quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cardápio midiático do dia: sangue pela manhã, cadáver no almoço e os dois juntos no jantar


28 Setembro de 2001


Cardápio midiático do dia: sangue pela manhã, cadáver no almoço e os dois juntos no jantar


Cláudio Messias*

Em 2009 o Ibope estremecia o mercado publicitário com alguns dados sobre o comportamento das mídias: o meio TV havia perdido 12% de audiência. E não era só a dona Globo. Todas as emissoras de TV amargavam perda de público. Era a consolidação da internet como a mais poderosa das mídias, capaz de materializar o que antes a inabalável televisão tinha como sonho quando de sua conversão para o formato digital: a interatividade. O público-alvo, quando devolve, respondendo ao conteúdo que recebe, sente-se parte do processo comunicativo envolvido. Simples assim, a internet passou a fazer parte da vida cotidiana das pessoas.

Sessenta anos atrás a TV chegava ao Brasil. O fatalismo fez com que se acreditasse no fim do rádio, que por sua vez, no início do século passado, fez com que se acreditasse no primeiro sepultamento das mídias impressas, mito até hoje sustentado pelos mesmos fatalistas. Os chamados meios modernos de comunicação consolidaram-se ao ponto de mudar a arquitetura das casas. Residências que antes tinham cozinha e quartos (o banheiro era externo) concentravam os investimentos em móveis para as cozinhas. Afinal, era ali que se ouviam as notícias de final do dia. E a que horas se dava o final do dia? quando o sol baixava. Jantava-se nesse horário. E dormia-se logo em seguida, pois antes das 6 horas do dia seguinte a família inteira estava em pé. Uma visita era recebida na cozinha. Portanto, a sala de visita surge como um cômodo que acomodou o aparelho de TV. Sofás para assistir a tela e, de quebra, receber aos visitantes. Hoje, em uma planta contemporânea, há a sala de visitas e a sala de TV.

Nesta segunda-feira, 26 de setembro de 2011, a dona Globo estreou a nova programação jornalística dos inícios de manhã. Seu carro-chefe chamado Bom Dia Brasil tem novos cenário, formato e apresentador (sai Renato Machado, agora correspondente na Europa, entra Chico Pinheiro). Não são, contudo, mudanças de agora. Há pelo menos dois anos a dona Globo não é proprietária exclusiva das audiências matinais. A comadre dela, Record, tem crescido e oferecido algo a mais que o enlatado mexicano Chaves, do compadre SBT, ofertou por mais de dez anos. Na receita da Record estão programas com conteúdos policiais agressivos. Como piloto de teste, no troco, o Bom Dia Brasil colocou um comentarista policial na grade, aproveitando a ocupação dos morros cariocas pelas forças policiais de pacificação. Funcionou, infelizmente.

Suportei até ontem. E digo que é insustentável começar as manhãs tomando café com gosto de sangue. Já chegam os almoços, que têm cheiro ora de chulé de jogador de futebol, ora de cadáver dos noticiários apelativos. E os jantares, que reúnem sangue e cadáver na mesma porção. Assistir TV com a intenção de ficar informado significa, ultimamente, consolidar o que os historiadores configuram como sendo a Era da Insegurança, numa alusão mundial ao pós-11 de setembro. É cada vez mais frequente ouvir que aquela pessoa ou aquela outra tiveram pesadelos relacionados às barbáries estampadas nas telas pelos noticiários.

Hoje pela manhã não liguei a TV. Liguei o rádio. Claro que o apelo conteudístico para o noticiário policial também ocorre nas ondas eletromagnéticas. Mas, tal qual o gol, que é imaginado de infinitas formas quando narrado por um locutor esportivo, os crimes noticiados pelo rádio passam por um processo de edição da realidade que dá ao ouvinte a autonomia de, em fração de segundos, aceita-lo ou descarta-lo. Portanto, meu bom dia, hoje, veio do rádio, nas vozes de Toninho Scaramboni, Camarguinho, Português, Alves Barreto e Vitorino Neto. À exceção desse último, os demais eu conheço, sei que existem (não que eu tenha dúvidas quanto à existência de Vitorino). Estão perto do meu convívio, da minha práxis e, no mais legítimo contexto da comunicação comunitária, lhes atribuo a condição de pertencimento, ou seja, os autorizo e dou créditos para que me deem informação. Eis, portanto, uma das explicações que fundamentam o fracasso na profecia dos fatalistas. É mais fácil a TV ser abocanhada pela internet do que o rádio.

Enfim, eu comecei este amontoado de palavras dizendo que o meio TV perdeu 12% de audiência no final da década passada. O dito horário nobre tem início às 19h00, com picos entre 20h00 e 22h00. Com as inúmeras oportunidades e ofertas no ensino superior e a crescente adesão do público adulto na faixa dos 40 a 60 anos de idade a programas de alfabetização de jovens e adultos, ver TV, à noite, não tem a mesma prioridade de 10, 20 anos atrás. O capítulo da novela que um estudante perde enquanto está na escola e/ou faculdade pode ser visto depois no Youtube, cujo formato é acessado em mídias móveis como celulares e permite que o usuário dê a opinião imediata sobre o que foi assistido, coisa que a TV ainda não oferece. A internet, portanto, reproduz a TV, mas com discurso competente.

A interatividade é mais uma condição de pertencimento a incidir nos processos comunicativos. Muito mais que ver, o público quer participar do conteúdo. Mais um ponto para o rádio. Agora, neste momento (11h47), ouço Toninho Scaramboni mandando um abraço para um ouvinte, assisense, que reside no Japão. De lá, esse cidadão pede uma música para ser tocada no Resgate 100,1, de maneira a relembrar os tempos de Assis na década de 1980. A música é tocada, o ouvinte fica satisfeito e o rádio acompanha, através de ferramentas como o Facebook, o cotidiano privativo das pessoas. A TV, cada vez mais fria, congela-se perdida em uma crise de identidade com que deveria preocupar-se. Concorrente, mesmo, não é a emissora ao lado. É a outra mídia, novinha em folha, cheirando a perfume e com curvas arredondas.

COMPANHEIRO É COMPANHEIRO I

Meu amigo-irmão Lúcio Coelho escreve, aqui, comentário sobre o artigo anterior. Convivi no jornalismo local por três anos e meio com esse fotógrafo elogiado Brasil e mundo afora. E vou usar, em oportunidades futuras, este espaço para relatar algumas das vivências, que são muitas. Planto a curiosidade anunciando: a carpa de 30 kg, em Florínea, no Dia da Mentira. Lúcio sabe do que estou falando e do que aqui relatarei.

COMPANHEIRO É COMPANHEIRO II

Lúcio Coelho teve inúmeras oportunidades de sair de Assis, ir para grandes jornais, enfim, colocar-se profissionalmente em redações sonhadas por muitos jornalistas em início de carreira. Eu prefiro chama-lo de Marcos-do-Palmeiras de Assis ou um Rogério-do-São Paulo assisense. Profissionais que abdicaram do dinheiro e da fama “estrangeiros” e permaneceram em seus locais de origem, no berço onde foram concebidos. Negação ao capitalismo ou, simplesmente, amor à camisa. Nos três casos citados os leitores assisenses e torcedores palmeirenses e são-paulinos agradecem.

TUDO AZUL

Não quero quebrar o segredo guardado por meu amigo Célio Diniz, sobre a companhia aérea interessada em operar em Assis. Mas algumas semanas atrás estive em Recife e, numa escala em Guarulhos, conversava com um assisense que hoje trabalha para a TAM. Comentário dele: “agora a nossa cidade terá uma linha definitiva para São Paulo e para a região Centro-Oeste”. Ele não se referia à TAM, mas, sim, à Azul. As condições para a vinda estariam na estrutura para armazenamento de cargas, pois o aeroporto de Assis serviria de terminal intermediário para despachos que cortam o país na rota Sul-Norte. Isso é comentário de balcão de lanchonete, tomando café, ou seja, da informalidade. Um avião, portanto, pode ter nada a ver com o outro.

CAMINHO INVERSO

Meu amigo Sílvio Miléo me dá a notícia de que em 2012 inicia a operação de sua unidade industrial em Cândido Mota. Empresário instalado na Grande São Paulo, ele retorna à região onde nasceu e de onde saiu em 1978. Juntamente com o irmão Sérgio, forma hoje um dos maiores grupos produtores de isolantes elétricos do mundo, abastecendo Europa, Ásia e América do Norte. O que é isolante elétrico? Aquela peça de porcelana que impede que os milhões de quilowatts das redes de alta tensão atinjam as torres de sustentação.

CONSTRUÇÃO

A cidade de Assis pode ser palco de disputa de mercado de duas potências do setor de materiais de construção. Casa Sol, de Marília, e Telhanorte têm projetos para a cidade. A empresa mariliense quase instalou-se por aqui dois anos atrás. Optou por montar, primeiro, filial em Lins, expandindo uma rede que tem lojas em São Carlos e Bauru. Já a Telhanorte, que tem lojas em Londrina e Presidente Prudente e sede em São Paulo, teria pensado em um centro de distribuição.

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!

Ser impedido de entrar numa agência bancária durante piquete de grevistas é de lascar mamona. Respeito a reivindicação dos sindicatos, concordo que os banqueiros sejam parte dessa raça imunda que esfola tanto a bancários quanto a clientes, mas o boleto bancário que vencia neste dia 27/11 previa que eu pagasse 25 reais e uns quebradinhos de centavos de multa por atraso. Não tenho outra opção que não seja o local de trabalho desses grevistas para manter minhas obrigações financeiras em dia. E daí vem o lado mais cruel da tecnologia: a máquina não para e foi ela que leu o código de barras que livrou-me dos 25 reais de multa. E sabe o que ouvi da usuária que estava no caixa eletrônico ao lado? “Desse jeito vou ficar a favor que o bancos troquem funcionários por computadores”. É a opinião pública que em alguns casos ratifica o senso comum de que há feitiço que volta-se contra o feiticeiro.

PERGUNTINHA BÁSICA

Sindicato Rural e Acia não conseguem organizar-se suficientemente para arrebanhar associados e dar continuidade à Ficar?

* Jornalista, professor universitário e pesquisador das Ciências da Comunicação.

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