31 Janeiro 2012
Cláudio Messias*
Raramente vemos uma árvore
nascer e morrer. Mesmo as frutíferas, creio, têm longevidade maior que a
humana. Em 2008, por exemplo, me deliciei da sombra de uma mangueira
supostamente plantada no final do século XIX. Duzentos anos observando uma
história, em Ribeirão Claro, no Paraná, cravada no período em que escravos
negros construíram a sede da família Martins, hoje estabelecida em
Chavantes/SP. Os mesmos escravos que certamente a plantaram.
Mês de setembro é sazonal,
nas redações de rádios, jornais e emissoras de TV, por ser o marco de início da
primavera e ter o dia da árvore. Lá vão escolas, instituições, ONGs e cidadãos
comuns lembrar que o planeta está sendo desmatado, que o fim pode estar próximo
por causa disso, enfim, como no dia das mães, dos pais e dos namorados, datas
únicas a cada 364 dias. E foi numa dessas datas de setembro que, juntamente com
Lúcio Coelho e suas lentes, cobri o plantio de mudas de pau-brasil no Parque
Buracão.
Na volta para a redação de
Voz da Terra, Lúcio desafiou: duvido que daqui a 20 anos alguém vá lembrar que
essas mudas foram plantadas. O competente fotógrafo se referia justamente a
esse hábito capitalista que temos de, à base da conveniência, nos lembrarmos de
algo ou alguém apenas em ocasiões que remetam direta ou indiretamente a
contextos de vivência social. Situações em que secretárias recebem botões ou
buquês de flores somente uma vez ao ano ou mesmo pais e mães sexagenários são
lembrados (ou forçadamente esquecidos) em asilos em igual período sazonal
anual.
O ano daqueles plantios de
mudas de pau-brasil foi 1998. O Parque Buracão estava novinho em folha, com
obras executadas na gestão do então prefeito Romeu Bolfarini mas conquistadas
em projeto socioambiental datado de 1984,no primeiro mandato de José Santilli
Sobrinho. Verbas do governo federal para um ousado projeto de urbanização
daquela que já foi a maior erosão urbana da região.
Minha pauta no Buracão teve
como interlocutor o professor e ambientalista Ronaldo Cicciliato, então
responsável pelo parque ecológico. Foram vários os pontos em que novas árvores
estavam sendo plantadas. Na trilha pavimentada, pouco à frente do orquidário,
uma placa chamava-me a atenção. Uma árvore ainda nova, denominada kalabura.
Toda cheia de vida, tinha pequenas flores nas cores que variavam de um creme a
um amarelo mais forte, em pequenos tons de vermelho ou rosa. O perfume,
adocicado, espalhava-se pelos arredores.
Pronunciei o nome como
estava escrito e Ronaldo corrigiu-me, dizendo tratar-se de uma “calaburra”.
Nome forte, desajeitado, para uma planta tão bela. Mas o mais espetacular disso
tudo não estava na etimologia, ou seja, na construção de sentidos presente
naquela denominação popular a um elemento da natureza que a ciência já havia catalogado,
em latim, e que também estava presente na denominação feita em placas afixadas
bem abaixo de cada exemplar de árvore existente no parque ecológico. Era, e é,
muito interessante saber que o eucalipto que o senso comum assim define tem
nomenclatura biológica específica. É o fascínio de transitar entre o mundo que
nossos olhos veem e constroem e o universo que a ciência desmistifica e nos
apresenta com a sua linguagem peculiar.
Os dias passaram, muitos
outros plantios de árvores aconteceram em outros setembros, a água não deixou
de passar debaixo da ponte e Lúcio Coelho não figurou mais como meu parceiro de
reportagens. Como já disse aqui, neste espaço, minha rotina de jornalista
colocou-me fora de Assis como profissional, porém jamais deixando de residir
nesta cidade um dia denominada fraternal. Minhas caminhadas de início de manhã
ou final de tarde sempre aconteceram no Parque Buracão, que fica a duas quadras
aqui de casa.
Em 2003, retornando de uma
passagem de quase cinco anos por Marília, passei a fazer caminhadas diárias no
Buracão. Ouvindo boa música em pequenos fones de ouvido e fazendo aquelas
profundas reflexões sobre a vida, propiciadas pelos peculiares momentos de
trânsito dentro desse pedaço de paraíso chamado Buracão, lembrei-me da provocação
feita cinco anos antes por Lúcio Coelho. Estariam, pois, os pau-brasis
esquecidos?
Fui a cada um dos locais
onde Lúcio havia fotografado o plantio por estudantes de uma escola privada da
cidade. O que vi foi uma grama bem aparada, porém árvores cuja grossura do
caule, expeça, fazia deduzir que não se tratavam de plantio feito havia meia
década. Uma equipe de manutenção trabalhava nos arredores. Abri diálogo sobre
as árvores e perguntei se alguém saberia me dizer qual daquelas plantas era um
pau-brasil. Ninguém sabia, pois prevalecia o discurso de que a rotina de
trabalho era de limpeza e não de instrução a visitantes.
Continuando a caminhada fui
até o orquidário, onde outra equipe trabalhava. Lá, sim, obtive resposta. Um
senhor, mostrando-se indignado, afirmou que determinação vinda do paço
municipal fizera com que aquele espaço situado nas proximidades tanto do
declive onde está, hoje, o campo de futebol de areia, quanto do espaço
reservado ao lazer infantil, fosse capinada. A roçadeira entrou e certamente
levou as resistentes mudas de pau-brasil, tidas já desde o plantio como
resistentes a esse tipo de manejo.
Trabalho a quem é de
trabalhar, caminhada a quem é de caminhar. Segui minha atividade física e
metros adiante me deparei com a kalabura. Mais encorpada e igualmente florida e
cheirosa, lá estava ela, na curva, imponente. Nem precisava ter memória boa
para relembrar dos detalhes daquela tarde de cinco anos antes, quando ali
estive e soube que a kalabura é a calaburra. Foi uma mescla entre a profecia de
Lúcio Coelho e as sempre interessantes aulas sobre meio ambiente do professor
Ronaldo.
No último ano de minha
graduação em História havia um objetivo a cumprir: o mestrado. Teorias e
experiências envolvendo a inter-relação entre a comunicação social que havia
anos eu praticava e os processos de ensino-aprendizagem incluídos em minha
práxis, tudo isso tinha de ser transformado em um objeto, em um projeto. Onde e
em que circunstância encontrar o equilíbrio para construir esse projeto no
imaginário? Claro, no Parque Buracão, caminhando.
O ano era 2007, ou seja,
nove anos depois de minha pauta com Lúcio Coelho naquele plantio de pau-brasil
e quatro anos depois de meu retorno a Assis. Comecei a caminhada virando à
esquerda da ponte pênsil, indignando-me com a ausência das dezenas de
exemplares de pau-brasil ceifadas pela roçadeira. Fiz a volta pela parte alta
do parque, retornei, passei em frente à Escola do Meio Ambiente, ao orquidário,
debaixo da sombra deliciosa das mangueiras e, claro, pela... kalabura.
A calaburra estava lá. Mas
assustei-me com o cenário. Com poucas folhas e nenhuma flor, em nada se
assemelhava àquela kalabura dos encontros anteriores. Parei, observei a base
para ver se havia falta de água, porém percebi que estava tudo dentro da normalidade.
Minhas caminhadas passaram a ter frequência maior, quase diária, e a cada uma
dessas visitas eu tinha a expectativa de ver nem que fosse um único botão, algo
que revigorasse a calaburra.
Mas, não. O ano letivo de
2008 levou-me a lecionar no ensino superior, assumindo aulas no curso de
Jornalismo da Uniesp, em Presidente Prudente. Era professor dos ensinos
fundamental e médio durante o dia, e do superior, à noite. As caminhadas,
então, voltaram a ser escassas.
Em julho do mesmo ano saí,
numa manhã fria, para fazer a atividade física que mais me alivia o intelecto.
Buracão praticamente vazio, refiz o trajeto de costume. Já adentrei ao parque
na expectativa de que a mudança de estações explicasse o aspecto atípico da
calaburra. Não. Infelizmente, não. Não havia flores. Mas, também, não havia
folhas. Só havia a carcaça do que um dia foi a kalabura. Não fosse aquela
plaquinha, já torta de tanto ser atingida pela roçadeira, e ninguém saberia que
aquela, um dia, foi a kalabura.
Meu eterno retorno ao Parque
Buracão aconteceu em janeiro de 2009, período em que tentamos, em vão, perder
os quilos a mais que acumulamos no pós-festas – na minha matemática, ganho 3
quilos no natal e no ano novo e perco dois em janeiro, o que dá a média de 1 kg
a mais na estrutura a cada ano. Eu sabia que a calaburra não nos animaria mais
com sua beleza e seu perfume. Mas não podia imaginar que veria, somente, a
ponta do caule. Sim, árvore seca não combina com a paisagem, da mesma forma que
aquelas jovens mudas de pau-brasil foram confundidas com mato, mesmo o sendo
genuinamente.
O interessante disso tudo é
ver como a mão do homem trata, a partir dos seus olhos, aquilo que não lhe
serve mais. Se há vida, os olhos não veem; mas, se não há vida, os olhos pegam.
E o incômodo surge.
Lembro-me de uma cena de
quando tinha 9 anos de idade. Meu vodrasto (segundo marido de minha avó
paterna) faleceu, em 1979, ocasião em que fui com meu tio Roberto, pai de Raul,
do Bar do Raul, ao cemitério, horas antes do sepultamento. Era preciso retirar
a ossada da cova onde ocorreria o novo enterro. Dois homens abriram o buraco e
puxaram os restos de madeira e de ossos. Aquela imagem me pesou. Não pelo
impacto de ver os ossos de meu avô, a quem não conheci. Mas por saber a forma
com que aquilo que serviu de estrutura para uma vida de mais de meio século era
lidado. Os ossos foram jogados em um saco branco, sem o menor jeito, e depois
colocados em uma carriola para, então, ir ao ossário.
Anos adiante, na rotina
nada florida de jornalista, tive inúmeras outras oportunidades de testemunhar a
maneira nada delicada com que, por instinto ou práxis, o homem lida com seus
pares já sem vida. Nessas tragédias que fizeram o negro histórico da SP-270,
trecho entre Assis e Ourinhos, denominado Corredor da Morte, sempre
surpreendeu-me a maneira como corpos esfacelados eram amontoados em caixas,
caixões funerários; muitas vezes resumindo-se a um mesmo amontoado partes que
só mesmo exames de DNA comprovariam serem ou não de uma, duas ou mais pessoas.
É recorrente o meu discurso
quanto à forma com que nós, sujeitos sociais, lidamos – ou tentamos lidar – com
a vida presente em cada pedaço físico de nossa passagem. Em dezembro estive na
Santa Ifigênia, em São Paulo, e revi um cenário que tenho acompanhado nos
últimos três anos: a tentativa de devolver a vida ao centro velho da capital.
Devolver a vida demolindo as lembranças de vidas de famílias inteiras.
Trata-se, como o próprio nome diz, do centro velho de uma cidade perto de
completar meio milênio de vida. Prédios inteiros, ou seja, páginas da história
que caem e não voltam mais. No que dependesse daqueles que lideram tais
iniciativas paulistanas, tivera o Coliseu, em Roma, viciados em crack morando
nos seus arredores e toda aquela estrutura histórica cairia. Não tenha a menor
dúvida disso.
Capitalistas que somos, à
base ou não da hipocrisia vermelha, protagonizamos o espetáculo teorizado por
Debord. Um show de vivência em que importam rostos lisinhos, olhos brilhantes,
pele sedosa, formas arredondadas, medidas certas; ou paredes sem trincas, pisos
não gastos, portas que perfeitamente fecham, janelas sem vidros embaçados,
cores não desbotadas.
É, calaburra, sem flores,
folhas e perfume você seria, mesmo, um mero pedaço de tronco fincado no chão.
Torça, apenas, para que as formigas não se revoltem com suas mortas raízes
secas.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
BOATARIA
Em menos de uma semana
soube de três parcerias que salvariam o futebol profissional de Assis em 2012.
Teorizo uma quarta, presente no calendário maia.
NÚMEROS...
A Secretaria Municipal de
Esportes da Prefeitura de Presidente Prudente mandou confeccionar 27 mil
ingressos para o jogo Oeste x São Paulo, no Prudentão. Vendeu 8 mil ingressos.
... NÃO MENTEM
Ano passado, no clássico
Palmeiras x Corinthians, foram colocados à venda 36 mil ingressos. E o
Prudentão recebeu 36 mil pagantes.
BIODEGRADÁVEL DE GRAÇA
Estranhei que no Avenida
Max ainda estejam sendo distribuídas as tais sacolinhas. A moça do caixa, de
maneira muito simpática, mostrou-me que as sacolinhas contêm a descrição
“biogradável”. Ou seja, o supermercado não cobra diretamente, de forma avulsa,
dos clientes pela ‘novidade’. Dilui, claro, no custo total que define o preço
de cada mercadoria.
EXPLICAÇÃO INDIRETA
Ouvi de um estudante de
biotecnologia, em conversa da qual não participei (ou seja, estava literalmente
ouvindo a conversa de outrem), o problema das sacolinhas plásticas comuns está
centrado na emenda das alças, que têm de ser reforças por suportarem toda a
distribuição de peso das mercadorias. Na fala do pesquisador, as laterais de
uma sacolinha levam menos de dez anos para entrarem em decomposição na
natureza. Já a dobra das alças, mais de 50 anos.
MEDIDA INCERTA I
Entrei em 2012 pesando
103,6 kg. Aos 42 anos de idade vou repetir uma reeducação alimentar que adotei
11 anos atrás. À época, perdi 12 quilos no período compreendido entre setembro
de 2001 e fevereiro de 2002, saindo de 99 kg e chegando aos 87 kg.
MEDIDA INCERTA II
Em 2000 eu trabalhava em
Marília e, numa das pautas, tratei de reeducação alimentar para uma edição de
domingo do Jornal da Manhã (sim, em cidades de imprensa sólida os jornais
circulam aos domingos. E faturam muito com isso, por sinal). Minha entrevistada
foi uma nutricionista, docente na Unimar. Dela veio a orientação: 1) incluir
queijo branco em meu cardápio do café da manhã e do almoço; 2) pela manhã,
tomar café (com leite) da manhã com no máximo um pão francês e,
prioritariamente, uma ou mais frutas; 3) no almoço, separar a combinação
arroz/feijão (optar por um ou outro), preencher metade do prato com legumes e
saladas e com carne grelhada; 4) fazer um lanche da tarde à base de suco e, se
for o caso, um salgado assado; 5) na refeição da noite eliminar a combinação
arroz/feijão e dar preferência por um grelhado, somado a saladas. Somado a
isso, 40 minutos diários de alguma atividade física, que pode ser uma simples
caminhada, no mínimo três vezes por semana.
MEDIDA INCERTA III
Passei janeiro me
preparando para o desafio e vou relatar, aqui, minha rotina semanal ou
quinzenal de controle alimentar. Hoje (31/01/2011), na véspera, estou pesando
101,1 kg. A exemplo de 11 anos atrás, não passarei fome nem abrirei mão de
minhas preferências por uma cervejinha aos finais de semana. Como atividades
físicas, desta vez, somarei às caminhadas matinais no Buracão sessões de
hidromusculação aos finais de tarde, no ATC.
INSPIRAÇÃO
Meu amigo Dallacasa, da
Andorinha, companheiro de hidromusculação, começou o controle alimentar em
setembro. Já eliminou 11 kg e um cavanhaque.
PRENÚNCIO DO FIM I
O que parecia improvável
aconteceu: a Fema não montou turma de Jornalismo para 2012. Pelo terceiro ano
consecutivo não foi atingido o número mínimo de matrículas. De 85 inscritos no
vestibular, pouco mais de 10% formalizaram matrícula.
PRENÚNCIO DO FIM II
Se no final do ano esse
quadro se repetir, o curso de Jornalismo corre o risco de acabar
definitivamente. Atualmente há apenas duas turmas com aulas: os terceiro e
quarto anos.
AVESSO
O curso de Publicidade,
pelo contrário, terá primeiro ano em 2012, na Fema. Nesses anos todos de crise
do Jornalismo, Publicidade & Propaganda sempre formou turma.
PAREM O MUNDO...
Sábado passado, aqui em
casa, a velocidade da minha internet estava a 6 kbps. Internet banda larga, que
nos custa, em família, 80 meais mensais numa operadora local, da cidade.
... PORQUE EU QUERO DESCER.
Meu sinal de TV a cabo está
igualmente compatível com a velocidade da internet (ambos chegam no mesmo cabo,
tido como sendo de fibra ótica). Meu aparelho de TV, que é full HD, recebe um
sinal tão ruim que a imagem exibida chega a ser pior do que a de um televisor
tubão, daqueles com antena espinha-de-peixe.
PERGUNTINHA BÁSICA
Por que eu continuo pagando
mais caro pela gasolina em Assis, em comparação com postos de combustíveis de
outras cidades mas com a mesma bandeira de distribuidora?
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