quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Causos ao redor da Sucupira do Vale - Parte 1


05 Outubro de 2011
Causos ao redor da Sucupira do Vale – Parte 1


Cláudio Messias*

Na semana passada, a última de setembro de 2011, escrevi nestas linhas que Lúcio Coelho, meu amigo-irmão, tem boas histórias a contar. Muitas, com certeza, a mais do que eu. Nesse mundo do jornalismo de interior, também chamado de pequena imprensa, as vivências cotidianas, envolvidas na nossa práxis, rendem histórias e fatos que raras vezes, ou mesmo nunca, tornam-se notícias.

Foi com Lúcio Coelho, formando uma dupla que convivia, no dia a dia, muito mais horas, entre si, do que com as respectivas esposas e famílias, que testemunhei  verdadeiros capítulos da recente história deste que chamamos de Médio Vale Paranapanema, composto por 13 municípios ora vinculados à economia regional de Marília, ora à de Presidente Prudente. Assis é a cidade-sede. E de tudo o que vi durante 23 anos de prática do jornalismo nessa terrinha, não titubeio em denomina-la, não de Cidade Fraternal, como tentaram emplacar nos anos 1980, mas, sim, de Sucupira do Vale. Só que essa é outra história  e narro sobre isso em outra ocasião, se assim convir.

No texto anterior lembrei daquela que talvez tenha sido uma das situações mais cômicas com que eu e Lúcio Coelho nos deparamos na rotina do jornal Voz da Terra. Nem é engraçado o episódio. Mas retrata bem o quão permanente é o xeque com a nossa habilidade de comunicadores é colocada a cada virada de hora, a cada piscar de olhos. O factível e o noticiável estão ora ligados como siameses, ora separados por um abismo de incertezas.

O ano era 1998 e estávamos, eu e meu amigo Lúcio, fazendo um roteiro de cobertura semanal pela barranca do Paranapanema. Iniciamos por Pedrinhas Paulista e nos dirigíamos, por volta de 10h30, para Cruzália. De lá, seguiríamos para São José das Laranjeiras e, enfim, Maracaí. Chegávamos próximo ao trevo de Cruzália quando Sérgio Vieira, nosso editor, ligara no celular de Lúcio. Romão Borrego havia telefonado, desde Florínea, para o jornal, informando ter fisgado uma carpa, ou seja, um peixe - para quem não conhece, está aí a informação -, de grandes proporções. Iriam pesar o bicho e havia a possibilidade de dar mais de 30 quilos.

Tudo bem para uma notícia dessas que quebram o gelo da vida de um repórter e de um fotógrafo, não fosse um detalhe: era dia 1º de abril, ou seja, Dia Intergalático da Mentira. E daí vem a decupagem do histórico dos agentes envolvidos nesse processo comunicativo. Romão Borrego sempre foi uma fonte respeitável, mas fora da vida burocrática de engenheiro do DER-07, era um sarrista de mão cheia. Sérgio Vieira, igualmente sério em sua função de editor, também dava as escapadas em pegadinhas que ora passava em Lúcio, com quem tinha mais proximidade. Juntando os ingredientes temos o prato do dia: uma carpa, que costumamos ver em tanques e/ou aquários ornamentais, fisgada no Paranapanema, pesando 30 quilos e ainda por cima em pleno dia 1º de abril.

Não levamos a sério, pois tínhamos agendado os compromissos em Cruzália, Laranjeiras e Maracaí. Nossa decisão foi rápida, bastando um olhar 43 de um para o outro dentro do Corsinha prata que Eli Elias havia tirado da Suprema havia poucas semanas. Rápida, também, foi a sugestão de Lúcio ligar, de seu celular, para Romão Borrego. E isso foi feito, na rotina de conferência que todo profissional da comunicação tem mesmo de fazer. E do outro telefone vem a complementação da informação: além de ter 30 quilos já pesados a carpa fora, não fisgada, mas capturada a golpes de remo. Era demais para nossas pequenas cabeças cujos fios já começavam a nos abandonar (eu com menor incidência, à época, e Lúcio com maior incidência). Seguimos viagem e entramos em Cruzália.

Já passava de meio-dia e havíamos programado de almoçar em Maracaí. Àquela altura tomaríamos é café da tarde na cidade de Toninho Cavalheiro, pois ainda tínhamos uma pauta em Laranjeiras. Entramos no carro sem lembrarmos da carpa havia mais de uma hora. Lúcio ligou o carro olhou pra minha cara e disse: “e esse negócio da carpa, hein, cara?”. A resposta foi imediata, claro: “Não custa conferir. Vamos lá”. E lá fomos, para Florínea, mais precisamente no rancho/pousada de Romão Borrego.

Lúcio liga novamente para Sérgio e praticamente o ameaça de fuzilamento caso se tratasse de uma pegadinha do dia da mentira. E a situação ganhara área de comédia e nenhum dos agentes envolvidos no processo conseguia administrar os diálogos com seriedade: nem Sérgio, nem Romão, nem ninguém. A fome da dupla jornalística era grande, estávamos indo, na pior das hipóteses, para uma pousada que tinha restaurante e, caso se concretizasse uma brincadeira de mau gosto, ao menos teríamos feito uma parada obrigatória para seguir a romaria comunicativa.

Chegamos à pousada por volta de 13h30, com os estômagos nas costas. Logo no portão de entrada nos deparamos com um bicho enorme pendurado na viga da cobertura de uma área social. Sim, era uma carpa, pesava exatos 30,3 kg e teria de ser cortada ao meio para caber em dois freezeres horizontais. Romão havia doado a carpa para uma ou duas creches de Florínea. Juntos, no local dos fatos, estavam dois pescadores. São moradores das imediações, que sobrevivem de pequenas pescas no Paranapanema e na noite anterior tiveram mais um dia de trabalho a serviço de Romão Borrego, a quem serviam com pescados.

Não me recordo dos nomes dos ilustres pescadores, mas jamais me esqueço que estavam de cabelos penteados e as melhores e menos surradas roupas que tinham nos armários. História de pescadores à parte, eles mostraram o local, na cabeça da carpa, onde acertaram um dos remos e controlaram o bicho. É difícil de acreditar, mas a tal carpa foi vista bem próxima à margem do rio, de madrugada. Os pescadores a ouviram buscando alimento na margem – por ser grande, ela se debatia na água rasa. Viram o vulto, chegaram a achar que era um bicho-monstra dessa lendas que têm personagens como caboclo d´água, mas resolveram arriscar. Precisaram da ajuda de colegas para colocar o animal de 2,1 metros de cumprimento dentro do bote. E viraram manchete de página no jornal do dia seguinte.

Missão cumprida, fato comprovado, retorno à base. E com fome, pois no entusiasmo ninguém da pousada se atentou para o fato de a dupla do jornal não ter almoçado. Não fomos a Laranjeiras nem a Maracaí. Pegamos, já em Assis, o restinho final do almoço do Varanda, ao lado do jornal. Fiz um texto, ilustrado pelas imagens de Lúcio, que ocupou ¼ de página e uma chamada na primeira página.

No dia seguinte, eu e Lúcio estávamos na labuta novamente. Em Assis mesmo, pois saíamos para a região somente uma vez por semana. Tínhamos uma reunião a cobrir no antigo Cierga, hoje Civap, que é um consórcio em comum entre prefeituras do Médio Vale. Chegamos e logo de cara Carlos Arruda Garms, de Paraguaçu, juntamente com Luis Henrique Villa, de Echaporã, lascam: “e aí, vão dizer onde foi a montagem da foto da carpa?”. Vida de jornalista é dura mesmo: verdade absoluta, além de não existir, é realmente uma questão de conceito. Mentirosos, naquela ocasião, não eram bem os pescadores.


FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


DIREITOS...

Novamente a greve nos bancos. Noite dessas fui a uma agência na avenida 9 de Julho e deparei com uma cena intrigante. Todos os caixas eletrônicos em que saca-se dinheiro estavam com uma mensagem mais ou menos assim, na tela: “Tempo excedido para essa transação”. Somente os caixas em que se fazem pagamentos e/ou retiram-se folhas de cheque. Os usuários estavam revoltados, pois tinham ido ali sacar um dinheiro que é deles.

... E DEVERES

Eu fui ao banco pagar um boleto que, por sinal, foi emitido pela Casa Sol, de Marília, via e-mail. Via correio eletrônico porque o boleto não chegaria à minha casa via correio humano, dado à greve dos carteiros e demais funcionários da ECT. Categoria, por sinal, que não rasga nota de cem e está voltando ao trabalho sabendo que teve o ponto cortado por causa da greve.

VOO I
Meu amigo dos tempos de auge do Clube Atlético Assisense, Rodrigo Bertollucci, anda de vento em popa em terras fluminenses. Jornalista com passagem pelo Diário de Assis, na primeira metade dos anos 2000, ele participou da fundação de um jornal em Jacarepaguá. Cinquenta edições depois, compartilhando as funções de jornalista e produtor cultural, fez opção pela segunda.

VOO II

Rodrigo e eu interagimos, enquanto colaboradores mútuos, na cobertura da campanha de 2004 do Falcão do Vale, apelido futebolístico do C. A. Assisense. Hoje, ele continua vinculado ao jornalismo, mas na revista Backstage, uma publicação com 18 anos de bagagem e voltada a produtores de espetáculo e público em geral. Não por acaso, o jornalista formado em Assis está na produção, por exemplo, de shows de Jorge Vercilo e Martinália, além de abrir mercado também para o teatro. Mais um sobrenome de honra para a cidade.

VIRTUALIDADE

No Facebook reencontro meu padrinho Júlio Cézar Garcia. De ídolo admirado, nos anos 1980, Julião honrou-me com a condição de colega de trabalho na rádio Cultura AM/FM, em 1993. Anos depois nos reencontramos na Gazeta do Vale, onde assumi como editor por indicação dele. Situação inusitada aquela: pautar quem eu tinha como modelo para um jornalismo ideal. Júlio César, meu filho que acaba de completar 14 anos em 24 de setembro, é uma das formas de homenagem, minha, a esse amigo que hoje contempla a capital federal Brasília com seu trabalho inquestionavelmente sério

ENFIM

Estranha a cobrança para que este dia 4 de outubro seja feriado municipal. Tudo bem que São Francisco de Assis seja o padroeiro da cidade e outras localidades param tudo em dias assim, mas nos gabamos de dizer que vivemos em um Estado laico, condição esta presente na Constituição. E outubro já tem feriado no dia 12, além de a cada dois anos tirar todos os focos para as eleições ora municipais, ora gerais. Vamos trabalhar que, assim, literalmente, ganhamos mais!

PERGUNTINHA BÁSICA

Onde fica a cara de quem disse que não há condições de tocar o basquete em Assis? O AssisBasket Sub-17 tem pratas da casa, folha salarial insignificante perante à profissional, de anos atrás, e nem por isso repete a campanha mediana dos irmãos mais velhos.

*Jornalista, historiador e professor universitário.

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