domingo, 27 de janeiro de 2013

Filhos bastardos de uma Assis velha de guerra


13 Novembro 2012


Cláudio Messias*

Nunca fui afeito a velórios e sepultamentos. A morte assusta, sim, a esse que aqui escreve. Nada que me faça morrer de medo de morrer. Mas, sinceramente, não gosto muito de pensar naquele momento em que o olho vai derradeiramente cerrar.
Nem preciso entrar nos detalhes, portanto, de minhas restrições a circunstâncias que envolvam mortes. Feliz decisão foi tomada, a meu ver, quando velórios passaram a ser feitos em igrejas ou mesmo em locais específicos para tal. Sempre tive calafrios de ver caixões no centro de salas cujas casas acabaram de perder seus patriarcas ou matriarcas.
Meu vodrasto, ou seja, segundo casamento de minha avó paterna, que ficou duplamente viúva, foi velado na sala da casa de madeira até hoje existente ali, na Santos Dumont, a uma quadra da André Perine. Eu tinha 9 anos e, pra mim, aquele negro que, soubemos mais tarde, integrou a tropa que matou Lampião e seu bando, era realmente meu avô. Meu cabelo, liso não é, assim como minha pele não é das mais brancas. Mas, nem é esse o assunto.
O velório de meu avô varou a noite. Estranho até hoje lembrar daquele cheiro e das conversas que rolaram madrugada afora. Lá pelas tantas, lembro, chegaram com um saco enorme contendo pão e mortadela. Logo depois, vieram as tubaínas. E o que era choro virou burburinho. Da sala para a cozinha, e todos comiam. E contavam piadas! Riam, como se festa fosse. Fui entender, depois, que se estivéssemos em alguns países do oriente aquele ambiente seria normal, desde que a nossa cultura assim concebesse.
 Na minha fase adulta assisti, em VHS, ao filme “A Excêntrica Família de Antônia”. Um dos mais belos e instigantes filmes que já vi. A cada exibição, uma leitura. E tudo gira em torno da morte. A morte que não é o fim, mas, sim, um prenúncio do que irá recomeçar. Na filosofia de Schopenhauer, o eterno retorno. Fácil, hoje, refletir dessa forma a única de todas as certezas da vida. Mas, na construção do imaginário infantil não era tão simples assim.
Ouvi inúmeras teorias sobre a morte. Em uma delas, todos nos reencontraríamos em um jardim florido, cada um vestido com roupas longas e brancas, cantando músicas celestiais e sob o olhar carinhoso de um velho barbudo responsável por isso tudo. Em outra, antes de adentrar à porta do céu teríamos de prestar contas do que fizemos aqui na terra. Só para citar mais uma, o fim de tudo ocorreria com cavalos e anjos descendo de um céu vermelho, em fogo, ou seja, no fim do mundo.
Unindo essas três teorias não foi difícil para mim, criança, achar que a vida após a morte seria uma verdadeira chatice. Razão suficiente para temer a morte. Não medo exatamente pelo momento da despedida, que pode ter o corpo físico inteiro, meio inteiro ou totalmente despedaçado, em circunstâncias de ausência de dor, um pouco de dor e muita dor, respectivamente. Meu medo, mesmo, era ficar o resto da vida (da vida após a morte) junto a uma multidão, cantando e caminhando campos floridos. Isso porque não estou citando o caos que seria para entrar na fila do purgatório, vendo mais de 200 milhões de pessoas entrando para o céu ou preparando para torrar no inferno.
Como se pode ver, nunca fiz plano de ir para o inferno. Merecer ou não ir para lá, no recanto dos maldosos, já é outra história. O máximo que fiz de maldade na infância foi matar passarinho no ninho, arrancar perna por perna de moscas, jogar sal em lesmas e sapos e... ok, confesso. Um dia furei latas de leite condensado na despensa da casa de minha avó paterna. E quando perguntado sobre o ocorrido, disse que poderia ter sido um rato. Menti e fiquei desesperado com a possibilidade de ir para o inferno por causa daquilo.
Pânico, mesmo, eu vivi em uma noite de carnaval em 1983. Evangélicos que éramos, ouvíamos do pastor que carnaval era festa do demônio. No culto, naqueles dias, o pastor perguntou ao fieis, na igreja Batista da 9 de julho, se imaginávamos o que ocorreria com as pessoas que estavam pulando carnaval se o mundo acabasse naquele exato momento de folia. Perguntou e respondeu de imediato: todos iriam diretamente para o inferno. E naquela noite de sábado de carnaval minha irmã havia ido à avenida Rui Barbosa ver o desfile das escolas de samba da cidade. E se o mundo acabasse exatamente naquele momento e eu não fosse para o céu com minha irmã? Seria um tédio ficar o resto da vida no campo florido, cantando, sem ter minha irmã para eu azucrinar lá no céu.
Da adolescência à juventude e, depois, na fase adulta, fui e venho perdendo pessoas de quem gostei e gosto. As responsabilidades que a vida proporciona fazem o imaginário fantasioso, infantil, dar lugar a uma visão mais crítica das vivências. Já citei aqui que soube somente anos atrás que o primeiro grande amor de minha adolescência teve a vida marcada por tragédias. Mais velha de dois filhos, viu pai, mãe e irmão mais novo serem assassinados em Mato Grosso no final dos anos 1980. Sozinha no mundo e tendo escapado de tiros recebidos, retornou grávida e, mãe largada pelo mundo, pela vida, não suportou esperar para ver os campos floridos, lançando-se sob as rodas de um caminhão na SP-333. Eu, jornalista, noticiei aquilo, em finais da década de 1990.
Vez em quando saio de casa e vou, por exemplo, ao centro de Assis, a pé. Desde que o sol não esteja gerando marcas de 35 graus nos termômetros, boto meu chapéu e percorro com as duas pernas os caminhos que fazia na infância, na adolescência, na juventude, na ‘adultice’ e, agora, na véspera da terceira idade. Também já registrei aqui, nessas linhas, a sensação mórbida de passar por casas antes agitadas pela presença de crianças e hoje caladas pela ausência de vida. Patriarcas e matriarcas partiram para os campos floridos. As crianças passaram a ser adultos, da mesma forma que aqueles adultos hoje são os patriarcas e matriarcas que começam a ouvir o som das músicas a serem cantadas nos campos floridos.
Não raro, os palcos dessa vivência coletiva de outrora desaparecem em um piscar de olhos. Histórias inteiras caem em forma de escombros e vão para a caçamba. Historiador que sou, vejo um tonel de pinga na caçamba, nas proximidades da rádio Difusora. Estou com meus dois filhos, pequenos. Pego o tonel, para desespero dos envergonhados adolescentes. Pego e levo para casa, sob a indagação dos pequenos. Afinal, para que levar aquilo se sequer bebo cachaça? O que me interessou não foi o objeto; foi sua história.
Delícia olhar para objetos e fotos do passado e relembrar a vida. Quanto mais janeiros somados, mais essa sensação é agregada ao desespero. Observar casas ou o que sobrou delas é isso, ou seja, entender o contexto em que cada comunidade foi constituída. Poucos concebem, por exemplo, que nas proximidades da escola Thomaz Menk deve ainda haver ossadas humanas debaixo de casas e muros e mesmo da rua. Sim, ao lado da capela Santo Antônio, ali já existiu um cemitério. Quem ali reside sabe ou ouviu dizer. Mas quem apenas passa por ali dificilmente entenderá ou aceitará isso. Histórias que, orais, sobrevivem a partir de relatos de patriarcas e matriarcas cada vez mais próximos dos campos floridos ou que lá estão já algum tempo..
Nos apegamos a um ou outro parente que passa dos 70 anos de idade. São muitos, pois as gerações estão cada vez mais adelongadas pela longevidade da população brasileira. Se cem anos atrás sonhávamos chegar aos 50 anos, hoje sabemos que corremos o risco de só ir ver os campos floridos depois dos 80 anos. No entanto, se olharmos para fora de nossas famílias, veremos que são poucos os líderes que chegam a essa idade. Não sei no seu caso, exceto e raro leitor, mas no meu, há mais pobre com idade além de 80 anos do que ricos. E os pobres chegam, diríamos, mais inteiros a essa idade. Não que isso tenha algum tipo de importância.
Enfim, de tanto falar em morte e enrolado por minha rotina de professor/pesquisador, deparo-me com uma situação complicada. Comecei a escrever este texto aqui lido por você, exceto leitor, na noite da segunda, dia 5. E na noite seguinte recebo a notícia da morte de seu Guerra, vizinho aqui de quarteirão, velado... na sala de sua casa. Segundo nota de falecimento, ele morreu com 84 anos de idade. Marcou sua história na ferrovia, desde a época da Estrada de Ferro Sorocabana, tendo trabalhado com meu vodrasto a que me refiro parágrafos atrás neste texto.
Mais um a juntar-se a uma geração que a essas horas deve estar a olhar para os campos floridos e imaginar o que pode ser inovado naquilo tudo. Sim, na minha proposta inicial deste texto eu queria chegar ao findar de uma geração de figuras que muito mais do que insubstituíveis fizeram a diferença na história centenária de Assis. Homens e mulheres que aqui nasceram ou para cá vieram quando acabáramos de sair da condição de patrimônio do bispado ou meramente distrito de Campos Novos Paulista. Assisenses que cresceram vendo a cidade ganhar corpo e contribuíram para a composição de uma história rica, densa e de orgulho.
Quando ingressei na imprensa de Assis o homem forte da política local era Cridão, ou simplesmente Euclides Nóbile, braço direito de Zeca Santilli. Esteve no segundo mandato daquele que foi um dos fundadores do PSDB e despediu-se de nós nos anos 1990. Àquela época, ao ver um seo Zeca raramente emocionado, ouvi do ex-prefeito, em sua chácara, que começava a findar-se uma geração que trouxera a cidade até o estágio em que se encontrava na segunda metade da década passada.
Depois de Cridão foram-se Abílio, Rui Silva, seo Zeca, dona Cida, Renato Rezende Barbosa e, surpreendentemente, José Luiz Guimarães. Para fechar o ciclo teorizado por Zeca Santilli, mais recentemente perdemos Paulo Rezende Barbosa. E a cidade ficou órfã do que eu chamo de políticos de verdade. E se você me questionar sobre o ex-deputado Hélio Rosas, a resposta está na obviedade de meu enunciado. Afinal, tenho o meu direito de definir o time de políticos com importância a partir de meu olhar de cidadão.
E em se tratando de políticos que partiram para os campos floridos, finda-se um ciclo. Daí o fundamento de a cidade ter ficado órfã. Lideranças políticas que emergiram nas últimas décadas não herdaram de nossos finados ex-gestores a política que corre nas veias em forma de sangue. Olho para a composição da Câmara Municipal nas últimas legislaturas e vejo um marasmo só. Vejo oposição só nas legendas, e não na postura. Pseudo oposição que se deixa levar por negociatas de cargos pequenos, tão curtos em duração quanto a passagem de determinados edis pela Casa de Leis.
Muito me admira – e não tenho escondido esse espanto aqui, em minhas linhas – que o cenário político de dois anos atrás tenha mudado tão drasticamente. A ordem natural das coisas mostrava José Fernandes e Márcio Veterinário na mesma chapa, mas na entrada de 2012 os pactos mudaram e separaram aquilo que politicamente não deveria ser rompido. A mais imbatível de todas as coligações tirou, em uma só tacada, quando do racha, três vereadores com índice expressivo de votos na Câmara: José Fernandes, Márcio Veterinário e Célio Diniz. O quarto vereador a sair da atual composição da Câmara elegeu-se prefeito: Ricardo Pinheiro.
Volto à filosofia presente no roteiro do filme “A Excêntrica Família de Antônia” para confiar nas sábias palavras de seo Zeca quando da partida de um de seus melhores amigos, Cridão. Afinal, da experiência de um velho nasce a inspiração para os caminhos de um jovem. A renovação, logo, se dá a partir dos exemplos que a vida nos mostra através de histórias vividas. Assim, a história recente, que não precisa ser contada, mas meramente lembrada a partir dos últimos 24 meses, mostra que sede demais pode quebrar o pote.
A rabugentice de Cridão, Zeca Santilli e Paulo Rezende é lida por seus admiradores como competência de quem viveu a política sem a sede do poder a qualquer custo. Sabedoria de entender o público, os cidadãos, como fazia João Corinthiano, que engrossa o coro dos frequentadores dos campos floridos e nos dá a certeza de que o atrativo não estava somente nos pasteis que corriam o risco de ter azeitonas dentro e, como tais, contemplar-nos tal qual o bilhete premiado da Mega Sena; estava no homem sério, compromissado com a família e, principalmente, com o negócio. Assim, o homem quando parte leva consigo não só a alma, mas a essência do negócio. E política é exatamente isso: um negócio difícil de ser entendido e que vai junto com a alma do dono.

*Professor universitário, jornalista e historiador, é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo.

FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


DEFINITIVO

A vinda da rede Lojas Americanas para Assis é resultado de pesquisa de mercado feita um ano antes em três unidades próximas: Presidente Prudente, Marília e Londrina. Isso confirma um movimento que há mais de vinte anos mostra o consumidor assisense conciliando compras e lazer fora daqui. Nas três cidades próximas a rede varejista está instalada em shoppings centers. Em Assis, a Americanas chega tendo adquirido o prédio. Fora de shopping.

CONCLUSÃO LITERAL

A última turma do curso de Jornalismo da Fema apresenta os trabalhos de conclusão nessa quarta-feira, dia 14. Os onze derradeiros jornalistas diplomados ingressaram em 2009. Desde então, não houve número suficiente de matrículas que justificasse a formação de turma. A última esperança, em 2011, quando mais de 80 vestibulandos fizeram opção pelo curso no processo seletivo, esgotou quando nem assim, com estimativa favorável, as matrículas migraram para o Jornalismo, ficando com a Publicidade.

ESPERANÇA

Nessa segunda-feira, 12, mais de 1.100 vestibulandos lotaram as instalações da Fema para o vestibular 2013. Jornalismo continuou sendo um curso procurado. Mais de 50 vestibulandos manifestaram interesse pelo curso como primeira opção. São necessárias 35 matrículas para a formação de turma em 2013.

VIDA QUE SEGUE

Fui fiscal de sala durante a aplicação das provas no vestibular deste dia 12, na Fema. Trabalhei com os professores Bia e Paulo, quer também ministram aulas no curso de Comunicação. Dos 72 vestibulandos de nossa sala, três haviam sido meus alunos na escola Léo Pizzato, no final da década passada. E no trabalho conjunto reencontrei Ariane, que naquela mesma escola integrou o projeto que coordenei denominado Jornal D´Escola. Ariane está concluindo o primeiro ano do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

COMPETÊNCIA

Marcos Smania, formando de Jornalismo da derradeira turma da Fema, é mais um dos egressos que sai de Assis já empregado. O jornalista foi aprovado em teste feito há um mês em uma produtora de São Paulo. Apresenta-se imediatamente após a defesa do TCC.

EMBALADO

Meu amigo Emílson Cavalcante foi uma das vítimas da tempestade Sandy, que varreu a costa leste dos Estados Unidos. O publicitário e professor universitário estava em Nova Iorque quando a Maratona que leva o nome daquela metrópole norte-americana foi cancelada. Maratonista, Emílson passou os últimos meses preparando-se para o desafio.

PAI FRESCO

Nasceu a filhinha de meu amigo André Amaral, no Rio de Janeiro. Formado em Jornalismo pela Unesp/Bauru, Amaral é superintendente de entretenimento da Globo Esporte.com.

ANOS DOURADOS

O eletricista de autos Luizinho, da vila Orestes, levou a sério o hobby de DJ. De animador de festinhas de aniversário ele foi ganhando estrutura e agora ensaia eventos maiores. Neste dia 14 ele promove o Baile dos Anos 60, no Clube São Paulo. Depois, pretende fazer festa igual com as temáticas dos anos 70 e 80.

VEIA

Meus companheiros de hidromusculação Jura e Vágner Staut acabam de sair do molho. Ficaram mais de um mês fora das atividades físicas. Jura, o cozinheiro mais famoso da cidade, com uma inflamação no tendão de uma das pernas. Vágner, com um deslocamento na retina.

ORIENTE

Nivaldo, empresário do ramo gráfico, e o professor Rubens Cruz farão dupla no bando de loucos que vai ao Japão ver o Corinthians disputar o Mundial de Clubes da Fifa. Passagens aéreas, hospedagem e ingressos já estão adquiridos e contratados.

CAMAROTE

Um assisense que vai praticamente atravessar a rua para ver o time do coração disputar o Mundial é Ivo Barros. Meu ex-companheiro de trabalho na época da Gazeta do Vale está em Tóquio há quase dez anos. Por lá, casou-se com uma japonesa.

ASCENÇÃO E QUEDA

O Prudentão pode ser o palco de duas situações totalmente distintas no Campeonato Brasileiro deste ano. Depois de ver o Fluminense comemorar o título, o estádio de Presidente Prudente poderá assistir o rebaixamento do Palmeiras, que fará, lá, um dos três jogos que restam para encerrar o campeonato.

CÁ ENTRE NÓS...

... por que dinheiro para pagar o primeiro escalão tem?

Nenhum comentário :