20 Junho 2012
Cláudio
Messias*
Começou bem mais cedo do que eu imaginava a baixaria da disputa pelo
mais intermediário – com o perdão linguístico – dos cargos eletivos, políticos.
Não que eu me surpreenda com o conteúdo, pois em duas décadas e meia de
jornalismo já vi de tudo um pouco nos bastidores desse necrotério chamado
política. E cargo intermediário porque raramente um candidato a deputado
arrisca-se na utopia de êxito no pleito majoritário sem ter frequentado a
cadeira principal de um tartarugal paço municipal. Também com o perdão do
trocadilho.
Sim, você, raro e exceto leitor, me dirá que já votou em um candidato a
deputado que não tenha sido prefeito. Mas também não o viu eleito, a não ser
que seu candidato tenha sido, aqui em Assis, um desses denominados
paraquedistas ocasionais. Prefeito deputado só conheci um: José Santilli
Sobrinho, seo Zeca. Mas a pauta agora nem é essa, nem tem a ver com a
Assembleia Legislativa ou a Câmara dos Deputados.
Domingo passado repeti a rotina dominical de pegar o jornal no portão e
folhear tomando café preto, comendo pão da Pão da Vida e em prosa com a esposa.
Outro impresso, contudo, fazia presença ao lado da Folha. Tabloide, colorido e
com um nome sugestivo: “Realidade”. Surreal, sim, foi optar por, primeiro,
folhear aquela ‘novidade’. A mão coçou e, confirmando o profeciado por Júlio
Garcia, peguei a caneta. Com Julião, desde a época da Gazeta do Vale, peguei a
mania de ler com os olhos e a ponta da caneta. Um deslize aqui, outro ali e a
página de papel jornal está toda assinalada. Ímpeto de revisor, olhar de
editor. E nem precisarás assistir o Observatório da Imprensa para “nunca mais
ler jornal com os mesmos olhos”.
Não me refiro aos erros gramaticais, ortográficos, enfim, àquilo que
defino muito mais como equívoco do que necessariamente erro. Erro, em conteúdo,
no jornalismo, provém da edição. Editorialmente o jornalismo comete erros, que
são precedidos por ações políticas anteriores à pauta. Sim, entendo que
praticar o jornalismo é executar a política da comunicação, o que é
quilometricamente diferente de praticar política executando o que se entende
como jornalismo. Isso, ou seja, essa última definição, é, eu entendo, tentativa
vã de praticar o jornalismo. É menosprezar a inteligência e a capacidade
cognitiva dos sujeitos que encontram-se na condição de consumidores do conteúdo
que se entende como passível de leitura.
Quando pego um tabloide como o “Realidade” corro os cansados olhos,
primeiro, no expediente. Não me atento nem à manchete. Antes de provar, no
sentido de saborear, quero saber quem fez. Ou seja, quão limpas são as mãos que
produziram aquilo que será digerido ou expurgado metafisicamente. E no caso do
tabloide que estava debaixo de meu portão, havia mais uma pegadinha do que
necessariamente um expediente. Um registro profissional de jornalista seguido
de iniciais. Jeito diferente, esquisito mesmo, de se apresentar. Com certeza,
sem conhecer o cozinheiro, não provo desse tipo de prato. Ou será que nomes
também tornaram-se siglas?
Já disse e lamentei, nestas linhas, que Assis está vergonhosamente
perdendo e assistindo inerte à morte de seu curso de Jornalismo. Tentei
resgatar, na memória, algum nome de estudante ou egresso que pudesse coincidir
com aquelas iniciais do expediente. Se os olhos estão cansados, igualmente o
está a memória. E talvez realmente o executor editorial daquele tabloide tenha
saído da academia, aqui ou fora. Nada incomum em tempos em que
enfermeira/advogada esquarteja o marido e, ainda, as celas especiais da Polícia
Federal estejam abarrotadas de bacharéis e até mesmo licenciados cujas práxis
nada correspondem aos juramentos feitos em seus atos formais de colação de
grau.
Não estou, aqui, protegendo aqueles que foram denunciados pela edição
¿inaugural? do Realidade. Se pode chegar a 4 milhões de reais o desvio de verba
pública em Assis eu quero mais é que os (ir) responsáveis torrem mesmo, antes
de chegarem ao inferno, nas celas. O que exijo, como possível consumidor dessa
forma nada clara de fazer jornalismo impresso, é que haja veracidade naquilo
que é afirmado. Que em vez de taxar de exclusiva a entrevista com um
vice-prefeito, se registre a versão formal do mesmo representante do Ministério
Público cuja foto fora estampada nas páginas, quem sabe para dar o único
elemento de credibilidade. Vice-prefeito é figura da rua, da esquina, do bar,
da fila do supermercado e da mesa da pizzaria. Fala o que quer, o que bem
entende e o que lhe interessa, o que é normal, apesar de não sê-lo. Anormal é
não trazer à tona os fac-símiles que dão a necessária caracterização de verdade
possível ao que, no geral, não passa de especulação. Recordemos e ressaltemos
que no estado democrático de direito só é condenado aquele que, esgotadas as
provas em contrário, no fim do processo seja considerado culpado. E é daí que
surge o “pode”, que é o mais pobre dos recursos linguísticos que um
profissional da comunicação deve tentar apropriar para praticar a informação. O
valor pode chegar a tanto, fulano pode ter de devolver tanto e determinadas
ações poderiam ter sido praticas. E eu, claro, posso não aceitar isso na forma
de mera possibilidade. Quero, como todo e qualquer leitor, informação concreta.
No fatalismo que envolve o prenúncio de fim do jornal impresso, que
seria substituído, enquanto meio, pelas tecnologias digitais da informação e da
comunicação, não consigo ver o jornal de papel em outra situação que não a de
agonia. A política tem se tornado um câncer para a imprensa escrita, destruindo
linhas editoriais e sepultando credibilidade construída, em alguns casos em
Assis, há mais de meio século. Em casos avessos, tem empresa jornalística que
tenta a condição de tradicional mas não consegue, dada a falta de
penetrabilidade, também entendida como falta de credibilidade. Por trás dos
motivos que levam a esse descrédito está, claro, a política editorial de fazer
jornalismo para a política. Balanços financeiros publicados por prefeitura e
câmara mostram bem isso. Jeito pobre, de espírito, de fazer jornalismo. Pobreza
de espírito empreendedor, pois pensa-se no cardápio do almoço, confiando numa
eventual sobra para o jantar e com a incerteza de refeição no estômago no dia
seguinte. Depender de um prefeito, de um presidente de câmara é exatamente
isso.
Aprendi isso, sobre a cruel dependência dos cofres públicos e a
necessária independência de acordos de gaveta, quando, a muito custo, executei
a práxis do jornalismo comercial, ocasião em que aprendi, por exemplo, a partir
de estatística do Sebrae, que um em cada três estabelecimentos comercias morre,
no Brasil, antes de completar três anos desde a sua abertura. Nesses números
exatos sobre realidades inexatas prefiro ficar com os outros dois de cada
mesmos três estabelecimentos comerciais que não fecharão as portas e, desde que
meu produto editorial dê retorno a partir da credibilidade que eu construir com
a minha seriedade e a minha honra, passarão mais do que quatro ou oito anos figurando
como receita da sobrevivência do meu negócio.
Quando cursei o lato sensu Comunicação Popular e Comunitária na UEL, em
2008, tive uma tarde de glória com professora Carly. Na aula sobre Comunicação
Política contextualizávamos o capital político. Estava em pauta a indústria
cultural da comunicação, especialmente a impressa. Jornais constroem e derrubam
monstros, gigantes. Uma simples nota, em poucos verbetes, e se constrói um
capital político. E se houver articulação pré-elaborada nesse processo comunicativo
o resultado, positivo ou negativo, tende a ter precisão apurada, cirúrgica. É
daí que se encontram explicações para fenômenos isolados que elegeram, uma
única vez, por exemplo, Marcelo Bico, em Assis, e Tiririca, na Câmara dos
Deputados. No caso do assisense – não falo de Tiririca porque nunca o
entrevistei -, uma pessoa do bem, envolvido em projetos louváveis como o que dá
assistência a portadores de vitiligo, mas que chegou à Câmara e lá ficou por um
mandato, tentando mas não conseguindo a reeleição. No avesso dessa situação
está Mílton Burlim, com votação histórica, uma presidência da mesa diretora da
Câmara no currículo e a opção de, apesar da ampla aprovação de seu trabalho
como vereador, não mais concorrer ao pleito. Marcelo, Tiririca e Burlim construíram
seu capital político em situações distintas, comparáveis somente no fato de
terem sido eleitos para os cargos a que se candidataram. Marcelo e Tiririca,
pela mídia; Burlim, pela competência médica.
Vejo em Marcelo Bico e Míltom Burlim situações distintas de construção
de capital político. Ambos não dependeram de exposição na mídia para chegar ao
lugar pretendido por quem ostenta posição de poder. Não estão mais na câmara,
porém continuam com suas vidas de relação com a comunidade que os elegeu por
uma vez. É, entendo, o jeito mais digno de entrar e sair da política. Não me
recordo uma vez sequer de, em entrevista com essas duas figuras, tê-los visto
discutindo ou atacando outrem. Pelo contrário, Burlim foi o primeiro presidente
de mesa diretora que conheci que formalizou devolução do excedente orçamentário
ao poder executivo. Sim, houve outros que o fizeram antes. Mas não nas
condições especificadas nos gastos declarados por aquele médico ex-vereador.
Exceções, sim, de uma política limpa. E olha que no período em que
Marcelo e Burlim exerceram o mandato testemunhei as maiores barbáries que a
fedonha política local já produziu. Dois casos de exposição, em manchetes de
jornais, nas ondas do rádio ou nas telas de TV, sem ataques nem desavenças. O
capital político envolvido, portanto, apesar de esgotado no sentido de busca
pelo pleito, foi e é limpo. Bem diferente da circunstância em que Assis, no
final de semana, amanheceu sob os auspícios do tal Realidade.
Não estou gostando do prenúncio de campanha das eleições municipais
deste ano na cidade. Novamente, há tantos candidatos quanto partidos querendo
colocar a boca na teta. A história se repete e o primeiro escalão que governou
a cidade oito anos atrás já está rompido com a equipe sucessora dos últimos quatro
anos. Vi isso exatamente no mandato anterior, com resultados nada animadores
para a Sucupira do Vale. O caos é tamanho que mais parece, atualmente, que a
cidade tem candidatos a deputado, e não a prefeito. Daqui a pouco o número de
prefeitáveis será suficiente para, numa inversão de poderes, preencher todas as
vagas da Câmara Municipal.
Há muito se fala da necessidade de uma série de reformas. A reforma do
judiciário, da previdência, a tributária e... a política. Essa última talvez
seja a mais urgente, pois sua execução refletirá diretamente nas demais.
Entendo, por exemplo, que um ocupante de cargo público que venha a público
denunciar o que sabia seja tão responsabilizado quanto o denunciado. A dúvida é
a suficiência, assim, de denunciantes que assumiriam o risco de abrir a boca e
abrir brecha para a própria punição. Tudo bem. Que crimes de corrupção sejam
punidos não com a perda dos direitos políticos, como se antecipa a Lei da Ficha
Limpa, mas com a perda irrevogável da liberdade. Cadeia, mesmo, àqueles que se
apropriem de dinheiro que cada um de nós recolhe com suor e sem opção de
anistia. Porque do jeito que está, desvia-se o dinheiro, ou seja, os tais 4
milhões de reais, punem-se administrativamente com a perda do emprego público
os responsáveis, mas não evita-se que para tais larápios isso tudo represente
uma antecipação da gorda aposentadoria que permitirá célebres pescarias no
Centro-Oeste.
Enfim, se Realidade é isso, prefiro continuar na Paralela. E acordar
somente depois de passada a primeira semana de outubro.
*Jornalista, historiador e professor universitário, é mestre em
Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
CINEMÃO I
Assisti com a família, sábado passado, ao filme “Os Vingadores”,
besteirol do hegemônico cinema norte-americano que até tem lá seus momentos de
pitada de humor juvenil. Ímpar, mesmo, foi voltar, depois de alguns anos,
àquelas instalações que fizeram parte de minha infância. Melhor ainda foi ver
público de todas as idades prestigiando um verdadeiro patrimônio histórico que
algumas cidades só valorizam quando perdem.
CINEMÃO II
“Os Vingadores” continua em exibição no próximo final de semana. E com
o glamour do Cinemão e seu som inconfundível (não estou sendo irônico, pois a
acústica daquele prédio beira a perfeição e compensa qualquer defasagem
técnica).
COMUNIDADE
Já haviam me falado sobre o aumento do movimento de consumidores na
feira livre dos domingos, agora no estacionamento em frente à Praça da
Bandeira. Domingo passado tirei prova: feira lotada e feirantes desmontando as
barracas antes das 11h00, já tendo vendido tudo. Ponto positivo àqueles que
idealizaram o espaço, tão criticados por terem eliminado uma abandonada quadra
de esportes e, em contrapartida, feito a necessária revitalização urbana.
MUITO PRAZER
Encontro, na sala de aula, para uma conversa relâmpago, a professora
Diva Léa Batista. Prosa entre docentes e pesquisadores que somos do campo da
inter-relação Comunicação/Educação na Intercom. Nos apresentamos um ao outro,
pois, numa dessas situações em que um ouve falar do outro sem ter a
oportunidade do encontro, convivemos na mesma cidade por décadas, atuamos na
mesma linha de pesquisa, na mesma associação (Intercom) e nunca havíamos sido
apresentados. Por fim, nos apresentamos.
DOIS EM UM
Meus dois casamentos são iguais a qualquer um que envolva um casal cujo
marido é o primeiro companheiro de matrimônio da esposa, e vice-versa. Primeiro
casamento: no civil. Segundo casamento: no religioso. Duas cerimônias com a
mesma esposa. Complemento do texto, neste espaço, da semana passada. Esclarecer
mais que isso, só desenhando.
LISTA
Ano passado, quando comecei a rascunhar aqui neste espaço, fui cobrado
por interlocutores a listar o que houve de êxito e dor-de-cabeça na obra de
reforma de minha casa. Anunciei que o faria depois que a reforma fosse
concluída. Agora, passado exatamente um ano do início da obra, estamos fechando
os últimos detalhes de um projeto que, executado, tinha previsão de durar de 4
a 6 meses. Talvez na próxima coluna eu já tenha condições de listar o que
recomendo e o que não recomendo.
POPULAR
O Restaurante Popular, na Aprumar, começou servindo, em média, 200
refeições/dia. Nesta terça, 19/06, já havia aumentado para 380 o número de
pratos. E esse número só tende a aumentar.
ALTA TENSÃO
Em uma só tarde duas fontes de computadores queimaram aqui em casa.
Consultando um técnico aqui dos arredores fui alertado sobre a alta incidência
de picos na rede distribuição nas últimas semanas. Isso pode ser comprovado
pelo barulho de “tec” provocado nos aparelhos estabilizadores de voltagem. Cada
“tec” corresponde a um pico desses, que afetam diretamente aparelhos domésticos
que não exigem ligação mediada por estabilizadores.
MAIS 100 MIL
O Jornal da Segunda Online está a poucos dias de completar 400 mil
acessos. No ritmo do início do ano a marca de meio milhão de acessos poderia
acontecer coincidindo com o aniversário de Assis, em 1º de julho. Mas, o JSOL,
nas últimas semanas, voltou à casa da média dos 800 acessos/dia e postergou
essa conquista.
MAIS 13
Meu amigo e companheiro de profissão Reinaldo Nunes, o Português do PT,
está fora do ar na Rádio Cultura. Férias e, depois, afastamento para
candidatura a vereador. Toda sorte de Assis a ele.
TALENTO ATRAI TALENTO
Outro grande amigo, Rodrigo Bertolucci, jornalista assisense que hoje
atua como produtor cultural no Rio de Janeiro, está produzindo o espetáculo
atual de Bia Bedran. Apresentação, na Lona de Jacarepaguá, no Rio, dia 22 de
junho, às 17h00. A geração hoje com idade a partir de 30 anos vai lembrar-se de
Bia do tempo em que ela compunha o quadro “Lá Vem a História”, na TV Cultura
dos anos 1990. Artista completa, ela tem 2 DVDs gravados ao vivo, 8 CDs com
histórias populares e canções e 10 livros lançados.
VIOLÊNCIA
Meu sobrinho foi assaltado duas vezes em menos de três semanas em
Ourinhos. A primeira, em um arrastão durante a Fapi. A segunda, nesta semana,
em plena 21h00, no centro da cidade, com direito a faca riscando o pescoço.
ACUMULADO
Os moradores cujas residências ficam no setor entre o Tênis Clube e a
rua André Perine têm lamentado a incidência de chuvas às terças-feiras, dia da
semana em que a coleta seletiva é feita. Chove, a coleta não vem e o material
fica acumulado em dobro ou acaba descartado como lixo comum.
ARRAIÁ
A comissão organizadora da festa junina da Fema está com um olho no
céu, outro no site da Climatempo. É que o serviço de meteorologia prevê 34
milímetros de chuvas para esta quinta, 20/06, data para a qual foi remarcado o
‘arraiá’. O primeiro adiamento, no início do mês, já foi provocado justamente
pelo temporal que caiu na cidade naquela ocasião.
CAOS I
As alterações no trânsito de Assis tiveram, sim, saldo positivo. Isso,
em dias de sol. Em dias chuvosos como nesta semana os congestionamentos fizeram
com que muita gente atrasasse compromissos marcados na área compreendida entre
as avenidas Glória, José Nogueira Marmontel, Marechal Deodoro e Rui Barbosa.
Quadrilátero urbano complicado aquele.
CAOS II
Aqueles que criticam a possibilidade de retirada do terminal urbano, do
Mercadão para a antiga Estação, podem mudar um pouco de ideia ao transitar
pelas duas únicas ruas que cruzam a Marechal Deodoro no trecho entre a Sabesp e
a Praça da Bandeira. Com chuva o trânsito fica parado em até duas quadras.
Leva-se mais de dez minutos para conseguir cruzar ou adentrar à Marechal.
CÁ ENTRE NÓS...
... retirar de pauta não é o mesmo que abortar um projeto.
CONTRAPONTO
O ano era 1986 e chovia demais naquele janeiro de verão. Eu, técnico de
som na Cultura FM, estava, numa tarde de sábado, com José Carlos “Pé na Cova”
Domingos e Celsinho “Magui”, na emissora. O primeiro, operador de som no AM e o
outro, discotecário que de tanto amar o que fazia virava tardes de sábados,
domingos e feriados em sua empoeirada sala cujas paredes eram repletas de
vinis. Tarde de sábado chuvosa, característica para quedas de energia nos
transmissores da emissora, situados no início da rodovia Benedito Pires, saída
para Cândido Mota. Era raio para todo lado, num temporal que deixou a cidade
com aspecto de noite em plenas 16h00. Havia eletricidade na rádio, mas não no
transmissor. Ficamos eu, Magui e Pé na Cova conversando na central do AM.
Histórias vão, histórias vêm, surgiu a recordação de meus colegas de trabalho
sobre uma situação em que a voz de Lourival Servilha, famoso locutor assisense
morto anos antes, seria ouvida nas caixas de som mesmo quando tudo estivesse
desligado. Pé na Cova, então, foi até a sala de gravação e pegou uma fita de
rolo que continha materiais arquivados com a voz do saudoso Lourival. Enquanto
aguardávamos o retorno da eletricidade nos transmissores iríamos ouvir aquela
gravação, admiradores que éramos do saudoso amigo. Rolos acoplados no
gravador/reprodutor Akay, ficamos olhando para o aparelho aguardando a execução
da primeira gravação. Quando ouvimos o chiado característico que anunciava
conteúdos gravados, deu um estalo. O para-raios instalado na antena da emissora
atraiu uma das faíscas e o que vimos foi uma ‘língua’ de fogo saindo de trás da
central de técnica onde estava o gravador/reprodutor Akay, seguida de um apagão
geral. Emoção e razão misturaram-se feito café com leite e antes de qualquer
reflexão correta sobre o ocorrido saímos os três correndo escada abaixo.
Recordo-me de, por ser o mais novo, ter largado na frente naquela corrida, mas,
não sei como, ter sido ultrapassado por Celsinho Magui em plena escadaria.
Ficamos os três nos protegendo da chuva debaixo da fachada da loja Traços e
Passos, do outro lado da rua, na Capitão Francisco Rodrigues Garcia. Ninguém
arriscava falar nada, ou pela falta de assunto ou simplesmente pelo medo mesmo.
Mais ou menos meia hora depois a energia voltou, as instalações internas da
rádio ficaram novamente iluminadas e tivemos coragem de voltar para dentro. Eu
e Pé na Cova, pois Magui fechara a sala da discoteca e fora embora. Subíamos as
escadas e ouvíamos Lourival Servilha declamando um poema em alto e bom som. Não
titubeamos. Voltamos. Abri a redação, ligamos para a casa da mãe de Maurílio
Siqueira, supervisor técnico. Ele compareceu à emissora meia hora depois e, com
a frieza que lhe é peculiar, foi até a central técnica e parou a fita de rolo
com as gravações antigas de Lourival. Fez isso, olhou para a nossa cara, disse
“vocês são cagões mesmo, não?” e voltou embora. Até concordo que tenhamos sido
cagões, mas que bateu uma dúvida, momentos antes, sobre a origem da voz do
saudoso locutor, isso bateu!
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