20 Outubro de 2011
Como fazer um trabalho de
conclusão de curso? Atalhos, fraudes e apelação
Cláudio Messias*
clmessias@estadao.com.br
Não estranhe. Elaborei o
título deste texto propositadamente. O faço como isca, lançada neste mar de
ilusões chamado sistema de buscas online.
Não tenho condições de saber a audiência de meus textos publicados aqui neste
portal, mas não tenho dúvidas que tende a ser, entre os que já publiquei, o que
mais acesso terá. E não serão acessos sazonalizados pelo intervalo médio de uma
semana a dez dias que levo para fazer minhas publicações. Serão, sim, acessos
praticamente permanentes. Não é exagero nenhum dizer que daqui a vinte anos
haverá quem ainda o acesse.
Não, não estou me gabando de
ter um texto de qualidade ou de conteúdo que interesse a gerações inteiras, até
porque não tenho. Afinal, se minha profecia se concretizar, meus netos - se os
tiver - terão condições de ler o que o avô pontuou antes mesmo de serem
planejados. Uma certeza eu tenho e terei: dos centenas e, por que não, milhares
de internautas que tiverem acessado a este texto nas próximas duas décadas, a
maioria absoluta deles não terá chegado à leitura do final deste segundo
parágrafo.
Continua não entendendo nada?
Vou explicar. Empreguei estrategicamente o título “como fazer um trabalho de
conclusão de curso?” para atrair buscas que se fazem por esta construção de
sentidos presente no tal título, via internet. E quem faz este tipo de busca?
Com certeza, nem o posto Ipiranga da propaganda de TV tem essa resposta. Mas dá
para arriscar. Meu palpite: buscam respostas à pergunta desse título pessoas
que têm preguiça de pensar.
Até 2003 ajudei muitos amigos
e até desconhecidos na revisão de TCCs, monografias de lato sensu, dissertações
e teses. Nunca estabeleci um preço para esse tipo de serviço. Preferia os
presentes que vinham depois, como um livro, um CD ou mesmo algumas guloseimas
ofertadas pelos autores. Minhas revisões não focavam a metodologia científica
das pesquisas, mas o enquadramento nas normas da ABNT e a correção de lapsos,
ora de digitação, ora de ortografia, ora de gramática, normais da parte de quem
produz texto mais preocupado com o conteúdo do que com a estética.
Certa vez, em Marília, li uma
dissertação de mestrado intrigante. Falava de Norbert Elias e sua reflexão sobre
o tempo e o espaço. Era mais um trabalho com quase 200 páginas, com uma
narrativa interessante demais, além da conta. Eu não conhecia pessoalmente o
autor da dissertação; fora indicado por um grande amigo com quem eu trabalhava.
Gostei tanto do trabalho que recorri às leituras de Norbert Elias para
aprofundar as reflexões – eu teria contato com autor e obra na graduação em
História, um ano depois. Mas, passadas algumas semanas, tive a notícia: aquela
dissertação havia sido rechaçada pela banca. Fiquei assustado com a notícia,
pois me sentia parte daquele texto. Fui acalmado pelo interlocutor daquela
informação: havia plágio no texto. Uma tese de doutoramento, defendida anos
antes em Campinas, fora praticamente copiada por inteiro.
Em 2003 o Google ainda era
“gógle”, como me definia nominalmente o
site de buscas, à época, um colega de trabalho no Jornal da Manhã. E já era
suficiente para desbancar Yahoo!, Altavista e outros sites de buscas que
reinavam na época. Foi, pois, no Google que um membro daquela banca flagrou o
plágio. E o que fez o autor? Além de ganhar tempo para refazer o trabalho,
desapareceu no mapa. Caiu, certamente, no anonimato a que expurga a ciência
quando de flagrantes do gênero.
Estou escrevendo isso tudo
fugindo um pouco de minha proposta para este rico espaço, para onde eu havia
reservado expectativa de produzir excertos sobre o mundo da comunicação. Mas,
se você é um dos internautas que fez busca por “como fazer um trabalho de
conclusão de curso?” e chegou até esta metade do texto, siga um conselho: pare
por aqui. Não avance mais nas suas buscas. Neste exato momento, às 11h45 deste
dia 20/10/2011, faço a mesma busca que você e aparecem, no Google, 2.100.000
resultados (sim, 2,1 milhões), feitos em 0,09 segundos. No topo, como primeiro
resultado de busca, aparece um tal sugestivo “cola da web”. O que quero dizer é
que você, que está meio perdido sobre o que e como fazer, acaba se rendendo às
iscas lançadas e parte para a fraqueza de, além de ‘inspirar-se’ naquilo que a
web orienta, instrui, apropria-se, também, das ideias aqui presentes. Seu tema,
com certeza, é compatível a algo que já foi escrito – se assim não fosse, seria
uma tese, e não um TCC. Basta encontrar um objeto semelhante e/ou idêntico e
pronto: suas reflexões dão lugar às conclusões alheias. O plágio, pois, está
configurado.
E o que isso tudo representa
na sua vida? Depende. Se você está fazendo uma graduação, um lato sensu ou um
stricto sensu, essa sua decisão de ceder ou não ao que insanamente a web
oferece com certeza representará a sua real identidade naquilo que se propõe a
exercer enquanto profissional. Plagiar uma reflexão que não é sua, um enunciado
que não é seu, uma leitura que você não fez, isso é gravíssimo. Alguém o fez
por você. E esse alguém muito provavelmente varou as madrugadas, em que você
dormiu, lendo livros que você sequer teve a coragem de comprar. Sabe aquela
tarde de domingo que você passou no parque, no pesqueiro ou na praia, tomando
suco, cerveja ou simplesmente cochilando? Então, naquele momento o autor por
você plagiado estava escrevendo o texto que você copiou e colou no seu arquivo
do Word. Sua única preocupação, naquele momento, era adequar fonte, corpo e
formatação do parágrafo ao padrão que escolheu para o seu trabalho de
conclusão. Aliás, está aí a única coisa que é de sua autoria.
Sim, é uma bandidagem praticar
o plágio. O plagiado é vítima, o plagiador é réu. Na vida jornalística ouvi, em
flagrantes de delito cobertos na práxis de transformar fatos em notícias, um
discurso comum daqueles que, algemados, transitavam da liberdade para o cárcere:
“não tinha o que levar de comer em casa, por isso roubei”. Ou “ele tem muito e
eu não tenho nada”. Também há a célebre frase “não vai fazer falta a ele(s),
por isso roubei”. E, para finalizar, “achei que ninguém descobriria”. São
frases que se encaixam perfeitamente na realidade de quem é flagrado em
situação de plágio. Tudo exatamente igual. Inclusive, as lágrimas que correm o
rosto de quem opta por tal bandidagem. É incrível, mas tanto quem rouba quanto
quem plagia, chora quando flagrado. Arrependimento ou vergonha, mas, chora-se.
Estou na docência há seis anos
e tenho perpassado por ambientes diversos. Da sala de aula em escolas públicas
às universidades públicas e privadas, já experimentei um pouco de tudo em se
tratando de ensino/aprendizagem. Meu estágio de ingresso à docência foi feito
na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, que está no
ranking das 200 melhores do mundo. E, lá, um lugar que para entrar precisa-se
disputar vaga com mais de 20 candidatos devidamente preparados por cursinhos
caríssimos, vi situações de apropriação de autoria alheia por parte de
estudantes tidos como os melhores. Logo no meu primeiro ano como orientador de
TCC, em graduação em Jornalismo, em uma instituição privada, lá estava situação
flagrante de plágio. Agora, como orientador na pós-graduação, deparo-me com a
mesma vergonhosa situação.
Tenho meu perfil, que é resultante
do agregar de perfis de profissionais com quem convivi. Não admito plágio. Aprendi
a não ser tolerante a isso. E reduzo ao mesmo patamar baixo aqueles colegas
profissionais, docentes, que consentem com o plágio. Vistas grossas a essa
prática é como orientar para tal. E defendo: se a situação é flagrante, um
escárnio, que formando e orientador recebam igual punição; um por prática,
outro por conivência.
Fica, aqui, o registro. Pouco
ou nada valerá, o que não significa que não mereça reflexão. A você que chegou
até o final deste texto, talvez ainda haja alguma dúvida sobre seguir ou não em
busca de atalhos que o levem ao seu trabalho de conclusão. Metaforicamente, eu
digo: não experimente essa droga. O pó, a porção de erva ou a pedra e o
cachimbo, meu amigo, estão à sua frente neste momento. Continuar buscando seu
objeto científico na internet o fará alinhar a carreirinha, queimar a erva ou
acender o cachimbo. Será uma ida sem volta. Com certeza você encontrará a
fórmula do seu trabalho, podendo, ou não, avançar para um excerto ou outro que
contemplem o seu objeto. Todo ou parcial, lá estará o trabalho, apresentando
sua proposta para fechamento do ciclo de passagem pela academia.
Orientador existe para
orientar; livro, para ler; e texto, a se escrever. Orientador o guia, os livros
dão embasamento teórico àquilo que você quer pesquisar e será o seu texto, com
os equívocos gramaticas que lhe são pertinentes, que constituirão a sua
formação. Se é um TCC de graduação, tal texto mostrará à comunidade acadêmica e
à sociedade aqui de fora que você passou quatro ou cinco anos suficientemente
se preparando para ser o profissional previsto na ementa do seu curso. Idem
para uma especialização, em lato sensu, e um mestrado, doutorado ou
pós-doutorado, em stricto sensu.
Algumas linhas atrás eu disse
que tais opções, pela legitimidade na produção textual ou pelo plágio,
definirão qual tipo de profissional você será. Dependendo do contexto, o seu
plágio pode não ser flagrado. E você irá para o mercado. Terá oportunidade de
redimir-se, mas jamais deixará de ser um frankeinstein. Corpo de um, mente de
outro. Muito provavelmente, guardará este sujo segredo consigo. Paz, mesmo, não
conseguirá ter. Foi o que me disseram, na mesma práxis jornalística a que me
referi no início, os mais altos bandidos que entrevistei, presos por crimes que
não eram exatamente aqueles que os deveriam ter levado para o local que a
sociedade em geral lança aqueles que não servem à lei: as grades.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
COOPERATIVISMO
Reencontro meu amigo Marcos
Biondi, com quem trabalhei em diversas oportunidades. Na sua frente de ação o
que tão bem sabe fazer: gestão de uma cooperativa de negócios. Depois de
figurarf como consultor de fundação da Rede SuperMarca, do setor
supermercadista, agora Biondi organiza lojistas de materiais de construção de
Assis.
VOLTA POR CIMA
Três anos depois de formar a
última turma e sob risco de ser fechado, o curso de Jornalismo da Fema reergue.
No vestibular de final de ano foram feitas mais de 100 inscrições para o curso,
com relação candidato/vaga superior a 2,0. A baixa procura pela graduação em
Jornalismo coincidiu, nos últimos três anos, ao fim da obrigatoriedade de
diploma para exercício da profissão. Mercado e profissionais se deram conta de
que a passagem pela academia tem, sim, seu valor na formação.
ACASO?
Os resultados de alta procura
por cursos, na Fema, não contemplam somente o Jornalismo. Houve crescimento de
demanda em todas as áreas. Não tenho dúvidas de que a campanha levada ao ar em
rádios e TVs da região carrega parcela considerável de responsabilidade nesses
resultados. Participação, claro, positiva.
DEDO DURO
Os novos ônibus da Andorinha
que servem a linha Assis/São Paulo têm praticamente o mesmo conforto, mediano,
dos anteriores. Uma novidade, contudo, agrada a quem, como eu, viaja com
frequência para a capital: sensor de fumaça no interior do banheiro. Os
fumantes que na calada da madrugada dão as famosas escapadinhas agora são
flagrados e podem ser convidados a descer na base de Polícia Rodoviária mais
próxima, pois ao final do corredor, bem acima da porta do banheiro, há uma
câmera cujas imagens, além de gravadas, mostram ao motorista o espertinho que
acendeu o tabaco.
COMO ASSIM?
Sexta-feira, 14, em meio
àquele dilúvio que caiu em Assis, corria eu para sair da Unesp e ir ao posto
dos Correios despachar um Sedex para São Paulo. Inundação à parte – até o
trecho da avenida Dom Antonio em frente ao Avenida Max estava intransitável -,
fiquei surpreso com a ‘rapidez’ com que o meu Sedex chegaria à capital. Das 10
horas antes prometidas pelo Sedex 10, o funcionário ironizava que levaria 10
dias. Sim, dias. Reflexo da greve do setor.
REGISTRO
Manda-me mensagem meu amigo
Valdir Pichelli, com quem trabalhei na redação da rádio Cultura AM/FM lá pelos
idos de 1985. Ele era editor do Cultura Notícias, que ia ao ar das 12h00 às 12h40,
com apresentação do saudoso Luiz Luz. Pichelli, que cursava História na Unesp,
convidou-me para substituir Silvinha Gomes, redatora, licenciada por gestação.
Eu era o Cláustrofo, como ele me chamava, e minha irmã, Marcilene,
recepcionista na emissora, era Madalena. Pichelli reencontrou-me através deste
portal Assiscity.com. Prometi a ele, e ratifico aqui, uma narrativa de uma
época em que tínhamos equipe reforçada por Alves Barreto, Carlos Perandré,
Chico de Assis, Elcio Betin, Miguel Marques, Celsinho Magui, Celsão Broa Camilo
Costa, Eduardo Camargo Neto, Toninho Scaramboni, Devanir José, José Carlos
Pé-na-cova Domingos e Maurílio Siqueira. Todos, claro, muito bem servidos pela
copeira Linda e assistido, literalmente, por Rosinha Pólo.
PERGUNTINHA BÁSICA
Por que a TV Cabo Assis não
coloca o canal ESPN HD para as assinantes? Já não bastasse não ter SporTV,
ainda não oferece com completude as opções limitadas de que dispõe.
* Jornalista, historiador,
pesquisador das Ciências da Comunicação e professor universitário.
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