segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Uma flor que sai da tela


03 Abril 2012


Cláudio Messias*

Interessante observar o quanto valorizamos o início e o fim da vida, ou seja, os momentos em que o choro provocado pela dor com que o ar inaugura os brônquios e os mesmos brônquios deixam de receber ar. Nascer e morrer são pauta nossa de cada dia. Viver parece ser uma exceção.

Tal gatos, temos, sim, muitas vidas. Se os bichanos têm sete, nós, humanos, temos pelo menos 8. Sim, oito vidas. Em ordem sucessiva e progressiva temos a fase da infância em que nossa educação é informal. Depois, a formalidade da educação quando estamos no ensino fundamental, este, ainda, dividido em primeiro e segundo segmentos. Avançamos, pois, para o ensino médio, para chegar ao ensino superior. Cumprida essa etapa temos a inclusão no mercado profissional. Empregados e em via de estabilidade socioeconômica, nos casamos, juntamos, amigamos ou eternizamos nossa relação com nossos próprios eus. Até que chega a fase de aposentar. Feito isso, espera-se o fim do ar nos brônquios.

Cada uma dessas oito fases é marcada por nascimentos e mortes. Uma transição que no mundo das lagartixas representa e perda do rabo e no das cobras, a troca da pele. Não, não nos comparo a lagartixas, nem a serpentes. Mas ressalto que nossas oito fases de vida têm igual impacto na constituição de um ser animal em permanente transformação. Temos o privilégio de guardar a memória a partir da razão, mas não encontramos um ser sequer da espécie que se recorde daquilo que fez ou que passou quando tinha um ano de idade. Sim, somos estranhos e nos igualamos a muitos dos outros animais quando temos um ano de idade. Identificamos a mãe pelo cheiro, pelo tato, pelo gosto, pelo calor do corpo.

A longevidade do brasileiro chega, segundo números governamentais, a mais de 65 testemunhos de cada volta do planeta em torno do sol. Vive-se cada vez mais, percebe-se cada vez menos a existência de pares da mesma espécie. Se nasce mais um, levam-se flores à genitora. Se morre mais um, igualmente levam-se flores aos mais afetados pela perda. Flor, a mesma planta que ornamenta vasos nos dias sazonais das mães, dos namorados, das mulheres, das secretárias, das amantes.

É exatamente da metáfora da flor que quero falar neste momento. Cheguei até aqui para citar uma flor humana. Uma professora. Uma mulher que estudou piano na infância, francês na escola e a vida, na faculdade. Uma mineira que teve passagem pelo Vale do Paraíba e chegou a Assis nos anos iniciais do processo de redemocratização do país. Me refiro a Regina Aparecida Ribeiro Siqueira, com cadeira eternizada no Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis.

Aos mais fatalistas aviso desde já: Regina está viva, com saúde plena, enfim, está humanamente normal. Ela, que chegou à Unesp de Assis em 1986, contemplou-me com a vivência em duas ocasiões muito distintas. A primeira, como professora na disciplina Psicologia da Educação, quando iniciei o curso de Letras em 1993. A outra, como amiga, a partir de 2004, quando juntamente com Rozana, minha esposa, iniciou doutorado na Unesp de Marília. Três anos depois eu, na condição de quartoanista em História, convivi novamente com Regina em uma das experiências mais gratificantes de minha carreira de professor, no Projeto de Educação de Jovens e Adultos, o Peja, coordenado por ela.

Regina pertence a uma rara gama de pessoas que nos tranquilizam só pela conversa. E não é simplesmente a conversa dela que dá essa tranquilidade. Conversar com ela é um desses deleites que, imagino, os boêmios encontram na relação bebida/noite, os pecadores em rio/natureza/peixe, enfim... No primeiro ano de Letras eu tinha 23 anos, ralava para chegar à Unesp, à noite, e me deparava com Regina sentada à mesa em sua posição de pernas característica: pés abaixo da cadeira, cruzados. Os cotovelos, postos à mesa de maneira a manter a coluna ereta, a colocavam de frente para a sala e dali se estendiam duas horas ora de monólogo, ora de diálogo, ora de debate. Nem todos apreciavam aquele método. Normal em um mundo em que nem todos reconhecem o valor da educação.

As fotos de nossos arquivos de família, aqui em casa, mostram uma amiga Regina exatamente igual à professora Regina. Sentada ergometricamente correta, pés cruzados para trás debaixo da cadeira, a presença dessa pessoa na vida das demais é marcante e impressionante. A professora que conversa com alunos na representação de um parente fora de casa também consegue, mesmo não sendo, ser um parente dentro de uma casa que frequenta. Aqui, por exemplo, não raramente, em ocasiões de aniversários ou almoços dominicais especiais, um filho ou outro, na ausência de nossa amiga, pergunta: “ uai, a Regina não vem?”. Sim, ela torna-se uma parte de nós com seu jeitinho que é uma mescla de anjo, mãe, irmã mais velha... Religiosos mais fervorosos a comparariam a uma santa. Santa Regina da Presença Iluminada.

Quando estive em Caxias do Sul, em 2010, participando do Congresso Nacional da Intercom, almocei com a família que me recebeu. Era o último dia de minha estada. Fomos a uma chácara nos arredores e, lá, ouvi uma história interessante que em muito tem a ver com o que estou escrevendo agora. Haveria, na serra gaúcha, uma tal Flor do Pampa. Uma planta cujas cores variam de amarelo a vermelho e que floresce no verão e no inverno, mais ou menos como a nossa Erva de São João, que aqui no Oeste Paulista floresce somente no outono/inverno e depois desaparece). Uma espécie que jamais foi replantada (se você a retirar do local ela simplesmente não vinga). E tem mais: se você sair à procura da flor, não a encontrará. Seu avistamento só ocorre casualmente.

O que há de diferente nessa Flor do Pampa é que de uma flor saem diversas outras plantinhas, que só nascerão na virada das estações outono/inverno e primavera/verão. Como eu já disse, não adianta colher uma flor e tentar plantá-la. As outras flores, nascidas a partir das matrizes, só irão vingar em locais e momentos que elementos naturais alheios à vontade da razão humana determinarem.

Somos todos essas flores que cito no texto. Existem as flores comuns, colocadas em vasos para comemorar nascimentos, lamentar mortes e homenagear classes de pessoas. Mas existem as flores do pampa que, tal qual professora Regina, apareceram do nada, nos trouxeram a beleza da vida, o perfume da simplicidade e a humildade da espécie, condições que, curtas dentro da complexidade que é nossa passagem pela terra, merecem reflexão.

Regina, agora, é a Flor do Pampa incubada na fase entre-estações. Sua florada, na Unesp, começou em 1986 e terminou em 2012. Sim, a oitava vida, dela, começou. A aposentadoria fez sair da sala de aula, ora entendida como pampa, uma flor que por mais de um quarto de século deu cores e tons à aquarela da formação de professores de línguas em Assis. A aula de despedida aconteceu justamente na transição do verão para o outono. E no mais lindo espetáculo da natureza, eis que a Flor do Pampa deu fruto e fez nascer, de imediato, outra flor, pois as exceções não são exclusividade humana. A nova Flor do Pampa tem nome, chama-se Rozana Aparecida Lopes Messias e sempre esteve ali, no pampa, ao lado de Regina. Sim, a ex-aluna de Letras fez doutorado junto com Regina. Professora e aluna estudaram juntas e trilharam nessa condição. Hoje, uma sucede à outra. E o jardim aberto do pampa e a educação não podem parar. Porque a vida continua independentemente de quem as protagoniza.

* Jornalista, professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.



FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


AUSÊNCIA – Os mais de 30 dias sem escrever neste espaço devem-se a pequenos ajustes, necessários, feitos no cotidiano deste autor.

MEDIDA INCERTA I – Àqueles que me cobravam postagem sobre o desempenho na balança, eis: 99,6 kg. Na rotina, hidromusculação duas vezes por semana e alimentação dividida em café da manhã; almoço e café da tarde. Todas essas refeições intercaladas com o consumo de uma banana nanica ou, agora, caqui mole.

MEDIDA INCERTA II – Em fevereiro, quando viajei com a família para Bombinhas/SC, cheguei ao ápice de 104,7 kg, resultado do consumo de porções de camarão que pingavam óleo. Lá, eu jantava. Aqui, eliminei essa refeição noturna.

MEDIDA INCERTA III – Nesse ínterim passei pelo cardiologista Marcos Elias Nicolau. Refiz a bateria de exames, cujos resultados comprovaram o que virou moda afirmar: sal e açúcar são nocivos. Por quê? Explico: um ano atrás, por recomendação do próprio Marcos Elias, reduzi sal e açúcar no meu cardápio, pois havia alteração em minha pressão arterial e no diabetes (110), além de colesterol bom e ruim e outros tantos detalhes do homograma.

MEDIDA INCERTA IV – Aqui em casa cozinhamos eu e minha esposa, Rozana. Fomos, aos poucos, diminuindo a quantidade de sal colocada nas refeições. Temos dois filhos adolescentes e não queríamos que eles percebessem o impacto de tal privação dos temperos.

MEDIDA INCERTA V – Mês passado, em uma dessas situações de última hora em que não dá tempo de cozinhar, levei os dois filhos para almoçar em um determinado restaurante de supermercado. Havia bife à parmegiana. Pegamos. E o conssenso à mesa: havia alto teor de sal. Detalhe: o bife estava praticamente sem sal. O que estava salgado era a mozarela que compunha o molho. E muito salgado? Não. Nosso paladar é que está alterado, ou seja, o corpo passa a resistir a esse tipo de excesso tão nocivo a nosso equilíbrio.

MEDIDA INCERTA VI – Nos exames feitos a pedido do cardiologista deu tudo normal. Com direito a Marcos Elias surpreender-se com a redução no índice de diabetes, agora abaixo de 90. Feito isso, o desafio, além de manter sal e açúcar (adotamos o açúcar light) abaixo da medida, é eliminar o consumo de gorduras animal e vegetal. Estamos em plena execução. Veremos o resultado em 2013.

NO AR I – Voltou ao ar neste dia 2 de abril o programa Circuito Esportivo, sob o comando de Nestário Luiz e comentários de Ítalo Luiz, na Rádio Fema FM 105,9. Eles, alunos do 4º ano de Jornalismo da Fema, são Neymar e Ganso do jornalismo esportivo da região. Promessas, não. Realidade.

NO AR II – ‘Circuito’ é o único programa esportivo de rádio de Assis na atualidade. Panorama Esportivo, que por mais de 30 anos foi ao ar na Rádio Cultura AM, foi tirado da programação quando a emissora converteu-se ao gênero gospel.

PÁGINA VIRADA I - Meu amigo e padrinho profissional Ulisses Souza está de volta à editoria executiva do Oeste Notícias, em Presidente Prudente. Agora, com uma novidade no mínimo ousada da família Lima: o jornal acabou com a versão impressa para assinantes.

PÁGINA VIRADA II – Os assinantes receberam login e senha para acessar o conteúdo integral do jornal pela internet. A versão impressa, agora, só é encontrada em bancas.

PÁGINA VIRADA III – Nas primeiras semanas da iniciativa foram feitas 500 assinaturas online. Com a desativação do setor de distribuição a redução de custos correspondeu à folha de pagamento da redação.

TV ONLINE – Entrou no ar neste dia 2 de abril a TvNetLive. Quem protagoniza o projeto é Cícero da Mota, o Cicinho. A tv online de Assis pode ser acessada no endereço www.tvnetlive.com.br.

MEIO MILHÃO À VISTA – A versão online do Jornal da Segunda atingiu 300 mil acessos neste domingo, 1º de abril. Na data especial, um recorde: 3 mil acessos em um único dia. Na média o JSOL tem 984 acessos/dia desde que entrou no ar. Em 2012, no entanto, essa média tem sido de 1.200 acessos/dia.

MEIO MILHÃO À VISTA II – Caso mantenha a média de 1.200 acessos/dia o site mantido por Reinaldo Nunes, o Português, chegará a meio milhão de acessos em meados de setembro deste ano.

AULA PRÁTICA I – Os estudantes de Jornalismo da Fema tiveram um bate-papo ao vivo, via Skype, com o editor de Economia e Variedades do portal UOL Notícias, do Grupo Folha, Armando Pereira Filho. A conversa aconteceu nesta segunda-feira, 2 de abril, das 21h40 às 22h50.

AULA PRÁTICA II – O próximo passo, agora, é formar um grupo com os estudantes que participaram do diálogo e visitar a redação do UOL Notícias, em São Paulo. O convite foi feito pelo próprio jornalista.

TORNEIRA SECA I – A proximidade do vigor de mais alguns pontos da Lei 7.663/91, que regulamenta o uso racional da água, fez com que o Assis Tênis Clube desativasse, mês passado, a bica d´água que havia décadas era usada como fonte de abastecimento por populares.

TORNEIRA SECA II – Pela legislação, os proprietários que têm poços artesianos e nascentes em suas áreas farão o recolhimento proporcional à vasão. Ou seja, na prática o ATC pagaria para que os populares fossem abastecidos com água teoricamente potável.

TORNEIRA SECA III – Igual fim, ou seja, o fechamento, deverá ter a famosa mina da Cristalina, mantida pela Cervejaria Malta. Por vasão, a empresa pagará pelo duto que abastece a ‘mina’, uma vez que o controle de ligação é feito dentro da indústria.

ZERO GRAU
Tomei, enfim, um chope gelado em Assis, ‘no ponto’ que buscava havia meses. Comemorando o aniversário de meu filho mais velho, Vítor, apreciei um chope Brahma quase congelando no Villas Pizzaria na semana passada. E o que é melhor: pedi o segundo chope sem colarinho e não me cobraram nada a mais por isso.

DE APLAUDIR
Apreciei a experiência de assistir um belo show, confortavelmente sentado e razoavelmente servido. Ver Almir Satter no Clube São Paulo foi ocasião ímpar.

PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER...
Pegar uma demanda de serviço docente de pós-graduação e rezar para que o trabalho, por tempo determinado, não atinja mensalmente a alíquota de imposto de renda é o fim do candango. E a hipocrisia vermelha predomina no país que dá certo para alguns.

PERGUNTINHA BÁSICA
Por que de tanta incidência de direitos políticos suspensos só em anos de eleição municipal?

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