29 Novembro 2011
Ayrton
Senna de Assis/SP: o castigo para os incrédulos em 1994
Cláudio
Messias*
Não existe
período do ano pior, para o jornalismo, do que a primeira quinzena de janeiro.
Afora os estragos provocados por chuvas e outros fenômenos naturais, tudo é
jabá. Sim, está bem, você não sabe o que significa, na gíria, jabá. Eu explico:
jabá é matéria morta, que tanto faz sair hoje, amanhã ou daqui a dois dias. E
tem outra: se você não publicar ninguém sentirá falta; talvez, nem o
entrevistado perceba que aquela verruga factual não rendeu uma linha sequer de
texto impresso, falado, televisionado ou teclado.
Também no
jornalismo, o período do dia que varia das 14h00 às 17h00 é morno, sem tempero.
Geralmente, as redações são bombardeadas de informações até o horário do almoço,
principalmente com os resumões dos plantões policiais. Ultimamente, até a
programação dos sepultamentos do dia é divulgada nas primeiras horas da manhã
em Assis. Período da tarde, portanto, além de propício a um cochilo, é
caracterizado pelo marasmo das pautas.
Vamos
juntar os dois ingredientes e ver no que dá? Um salgado, outro doce. Exótico
isso, não? Pois bem, se agregar a paradeira de janeiro com a sonolência das
tardes de verão ter-se-á o quê? Um jornalista propenso a deixar passar uma ou
outra pauta que aparentemente não tem valor factual ou de veracidade? Sim, pode
ser.
Volto à
tarde do dia 18 de janeiro de 1994. Eu acumulava o cargo de editor de
jornalismo da rádio Cultura e do jornal A Gazeta do Vale. Pela manhã, das 6h00
às 13h00, rádio. À tarde, das 15h00 até a hora que precisasse, jornal. Meu
almoço havia sido, aquele dia, no restaurante de meu amigo Kill, na rua
Floriano Peixoto. Além da tradicional passada na livraria Vamos Ler, um toque
de prosa com seo Luiz e um café da dona Linda na rádio Cultura, fui para a
redação da GV.
Por volta
de 15h30 recebo a ligação de uma personalidade que conhecia apenas por nome.
Ivo Guiotti, além de educadamente se apresentar, teve contornos para chegar ao
assunto: Ayrton Senna estava em sua piscicultura nos arredores de Cândido Mota.
E daí? Não conhecia o sujeito do outro lado da linha. Sem a tecnologia de
identificar chamadas no próprio aparelho, nosso sensor de veracidade se resumia
à própria audição. Se conhecíamos o interlocutor, tínhamos o jogo para checar
detalhes sobre o real e o imaginário. Sim, estava numa arapuca. Não conhecia
Ivo e também não tinha condições de conceber o que o campeão mundial de Fórmula
1 faria por aqueles lados.
Peguei o
telefone e liguei no gabinete da prefeitura de Cândido Mota. Cidinho de Lima,
sim, era peça do meu jogo. Qualquer sinalização dele para uma possível presença
de Ayrton Senna por ali já representaria um avanço rumo à pauta do dia, da
semana, do ano... Mas, não. Cidinho riu e respondeu com tom de ironia: “mas o
Mansell está junto?”, questionou, referindo ao igualmente campeão mundial Nigel
Mansell. O assunto ganhou ares de ridicularia e, claro, na falta de uma outra
pauta que compensasse, desliguei o telefone ao final da prosa.
Uma pulga,
no entanto, ficou atrás da orelha. Afinal, o que levaria o conhecido Ivo
Guiotti, famoso entrevistado tanto da revista quanto do televisivo Globo Rural
por seu pioneirismo, por exemplo, de reproduzir em laboratório alevinos de
traíra, a me ligar para falar que Ayrton Senna estava na região? Lembra do jogo
de que falei há pouco? Então... montei outro quebra-cabeça, na expectativa de
acionar repórter e fotógrafo para a pauta. Assim, trabalhando a hipótese de o
piloto estar mesmo em Cândido Mota, veio a lógica: se ele veio, de carro de
Fórmula 1 é que não foi. Claro, Senna era famoso por gostar de pilotar de tudo
um pouco: jet-ski, iate, lancha, helicóptero, Xuxa e... aviões. Uma das cenas
famosas do saudoso se passa dentro de um caça da Força Aérea Brasileira, com
direito a gritos de quem estava maravilhado com a sensação.
Senna,
avião, aeroporto estadual de Assis. Sim, liguei para nossa fonte aérea chamada
Amaral. Direto e reto, perguntei: “Amaral, tem alguma aeronave de fora aí?” Eis
que Amaral responde: “sim, tem, chegou cedinho e está sendo preparada para
decolar às 17h00”. Detalhe: já era mais de 16h00. O outro ramal da minha sala
chamava simultaneamente e atendi. Era Cidinho de Lima, esbaforido, dizendo:
“Messias, é verdade; o homem está aqui”. O boato havia ganhado Cândido Mota.
Mais
esbaforido ficou este que vos escreve. Saí corredor afora e encontrei Dagão, o
fotógrafo, sentado à sua mesa com a tradicional pança em riste, falando ao
telefone ou com Fernandinho, da Malta, com Carvalho, da TCM, ou alguém do Kart
Club. Pela minha cara ele desligou o telefone imediatamente. Estávamos, só pra
variar um pouco, brigados por motivos redacionais. Assim, em vez de pedir tive
de mandar: “aeroporto agora, pois Ayrton Senna está indo para lá”. Risada larga
feita, Dagão mexeu os bigodões, fechou a cara e disse: “é sério?”. Minha cara
continuou respondendo a tudo. E lá foi o doido com três ou quatro rolos de
filme, sua Pentax a tiracolo e Uno cantando pneus.
Retornei à
minha sala e liguei para a rádio Cultura. Entrei ao vivo no programa Paixão
Sertaneja, do nosso saudoso Bentinho. Outro igualmente saudoso locutor, Luiz
Luz, apaixonado por aviação, queria saber que tipo de aeronave Senna havia
trazido para Assis. À base das suposições, informei o que sabia. Detalhe: todos
os nossos repórteres só trabalhavam pela manhã, pelos motivos aqui já expostos
no início do texto. O furo, portanto, era nosso, mas a informação completa
competiria à nossa concorrente explorar.
Liguei
para meu eterno patrono Chico de Assis, da Difusora. Ele estava na redação,
preparando-se para fazer o giro das notícias de final de dia e até hoje, quando
nos encontramos nas esquinas da vida, diz que só confiou porque havia e há,
entre nós, aquela relação de feeling jornalístico permeada pela seriedade e
pela confiança recíproca. Chicão pegou a viatura da emissora e foi para o
aeroporto. Chegou junto com Dagão. Em uma época em que o rádio reinava como
veículo de comunicação cuja credibilidade era intocável e inabalável, os fãs de
automobilismo, informados da presença do ídolo, começaram a chegar ao
aeroporto.
Lá estava
Ayrton Senna, abraçado por crianças, adultos, idosos, enfim... Fotografado por
Dagão, entrevistado por Chico de Assis e eternizado por uma tarde de
quinta-feira de janeiro em que veio com o pai, Mílton, comprar alevinos para a
piscicultura da família em Tatuí. Retornou ele para a cidade natal, seguindo no
final de semana para Angra dos Reis e, na segunda-feira, para Londres, onde
faria os primeiros testes com a nova equipe, a Williams. O mesmo carro que o
mataria, na curva Tamborello, no dia 1º de maio seguinte.
Depois
disso fui conhecer, com Dagão, a piscicultura de Ivo Guiotti. Este, tornou-se
um de meus melhores amigos. Quatro anos depois, em uma viagem de pescaria a
Corumbá, dentro do barco, Ivo relatou seu desespero naquela quinta-feira, 18 de
janeiro. Senna, diz ele, havia chegado à piscicultura por volta das 9 horas.
Conheceu o laboratório, quis saber os segredos de reproduzir alevinos e,
depois, ignorou o banquete que Miriam Guiotti havia preparado. “Como o que
quiser nos melhores restaurantes do mundo”, teria dito o piloto, fazendo
questão de escolher o cardápio: arroz, feijão e ovo frito. Sim, ovo frito. E
ovo frito por ele próprio, no fogão a lenha.
Ivo
aproveitou-se de um momento de retiro de Senna, que pescava pacu no lago
principal da piscicultura, munido de molinete e vara, e foi ao telefone. Ligou
para algumas emissoras de rádio e para jornal mais tradicionais da época,
comunicando a presença do ídolo do automobilismo. Já pela manhã, ninguém acreditou
na fonte. Somente à tarde é que ‘alguém’ havia acreditado. E deu no que deu.
Não tenho
números precisos, mas sei que a edição da sexta-feira, 19 de janeiro de 1994,
foi a que mais vendeu exemplares na história da Gazeta do Vale. Recordo-me de
Ivo Barros e Moisés, além da tropa da entrega, trabalhando até as primeiras
horas daquela tarde, cuidando da impressão de exemplares extras. Rodávamos algo
em torno de 1.500 exemplares/dia e suponho que essa tiragem, naquele dia, tenha
atingido o quíntuplo.
Claro, nem
todas as segundas quinzenas de janeiro têm, anualmente, a presença de uma
celebridade com passagem pela região. Mas, diariamente, a cada minuto, quem se
propõe a trabalhar com comunicação tem de acreditar em toda e qualquer
suposição. Um fato só deixará de ser possível quando o contrário for
comprovado, e assim mesmo, nessa configuração, haverá algo a esclarecer na
forma de notícia, nem que seja em uma nota de canto inferior de página.
No caso da
passagem de Ayrton Senna por Assis, eu confesso que desconfiei. Desconfiar,
contudo, é atribuir uma porcentagem de confiança àquilo que se recebe como
fato. Não me vanglorio por ter feito essa ou aquela grande reportagem em minha
vida. Tanto que não tenho um arquivo sequer do que produzi em duas décadas e meia
de jornalismo por essas terras paulistas afora. Mas uma lição, tenho certeza,
ficou registrada nessa história recente: há, até hoje, quem amargue o resultado
de não ter feito a cobertura de algo que da condição de impossível passou para
um dos acontecimentos mais importantes desta Sucupira do Vale chamada Assis.
QUEBRANDO
O GELO
Já que a
pauta, aqui, é acreditar, ou seja, o crível, retomo um causo contado por meu
maninho saudoso Bentinho, que todas as manhãs lia por completo a Folha de São
Paulo, na redação da rádio Cultura, sentado em uma cadeira, cuspia ao chão e
encerrava essa passagem levando sorrateiramente o exemplar do dia anterior do
Notícias Populares, por ele chamado de “pinga-sangue”.
A
‘estória’, garantida por ele como autêntica, é a seguinte: uma senhora, casada
com um ilustre, foi até uma loja de materiais para escritório do centro de
Assis querendo comprar um armário, grande, para guardar seus livros. Um armário
fechado, de maneira que a poeira não encardisse os exemplares. Essa senhora residia
nas imediações do Clube Recreativo e gostava de afazeres muitas vezes
atribuídos a homens, dada a exigência de força física. Assim, pediu que
entregassem o armário adquirido e deixassem que ela mesma montasse.
O móvel
foi entregue na mesma tarde e a senhora rapidamente fez a montagem. No entanto,
como a casa ficava a alguns metros da linha férrea, uma composição de
locomotiva e vagões de carga da Fepasa passou e fez com que o armário
desmontasse. A proprietária ficou intrigada com aquilo e, pacientemente, refez
a montagem. Conferiu tudo em detalhes e, simultaneamente, outra manobra de
locomotiva e vagões coloca tudo abaixo. Lá estava o armário no chão, em
pedaços.
Na
condição de consumidora, a já raivosa senhora ligou para a loja e reclamou. Já
passava das 17h30 mas mesmo assim ela queria que um montador a atendesse. Foi
atendida. E lá chega o montador, um negro devidamente uniformizado e de fácil
diálogo. A compradora explica o ocorrido, o interlocutor duvida um pouco e
coloca em xeque o método de montagem do armário. Rapidamente, faz a montagem e
os apertos necessários. Antes mesmo de concluir ouve-se o apito de uma
locomotiva. Em questão de segundos o armário vai ao chão.
O montador
não entende o episódio e começa a acreditar na senhora. Refaz a montagem. Passa,
então, mais uma composição de trem. E tudo vai ao chão. Com o móvel já
danificado por tantas desmontagens recorre-se a uma cola. Além de parafusos e
encaixes, cola de madeira. Armário montado e colado, espera-se o trem. Dez,
vinte minutos e nada de trem. Quando a cola começa a secar vem o apito e a cena
esperada: o armário, claro, desmontou.
A senhora
sugere que o montador leve o armário de volta, desistindo do negócio. Mas, ele
percebe que a cola deu mais resistência na experiência anterior e, para não
perder aquela vivência a ser passada ao fabricante, resolve aplicar mais cola.
Como garantia de que o armário não desmoronaria na próxima passagem do trem, o
inusitado: o danado entrou no armário para segurar as partes que desmontavam.
Mas, para não comprometer o conjunto do móvel, as portas tinham de ser
fechadas.
O montador
dentro do armário, a cola secando e adivinhe quem chega para jantar? Claro, o
marido da senhora. Extremamente tradicional, ela fica constrangida de explicar
ao marido o ocorrido. Como plano de fuga, segue para a cozinha, apressando o
jantar que sequer havia sido preparado. Não sem antes dizer ao montador que não
o armário, mas a casa em si estava caindo.
O marido
adentra à casa e logo vê, no cômodo ao lado de seu quarto de casal, o armário.
Pergunta à mulher quanto havia custado e outros detalhes da aquisição. Antes de
a esposa responder, abre a porta e toma um susto. Vendo o montador dentro,
pergunta o que se passa. E eis que o negro responde: “olha, eu sei que é difícil
acreditar, mas eu estou aqui dentro esperando o trem passar”.
Essas
deliciosas histórias fazem parte de narrativas orais que perdem-se com o tempo.
Se ocorreram realmente ou não, isso é o que menos importa. Ilustram, sim,
recortes sobre uma sociedade que, por mais revolucionada que seja pela
tecnologia, sempre faz prevalecer cunhos de verdade. Acreditar ou não dependerá
do contexto em que cada sujeito social esteja inserido.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
FRANQUIAS
Depois da
rede Bob´s, outra franquia de fast food aterrissa em Assis. A esquina entre as
ruas JV da Cunha e Silva e Floriano Peixoto receberá uma ampla loja da Subway,
famosa por permitir que o cliente escolha os ingredientes que compõem o seu
lanche. Inauguração ainda em 2011.
MARCHA À RÉ
Com a mudança
de sentido de direção da avenida Marechal Deodoro virou um verdadeiro dilema
estacionar em frente ao Mercadão. Com o veículo de frente, impossível, pois as
vagas são dispostas na diagonal, da esquerda para a direita.
FECHADA PARA NÃO BALANÇO
A sauna do
ATC ficará fechada no período de 5 a 18 de dezembro. Motivo: reforço das vigas
que dão sustentação ao piso superior, onde fica o restaurante. O excesso de
umidade, típico do ambiente, expôs toda a estrutura metálica. Esse problema foi
detectado ao trocar o forro de pvc.
EM 2013
Meus
planos de iniciar o doutorado ficaram para 2013. O vigor do prazo para
alterações finais de minha dissertação defendida em 11 de novembro implicou na
não seleção de meu projeto para 2012. Continua, sim, minha pesquisa junto a
universidades latino-americanas, norte-americanas e europeias, dentrod o mesmo
objeto.
LATO SENSU
Os campi
de Assis e de Marília da Unesp começam a formar neste final de semana a
primeira turma do curso de especialização em Língua Inglesa válido pela Redefor,
que é a Rede São Paulo de Formação Docente. Oferecido a professores da rede
pública de ensino do Estado, o curso de pós-graduação é uma iniciativa do
Núcleo de Ensino a Distância da Unesp. Os trabalhos de conclusão serão
apresentados no polo de Marília neste sábado, nos períodos da manhã e da tarde.
EM FAMÍLIA
Tem sido
recorrente encontrar o empresário João Antônio Binato almoçando com um dos
jovens filhos na rotisseria do Avenida Plus. Prestígio aos negócios da própria
família e encaminhamento para a gestão.
PASSAGEM
Sensação
interessante ter o texto lido por assisenses que estão fora da terrinha. Meus
grandes amigos Ivo Barros e Adílson, respectivamente no Japão e na Alemanha,
por aqui passam semanalmente.
TROCA
Meu amigo
Pedro Granato, o Neto, está trocando de dial em Presidente Prudente. Deixa a
98FM e assume o microfone da 101. Neto foi meu orientando de TCC no curso de
Jornalismo na Fapepe.
REENCONTRO
As
primeiras equipes de fundação do jornal Oeste Notícias farão um reencontro de
confraternização em dezembro. Da sucursal de Assis poderemos ir numa turma
completada por Reinaldo Nunes e Paulo Cuca. A organização do encontro está
sendo mediada por Adernil de Souza, hoje proprietário do jornal Conexão, em
Martinópólis.
PERGUNTINHA BÁSICA
Para que
continuam servindo as páginas de noticiário nacional em jornais teoricamente
locais?
PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER...
Dois
semáforos em uma praça (da Bandeira) é brincar com coisa séria.
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