segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A máfia no TCM: do poderoso chefão ao homem que sabia demais


23 Novembro 2012

Cláudio Messias*

A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Um dia, nas mesmas telas reduzidas das tevês tubões, fizemos paródia da máxima sheakesperiana ao filosofarmos no senso comum da propaganda em torno de uma inquietação fútil: Tostines vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais?

Minha provocação, aqui, remete igualmente a uma paródia característica dessas situações em que vemos na vida real o que teorizamos ou simplesmente banalizamos na ficção. Episódios cotidianos de nossa Sucupira do Vale – e dá-lhe metáfora que sai da literatura e passa às telas ainda em preto e branco – que também se assemelham àquelas situações em que, acho, todos os seres humanos devem passar quando vivenciam determinada circunstância e logo pensam: “parece que já vivi ou vi isso antes”.

Não por acaso cito o TCM. Sigla amplamente em evidência nos últimos dias. Terceiriza o que há de melhor – e muitas vezes de pior – e facilita as gerações mais amadurecidas, com cabelos quase ou já grisalhos, que sabem exatamente como tudo começou nas ‘belas’ artes. E de tanto saber, essas testemunhas da história dramática se perguntam: pra que isso tudo? Ou, ainda, “precisava disso?”.

Mas o público carece de bons conteúdos. Nem que esse conteúdo simplesmente arranque o nome do ator principal. E ninguém nem dá bola a isso, pois no mundo do faz de contas um centavo a mais, outros milhares a menos, não fazem falta. Então, para que saber o nome do dono da obra, do ator principal ou do diretor, se o importante, mesmo, está em outros interesses?

Em “A montanha dos 7 abutres” Kirk Douglas, em 1951, já mostrava bem a que sociedade do espetáculo se referiria Guy Debord. Aliás, Kirk, não... Charles Tatum, seu personagem, um jornalista que produz factoides. A comunicação como edição da realidade; edição do mundo, como teorizaria nossa Maria Aparecida Baccega, professora aposentada na ECA/USP e atual coordenadora do programa de pós-graduação em Jornalismo na ESPM/São Paulo. Vejo “A montanha” em TCM, e não é de hoje.

A mais pesada das novelas globais a que assisti foi Vale Tudo. No final, Reginaldo Farias, corrupto, foge de avião, impune, dando sinal de bananas ao Brasil inteiro que o assistia e queria ver o desfecho da autoria do assassinato que eternizou Odete Roythman na pele de Beatriz Segall. Porque sim, nós temos bananas. Aliás, Reginaldo Farias, não... Marco Aurélio, seu personagem. Não vi no TCM, mas o enredo cai como uma luva, pois é esse o filme que vem à tona na atualidade.

Nunca fui afeito a lead, ou simplesmente, lide. Na comunicação, trata-se do eixo central da notícia, podendo ser resumido em cinco ou seis perguntas, não necessariamente nessa ordem: o que, quem, onde, quando, por que, como? Como vemos, no caso TCM o “quem” é sujeito oculto e a construção ganha mais contexto da linguística do que necessariamente do jornalismo. Mas aí o chamaríamos de sujeito nulo e isso recorreria a uma circunstância que beiraria a recente passagem das eleições municipais.

De qualquer maneira, no TCM os atores que estrelam a ficção não têm o nome divulgado. É quase uma antecipação do amigo secreto do final do ano. Quando começa, ninguém sabe quem tirou quem. Mas a ânsia, a curiosidade tipicamente humana faz com que um revele ao outro, nos cantos escondidos, na condição de ficar só ali, entre eles. E quando chega a festa esses dois, com sorriso amarelo, “revelam” o que quase todos sabiam com antecedência mas fingia ser novidade. Amigo oculto, sujeito oculto, e os enunciados publicados continuam sem ter o “quem” tão trivial para a prática do jornalismo da Sucupira do Vale.

Dar nome aos bois é uma tarefa complicada só até aparecer uma figura mais forte, em quem se ampare e, assim, tome-se coragem. Nessa hora, a revista Veja, que costuma ter seção que critica os lançamentos que posteriormente chegarão ao TCM, sai da condição de sótão da privataria tucana para fonte inquestionável do mais recente lançamento da ficção jornalística da Sucupira do Vale. E se a Veja elogiou o filme, quem são eles, pequenos, para contestar? Nessa hora, se os capangas cobrarem a proteção ao chefe da máfia, a arguição é sólida: foi Veja quem criticou o filme; eu apenas reproduzi.

Ao lado da Sucupira do Vale, em Neverland, o filme é outro. O filho do dono da cidade uniu-se ao chefe do comércio para dominar a cidade. E conseguiram, contando com a ampla maioria dos ocupantes da montanha dos sete abutres. Mas antes de assumir, outro pequeno chefe do comércio tentou provar que havia areia na maionese da festa. E tudo parou, podendo ter nova eleição. Lá, a montanha dos sete abutres não escondeu caras, nomes, nem clãs. A diferença é que a montanha dos sete abutres constrói o factoide mas tem por trás uma estrutura que viabiliza cada página impressa e levada às bancas. Ah, claro: e circula aos domingos e o que vende nesse dia impede que a folha de pagamento saia com atraso e o vale chegue em dia conforme o acordo coletivo firmado com o sindicato. Mas filme assim não tem graça, é chato. Bom, mesmo, é sofrer reclamando que a Sucupira não vai pra frente.

Perguntas continuam a ser feitas e permanecerão sem resposta. Esse negócio de língua do P em jornalismo não dá certo na vida real, só no imaginário. Uma coisa é você ignorar o nome de um personagem por uma hora e meia, duas ou até três horas. Outra coisa é fazê-lo a vida inteira. Na tela do cinema o cansado simplesmente fecha os olhos e dorme. Na vida real, o espectador quando fecha os olhos é porque não quer mais ver. E não por acaso, o pior dos cegos é aquele que não quer ver.

Quanto ao TCM, vai continuar aparecendo como marca, mas sem diretor aparente. Rende, sim, bons filmes, principalmente quando olha-se para o passado e veem-se bons longas, ótimas produções. O duro, mesmo, é tentar descobrir, no ambiente da montanha dos sete abutres, o pior dos três patetas diários. Tudo isso, no canal pago TCM. Quem nem paga tão bem assim.

*Professor universitário, jornalista e historiador, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA

Primeiro escalão – Ricardo Pinheiro, prefeito eleito com 14 mil votos, tem parte do alto comando da Prefeitura definido. E não esconde de assessores mais próximos a preferência, no momento, por uma relação harmoniosa com a Câmara, onde não terá maioria.

Como assim? – O mercado imobiliário de Assis nunca esteve tão aquecido. Nesse pós-feriadão uma sondagem deixou o setor ainda mais agitado: a vinda da rede Decathlon para essa parte do Estado.

Variedade – Fui a uma loja Decathlon em Lisboa, em outubro passado. A mais completa do gênero de artigos esportivos que já frequentei. Aqui no Brasil não vi nada igual.

O talento não para – Kallil Dib, de quem tive a honra de ser professor e  colega de coluna aqui neste Assiscity.com, defendeu TCC no curso de Jornalismo da Fema, na quarta, 14. E no domingo estava prestando vestibular da Unesp, atraído pela literatura do curso de Letras local.

Teoria viciante I – Outro jornalista que defendeu TCC é Nestário Luiz, colunista do site Assisnotícias.com.br, de meu amigo Alexandre Takasawa. Minha honra, nesse caso, foi ser professor e o orientador de Nestário, a quem conheci adolescente, na época em que, na companhia de Matheus Orlando, faziam “ensaios” de narração e comentários esportivos nas partidas do Clube Atlético Assisense no estádio Tonicão, lá pelos idos de 2004.

Teoria viciante II – Nestário Luiz e Diego Faustino, que formam a derradeira turma de Jornalismo da Fema, também não param na graduação. Estão inscritos na seleção para o lato sensu (especialização) em Comunicação Popular e Comunitária na UEL, em Londrina. Sairão com pós-graduação de lá em 2014.

Números – Interessados em dar continuidade à história do curso de Jornalismo de Assis indubitavelmente há. No vestibular da Fema aplicado na segunda, 12, houve 68 inscrições para o curso. São necessárias, no mínimo, 35 matrículas para formar turma. Foram convocados para matrícula 50 vestibulando, sendo 40 em primeira opção e 10 em segunda opção.

Credibilidade – A Fema, aliás, continua sendo, juntamente com a Unesp, a instituição de ensino superior de maior credibilidade da cidade. A começar pelo processo seletivo, que segue os moldes do que é feito pela Fundação Vunesp, autarquia que faz a gestão do vestibular da Unesp. Para 2013, 1.500 candidatos se inscreveram no vestibular da Fema. Sem prova de seleção agendada.

Mínimo – Na quarta-feira, 21, saía eu da bocha de um clube da cidade quando, no caminho até a portaria, ouvi um discurso ao microfone. No alto som, um candidato a alguma coisa dizia que “para votar tem que ter inteligência. E eu sei que 99,99% de vocês são inteligentes”. Se eram 200 pessoas na ‘plateia’ questionavelmente inteligente, quem teria 0,2% de falta de inteligência ali? O enunciador, creio.

Água capital – O nível do rio Paranapanema está 9 metros abaixo do normal em plena véspera do verão. O cenário desolador recai em toda a bacia do Paraná, exigindo que as usinas hidrelétricas daqui de cima negociem – leia-se comprem – cotas de água com as lá de baixo, como Itaipu. Além de energia, a Duke Energy também vende água.

Ignorância – A população desconhecer a Lei do Uso da Água, debatida no final dos anos 1990 e sancionada dez anos atrás no estado de São Paulo, tudo bem. Agora, jornalistas ignorarem isso e colocar em pauta só a desativação da mina da Cristalina, aí já é demais.

Realidade – Pela lei, que deu prazo de 10 anos para os paulistas se prepararem para o vigor, paga-se por toda vazão de água. De poço artesiano a minas, toda fonte de água terá um contribuinte responsável. Foi o que fez, por exemplo, o Assis Tênis Clube desativar a igualmente histórica mina que ficava ao lado de sua portaria.

No bolso – Pela lei, também, Tênis Clube e Malta teriam de pagar por cada litro de água que sai das bicas. Pagariam para manter a tradição de centenas de pessoas, diariamente, levarem água sem tratamento para suas casas. E pior: em caso de algum tipo de intoxicação pelo consumo dessa água, seriam responsabilizados por tal.

In loco – Acompanhei, como jornalista, o piscicultor Ivo Guiotti, de Cândido Mota, na audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa, em 1998, para tratar especificamente da discussão do então projeto de lei. Os arquivos do jornal Voz da Terra têm pelo menos dois anos de registros de reportagens que assinei, cobrindo o debate regional sobre o impacto dessa lei principalmente junto a pequenos proprietários rurais.

Vô de volta – O mais competente dos jornalistas que conheci está de volta. Mas, não a Assis. Júlio Cezar Garcia deixou Brasília e já está em São José do Rio Preto, com a família.

Origens – Júlio Garcia é sonho de consumo do jornal Oeste Notícias, de Presidente Prudente, onde está Ulisses Souza. Os dois são os editores fundadores do jornal impresso que abalou a imprensa do Vale do Paranapanema na segunda metade dos anos 1990.

Cá entre nós... e se tivesse sido candidato a prefeito, assumiria o cargo na Embaixada?

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