13 Novembro 2012
Cláudio Messias*
Nunca fui afeito a velórios
e sepultamentos. A morte assusta, sim, a esse que aqui escreve. Nada que me
faça morrer de medo de morrer. Mas, sinceramente, não gosto muito de pensar
naquele momento em que o olho vai derradeiramente cerrar.
Nem preciso entrar nos
detalhes, portanto, de minhas restrições a circunstâncias que envolvam mortes.
Feliz decisão foi tomada, a meu ver, quando velórios passaram a ser feitos em
igrejas ou mesmo em locais específicos para tal. Sempre tive calafrios de ver
caixões no centro de salas cujas casas acabaram de perder seus patriarcas ou
matriarcas.
Meu vodrasto, ou seja,
segundo casamento de minha avó paterna, que ficou duplamente viúva, foi velado
na sala da casa de madeira até hoje existente ali, na Santos Dumont, a uma
quadra da André Perine. Eu tinha 9 anos e, pra mim, aquele negro que, soubemos
mais tarde, integrou a tropa que matou Lampião e seu bando, era realmente meu
avô. Meu cabelo, liso não é, assim como minha pele não é das mais brancas. Mas,
nem é esse o assunto.
O velório de meu avô varou a
noite. Estranho até hoje lembrar daquele cheiro e das conversas que rolaram
madrugada afora. Lá pelas tantas, lembro, chegaram com um saco enorme contendo
pão e mortadela. Logo depois, vieram as tubaínas. E o que era choro virou
burburinho. Da sala para a cozinha, e todos comiam. E contavam piadas! Riam,
como se festa fosse. Fui entender, depois, que se estivéssemos em alguns países
do oriente aquele ambiente seria normal, desde que a nossa cultura assim
concebesse.
Na minha fase adulta assisti, em VHS, ao filme
“A Excêntrica Família de Antônia”. Um dos mais belos e instigantes filmes que
já vi. A cada exibição, uma leitura. E tudo gira em torno da morte. A morte que
não é o fim, mas, sim, um prenúncio do que irá recomeçar. Na filosofia de
Schopenhauer, o eterno retorno. Fácil, hoje, refletir dessa forma a única de
todas as certezas da vida. Mas, na construção do imaginário infantil não era
tão simples assim.
Ouvi inúmeras teorias sobre
a morte. Em uma delas, todos nos reencontraríamos em um jardim florido, cada um
vestido com roupas longas e brancas, cantando músicas celestiais e sob o olhar
carinhoso de um velho barbudo responsável por isso tudo. Em outra, antes de
adentrar à porta do céu teríamos de prestar contas do que fizemos aqui na
terra. Só para citar mais uma, o fim de tudo ocorreria com cavalos e anjos
descendo de um céu vermelho, em fogo, ou seja, no fim do mundo.
Unindo essas três teorias
não foi difícil para mim, criança, achar que a vida após a morte seria uma
verdadeira chatice. Razão suficiente para temer a morte. Não medo exatamente
pelo momento da despedida, que pode ter o corpo físico inteiro, meio inteiro ou
totalmente despedaçado, em circunstâncias de ausência de dor, um pouco de dor e
muita dor, respectivamente. Meu medo, mesmo, era ficar o resto da vida (da vida
após a morte) junto a uma multidão, cantando e caminhando campos floridos. Isso
porque não estou citando o caos que seria para entrar na fila do purgatório,
vendo mais de 200 milhões de pessoas entrando para o céu ou preparando para
torrar no inferno.
Como se pode ver, nunca fiz
plano de ir para o inferno. Merecer ou não ir para lá, no recanto dos maldosos,
já é outra história. O máximo que fiz de maldade na infância foi matar
passarinho no ninho, arrancar perna por perna de moscas, jogar sal em lesmas e
sapos e... ok, confesso. Um dia furei latas de leite condensado na despensa da
casa de minha avó paterna. E quando perguntado sobre o ocorrido, disse que
poderia ter sido um rato. Menti e fiquei desesperado com a possibilidade de ir
para o inferno por causa daquilo.
Pânico, mesmo, eu vivi em
uma noite de carnaval em 1983. Evangélicos que éramos, ouvíamos do pastor que
carnaval era festa do demônio. No culto, naqueles dias, o pastor perguntou ao
fieis, na igreja Batista da 9 de julho, se imaginávamos o que ocorreria com as
pessoas que estavam pulando carnaval se o mundo acabasse naquele exato momento
de folia. Perguntou e respondeu de imediato: todos iriam diretamente para o
inferno. E naquela noite de sábado de carnaval minha irmã havia ido à avenida
Rui Barbosa ver o desfile das escolas de samba da cidade. E se o mundo acabasse
exatamente naquele momento e eu não fosse para o céu com minha irmã? Seria um
tédio ficar o resto da vida no campo florido, cantando, sem ter minha irmã para
eu azucrinar lá no céu.
Da adolescência à juventude
e, depois, na fase adulta, fui e venho perdendo pessoas de quem gostei e gosto.
As responsabilidades que a vida proporciona fazem o imaginário fantasioso,
infantil, dar lugar a uma visão mais crítica das vivências. Já citei aqui que
soube somente anos atrás que o primeiro grande amor de minha adolescência teve
a vida marcada por tragédias. Mais velha de dois filhos, viu pai, mãe e irmão
mais novo serem assassinados em Mato Grosso no final dos anos 1980. Sozinha no
mundo e tendo escapado de tiros recebidos, retornou grávida e, mãe largada pelo
mundo, pela vida, não suportou esperar para ver os campos floridos, lançando-se
sob as rodas de um caminhão na SP-333. Eu, jornalista, noticiei aquilo, em
finais da década de 1990.
Vez em quando saio de casa e
vou, por exemplo, ao centro de Assis, a pé. Desde que o sol não esteja gerando
marcas de 35 graus nos termômetros, boto meu chapéu e percorro com as duas
pernas os caminhos que fazia na infância, na adolescência, na juventude, na ‘adultice’
e, agora, na véspera da terceira idade. Também já registrei aqui, nessas
linhas, a sensação mórbida de passar por casas antes agitadas pela presença de
crianças e hoje caladas pela ausência de vida. Patriarcas e matriarcas partiram
para os campos floridos. As crianças passaram a ser adultos, da mesma forma que
aqueles adultos hoje são os patriarcas e matriarcas que começam a ouvir o som das
músicas a serem cantadas nos campos floridos.
Não raro, os palcos dessa
vivência coletiva de outrora desaparecem em um piscar de olhos. Histórias
inteiras caem em forma de escombros e vão para a caçamba. Historiador que sou,
vejo um tonel de pinga na caçamba, nas proximidades da rádio Difusora. Estou
com meus dois filhos, pequenos. Pego o tonel, para desespero dos envergonhados
adolescentes. Pego e levo para casa, sob a indagação dos pequenos. Afinal, para
que levar aquilo se sequer bebo cachaça? O que me interessou não foi o objeto;
foi sua história.
Delícia olhar para objetos e
fotos do passado e relembrar a vida. Quanto mais janeiros somados, mais essa
sensação é agregada ao desespero. Observar casas ou o que sobrou delas é isso,
ou seja, entender o contexto em que cada comunidade foi constituída. Poucos
concebem, por exemplo, que nas proximidades da escola Thomaz Menk deve ainda
haver ossadas humanas debaixo de casas e muros e mesmo da rua. Sim, ao lado da
capela Santo Antônio, ali já existiu um cemitério. Quem ali reside sabe ou
ouviu dizer. Mas quem apenas passa por ali dificilmente entenderá ou aceitará
isso. Histórias que, orais, sobrevivem a partir de relatos de patriarcas e
matriarcas cada vez mais próximos dos campos floridos ou que lá estão já algum
tempo..
Nos apegamos a um ou outro
parente que passa dos 70 anos de idade. São muitos, pois as gerações estão cada
vez mais adelongadas pela longevidade da população brasileira. Se cem anos
atrás sonhávamos chegar aos 50 anos, hoje sabemos que corremos o risco de só ir
ver os campos floridos depois dos 80 anos. No entanto, se olharmos para fora de
nossas famílias, veremos que são poucos os líderes que chegam a essa idade. Não
sei no seu caso, exceto e raro leitor, mas no meu, há mais pobre com idade além
de 80 anos do que ricos. E os pobres chegam, diríamos, mais inteiros a essa
idade. Não que isso tenha algum tipo de importância.
Enfim, de tanto falar em
morte e enrolado por minha rotina de professor/pesquisador, deparo-me com uma
situação complicada. Comecei a escrever este texto aqui lido por você, exceto
leitor, na noite da segunda, dia 5. E na noite seguinte recebo a notícia da
morte de seu Guerra, vizinho aqui de quarteirão, velado... na sala de sua casa.
Segundo nota de falecimento, ele morreu com 84 anos de idade. Marcou sua
história na ferrovia, desde a época da Estrada de Ferro Sorocabana, tendo
trabalhado com meu vodrasto a que me refiro parágrafos atrás neste texto.
Mais um a juntar-se a uma
geração que a essas horas deve estar a olhar para os campos floridos e imaginar
o que pode ser inovado naquilo tudo. Sim, na minha proposta inicial deste texto
eu queria chegar ao findar de uma geração de figuras que muito mais do que
insubstituíveis fizeram a diferença na história centenária de Assis. Homens e
mulheres que aqui nasceram ou para cá vieram quando acabáramos de sair da
condição de patrimônio do bispado ou meramente distrito de Campos Novos
Paulista. Assisenses que cresceram vendo a cidade ganhar corpo e contribuíram
para a composição de uma história rica, densa e de orgulho.
Quando ingressei na imprensa
de Assis o homem forte da política local era Cridão, ou simplesmente Euclides
Nóbile, braço direito de Zeca Santilli. Esteve no segundo mandato daquele que
foi um dos fundadores do PSDB e despediu-se de nós nos anos 1990. Àquela época,
ao ver um seo Zeca raramente emocionado, ouvi do ex-prefeito, em sua chácara,
que começava a findar-se uma geração que trouxera a cidade até o estágio em que
se encontrava na segunda metade da década passada.
Depois de Cridão foram-se
Abílio, Rui Silva, seo Zeca, dona Cida, Renato Rezende Barbosa e,
surpreendentemente, José Luiz Guimarães. Para fechar o ciclo teorizado por Zeca
Santilli, mais recentemente perdemos Paulo Rezende Barbosa. E a cidade ficou
órfã do que eu chamo de políticos de verdade. E se você me questionar sobre o
ex-deputado Hélio Rosas, a resposta está na obviedade de meu enunciado. Afinal,
tenho o meu direito de definir o time de políticos com importância a partir de
meu olhar de cidadão.
E em se tratando de
políticos que partiram para os campos floridos, finda-se um ciclo. Daí o
fundamento de a cidade ter ficado órfã. Lideranças políticas que emergiram nas
últimas décadas não herdaram de nossos finados ex-gestores a política que corre
nas veias em forma de sangue. Olho para a composição da Câmara Municipal nas
últimas legislaturas e vejo um marasmo só. Vejo oposição só nas legendas, e não
na postura. Pseudo oposição que se deixa levar por negociatas de cargos
pequenos, tão curtos em duração quanto a passagem de determinados edis pela
Casa de Leis.
Muito me admira – e não
tenho escondido esse espanto aqui, em minhas linhas – que o cenário político de
dois anos atrás tenha mudado tão drasticamente. A ordem natural das coisas
mostrava José Fernandes e Márcio Veterinário na mesma chapa, mas na entrada de
2012 os pactos mudaram e separaram aquilo que politicamente não deveria ser
rompido. A mais imbatível de todas as coligações tirou, em uma só tacada,
quando do racha, três vereadores com índice expressivo de votos na Câmara: José
Fernandes, Márcio Veterinário e Célio Diniz. O quarto vereador a sair da atual
composição da Câmara elegeu-se prefeito: Ricardo Pinheiro.
Volto à filosofia presente
no roteiro do filme “A Excêntrica Família de Antônia” para confiar nas sábias
palavras de seo Zeca quando da partida de um de seus melhores amigos, Cridão.
Afinal, da experiência de um velho nasce a inspiração para os caminhos de um
jovem. A renovação, logo, se dá a partir dos exemplos que a vida nos mostra
através de histórias vividas. Assim, a história recente, que não precisa ser
contada, mas meramente lembrada a partir dos últimos 24 meses, mostra que sede
demais pode quebrar o pote.
A rabugentice de Cridão,
Zeca Santilli e Paulo Rezende é lida por seus admiradores como competência de
quem viveu a política sem a sede do poder a qualquer custo. Sabedoria de
entender o público, os cidadãos, como fazia João Corinthiano, que engrossa o
coro dos frequentadores dos campos floridos e nos dá a certeza de que o
atrativo não estava somente nos pasteis que corriam o risco de ter azeitonas
dentro e, como tais, contemplar-nos tal qual o bilhete premiado da Mega Sena;
estava no homem sério, compromissado com a família e, principalmente, com o
negócio. Assim, o homem quando parte leva consigo não só a alma, mas a essência
do negócio. E política é exatamente isso: um negócio difícil de ser entendido e
que vai junto com a alma do dono.
*Professor universitário, jornalista e historiador, é mestre em
Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
DEFINITIVO
A vinda da rede Lojas
Americanas para Assis é resultado de pesquisa de mercado feita um ano antes em
três unidades próximas: Presidente Prudente, Marília e Londrina. Isso confirma
um movimento que há mais de vinte anos mostra o consumidor assisense
conciliando compras e lazer fora daqui. Nas três cidades próximas a rede
varejista está instalada em shoppings centers. Em Assis, a Americanas chega
tendo adquirido o prédio. Fora de shopping.
CONCLUSÃO LITERAL
A última turma do curso de
Jornalismo da Fema apresenta os trabalhos de conclusão nessa quarta-feira, dia
14. Os onze derradeiros jornalistas diplomados ingressaram em 2009. Desde
então, não houve número suficiente de matrículas que justificasse a formação de
turma. A última esperança, em 2011, quando mais de 80 vestibulandos fizeram
opção pelo curso no processo seletivo, esgotou quando nem assim, com estimativa
favorável, as matrículas migraram para o Jornalismo, ficando com a Publicidade.
ESPERANÇA
Nessa segunda-feira, 12,
mais de 1.100 vestibulandos lotaram as instalações da Fema para o vestibular
2013. Jornalismo continuou sendo um curso procurado. Mais de 50 vestibulandos
manifestaram interesse pelo curso como primeira opção. São necessárias 35
matrículas para a formação de turma em 2013.
VIDA QUE SEGUE
Fui fiscal de sala durante a
aplicação das provas no vestibular deste dia 12, na Fema. Trabalhei com os
professores Bia e Paulo, quer também ministram aulas no curso de Comunicação.
Dos 72 vestibulandos de nossa sala, três haviam sido meus alunos na escola Léo
Pizzato, no final da década passada. E no trabalho conjunto reencontrei Ariane,
que naquela mesma escola integrou o projeto que coordenei denominado Jornal
D´Escola. Ariane está concluindo o primeiro ano do curso de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas.
COMPETÊNCIA
Marcos Smania, formando de
Jornalismo da derradeira turma da Fema, é mais um dos egressos que sai de Assis
já empregado. O jornalista foi aprovado em teste feito há um mês em uma
produtora de São Paulo. Apresenta-se imediatamente após a defesa do TCC.
EMBALADO
Meu amigo Emílson Cavalcante
foi uma das vítimas da tempestade Sandy, que varreu a costa leste dos Estados
Unidos. O publicitário e professor universitário estava em Nova Iorque quando a
Maratona que leva o nome daquela metrópole norte-americana foi cancelada.
Maratonista, Emílson passou os últimos meses preparando-se para o desafio.
PAI FRESCO
Nasceu a filhinha de meu
amigo André Amaral, no Rio de Janeiro. Formado em Jornalismo pela Unesp/Bauru,
Amaral é superintendente de entretenimento da Globo Esporte.com.
ANOS DOURADOS
O eletricista de autos
Luizinho, da vila Orestes, levou a sério o hobby de DJ. De animador de
festinhas de aniversário ele foi ganhando estrutura e agora ensaia eventos
maiores. Neste dia 14 ele promove o Baile dos Anos 60, no Clube São Paulo.
Depois, pretende fazer festa igual com as temáticas dos anos 70 e 80.
VEIA
Meus companheiros de
hidromusculação Jura e Vágner Staut acabam de sair do molho. Ficaram mais de um
mês fora das atividades físicas. Jura, o cozinheiro mais famoso da cidade, com
uma inflamação no tendão de uma das pernas. Vágner, com um deslocamento na retina.
ORIENTE
Nivaldo, empresário do ramo
gráfico, e o professor Rubens Cruz farão dupla no bando de loucos que vai ao
Japão ver o Corinthians disputar o Mundial de Clubes da Fifa. Passagens aéreas,
hospedagem e ingressos já estão adquiridos e contratados.
CAMAROTE
Um assisense que vai
praticamente atravessar a rua para ver o time do coração disputar o Mundial é
Ivo Barros. Meu ex-companheiro de trabalho na época da Gazeta do Vale está em
Tóquio há quase dez anos. Por lá, casou-se com uma japonesa.
ASCENÇÃO E QUEDA
O Prudentão pode ser o palco
de duas situações totalmente distintas no Campeonato Brasileiro deste ano.
Depois de ver o Fluminense comemorar o título, o estádio de Presidente Prudente
poderá assistir o rebaixamento do Palmeiras, que fará, lá, um dos três jogos
que restam para encerrar o campeonato.
CÁ ENTRE NÓS...
... por que dinheiro para
pagar o primeiro escalão tem?
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