05 Outubro de 2011
Causos ao redor da Sucupira do Vale – Parte 1
Cláudio Messias*
Na semana passada, a última de setembro de 2011, escrevi
nestas linhas que Lúcio Coelho, meu amigo-irmão, tem boas histórias a contar.
Muitas, com certeza, a mais do que eu. Nesse mundo do jornalismo de interior,
também chamado de pequena imprensa, as vivências cotidianas, envolvidas na
nossa práxis, rendem histórias e fatos que raras vezes, ou mesmo nunca,
tornam-se notícias.
Foi com Lúcio Coelho, formando uma dupla que convivia, no
dia a dia, muito mais horas, entre si, do que com as respectivas esposas e
famílias, que testemunhei verdadeiros
capítulos da recente história deste que chamamos de Médio Vale Paranapanema,
composto por 13 municípios ora vinculados à economia regional de Marília, ora à
de Presidente Prudente. Assis é a cidade-sede. E de tudo o que vi durante 23
anos de prática do jornalismo nessa terrinha, não titubeio em denomina-la, não
de Cidade Fraternal, como tentaram emplacar nos anos 1980, mas, sim, de
Sucupira do Vale. Só que essa é outra história e narro sobre isso em outra ocasião, se assim
convir.
No texto anterior lembrei daquela que talvez tenha sido uma
das situações mais cômicas com que eu e Lúcio Coelho nos deparamos na rotina do
jornal Voz da Terra. Nem é engraçado o episódio. Mas retrata bem o quão
permanente é o xeque com a nossa habilidade de comunicadores é colocada a cada
virada de hora, a cada piscar de olhos. O factível e o noticiável estão ora
ligados como siameses, ora separados por um abismo de incertezas.
O ano era 1998 e estávamos, eu e meu amigo Lúcio, fazendo um
roteiro de cobertura semanal pela barranca do Paranapanema. Iniciamos por
Pedrinhas Paulista e nos dirigíamos, por volta de 10h30, para Cruzália. De lá,
seguiríamos para São José das Laranjeiras e, enfim, Maracaí. Chegávamos próximo
ao trevo de Cruzália quando Sérgio Vieira, nosso editor, ligara no celular de
Lúcio. Romão Borrego havia telefonado, desde Florínea, para o jornal,
informando ter fisgado uma carpa, ou seja, um peixe - para quem não conhece,
está aí a informação -, de grandes proporções. Iriam pesar o bicho e havia a
possibilidade de dar mais de 30 quilos.
Tudo bem para uma notícia dessas que quebram o gelo da vida
de um repórter e de um fotógrafo, não fosse um detalhe: era dia 1º de abril, ou
seja, Dia Intergalático da Mentira. E daí vem a decupagem do histórico dos
agentes envolvidos nesse processo comunicativo. Romão Borrego sempre foi uma
fonte respeitável, mas fora da vida burocrática de engenheiro do DER-07, era um
sarrista de mão cheia. Sérgio Vieira, igualmente sério em sua função de editor,
também dava as escapadas em pegadinhas que ora passava em Lúcio, com quem tinha
mais proximidade. Juntando os ingredientes temos o prato do dia: uma carpa, que
costumamos ver em tanques e/ou aquários ornamentais, fisgada no Paranapanema,
pesando 30 quilos e ainda por cima em pleno dia 1º de abril.
Não levamos a sério, pois tínhamos agendado os compromissos
em Cruzália, Laranjeiras e Maracaí. Nossa decisão foi rápida, bastando um olhar
43 de um para o outro dentro do Corsinha prata que Eli Elias havia tirado da
Suprema havia poucas semanas. Rápida, também, foi a sugestão de Lúcio ligar, de
seu celular, para Romão Borrego. E isso foi feito, na rotina de conferência que
todo profissional da comunicação tem mesmo de fazer. E do outro telefone vem a
complementação da informação: além de ter 30 quilos já pesados a carpa fora,
não fisgada, mas capturada a golpes de remo. Era demais para nossas pequenas
cabeças cujos fios já começavam a nos abandonar (eu com menor incidência, à
época, e Lúcio com maior incidência). Seguimos viagem e entramos em Cruzália.
Já passava de meio-dia e havíamos programado de almoçar em
Maracaí. Àquela altura tomaríamos é café da tarde na cidade de Toninho
Cavalheiro, pois ainda tínhamos uma pauta em Laranjeiras. Entramos no carro sem
lembrarmos da carpa havia mais de uma hora. Lúcio ligou o carro olhou pra minha
cara e disse: “e esse negócio da carpa, hein, cara?”. A resposta foi imediata,
claro: “Não custa conferir. Vamos lá”. E lá fomos, para Florínea, mais
precisamente no rancho/pousada de Romão Borrego.
Lúcio liga novamente para Sérgio e praticamente o ameaça de
fuzilamento caso se tratasse de uma pegadinha do dia da mentira. E a situação
ganhara área de comédia e nenhum dos agentes envolvidos no processo conseguia
administrar os diálogos com seriedade: nem Sérgio, nem Romão, nem ninguém. A
fome da dupla jornalística era grande, estávamos indo, na pior das hipóteses,
para uma pousada que tinha restaurante e, caso se concretizasse uma brincadeira
de mau gosto, ao menos teríamos feito uma parada obrigatória para seguir a
romaria comunicativa.
Chegamos à pousada por volta de 13h30, com os estômagos nas
costas. Logo no portão de entrada nos deparamos com um bicho enorme pendurado
na viga da cobertura de uma área social. Sim, era uma carpa, pesava exatos 30,3
kg e teria de ser cortada ao meio para caber em dois freezeres horizontais.
Romão havia doado a carpa para uma ou duas creches de Florínea. Juntos, no
local dos fatos, estavam dois pescadores. São moradores das imediações, que
sobrevivem de pequenas pescas no Paranapanema e na noite anterior tiveram mais
um dia de trabalho a serviço de Romão Borrego, a quem serviam com pescados.
Não me recordo dos nomes dos ilustres pescadores, mas jamais
me esqueço que estavam de cabelos penteados e as melhores e menos surradas
roupas que tinham nos armários. História de pescadores à parte, eles mostraram
o local, na cabeça da carpa, onde acertaram um dos remos e controlaram o bicho.
É difícil de acreditar, mas a tal carpa foi vista bem próxima à margem do rio,
de madrugada. Os pescadores a ouviram buscando alimento na margem – por ser
grande, ela se debatia na água rasa. Viram o vulto, chegaram a achar que era um
bicho-monstra dessa lendas que têm personagens como caboclo d´água, mas
resolveram arriscar. Precisaram da ajuda de colegas para colocar o animal de
2,1 metros de cumprimento dentro do bote. E viraram manchete de página no
jornal do dia seguinte.
Missão cumprida, fato comprovado, retorno à base. E com
fome, pois no entusiasmo ninguém da pousada se atentou para o fato de a dupla
do jornal não ter almoçado. Não fomos a Laranjeiras nem a Maracaí. Pegamos, já
em Assis, o restinho final do almoço do Varanda, ao lado do jornal. Fiz um
texto, ilustrado pelas imagens de Lúcio, que ocupou ¼ de página e uma chamada
na primeira página.
No dia seguinte, eu e Lúcio estávamos na labuta novamente.
Em Assis mesmo, pois saíamos para a região somente uma vez por semana. Tínhamos
uma reunião a cobrir no antigo Cierga, hoje Civap, que é um consórcio em comum
entre prefeituras do Médio Vale. Chegamos e logo de cara Carlos Arruda Garms,
de Paraguaçu, juntamente com Luis Henrique Villa, de Echaporã, lascam: “e aí,
vão dizer onde foi a montagem da foto da carpa?”. Vida de jornalista é dura
mesmo: verdade absoluta, além de não existir, é realmente uma questão de
conceito. Mentirosos, naquela ocasião, não eram bem os pescadores.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
DIREITOS...
Novamente a greve nos bancos. Noite dessas fui a uma agência
na avenida 9 de Julho e deparei com uma cena intrigante. Todos os caixas
eletrônicos em que saca-se dinheiro estavam com uma mensagem mais ou menos
assim, na tela: “Tempo excedido para essa transação”. Somente os caixas em que
se fazem pagamentos e/ou retiram-se folhas de cheque. Os usuários estavam
revoltados, pois tinham ido ali sacar um dinheiro que é deles.
... E DEVERES
Eu fui ao banco pagar um boleto que, por sinal, foi emitido
pela Casa Sol, de Marília, via e-mail. Via correio eletrônico porque o boleto
não chegaria à minha casa via correio humano, dado à greve dos carteiros e
demais funcionários da ECT. Categoria, por sinal, que não rasga nota de cem e
está voltando ao trabalho sabendo que teve o ponto cortado por causa da greve.
VOO I
Meu amigo dos tempos de auge do Clube Atlético Assisense,
Rodrigo Bertollucci, anda de vento em popa em terras fluminenses. Jornalista
com passagem pelo Diário de Assis, na primeira metade dos anos 2000, ele
participou da fundação de um jornal em Jacarepaguá. Cinquenta edições depois,
compartilhando as funções de jornalista e produtor cultural, fez opção pela
segunda.
VOO II
Rodrigo e eu interagimos, enquanto colaboradores mútuos, na
cobertura da campanha de 2004 do Falcão do Vale, apelido futebolístico do C. A.
Assisense. Hoje, ele continua vinculado ao jornalismo, mas na revista
Backstage, uma publicação com 18 anos de bagagem e voltada a produtores de
espetáculo e público em geral. Não por acaso, o jornalista formado em Assis
está na produção, por exemplo, de shows de Jorge Vercilo e Martinália, além de
abrir mercado também para o teatro. Mais um sobrenome de honra para a cidade.
VIRTUALIDADE
No Facebook reencontro meu padrinho Júlio Cézar Garcia. De
ídolo admirado, nos anos 1980, Julião honrou-me com a condição de colega de
trabalho na rádio Cultura AM/FM, em 1993. Anos depois nos reencontramos na
Gazeta do Vale, onde assumi como editor por indicação dele. Situação inusitada
aquela: pautar quem eu tinha como modelo para um jornalismo ideal. Júlio César,
meu filho que acaba de completar 14 anos em 24 de setembro, é uma das formas de
homenagem, minha, a esse amigo que hoje contempla a capital federal Brasília
com seu trabalho inquestionavelmente sério
ENFIM
Estranha a cobrança para que este dia 4 de outubro seja
feriado municipal. Tudo bem que São Francisco de Assis seja o padroeiro da
cidade e outras localidades param tudo em dias assim, mas nos gabamos de dizer
que vivemos em um Estado laico, condição esta presente na Constituição. E
outubro já tem feriado no dia 12, além de a cada dois anos tirar todos os focos
para as eleições ora municipais, ora gerais. Vamos trabalhar que, assim,
literalmente, ganhamos mais!
PERGUNTINHA BÁSICA
Onde fica a cara de quem disse que não há condições de tocar
o basquete em Assis? O AssisBasket Sub-17 tem pratas da casa, folha salarial
insignificante perante à profissional, de anos atrás, e nem por isso repete a
campanha mediana dos irmãos mais velhos.
*Jornalista, historiador e professor universitário.
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