28 Setembro de 2001
Cardápio
midiático do dia: sangue pela manhã, cadáver no almoço e os dois juntos no
jantar
Cláudio
Messias*
Em 2009 o
Ibope estremecia o mercado publicitário com alguns dados sobre o comportamento
das mídias: o meio TV havia perdido 12% de audiência. E não era só a dona
Globo. Todas as emissoras de TV amargavam perda de público. Era a consolidação
da internet como a mais poderosa das mídias, capaz de materializar o que antes
a inabalável televisão tinha como sonho quando de sua conversão para o formato
digital: a interatividade. O público-alvo, quando devolve, respondendo ao
conteúdo que recebe, sente-se parte do processo comunicativo envolvido. Simples
assim, a internet passou a fazer parte da vida cotidiana das pessoas.
Sessenta anos
atrás a TV chegava ao Brasil. O fatalismo fez com que se acreditasse no fim do
rádio, que por sua vez, no início do século passado, fez com que se acreditasse
no primeiro sepultamento das mídias impressas, mito até hoje sustentado pelos
mesmos fatalistas. Os chamados meios modernos de comunicação consolidaram-se ao
ponto de mudar a arquitetura das casas. Residências que antes tinham cozinha e
quartos (o banheiro era externo) concentravam os investimentos em móveis para
as cozinhas. Afinal, era ali que se ouviam as notícias de final do dia. E a que
horas se dava o final do dia? quando o sol baixava. Jantava-se nesse horário. E
dormia-se logo em seguida, pois antes das 6 horas do dia seguinte a família
inteira estava em pé. Uma visita era recebida na cozinha. Portanto, a sala de
visita surge como um cômodo que acomodou o aparelho de TV. Sofás para assistir
a tela e, de quebra, receber aos visitantes. Hoje, em uma planta contemporânea,
há a sala de visitas e a sala de TV.
Nesta
segunda-feira, 26 de setembro de 2011, a dona Globo estreou a nova programação
jornalística dos inícios de manhã. Seu carro-chefe chamado Bom Dia Brasil tem
novos cenário, formato e apresentador (sai Renato Machado, agora correspondente
na Europa, entra Chico Pinheiro). Não são, contudo, mudanças de agora. Há pelo
menos dois anos a dona Globo não é proprietária exclusiva das audiências
matinais. A comadre dela, Record, tem crescido e oferecido algo a mais que o enlatado
mexicano Chaves, do compadre SBT, ofertou por mais de dez anos. Na receita da
Record estão programas com conteúdos policiais agressivos. Como piloto de teste,
no troco, o Bom Dia Brasil colocou um comentarista policial na grade,
aproveitando a ocupação dos morros cariocas pelas forças policiais de
pacificação. Funcionou, infelizmente.
Suportei até
ontem. E digo que é insustentável começar as manhãs tomando café com gosto de
sangue. Já chegam os almoços, que têm cheiro ora de chulé de jogador de
futebol, ora de cadáver dos noticiários apelativos. E os jantares, que reúnem
sangue e cadáver na mesma porção. Assistir TV com a intenção de ficar informado
significa, ultimamente, consolidar o que os historiadores configuram como sendo
a Era da Insegurança, numa alusão mundial ao pós-11 de setembro. É cada vez
mais frequente ouvir que aquela pessoa ou aquela outra tiveram pesadelos
relacionados às barbáries estampadas nas telas pelos noticiários.
Hoje pela
manhã não liguei a TV. Liguei o rádio. Claro que o apelo conteudístico para o
noticiário policial também ocorre nas ondas eletromagnéticas. Mas, tal qual o
gol, que é imaginado de infinitas formas quando narrado por um locutor
esportivo, os crimes noticiados pelo rádio passam por um processo de edição da
realidade que dá ao ouvinte a autonomia de, em fração de segundos, aceita-lo ou
descarta-lo. Portanto, meu bom dia, hoje, veio do rádio, nas vozes de Toninho
Scaramboni, Camarguinho, Português, Alves Barreto e Vitorino Neto. À exceção
desse último, os demais eu conheço, sei que existem (não que eu tenha dúvidas
quanto à existência de Vitorino). Estão perto do meu convívio, da minha práxis
e, no mais legítimo contexto da comunicação comunitária, lhes atribuo a
condição de pertencimento, ou seja, os autorizo e dou créditos para que me deem
informação. Eis, portanto, uma das explicações que fundamentam o fracasso na
profecia dos fatalistas. É mais fácil a TV ser abocanhada pela internet do que
o rádio.
Enfim, eu
comecei este amontoado de palavras dizendo que o meio TV perdeu 12% de
audiência no final da década passada. O dito horário nobre tem início às 19h00,
com picos entre 20h00 e 22h00. Com as inúmeras oportunidades e ofertas no
ensino superior e a crescente adesão do público adulto na faixa dos 40 a 60
anos de idade a programas de alfabetização de jovens e adultos, ver TV, à
noite, não tem a mesma prioridade de 10, 20 anos atrás. O capítulo da novela
que um estudante perde enquanto está na escola e/ou faculdade pode ser visto depois
no Youtube, cujo formato é acessado em mídias móveis como celulares e permite
que o usuário dê a opinião imediata sobre o que foi assistido, coisa que a TV
ainda não oferece. A internet, portanto, reproduz a TV, mas com discurso
competente.
A
interatividade é mais uma condição de pertencimento a incidir nos processos
comunicativos. Muito mais que ver, o público quer participar do conteúdo. Mais
um ponto para o rádio. Agora, neste momento (11h47), ouço Toninho Scaramboni
mandando um abraço para um ouvinte, assisense, que reside no Japão. De lá, esse
cidadão pede uma música para ser tocada no Resgate 100,1, de maneira a
relembrar os tempos de Assis na década de 1980. A música é tocada, o ouvinte
fica satisfeito e o rádio acompanha, através de ferramentas como o Facebook, o
cotidiano privativo das pessoas. A TV, cada vez mais fria, congela-se perdida
em uma crise de identidade com que deveria preocupar-se. Concorrente, mesmo,
não é a emissora ao lado. É a outra mídia, novinha em folha, cheirando a
perfume e com curvas arredondas.
COMPANHEIRO É COMPANHEIRO I
Meu
amigo-irmão Lúcio Coelho escreve, aqui, comentário sobre o artigo anterior. Convivi
no jornalismo local por três anos e meio com esse fotógrafo elogiado Brasil e
mundo afora. E vou usar, em oportunidades futuras, este espaço para relatar
algumas das vivências, que são muitas. Planto a curiosidade anunciando: a carpa
de 30 kg, em Florínea, no Dia da Mentira. Lúcio sabe do que estou falando e do
que aqui relatarei.
COMPANHEIRO É COMPANHEIRO II
Lúcio Coelho
teve inúmeras oportunidades de sair de Assis, ir para grandes jornais, enfim,
colocar-se profissionalmente em redações sonhadas por muitos jornalistas em
início de carreira. Eu prefiro chama-lo de Marcos-do-Palmeiras de Assis ou um
Rogério-do-São Paulo assisense. Profissionais que abdicaram do dinheiro e da
fama “estrangeiros” e permaneceram em seus locais de origem, no berço onde foram
concebidos. Negação ao capitalismo ou, simplesmente, amor à camisa. Nos três
casos citados os leitores assisenses e torcedores palmeirenses e são-paulinos
agradecem.
TUDO AZUL
Não quero
quebrar o segredo guardado por meu amigo Célio Diniz, sobre a companhia aérea
interessada em operar em Assis. Mas algumas semanas atrás estive em Recife e,
numa escala em Guarulhos, conversava com um assisense que hoje trabalha para a
TAM. Comentário dele: “agora a nossa cidade terá uma linha definitiva para São
Paulo e para a região Centro-Oeste”. Ele não se referia à TAM, mas, sim, à
Azul. As condições para a vinda estariam na estrutura para armazenamento de
cargas, pois o aeroporto de Assis serviria de terminal intermediário para
despachos que cortam o país na rota Sul-Norte. Isso é comentário de balcão de
lanchonete, tomando café, ou seja, da informalidade. Um avião, portanto, pode
ter nada a ver com o outro.
CAMINHO INVERSO
Meu amigo
Sílvio Miléo me dá a notícia de que em 2012 inicia a operação de sua unidade
industrial em Cândido Mota. Empresário instalado na Grande São Paulo, ele
retorna à região onde nasceu e de onde saiu em 1978. Juntamente com o irmão
Sérgio, forma hoje um dos maiores grupos produtores de isolantes elétricos do
mundo, abastecendo Europa, Ásia e América do Norte. O que é isolante elétrico?
Aquela peça de porcelana que impede que os milhões de quilowatts das redes de
alta tensão atinjam as torres de sustentação.
CONSTRUÇÃO
A cidade de
Assis pode ser palco de disputa de mercado de duas potências do setor de
materiais de construção. Casa Sol, de Marília, e Telhanorte têm projetos para a
cidade. A empresa mariliense quase instalou-se por aqui dois anos atrás. Optou
por montar, primeiro, filial em Lins, expandindo uma rede que tem lojas em São
Carlos e Bauru. Já a Telhanorte, que tem lojas em Londrina e Presidente
Prudente e sede em São Paulo, teria pensado em um centro de distribuição.
PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
Ser impedido
de entrar numa agência bancária durante piquete de grevistas é de lascar
mamona. Respeito a reivindicação dos sindicatos, concordo que os banqueiros
sejam parte dessa raça imunda que esfola tanto a bancários quanto a clientes,
mas o boleto bancário que vencia neste dia 27/11 previa que eu pagasse
25 reais e uns quebradinhos de centavos de multa por atraso. Não tenho outra
opção que não seja o local de trabalho desses grevistas para manter minhas
obrigações financeiras em dia. E daí vem o lado mais cruel da tecnologia: a
máquina não para e foi ela que leu o código de barras que livrou-me dos 25
reais de multa. E sabe o que ouvi da usuária que estava no caixa eletrônico ao
lado? “Desse jeito vou ficar a favor que o bancos troquem funcionários por
computadores”. É a opinião pública que em alguns casos ratifica o senso comum de
que há feitiço que volta-se contra o feiticeiro.
PERGUNTINHA BÁSICA
Sindicato
Rural e Acia não conseguem organizar-se suficientemente para arrebanhar
associados e dar continuidade à Ficar?
* Jornalista,
professor universitário e pesquisador das Ciências da Comunicação.
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