03 Abril 2012
Cláudio Messias*
Interessante observar o
quanto valorizamos o início e o fim da vida, ou seja, os momentos em que o
choro provocado pela dor com que o ar inaugura os brônquios e os mesmos
brônquios deixam de receber ar. Nascer e morrer são pauta nossa de cada dia.
Viver parece ser uma exceção.
Tal gatos, temos, sim,
muitas vidas. Se os bichanos têm sete, nós, humanos, temos pelo menos 8. Sim,
oito vidas. Em ordem sucessiva e progressiva temos a fase da infância em que
nossa educação é informal. Depois, a formalidade da educação quando estamos no
ensino fundamental, este, ainda, dividido em primeiro e segundo segmentos.
Avançamos, pois, para o ensino médio, para chegar ao ensino superior. Cumprida
essa etapa temos a inclusão no mercado profissional. Empregados e em via de
estabilidade socioeconômica, nos casamos, juntamos, amigamos ou eternizamos
nossa relação com nossos próprios eus. Até que chega a fase de aposentar. Feito
isso, espera-se o fim do ar nos brônquios.
Cada uma dessas oito fases
é marcada por nascimentos e mortes. Uma transição que no mundo das lagartixas
representa e perda do rabo e no das cobras, a troca da pele. Não, não nos
comparo a lagartixas, nem a serpentes. Mas ressalto que nossas oito fases de
vida têm igual impacto na constituição de um ser animal em permanente
transformação. Temos o privilégio de guardar a memória a partir da razão, mas
não encontramos um ser sequer da espécie que se recorde daquilo que fez ou que
passou quando tinha um ano de idade. Sim, somos estranhos e nos igualamos a
muitos dos outros animais quando temos um ano de idade. Identificamos a mãe
pelo cheiro, pelo tato, pelo gosto, pelo calor do corpo.
A longevidade do brasileiro
chega, segundo números governamentais, a mais de 65 testemunhos de cada volta
do planeta em torno do sol. Vive-se cada vez mais, percebe-se cada vez menos a
existência de pares da mesma espécie. Se nasce mais um, levam-se flores à
genitora. Se morre mais um, igualmente levam-se flores aos mais afetados pela
perda. Flor, a mesma planta que ornamenta vasos nos dias sazonais das mães, dos
namorados, das mulheres, das secretárias, das amantes.
É exatamente da metáfora da
flor que quero falar neste momento. Cheguei até aqui para citar uma flor
humana. Uma professora. Uma mulher que estudou piano na infância, francês na
escola e a vida, na faculdade. Uma mineira que teve passagem pelo Vale do
Paraíba e chegou a Assis nos anos iniciais do processo de redemocratização do
país. Me refiro a Regina Aparecida Ribeiro Siqueira, com cadeira eternizada no
Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis.
Aos mais fatalistas aviso
desde já: Regina está viva, com saúde plena, enfim, está humanamente normal.
Ela, que chegou à Unesp de Assis em 1986, contemplou-me com a vivência em duas
ocasiões muito distintas. A primeira, como professora na disciplina Psicologia
da Educação, quando iniciei o curso de Letras em 1993. A outra, como amiga, a
partir de 2004, quando juntamente com Rozana, minha esposa, iniciou doutorado
na Unesp de Marília. Três anos depois eu, na condição de quartoanista em
História, convivi novamente com Regina em uma das experiências mais
gratificantes de minha carreira de professor, no Projeto de Educação de Jovens
e Adultos, o Peja, coordenado por ela.
Regina pertence a uma rara
gama de pessoas que nos tranquilizam só pela conversa. E não é simplesmente a
conversa dela que dá essa tranquilidade. Conversar com ela é um desses deleites
que, imagino, os boêmios encontram na relação bebida/noite, os pecadores em
rio/natureza/peixe, enfim... No primeiro ano de Letras eu tinha 23 anos, ralava
para chegar à Unesp, à noite, e me deparava com Regina sentada à mesa em sua
posição de pernas característica: pés abaixo da cadeira, cruzados. Os
cotovelos, postos à mesa de maneira a manter a coluna ereta, a colocavam de
frente para a sala e dali se estendiam duas horas ora de monólogo, ora de
diálogo, ora de debate. Nem todos apreciavam aquele método. Normal em um mundo
em que nem todos reconhecem o valor da educação.
As fotos de nossos arquivos
de família, aqui em casa, mostram uma amiga Regina exatamente igual à
professora Regina. Sentada ergometricamente correta, pés cruzados para trás
debaixo da cadeira, a presença dessa pessoa na vida das demais é marcante e impressionante.
A professora que conversa com alunos na representação de um parente fora de
casa também consegue, mesmo não sendo, ser um parente dentro de uma casa que
frequenta. Aqui, por exemplo, não raramente, em ocasiões de aniversários ou
almoços dominicais especiais, um filho ou outro, na ausência de nossa amiga,
pergunta: “ uai, a Regina não vem?”. Sim, ela torna-se uma parte de nós com seu
jeitinho que é uma mescla de anjo, mãe, irmã mais velha... Religiosos mais
fervorosos a comparariam a uma santa. Santa Regina da Presença Iluminada.
Quando estive em Caxias do
Sul, em 2010, participando do Congresso Nacional da Intercom, almocei com a
família que me recebeu. Era o último dia de minha estada. Fomos a uma chácara
nos arredores e, lá, ouvi uma história interessante que em muito tem a ver com
o que estou escrevendo agora. Haveria, na serra gaúcha, uma tal Flor do Pampa.
Uma planta cujas cores variam de amarelo a vermelho e que floresce no verão e
no inverno, mais ou menos como a nossa Erva de São João, que aqui no Oeste
Paulista floresce somente no outono/inverno e depois desaparece). Uma espécie
que jamais foi replantada (se você a retirar do local ela simplesmente não
vinga). E tem mais: se você sair à procura da flor, não a encontrará. Seu
avistamento só ocorre casualmente.
O que há de diferente nessa
Flor do Pampa é que de uma flor saem diversas outras plantinhas, que só
nascerão na virada das estações outono/inverno e primavera/verão. Como eu já
disse, não adianta colher uma flor e tentar plantá-la. As outras flores,
nascidas a partir das matrizes, só irão vingar em locais e momentos que
elementos naturais alheios à vontade da razão humana determinarem.
Somos todos essas flores
que cito no texto. Existem as flores comuns, colocadas em vasos para comemorar
nascimentos, lamentar mortes e homenagear classes de pessoas. Mas existem as
flores do pampa que, tal qual professora Regina, apareceram do nada, nos
trouxeram a beleza da vida, o perfume da simplicidade e a humildade da espécie,
condições que, curtas dentro da complexidade que é nossa passagem pela terra,
merecem reflexão.
Regina, agora, é a Flor do
Pampa incubada na fase entre-estações. Sua florada, na Unesp, começou em 1986 e
terminou em 2012. Sim, a oitava vida, dela, começou. A aposentadoria fez sair
da sala de aula, ora entendida como pampa, uma flor que por mais de um quarto
de século deu cores e tons à aquarela da formação de professores de línguas em
Assis. A aula de despedida aconteceu justamente na transição do verão para o
outono. E no mais lindo espetáculo da natureza, eis que a Flor do Pampa deu
fruto e fez nascer, de imediato, outra flor, pois as exceções não são
exclusividade humana. A nova Flor do Pampa tem nome, chama-se Rozana Aparecida
Lopes Messias e sempre esteve ali, no pampa, ao lado de Regina. Sim, a ex-aluna
de Letras fez doutorado junto com Regina. Professora e aluna estudaram juntas e
trilharam nessa condição. Hoje, uma sucede à outra. E o jardim aberto do pampa
e a educação não podem parar. Porque a vida continua independentemente de quem
as protagoniza.
* Jornalista, professor universitário, é mestre em Ciências
da Comunicação pela ECA/USP.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
AUSÊNCIA – Os mais de 30
dias sem escrever neste espaço devem-se a pequenos ajustes, necessários, feitos
no cotidiano deste autor.
MEDIDA INCERTA I – Àqueles
que me cobravam postagem sobre o desempenho na balança, eis: 99,6 kg. Na
rotina, hidromusculação duas vezes por semana e alimentação dividida em café da
manhã; almoço e café da tarde. Todas essas refeições intercaladas com o consumo
de uma banana nanica ou, agora, caqui mole.
MEDIDA INCERTA II – Em
fevereiro, quando viajei com a família para Bombinhas/SC, cheguei ao ápice de
104,7 kg, resultado do consumo de porções de camarão que pingavam óleo. Lá, eu
jantava. Aqui, eliminei essa refeição noturna.
MEDIDA INCERTA III – Nesse
ínterim passei pelo cardiologista Marcos Elias Nicolau. Refiz a bateria de
exames, cujos resultados comprovaram o que virou moda afirmar: sal e açúcar são
nocivos. Por quê? Explico: um ano atrás, por recomendação do próprio Marcos
Elias, reduzi sal e açúcar no meu cardápio, pois havia alteração em minha
pressão arterial e no diabetes (110), além de colesterol bom e ruim e outros
tantos detalhes do homograma.
MEDIDA INCERTA IV – Aqui em
casa cozinhamos eu e minha esposa, Rozana. Fomos, aos poucos, diminuindo a
quantidade de sal colocada nas refeições. Temos dois filhos adolescentes e não
queríamos que eles percebessem o impacto de tal privação dos temperos.
MEDIDA INCERTA V – Mês
passado, em uma dessas situações de última hora em que não dá tempo de
cozinhar, levei os dois filhos para almoçar em um determinado restaurante de
supermercado. Havia bife à parmegiana. Pegamos. E o conssenso à mesa: havia
alto teor de sal. Detalhe: o bife estava praticamente sem sal. O que estava
salgado era a mozarela que compunha o molho. E muito salgado? Não. Nosso
paladar é que está alterado, ou seja, o corpo passa a resistir a esse tipo de
excesso tão nocivo a nosso equilíbrio.
MEDIDA INCERTA VI – Nos
exames feitos a pedido do cardiologista deu tudo normal. Com direito a Marcos
Elias surpreender-se com a redução no índice de diabetes, agora abaixo de 90.
Feito isso, o desafio, além de manter sal e açúcar (adotamos o açúcar light)
abaixo da medida, é eliminar o consumo de gorduras animal e vegetal. Estamos em
plena execução. Veremos o resultado em 2013.
NO AR I – Voltou ao ar
neste dia 2 de abril o programa Circuito Esportivo, sob o comando de Nestário
Luiz e comentários de Ítalo Luiz, na Rádio Fema FM 105,9. Eles, alunos do 4º
ano de Jornalismo da Fema, são Neymar e Ganso do jornalismo esportivo da
região. Promessas, não. Realidade.
NO AR II – ‘Circuito’ é o
único programa esportivo de rádio de Assis na atualidade. Panorama Esportivo,
que por mais de 30 anos foi ao ar na Rádio Cultura AM, foi tirado da
programação quando a emissora converteu-se ao gênero gospel.
PÁGINA VIRADA I - Meu amigo
e padrinho profissional Ulisses Souza está de volta à editoria executiva do
Oeste Notícias, em Presidente Prudente. Agora, com uma novidade no mínimo
ousada da família Lima: o jornal acabou com a versão impressa para assinantes.
PÁGINA VIRADA II – Os
assinantes receberam login e senha para acessar o conteúdo integral do jornal pela
internet. A versão impressa, agora, só é encontrada em bancas.
PÁGINA VIRADA III – Nas
primeiras semanas da iniciativa foram feitas 500 assinaturas online. Com a
desativação do setor de distribuição a redução de custos correspondeu à folha
de pagamento da redação.
TV ONLINE – Entrou no ar
neste dia 2 de abril a TvNetLive. Quem protagoniza o projeto é Cícero da Mota,
o Cicinho. A tv online de Assis pode ser acessada no endereço www.tvnetlive.com.br.
MEIO MILHÃO À VISTA – A
versão online do Jornal da Segunda atingiu 300 mil acessos neste domingo, 1º de
abril. Na data especial, um recorde: 3 mil acessos em um único dia. Na média o
JSOL tem 984 acessos/dia desde que entrou no ar. Em 2012, no entanto, essa
média tem sido de 1.200 acessos/dia.
MEIO MILHÃO À VISTA II –
Caso mantenha a média de 1.200 acessos/dia o site mantido por Reinaldo Nunes, o
Português, chegará a meio milhão de acessos em meados de setembro deste ano.
AULA PRÁTICA I – Os
estudantes de Jornalismo da Fema tiveram um bate-papo ao vivo, via Skype, com o
editor de Economia e Variedades do portal UOL Notícias, do Grupo Folha, Armando
Pereira Filho. A conversa aconteceu nesta segunda-feira, 2 de abril, das 21h40
às 22h50.
AULA PRÁTICA II – O próximo
passo, agora, é formar um grupo com os estudantes que participaram do diálogo e
visitar a redação do UOL Notícias, em São Paulo. O convite foi feito pelo
próprio jornalista.
TORNEIRA SECA I – A
proximidade do vigor de mais alguns pontos da Lei 7.663/91, que regulamenta o
uso racional da água, fez com que o Assis Tênis Clube desativasse, mês passado,
a bica d´água que havia décadas era usada como fonte de abastecimento por
populares.
TORNEIRA SECA II – Pela
legislação, os proprietários que têm poços artesianos e nascentes em suas áreas
farão o recolhimento proporcional à vasão. Ou seja, na prática o ATC pagaria
para que os populares fossem abastecidos com água teoricamente potável.
TORNEIRA SECA III – Igual
fim, ou seja, o fechamento, deverá ter a famosa mina da Cristalina, mantida
pela Cervejaria Malta. Por vasão, a empresa pagará pelo duto que abastece a
‘mina’, uma vez que o controle de ligação é feito dentro da indústria.
ZERO GRAU
Tomei, enfim, um chope
gelado em Assis, ‘no ponto’ que buscava havia meses. Comemorando o aniversário
de meu filho mais velho, Vítor, apreciei um chope Brahma quase congelando no
Villas Pizzaria na semana passada. E o que é melhor: pedi o segundo chope sem
colarinho e não me cobraram nada a mais por isso.
DE APLAUDIR
Apreciei a experiência de
assistir um belo show, confortavelmente sentado e razoavelmente servido. Ver
Almir Satter no Clube São Paulo foi ocasião ímpar.
PAREM O MUNDO PORQUE EU
QUERO DESCER...
Pegar uma demanda de
serviço docente de pós-graduação e rezar para que o trabalho, por tempo
determinado, não atinja mensalmente a alíquota de imposto de renda é o fim do
candango. E a hipocrisia vermelha predomina no país que dá certo para alguns.
PERGUNTINHA BÁSICA
Por que de tanta incidência
de direitos políticos suspensos só em anos de eleição municipal?
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