e-mails. Postagens e mensagens aleatórias,
disparadas sem o consentimento do receptor, podem custar ao candidato, desde
que denunciado, de R$ 5 mil a R$ 30 mil. Além da perda do voto, claro.
HISTÓRIA
O assisense Waldyr Max
Júnior teve uma iniciativa interessante e que deveria ser repetida ou
incrementada por aqueles que têm acervos pessoais, não públicos, com
fotografias que representem marcos da história de Assis. Ele está postando no
Facebook, há algumas semanas, fotos que como historiador e jornalista confesso
jamais ter visto. São registros, por exemplo, da época em que a cidade nem
casas tinha, resumindo-se a um acampamento com barracas dos nossos primeiros
posseiros, antes de 1900.
OPÇÃO
Minha amiga Inês Pimentel
surpreendeu e trocou a candidatura a prefeita pela de vereadora em Cândido
Mota. Em levantamento que tive acesso ela era apontada como nome forte na
tentativa de sucessão de Roberto Bueno. Mas, o desgaste de ocupar o cargo de
vice-prefeito por oito anos e o alto investimento que uma candidatura a
prefeita exige a fizeram optar por tentar uma vaga na Câmara. Toda sorte a ela,
pessoa digna, séria e, principalmente, ética.
MUDANÇAS
Na primeira semana de
trabalho a nova diretoria do Assis Tênis Clube promoveu mudanças na forma de
gestão. A começar pelo horário de expediente da secretaria do clube.
PERIGO CONSTANTE
Alterar o sentido de
direção da avenida Rui Barbosa teve outras implicações além da distribuição de
tráfego a vias marginais como Floriano Peixoto, Smith de Vasconcelos e 9 de
Julho. Atravessar, mesmo que na faixa, a avenida central da cidade exige sensações
fortes. Com três faixas livres, os condutores exageram na velocidade e ainda
não desenvolveram a cultura de respeitar as faixas para pedestres.
LIVRE I
Dia desses estacionei na 9
de Julho e fui até a Rui Barbosa para serviços bancários. Ao pagar o cartão de
zona azul com cédula de 10 reais fui informado pela simpática agente de que não
haveria troco suficiente. Disse, então, que pagaria quando retornasse, pois no
caminho de volta passaria na papelaria para comprar alguns artigos e trocaria
os R$ 10.
LIVRE II
Recordando de situação
semelhante em que fui multado, em Marília, em 2001, voltei quase uma hora
depois ao local onde meu carro estava estacionado, temendo a autuação.
Reencontrei a simpática agente da zona azul, que coerentemente não colocou a
advertência amarela de estacionamento sem recolhimento da taxa.
LIVRE III
Confidenciei àquela moça
meu temor, no trajeto, de retornar ao carro e ter sido multado. Mas fui
confortado por ela, que me disse: “o senhor pode ficar tranquilo, pois os
agentes de trânsito quase nunca passam por aqui conferindo”.
LIVRE IV
Confesso que não sei como
funciona o sistema de recolhimento das tarifas de zona azul da cidade, nem a
destinação dada a esse recurso. Mas lembro-me que quando da implantação do
serviço municipal de trânsito o salário dos agentes advinha do montante
arrecadado com multas e serviços tarifados como a zona azul. E, convenhamos,
sem fiscalização efetiva o serviço de zona azul fica desguarnecido.
LIVRE V
Em Marília fui multado duas
vezes, em frente ao Jornal da Manhã, onde trabalhava. O motivo é o mesmo:
vencimento do cartão de estacionamento na zona azul. As aplicações é que foram
distintas: uma por agente de trânsito e outra por policial militar. Aqui em
Assis não vejo policiais militares fazendo esse tipo de fiscalização.
MISSÃO CUMPRIDA
Meu amigo e vizinho Lincoln
de Oliveira Lima despede-se da farda. Trinta anos e seis meses dedicados à
Polícia Militar. Quem o conhece sabe que sua passagem pelo comando da
instituição coincide com o período em que a Polícia mudou radicalmente sua
relação pública com as representações da sociedade.
FOLGA
Alguns estabelecimentos
comerciais abrem de domingo a domingo e fazem nascer uma cultura de o
consumidor encontrar, a qualquer dia da semana, artigos de que precisa. Os
proprietários, contudo, não têm descanso. Alguns dão o merecido basta e passam
a fechar aos domingos e feriados. É o que decidiram os irmãos Rose Zé, da Ração
& Cia, na Dom Antônio. Desde junho o comércio mudou a postura de
atendimento.
GIRAMUNDO I
Citei repetidas e
cansativas vezes, aqui, a reforma de minha casa. A estou encerrando nesta
semana com serviços contratados de seo Severino, um pernambucano de 71 anos de
idade. É o sexto construtor que por aqui passa em 13 meses, e com um detalhe
curioso: foi ele quem construiu, contratado por meu pai, em 1980, a casa onde
passei a adolescência, a juventude, casei e tive meus filhos. Compramos o
imóvel de meus pais em 2011. E cá temos seo Severino conosco novamente,
mostrando que honestidade, além de valor raro, é para poucos.
CAÇAMBA I
Aprendi com meu pai que
certos estresses não compensam ser nem observados. Mas, nessa reforma de 13
meses de duração alguns episódios foram, diríamos surpreendentes. Um deles é o
uso coletivo, quase comunitário, da caçamba para entulhos. Interessante como
todo mundo sente-se seu vizinho, seu amigo, quase seu parente nessas horas, e
vê-se no direito de usar a sua caçamba.
CAÇAMBA II
Há duas semanas, por
exemplo, somente 1/3 da caçamba havia sido utilizado pela minha obra. Os outros
2/3 eram de plantas e móveis velhos colocados por outrem. Pedi, então, a troca
da caçamba. Só que no intervalo entre o caminhão levar a caçamba cheia e trazer
a vazia alguém veio jogar galhos de árvore. E na falta da caçamba jogou na rua
mesmo. Sim, deixou o amontoado aqui mesmo, em frente ao meu portão.
QUEM NÃO TEM CAÇAMBA...
Cena interessante
testemunhei no início do ano, cruzando a rua Piratininga pela João Ramalho.
Parei o carro para uma senhora de uns 70 anos de idade arrastar um galho em
cada braço, rua afora e abaixo. Como não havia nenhum veículo atrás do meu,
fiquei aguardando para ver onde a velhinha jogaria aquele entulho. E vi: no
gramado da praça da igreja Santa Cecília!
CÁ ENTRE NÓS...
... Se7e?
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