sábado, 26 de janeiro de 2013

Lições que Assis deu (e aprendeu) através das urnas


08 Outubro 2012


Cláudio Messias*

Em texto anterior, aqui, neste espaço, adverti para um fenômeno que há três pleitos paira sobre o eleitorado assisense: o não comparecimento às urnas. Ou, simplesmente, um hábito local de simplesmente não ir votar. As estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral mostram que desde 2004 o eleitor local prefere outra programação, seja ela pessoal, familiar ou comunitária, para o primeiro domingo de outubro em ano de eleição.

Neste dia 7 de outubro não foi diferente. Expressiva estatística de 15.050 eleitores mostra que votar para prefeito e vereadores não foi prioridade em Assis. Isso corresponde a 21,83% dos 68.957 eleitores habilitados para o voto na cidade. Tudo bem, devem ser considerados, aí, os jovens com idade inferior a 18 anos, cuja ida às urnas é facultada pela Justiça Eleitoral. Números, por sinal, não divulgados.

Agrego a esse cenário preocupante outra fonte para a aritmética eleitoral local. Se 53.907 eleitores cumpriram com o direito constitucional do voto e com o que entendo como obrigação cidadã, 10% destes simplesmente votaram em ninguém. Saíram de suas casas, foram aos locais de votação, enfrentaram ou não filas, adentraram à cabine e apertaram teclas para votar em branco ou, simplesmente, anular o voto. Ao todo, em média, mais de 20 mil eleitores deixaram de contribuir para a escolha daqueles que irão governar ou legislar os rumos da cidade pelos próximos quatro anos.

Assis tem duas zonas eleitorais: a 15ª e a 290ª. Eu voto na 290ª, na escola Clybas. Basta fazer um exercício de memória e lembrar que dez anos atrás eu, você, raro e exceto leitor, enfrentávamos filas para adentrar aos locais de votação. Primeiro as filas eram enormes e cansativas, quando da implantação da urna eletrônica. Depois, cada vez menores. Até que foram praticamente extintas. Facilidades implicadas da tecnologia? Sim, pode ser. Minha explicação, contudo, é outra, pois vejo que as pessoas continuam demorando quase um minuto para apertar as teclas, tempo quase igual ao de preencher as cédulas de papel. Quinze mil pessoas a mais, ontem, nas escolas, teriam, sim, na minha opinião, feito com que as filas ocorressem. O que, claro é absolutamente normal.

Nas duas zonas eleitorais a ausência de eleitores foi equânime. Na 15ª, 7.981 eleitores não compareceram. Na 290ª, 7.069 eleitores ficaram ausentes. Há uma pequena disparidade entre as duas no tocante aos votos brancos e nulos, para prefeito. Na primeira, 1.355 votos em branco e 1.273 anulados. Na 290ª, 1.041 votos em branco, 1.094 anulados. Para vereador a situação ficou mais equilibrada: 1.792 votos brancos e 1.247 nulos na 15ª e 1.392 votos em branco e 1.184 nulos na 290ª.

Agora avancemos essas somas de votos cujos eleitores deixaram de ir aos locais de votação ou, então, foram votar mas anularam ou optaram por deixar em branco. A adição tem, para prefeito, 15.050 abstenções mais 2.396 votos em branco mais 2.367 votos nulos, totalizando 19.813 votos. Para vereador, são 15.050 abstenções mais 3.184 votos em branco mais 2.431 votos nulos, totalizando 20.665 votos.

Vejamos, pois, que consequência essa ausência de participação do eleitor de Assis tem para a composição do quadro político da cidade para os próximos quatro anos. Ricardo Pinheiro foi eleito prefeito com um total de 14.354 votos válidos. Ou seja, o novo prefeito teve menos votos nas urnas do que o total de eleitores que não se dispuseram a ir às urnas. Ficaríamos, aqui, discutindo a complexidade desse cenário durante longas e intermináveis horas, mas uma coisa, para mim, é certa: mais uma vez um governante não consegue, em Assis, vencer e convencer. Somente 29% dos votos válidos foram depositados em Ricardo Pinheiro, o que significa dizer que pouco mais de 1 a cada quatro eleitores assisenses confiaram em suas propostas de governo. No cenário inverso, 3 em cada 4 assisenses não optaram pelo novo prefeito.

Situação mais preocupante vive a nossa Câmara Municipal. Agora o número de vereadores pode efetivamente passar para 15. Paulinho Mattioli retorna à Casa de Leis como o mais votado. A última vaga foi ocupada, vejam só, por um candidato que somou menos de 500 votos, denominado Professor Thiago, puxado, no coeficiente eleitoral, pela eleição do candidato do PSDB a prefeito. Mais um reflexo da ausência de mais de 20 mil eleitores nas urnas. Até porque, somados os desempenhos de todos os vereadores eleitos, tem-se o total de 17.089 votos para compor as 15 cadeiras, contra 20.665 votos não depositados para compor a Câmara. Sim, somados todos os votos dos vereadores eleitos não se atinge o número de eleitores que não foram às urnas.

A renovação da Câmara Municipal de Assis deve-se não somente à falta de êxito, nas urnas, de alguns vereadores que tentavam a reeleição. Cinco deles figuravam como candidatos à Prefeitura. Aliás, o prefeito eleito Ricardo Pinheiro é um deles. José Fernandes, Márcio Veterinário e Kiko Binato eram candidatos diretos, enquanto Célio Diniz, que iniciou a campanha para reeleger-se vereador, assumiu a condição de vice de Márcio Veterinário. Os demais quatro, além de Pinheiro, vinham de histórico nas urnas que dava-lhes chance de mais um mandato no Legislativo.

Não conheço o prefeito eleito Ricardo Pinheiro. Sei, claro, de sua atuação como vereador e de sua liderança política. Condição essa que surpreendeu-nos ao tomar o lugar de Eduardo Camargo Neto na candidatura a prefeito pelo PSDB local, durante a convenção municipal. Convívio com ele, mesmo, tive em duas ocasiões, todas elas no clube de que somos sócios, em jantares. Digo, apenas, que a educação familiar lhe foi eficiente, pois trata-se de um rapaz com idade, postura e valores que podem leva-lo à condição de não apenas prefeito mais novo da história da cidade, mas, também, dono de um bom mandato.

Conheço, e bem, Lenilda, a vice de Ricardo Pinheiro. Médica e ex-secretária da Saúde na gestão do então prefeito Romeu Bolfarini, foi uma das poucas boas exceções daquele mandato na segunda metade dos anos 1990. Eu, jornalista, cobri o trabalho da agora vice-prefeita e guardo admiração por sua postura em situações delicadas, relacionadas à saúde pública. Em uma das circunstâncias, a cidade teve casos de meningite meningogócica e não fosse a postura de Lenilda e Cilas Tavares, médicos, representando, respectivamente, município e Estado, os desdobramentos poderiam ter sido sérios. Tenho Lenilda como uma mulher firme, sólida e não manipulável.

Em uma leitura política do novo cenário de Assis para os próximos quatro anos vê-se o PSDB retomar o poder executivo local. Depois do apático segundo mandato de Zeca Santilli, na primeira metade da década de 1990, e da confusa passagem de Carlos Nóbile abrindo o terceiro milênio, agora a cidade coloca mais um tucano para governar seu destino. As poucas alianças para compor a coligação abrem uma perspectiva de que a renovação, enfim, chegará ao Paço Municipal. Velhas figuras que passaram de um mandato a outro nos últimos quinze anos, ou seja, verdadeiros urubus do poder, devem definitivamente ser expulsos da agenda política da cidade. Vantagem de uma chapa pura, ou seja, prefeito e vice de um mesmo partido.

Prefeitura e Câmara renovadas, a expectativa é, sim, boa. Lamentável, apenas, que mais de 20 mil eleitores não estejam participando diretamente desse resultado, o que legitimaria não somente o processo democrático, mas a convicção de a cidade tomar 16 decisões certeiras, sendo uma para prefeito e outras 15 para a bancada de vereadores.

Sabemos, neste momento, que 7 candidaturas pulverizaram não apenas os interesses, mas a própria decisão dos eleitores. Também, que a relação prefeito e vice-prefeito é uma espécie de matrimônio, avalizada por toda uma população e que, prevalecendo a metáfora, cria-se, aí, uma expectativa de perpetualidade de relação, não cabendo dissidências e/ou ataques pessoais e interpessoais. Enfim, no mais árduo dos exemplos, que nem sempre a leitura que se faz de popularidade reverte-se em votos. Uma coisa é ser um nome conhecido, outra é representar coletivamente um bom nome para administrar em nome desse coletivo.

Citadas as lições, que apreenda-se. Assis precisa muito mais de consenso do que de rivalidades. Temos seis candidatos que, neste momento, muito mais do que lamentar ou amargar a falta de êxito nas urnas, precisam refletir sobre a maneira com que podem contribuir para o novo governo que nasce dia 1º de janeiro 2013. Afinal, foi essa a leitura que a cidade fez neste 7 de outubro. Pensar diferente disso só fará jus a 20 mil ausências nas urnas ou, então, à complexa opção de uma cidade de 100 mil habitantes colocar na prefeitura um governante com menos de 15 mil votos.

*Jornalista, historiador e professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.


FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


MACHISMO

Assis elegeu sua primeira vice-prefeita da história. Em compensação, não colocou uma mulher sequer na Câmara Municipal. Na lista dos mais votados a melhor colocada é Ana Santa, com 662 votos, seguida por Viviane del Massa e Professora Rose, respectivamente com 640 e 624 votos.

JUVENTUDE

Ricardo Pinheiro é um dos prefeitos mais jovens a assumir a gestão do município de Assis. Nascido em 17 de janeiro de 1976, aos 36 anos de idade ele divide a responsabilidade com a médica Lenilda, de 55 anos. Juntos, declararam à Justiça Eleitoral receita de R$ 20.824,00 para campanha e prospecção de gasto de R$ 184 mil, ao que deram como garantia um veículo Audi A5.

SOLIDARIEDADE X SOLIDÃO

Ricardo Pinheiro, na condição com que foi registrada sua candidatura no TSE, não dará a Assis a ocupação do cargo de primeira-dama. O prefeito eleito estava solteiro quando da formalização de sua candidatura. Compete à primeira-dama, por exemplo, comandar o Fundo Social de Solidariedade de um município, designação que Pinheiro pode fazer por nomeação.

ZERADO

Cinco candidatos a vereador ficaram sem voto algum em Assis nesse 7 de outubro. Encaixam-se nas condições de desistência, impugnação ou candidatura sub-júdice. Mas, uma candidata teve o registro de apenas um voto: Claudete, do PT. Outras duas pleiteantes, ou seja, Claudete (PT) e Rosilaine (PSDC), tiveram 2 votos.

SEGURANÇA

A força do voto da instituição Polícia Militar continua ativa na política de Assis. Dois oficiais da reserva assumem pela primeira vez uma cadeira na Câmara: Valmir Dionísio e Capitão Coelho. Ambos dedicaram suas carreiras ativas na Polícia Militar Rodoviária. Na atual legislatura Sargento Bahia chegou a assumir lugar na Câmara, vaga depois conquistada judicialmente por outro vereador. Bahia, neste 7 de outubro, tentou voltar, mas somou insuficientes 307 votos.

COMUNICAÇÃO I

A imprensa de Assis voltou a ter um representante de esquerda na Câmara. Meu amigo Reinaldo Nunes, o Português, repórter da Cultura AM, foi o sexto vereador mais votado da cidade, com 1.136 votos. Ele formará com José Luiz a bancada do PT na próxima legislatura. Português foi vereador por dois mandatos e comandou a presidência da mesa diretora em sua última passagem pelo legislativo.

COMUNICAÇÃO II

Outro repórter com boa votação na tentativa de conquista de uma vaga na Câmara é Carlinhos Perandré, também da Cultura AM. Ele somou 547 votos. Outros candidatos comunicadores foram Tapera (422 votos). Ivan Serra (405 votos), Luiz Carlos Japonês (154 votos) e Bruna Reis (307 votos). Nenhum deles atingiu votação suficiente.

COMUNICAÇÃO III

Eduardo de Camargo Neto, o Camarguinho, membro da família Camargo, proprietária da rádio Cultura, mantém sua trajetória de permanência na Câmara de Assis. Foi o segundo vereador mais votado da cidade em 2012: 1.521 votos para o terceiro mandato e nome cotado para assumir um cargo no primeiro escalão de Ricardo Pinheiro, na Prefeitura.

RETORNO

Já o vereador mais votado foi o advogado Paulo Mattiolli Jr., conhecido por seu trabalho junto ao Procon. Teve 2.604 votos, ou seja, mais de mil votos acima do segundo vereador mais votado. É o retorno de Mattiolli à Câmara.

CENÁRIO

Chego de viagem na madrugada da sexta, dia 5, depois de estada de dez dias em Portugal. E deparo com um quadro de projeção de candidaturas nada condizente ao resultado das urnas. Nos levantamentos a que tive acesso desde a convenção dos partidos, em junho, a briga pelo comando da Prefeitura de Assis sempre esteve ora nas mãos de José Fernandes, ora nas de Márcio Veterinário. Sempre houve, contudo, um fator marcante, confirmado nas urnas: mais de 25% de entrevistados declarando preferir nenhum dos 7 candidatos ou, então, indecisos.

 REVISÃO JÁ I

Três situações me convencem da necessidade de a Justiça Eleitoral, a partir dos resultados em Assis, rever a condição da propaganda eleitoral gratuita na TV. Na primeira delas, ouvi de uma pessoa da família que Agostinho já era prefeito. Em outra, um amigo disse ter ouvido de uma pessoa. No local de votação, que votaria em Chiara prefeita. Nesses dois casos, os candidatos referidos são de Bauru e invadem os lares assisenses através da hegemônica Rede Globo. Na terceira situação, minha mãe estava, sábado à noite, com a convicção de que teríamos segundo turno em Assis.

REVISÃO JÁ II

A televisão continua sendo o meio de comunicação com maior penetração doméstica em todas as camadas sociais. Com a divisão do formato do horário eleitoral gratuito, de maneira a ter somente meia hora no horário nobre e chamadas distribuídas durante o dia na programação, percebe-se que nomes, caras e propostas dos candidatos das cidades que recebem as afiliadas das grandes emissoras de TV confundem, e muito, a opinião pública. Prova disso foi ver, semanas atrás, um grupo de estudantes do Clybas descendo a rua Santos Dumont e cantando refrão do jingle Rodrigo 15, candidato eleito prefeito de Bauru.

CÁ ENTRE NÓS...

... é o dinheiro, realmente, que coloca ou tira alguém no comando político de uma cidade como Assis?

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