terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ayrton Senna de Assis/SP: o castigo para os incrédulos em 1994


29 Novembro 2011
Ayrton Senna de Assis/SP: o castigo para os incrédulos em 1994


Cláudio Messias*

Não existe período do ano pior, para o jornalismo, do que a primeira quinzena de janeiro. Afora os estragos provocados por chuvas e outros fenômenos naturais, tudo é jabá. Sim, está bem, você não sabe o que significa, na gíria, jabá. Eu explico: jabá é matéria morta, que tanto faz sair hoje, amanhã ou daqui a dois dias. E tem outra: se você não publicar ninguém sentirá falta; talvez, nem o entrevistado perceba que aquela verruga factual não rendeu uma linha sequer de texto impresso, falado, televisionado ou teclado.

Também no jornalismo, o período do dia que varia das 14h00 às 17h00 é morno, sem tempero. Geralmente, as redações são bombardeadas de informações até o horário do almoço, principalmente com os resumões dos plantões policiais. Ultimamente, até a programação dos sepultamentos do dia é divulgada nas primeiras horas da manhã em Assis. Período da tarde, portanto, além de propício a um cochilo, é caracterizado pelo marasmo das pautas.

Vamos juntar os dois ingredientes e ver no que dá? Um salgado, outro doce. Exótico isso, não? Pois bem, se agregar a paradeira de janeiro com a sonolência das tardes de verão ter-se-á o quê? Um jornalista propenso a deixar passar uma ou outra pauta que aparentemente não tem valor factual ou de veracidade? Sim, pode ser.

Volto à tarde do dia 18 de janeiro de 1994. Eu acumulava o cargo de editor de jornalismo da rádio Cultura e do jornal A Gazeta do Vale. Pela manhã, das 6h00 às 13h00, rádio. À tarde, das 15h00 até a hora que precisasse, jornal. Meu almoço havia sido, aquele dia, no restaurante de meu amigo Kill, na rua Floriano Peixoto. Além da tradicional passada na livraria Vamos Ler, um toque de prosa com seo Luiz e um café da dona Linda na rádio Cultura, fui para a redação da GV.

Por volta de 15h30 recebo a ligação de uma personalidade que conhecia apenas por nome. Ivo Guiotti, além de educadamente se apresentar, teve contornos para chegar ao assunto: Ayrton Senna estava em sua piscicultura nos arredores de Cândido Mota. E daí? Não conhecia o sujeito do outro lado da linha. Sem a tecnologia de identificar chamadas no próprio aparelho, nosso sensor de veracidade se resumia à própria audição. Se conhecíamos o interlocutor, tínhamos o jogo para checar detalhes sobre o real e o imaginário. Sim, estava numa arapuca. Não conhecia Ivo e também não tinha condições de conceber o que o campeão mundial de Fórmula 1 faria por aqueles lados.

Peguei o telefone e liguei no gabinete da prefeitura de Cândido Mota. Cidinho de Lima, sim, era peça do meu jogo. Qualquer sinalização dele para uma possível presença de Ayrton Senna por ali já representaria um avanço rumo à pauta do dia, da semana, do ano... Mas, não. Cidinho riu e respondeu com tom de ironia: “mas o Mansell está junto?”, questionou, referindo ao igualmente campeão mundial Nigel Mansell. O assunto ganhou ares de ridicularia e, claro, na falta de uma outra pauta que compensasse, desliguei o telefone ao final da prosa.

Uma pulga, no entanto, ficou atrás da orelha. Afinal, o que levaria o conhecido Ivo Guiotti, famoso entrevistado tanto da revista quanto do televisivo Globo Rural por seu pioneirismo, por exemplo, de reproduzir em laboratório alevinos de traíra, a me ligar para falar que Ayrton Senna estava na região? Lembra do jogo de que falei há pouco? Então... montei outro quebra-cabeça, na expectativa de acionar repórter e fotógrafo para a pauta. Assim, trabalhando a hipótese de o piloto estar mesmo em Cândido Mota, veio a lógica: se ele veio, de carro de Fórmula 1 é que não foi. Claro, Senna era famoso por gostar de pilotar de tudo um pouco: jet-ski, iate, lancha, helicóptero, Xuxa e... aviões. Uma das cenas famosas do saudoso se passa dentro de um caça da Força Aérea Brasileira, com direito a gritos de quem estava maravilhado com a sensação.

Senna, avião, aeroporto estadual de Assis. Sim, liguei para nossa fonte aérea chamada Amaral. Direto e reto, perguntei: “Amaral, tem alguma aeronave de fora aí?” Eis que Amaral responde: “sim, tem, chegou cedinho e está sendo preparada para decolar às 17h00”. Detalhe: já era mais de 16h00. O outro ramal da minha sala chamava simultaneamente e atendi. Era Cidinho de Lima, esbaforido, dizendo: “Messias, é verdade; o homem está aqui”. O boato havia ganhado Cândido Mota.

Mais esbaforido ficou este que vos escreve. Saí corredor afora e encontrei Dagão, o fotógrafo, sentado à sua mesa com a tradicional pança em riste, falando ao telefone ou com Fernandinho, da Malta, com Carvalho, da TCM, ou alguém do Kart Club. Pela minha cara ele desligou o telefone imediatamente. Estávamos, só pra variar um pouco, brigados por motivos redacionais. Assim, em vez de pedir tive de mandar: “aeroporto agora, pois Ayrton Senna está indo para lá”. Risada larga feita, Dagão mexeu os bigodões, fechou a cara e disse: “é sério?”. Minha cara continuou respondendo a tudo. E lá foi o doido com três ou quatro rolos de filme, sua Pentax a tiracolo e Uno cantando pneus.

Retornei à minha sala e liguei para a rádio Cultura. Entrei ao vivo no programa Paixão Sertaneja, do nosso saudoso Bentinho. Outro igualmente saudoso locutor, Luiz Luz, apaixonado por aviação, queria saber que tipo de aeronave Senna havia trazido para Assis. À base das suposições, informei o que sabia. Detalhe: todos os nossos repórteres só trabalhavam pela manhã, pelos motivos aqui já expostos no início do texto. O furo, portanto, era nosso, mas a informação completa competiria à nossa concorrente explorar.

Liguei para meu eterno patrono Chico de Assis, da Difusora. Ele estava na redação, preparando-se para fazer o giro das notícias de final de dia e até hoje, quando nos encontramos nas esquinas da vida, diz que só confiou porque havia e há, entre nós, aquela relação de feeling jornalístico permeada pela seriedade e pela confiança recíproca. Chicão pegou a viatura da emissora e foi para o aeroporto. Chegou junto com Dagão. Em uma época em que o rádio reinava como veículo de comunicação cuja credibilidade era intocável e inabalável, os fãs de automobilismo, informados da presença do ídolo, começaram a chegar ao aeroporto.

Lá estava Ayrton Senna, abraçado por crianças, adultos, idosos, enfim... Fotografado por Dagão, entrevistado por Chico de Assis e eternizado por uma tarde de quinta-feira de janeiro em que veio com o pai, Mílton, comprar alevinos para a piscicultura da família em Tatuí. Retornou ele para a cidade natal, seguindo no final de semana para Angra dos Reis e, na segunda-feira, para Londres, onde faria os primeiros testes com a nova equipe, a Williams. O mesmo carro que o mataria, na curva Tamborello, no dia 1º de maio seguinte.

Depois disso fui conhecer, com Dagão, a piscicultura de Ivo Guiotti. Este, tornou-se um de meus melhores amigos. Quatro anos depois, em uma viagem de pescaria a Corumbá, dentro do barco, Ivo relatou seu desespero naquela quinta-feira, 18 de janeiro. Senna, diz ele, havia chegado à piscicultura por volta das 9 horas. Conheceu o laboratório, quis saber os segredos de reproduzir alevinos e, depois, ignorou o banquete que Miriam Guiotti havia preparado. “Como o que quiser nos melhores restaurantes do mundo”, teria dito o piloto, fazendo questão de escolher o cardápio: arroz, feijão e ovo frito. Sim, ovo frito. E ovo frito por ele próprio, no fogão a lenha.

Ivo aproveitou-se de um momento de retiro de Senna, que pescava pacu no lago principal da piscicultura, munido de molinete e vara, e foi ao telefone. Ligou para algumas emissoras de rádio e para jornal mais tradicionais da época, comunicando a presença do ídolo do automobilismo. Já pela manhã, ninguém acreditou na fonte. Somente à tarde é que ‘alguém’ havia acreditado. E deu no que deu.

Não tenho números precisos, mas sei que a edição da sexta-feira, 19 de janeiro de 1994, foi a que mais vendeu exemplares na história da Gazeta do Vale. Recordo-me de Ivo Barros e Moisés, além da tropa da entrega, trabalhando até as primeiras horas daquela tarde, cuidando da impressão de exemplares extras. Rodávamos algo em torno de 1.500 exemplares/dia e suponho que essa tiragem, naquele dia, tenha atingido o quíntuplo.

Claro, nem todas as segundas quinzenas de janeiro têm, anualmente, a presença de uma celebridade com passagem pela região. Mas, diariamente, a cada minuto, quem se propõe a trabalhar com comunicação tem de acreditar em toda e qualquer suposição. Um fato só deixará de ser possível quando o contrário for comprovado, e assim mesmo, nessa configuração, haverá algo a esclarecer na forma de notícia, nem que seja em uma nota de canto inferior de página.

No caso da passagem de Ayrton Senna por Assis, eu confesso que desconfiei. Desconfiar, contudo, é atribuir uma porcentagem de confiança àquilo que se recebe como fato. Não me vanglorio por ter feito essa ou aquela grande reportagem em minha vida. Tanto que não tenho um arquivo sequer do que produzi em duas décadas e meia de jornalismo por essas terras paulistas afora. Mas uma lição, tenho certeza, ficou registrada nessa história recente: há, até hoje, quem amargue o resultado de não ter feito a cobertura de algo que da condição de impossível passou para um dos acontecimentos mais importantes desta Sucupira do Vale chamada Assis.


QUEBRANDO O GELO
Já que a pauta, aqui, é acreditar, ou seja, o crível, retomo um causo contado por meu maninho saudoso Bentinho, que todas as manhãs lia por completo a Folha de São Paulo, na redação da rádio Cultura, sentado em uma cadeira, cuspia ao chão e encerrava essa passagem levando sorrateiramente o exemplar do dia anterior do Notícias Populares, por ele chamado de “pinga-sangue”.

A ‘estória’, garantida por ele como autêntica, é a seguinte: uma senhora, casada com um ilustre, foi até uma loja de materiais para escritório do centro de Assis querendo comprar um armário, grande, para guardar seus livros. Um armário fechado, de maneira que a poeira não encardisse os exemplares. Essa senhora residia nas imediações do Clube Recreativo e gostava de afazeres muitas vezes atribuídos a homens, dada a exigência de força física. Assim, pediu que entregassem o armário adquirido e deixassem que ela mesma montasse.

O móvel foi entregue na mesma tarde e a senhora rapidamente fez a montagem. No entanto, como a casa ficava a alguns metros da linha férrea, uma composição de locomotiva e vagões de carga da Fepasa passou e fez com que o armário desmontasse. A proprietária ficou intrigada com aquilo e, pacientemente, refez a montagem. Conferiu tudo em detalhes e, simultaneamente, outra manobra de locomotiva e vagões coloca tudo abaixo. Lá estava o armário no chão, em pedaços.

Na condição de consumidora, a já raivosa senhora ligou para a loja e reclamou. Já passava das 17h30 mas mesmo assim ela queria que um montador a atendesse. Foi atendida. E lá chega o montador, um negro devidamente uniformizado e de fácil diálogo. A compradora explica o ocorrido, o interlocutor duvida um pouco e coloca em xeque o método de montagem do armário. Rapidamente, faz a montagem e os apertos necessários. Antes mesmo de concluir ouve-se o apito de uma locomotiva. Em questão de segundos o armário vai ao chão.

O montador não entende o episódio e começa a acreditar na senhora. Refaz a montagem. Passa, então, mais uma composição de trem. E tudo vai ao chão. Com o móvel já danificado por tantas desmontagens recorre-se a uma cola. Além de parafusos e encaixes, cola de madeira. Armário montado e colado, espera-se o trem. Dez, vinte minutos e nada de trem. Quando a cola começa a secar vem o apito e a cena esperada: o armário, claro, desmontou.

A senhora sugere que o montador leve o armário de volta, desistindo do negócio. Mas, ele percebe que a cola deu mais resistência na experiência anterior e, para não perder aquela vivência a ser passada ao fabricante, resolve aplicar mais cola. Como garantia de que o armário não desmoronaria na próxima passagem do trem, o inusitado: o danado entrou no armário para segurar as partes que desmontavam. Mas, para não comprometer o conjunto do móvel, as portas tinham de ser fechadas.

O montador dentro do armário, a cola secando e adivinhe quem chega para jantar? Claro, o marido da senhora. Extremamente tradicional, ela fica constrangida de explicar ao marido o ocorrido. Como plano de fuga, segue para a cozinha, apressando o jantar que sequer havia sido preparado. Não sem antes dizer ao montador que não o armário, mas a casa em si estava caindo.

O marido adentra à casa e logo vê, no cômodo ao lado de seu quarto de casal, o armário. Pergunta à mulher quanto havia custado e outros detalhes da aquisição. Antes de a esposa responder, abre a porta e toma um susto. Vendo o montador dentro, pergunta o que se passa. E eis que o negro responde: “olha, eu sei que é difícil acreditar, mas eu estou aqui dentro esperando o trem passar”.

Essas deliciosas histórias fazem parte de narrativas orais que perdem-se com o tempo. Se ocorreram realmente ou não, isso é o que menos importa. Ilustram, sim, recortes sobre uma sociedade que, por mais revolucionada que seja pela tecnologia, sempre faz prevalecer cunhos de verdade. Acreditar ou não dependerá do contexto em que cada sujeito social esteja inserido.



FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


FRANQUIAS

Depois da rede Bob´s, outra franquia de fast food aterrissa em Assis. A esquina entre as ruas JV da Cunha e Silva e Floriano Peixoto receberá uma ampla loja da Subway, famosa por permitir que o cliente escolha os ingredientes que compõem o seu lanche. Inauguração ainda em 2011.

MARCHA À RÉ

Com a mudança de sentido de direção da avenida Marechal Deodoro virou um verdadeiro dilema estacionar em frente ao Mercadão. Com o veículo de frente, impossível, pois as vagas são dispostas na diagonal, da esquerda para a direita.

FECHADA PARA NÃO BALANÇO

A sauna do ATC ficará fechada no período de 5 a 18 de dezembro. Motivo: reforço das vigas que dão sustentação ao piso superior, onde fica o restaurante. O excesso de umidade, típico do ambiente, expôs toda a estrutura metálica. Esse problema foi detectado ao trocar o forro de pvc.

EM 2013

Meus planos de iniciar o doutorado ficaram para 2013. O vigor do prazo para alterações finais de minha dissertação defendida em 11 de novembro implicou na não seleção de meu projeto para 2012. Continua, sim, minha pesquisa junto a universidades latino-americanas, norte-americanas e europeias, dentrod o mesmo objeto.

LATO SENSU

Os campi de Assis e de Marília da Unesp começam a formar neste final de semana a primeira turma do curso de especialização em Língua Inglesa válido pela Redefor, que é a Rede São Paulo de Formação Docente. Oferecido a professores da rede pública de ensino do Estado, o curso de pós-graduação é uma iniciativa do Núcleo de Ensino a Distância da Unesp. Os trabalhos de conclusão serão apresentados no polo de Marília neste sábado, nos períodos da manhã e da tarde.

EM FAMÍLIA

Tem sido recorrente encontrar o empresário João Antônio Binato almoçando com um dos jovens filhos na rotisseria do Avenida Plus. Prestígio aos negócios da própria família e encaminhamento para a gestão.

PASSAGEM

Sensação interessante ter o texto lido por assisenses que estão fora da terrinha. Meus grandes amigos Ivo Barros e Adílson, respectivamente no Japão e na Alemanha, por aqui passam semanalmente.

TROCA

Meu amigo Pedro Granato, o Neto, está trocando de dial em Presidente Prudente. Deixa a 98FM e assume o microfone da 101. Neto foi meu orientando de TCC no curso de Jornalismo na Fapepe.

REENCONTRO

As primeiras equipes de fundação do jornal Oeste Notícias farão um reencontro de confraternização em dezembro. Da sucursal de Assis poderemos ir numa turma completada por Reinaldo Nunes e Paulo Cuca. A organização do encontro está sendo mediada por Adernil de Souza, hoje proprietário do jornal Conexão, em Martinópólis.

PERGUNTINHA BÁSICA

Para que continuam servindo as páginas de noticiário nacional em jornais teoricamente locais?

PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER...

Dois semáforos em uma praça (da Bandeira) é brincar com coisa séria.


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