quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O lado podre da pré-campanha para prefeito


20 Junho 2012

Cláudio Messias*
Começou bem mais cedo do que eu imaginava a baixaria da disputa pelo mais intermediário – com o perdão linguístico – dos cargos eletivos, políticos. Não que eu me surpreenda com o conteúdo, pois em duas décadas e meia de jornalismo já vi de tudo um pouco nos bastidores desse necrotério chamado política. E cargo intermediário porque raramente um candidato a deputado arrisca-se na utopia de êxito no pleito majoritário sem ter frequentado a cadeira principal de um tartarugal paço municipal. Também com o perdão do trocadilho.
Sim, você, raro e exceto leitor, me dirá que já votou em um candidato a deputado que não tenha sido prefeito. Mas também não o viu eleito, a não ser que seu candidato tenha sido, aqui em Assis, um desses denominados paraquedistas ocasionais. Prefeito deputado só conheci um: José Santilli Sobrinho, seo Zeca. Mas a pauta agora nem é essa, nem tem a ver com a Assembleia Legislativa ou a Câmara dos Deputados.
Domingo passado repeti a rotina dominical de pegar o jornal no portão e folhear tomando café preto, comendo pão da Pão da Vida e em prosa com a esposa. Outro impresso, contudo, fazia presença ao lado da Folha. Tabloide, colorido e com um nome sugestivo: “Realidade”. Surreal, sim, foi optar por, primeiro, folhear aquela ‘novidade’. A mão coçou e, confirmando o profeciado por Júlio Garcia, peguei a caneta. Com Julião, desde a época da Gazeta do Vale, peguei a mania de ler com os olhos e a ponta da caneta. Um deslize aqui, outro ali e a página de papel jornal está toda assinalada. Ímpeto de revisor, olhar de editor. E nem precisarás assistir o Observatório da Imprensa para “nunca mais ler jornal com os mesmos olhos”.
Não me refiro aos erros gramaticais, ortográficos, enfim, àquilo que defino muito mais como equívoco do que necessariamente erro. Erro, em conteúdo, no jornalismo, provém da edição. Editorialmente o jornalismo comete erros, que são precedidos por ações políticas anteriores à pauta. Sim, entendo que praticar o jornalismo é executar a política da comunicação, o que é quilometricamente diferente de praticar política executando o que se entende como jornalismo. Isso, ou seja, essa última definição, é, eu entendo, tentativa vã de praticar o jornalismo. É menosprezar a inteligência e a capacidade cognitiva dos sujeitos que encontram-se na condição de consumidores do conteúdo que se entende como passível de leitura.
Quando pego um tabloide como o “Realidade” corro os cansados olhos, primeiro, no expediente. Não me atento nem à manchete. Antes de provar, no sentido de saborear, quero saber quem fez. Ou seja, quão limpas são as mãos que produziram aquilo que será digerido ou expurgado metafisicamente. E no caso do tabloide que estava debaixo de meu portão, havia mais uma pegadinha do que necessariamente um expediente. Um registro profissional de jornalista seguido de iniciais. Jeito diferente, esquisito mesmo, de se apresentar. Com certeza, sem conhecer o cozinheiro, não provo desse tipo de prato. Ou será que nomes também tornaram-se siglas?
Já disse e lamentei, nestas linhas, que Assis está vergonhosamente perdendo e assistindo inerte à morte de seu curso de Jornalismo. Tentei resgatar, na memória, algum nome de estudante ou egresso que pudesse coincidir com aquelas iniciais do expediente. Se os olhos estão cansados, igualmente o está a memória. E talvez realmente o executor editorial daquele tabloide tenha saído da academia, aqui ou fora. Nada incomum em tempos em que enfermeira/advogada esquarteja o marido e, ainda, as celas especiais da Polícia Federal estejam abarrotadas de bacharéis e até mesmo licenciados cujas práxis nada correspondem aos juramentos feitos em seus atos formais de colação de grau.
Não estou, aqui, protegendo aqueles que foram denunciados pela edição ¿inaugural? do Realidade. Se pode chegar a 4 milhões de reais o desvio de verba pública em Assis eu quero mais é que os (ir) responsáveis torrem mesmo, antes de chegarem ao inferno, nas celas. O que exijo, como possível consumidor dessa forma nada clara de fazer jornalismo impresso, é que haja veracidade naquilo que é afirmado. Que em vez de taxar de exclusiva a entrevista com um vice-prefeito, se registre a versão formal do mesmo representante do Ministério Público cuja foto fora estampada nas páginas, quem sabe para dar o único elemento de credibilidade. Vice-prefeito é figura da rua, da esquina, do bar, da fila do supermercado e da mesa da pizzaria. Fala o que quer, o que bem entende e o que lhe interessa, o que é normal, apesar de não sê-lo. Anormal é não trazer à tona os fac-símiles que dão a necessária caracterização de verdade possível ao que, no geral, não passa de especulação. Recordemos e ressaltemos que no estado democrático de direito só é condenado aquele que, esgotadas as provas em contrário, no fim do processo seja considerado culpado. E é daí que surge o “pode”, que é o mais pobre dos recursos linguísticos que um profissional da comunicação deve tentar apropriar para praticar a informação. O valor pode chegar a tanto, fulano pode ter de devolver tanto e determinadas ações poderiam ter sido praticas. E eu, claro, posso não aceitar isso na forma de mera possibilidade. Quero, como todo e qualquer leitor, informação concreta.
No fatalismo que envolve o prenúncio de fim do jornal impresso, que seria substituído, enquanto meio, pelas tecnologias digitais da informação e da comunicação, não consigo ver o jornal de papel em outra situação que não a de agonia. A política tem se tornado um câncer para a imprensa escrita, destruindo linhas editoriais e sepultando credibilidade construída, em alguns casos em Assis, há mais de meio século. Em casos avessos, tem empresa jornalística que tenta a condição de tradicional mas não consegue, dada a falta de penetrabilidade, também entendida como falta de credibilidade. Por trás dos motivos que levam a esse descrédito está, claro, a política editorial de fazer jornalismo para a política. Balanços financeiros publicados por prefeitura e câmara mostram bem isso. Jeito pobre, de espírito, de fazer jornalismo. Pobreza de espírito empreendedor, pois pensa-se no cardápio do almoço, confiando numa eventual sobra para o jantar e com a incerteza de refeição no estômago no dia seguinte. Depender de um prefeito, de um presidente de câmara é exatamente isso.
Aprendi isso, sobre a cruel dependência dos cofres públicos e a necessária independência de acordos de gaveta, quando, a muito custo, executei a práxis do jornalismo comercial, ocasião em que aprendi, por exemplo, a partir de estatística do Sebrae, que um em cada três estabelecimentos comercias morre, no Brasil, antes de completar três anos desde a sua abertura. Nesses números exatos sobre realidades inexatas prefiro ficar com os outros dois de cada mesmos três estabelecimentos comerciais que não fecharão as portas e, desde que meu produto editorial dê retorno a partir da credibilidade que eu construir com a minha seriedade e a minha honra, passarão mais do que quatro ou oito anos figurando como receita da sobrevivência do meu negócio.
Quando cursei o lato sensu Comunicação Popular e Comunitária na UEL, em 2008, tive uma tarde de glória com professora Carly. Na aula sobre Comunicação Política contextualizávamos o capital político. Estava em pauta a indústria cultural da comunicação, especialmente a impressa. Jornais constroem e derrubam monstros, gigantes. Uma simples nota, em poucos verbetes, e se constrói um capital político. E se houver articulação pré-elaborada nesse processo comunicativo o resultado, positivo ou negativo, tende a ter precisão apurada, cirúrgica. É daí que se encontram explicações para fenômenos isolados que elegeram, uma única vez, por exemplo, Marcelo Bico, em Assis, e Tiririca, na Câmara dos Deputados. No caso do assisense – não falo de Tiririca porque nunca o entrevistei -, uma pessoa do bem, envolvido em projetos louváveis como o que dá assistência a portadores de vitiligo, mas que chegou à Câmara e lá ficou por um mandato, tentando mas não conseguindo a reeleição. No avesso dessa situação está Mílton Burlim, com votação histórica, uma presidência da mesa diretora da Câmara no currículo e a opção de, apesar da ampla aprovação de seu trabalho como vereador, não mais concorrer ao pleito. Marcelo, Tiririca e Burlim construíram seu capital político em situações distintas, comparáveis somente no fato de terem sido eleitos para os cargos a que se candidataram. Marcelo e Tiririca, pela mídia; Burlim, pela competência médica.
Vejo em Marcelo Bico e Míltom Burlim situações distintas de construção de capital político. Ambos não dependeram de exposição na mídia para chegar ao lugar pretendido por quem ostenta posição de poder. Não estão mais na câmara, porém continuam com suas vidas de relação com a comunidade que os elegeu por uma vez. É, entendo, o jeito mais digno de entrar e sair da política. Não me recordo uma vez sequer de, em entrevista com essas duas figuras, tê-los visto discutindo ou atacando outrem. Pelo contrário, Burlim foi o primeiro presidente de mesa diretora que conheci que formalizou devolução do excedente orçamentário ao poder executivo. Sim, houve outros que o fizeram antes. Mas não nas condições especificadas nos gastos declarados por aquele médico ex-vereador.
Exceções, sim, de uma política limpa. E olha que no período em que Marcelo e Burlim exerceram o mandato testemunhei as maiores barbáries que a fedonha política local já produziu. Dois casos de exposição, em manchetes de jornais, nas ondas do rádio ou nas telas de TV, sem ataques nem desavenças. O capital político envolvido, portanto, apesar de esgotado no sentido de busca pelo pleito, foi e é limpo. Bem diferente da circunstância em que Assis, no final de semana, amanheceu sob os auspícios do tal Realidade.
Não estou gostando do prenúncio de campanha das eleições municipais deste ano na cidade. Novamente, há tantos candidatos quanto partidos querendo colocar a boca na teta. A história se repete e o primeiro escalão que governou a cidade oito anos atrás já está rompido com a equipe sucessora dos últimos quatro anos. Vi isso exatamente no mandato anterior, com resultados nada animadores para a Sucupira do Vale. O caos é tamanho que mais parece, atualmente, que a cidade tem candidatos a deputado, e não a prefeito. Daqui a pouco o número de prefeitáveis será suficiente para, numa inversão de poderes, preencher todas as vagas da Câmara Municipal.
Há muito se fala da necessidade de uma série de reformas. A reforma do judiciário, da previdência, a tributária e... a política. Essa última talvez seja a mais urgente, pois sua execução refletirá diretamente nas demais. Entendo, por exemplo, que um ocupante de cargo público que venha a público denunciar o que sabia seja tão responsabilizado quanto o denunciado. A dúvida é a suficiência, assim, de denunciantes que assumiriam o risco de abrir a boca e abrir brecha para a própria punição. Tudo bem. Que crimes de corrupção sejam punidos não com a perda dos direitos políticos, como se antecipa a Lei da Ficha Limpa, mas com a perda irrevogável da liberdade. Cadeia, mesmo, àqueles que se apropriem de dinheiro que cada um de nós recolhe com suor e sem opção de anistia. Porque do jeito que está, desvia-se o dinheiro, ou seja, os tais 4 milhões de reais, punem-se administrativamente com a perda do emprego público os responsáveis, mas não evita-se que para tais larápios isso tudo represente uma antecipação da gorda aposentadoria que permitirá célebres pescarias no Centro-Oeste.
Enfim, se Realidade é isso, prefiro continuar na Paralela. E acordar somente depois de passada a primeira semana de outubro.

*Jornalista, historiador e professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA

CINEMÃO I

Assisti com a família, sábado passado, ao filme “Os Vingadores”, besteirol do hegemônico cinema norte-americano que até tem lá seus momentos de pitada de humor juvenil. Ímpar, mesmo, foi voltar, depois de alguns anos, àquelas instalações que fizeram parte de minha infância. Melhor ainda foi ver público de todas as idades prestigiando um verdadeiro patrimônio histórico que algumas cidades só valorizam quando perdem.

CINEMÃO II

“Os Vingadores” continua em exibição no próximo final de semana. E com o glamour do Cinemão e seu som inconfundível (não estou sendo irônico, pois a acústica daquele prédio beira a perfeição e compensa qualquer defasagem técnica).

COMUNIDADE

Já haviam me falado sobre o aumento do movimento de consumidores na feira livre dos domingos, agora no estacionamento em frente à Praça da Bandeira. Domingo passado tirei prova: feira lotada e feirantes desmontando as barracas antes das 11h00, já tendo vendido tudo. Ponto positivo àqueles que idealizaram o espaço, tão criticados por terem eliminado uma abandonada quadra de esportes e, em contrapartida, feito a necessária revitalização urbana.

MUITO PRAZER

Encontro, na sala de aula, para uma conversa relâmpago, a professora Diva Léa Batista. Prosa entre docentes e pesquisadores que somos do campo da inter-relação Comunicação/Educação na Intercom. Nos apresentamos um ao outro, pois, numa dessas situações em que um ouve falar do outro sem ter a oportunidade do encontro, convivemos na mesma cidade por décadas, atuamos na mesma linha de pesquisa, na mesma associação (Intercom) e nunca havíamos sido apresentados. Por fim, nos apresentamos.

DOIS EM UM

Meus dois casamentos são iguais a qualquer um que envolva um casal cujo marido é o primeiro companheiro de matrimônio da esposa, e vice-versa. Primeiro casamento: no civil. Segundo casamento: no religioso. Duas cerimônias com a mesma esposa. Complemento do texto, neste espaço, da semana passada. Esclarecer mais que isso, só desenhando.

LISTA

Ano passado, quando comecei a rascunhar aqui neste espaço, fui cobrado por interlocutores a listar o que houve de êxito e dor-de-cabeça na obra de reforma de minha casa. Anunciei que o faria depois que a reforma fosse concluída. Agora, passado exatamente um ano do início da obra, estamos fechando os últimos detalhes de um projeto que, executado, tinha previsão de durar de 4 a 6 meses. Talvez na próxima coluna eu já tenha condições de listar o que recomendo e o que não recomendo.

POPULAR

O Restaurante Popular, na Aprumar, começou servindo, em média, 200 refeições/dia. Nesta terça, 19/06, já havia aumentado para 380 o número de pratos. E esse número só tende a aumentar.

ALTA TENSÃO

Em uma só tarde duas fontes de computadores queimaram aqui em casa. Consultando um técnico aqui dos arredores fui alertado sobre a alta incidência de picos na rede distribuição nas últimas semanas. Isso pode ser comprovado pelo barulho de “tec” provocado nos aparelhos estabilizadores de voltagem. Cada “tec” corresponde a um pico desses, que afetam diretamente aparelhos domésticos que não exigem ligação mediada por estabilizadores.

MAIS 100 MIL

O Jornal da Segunda Online está a poucos dias de completar 400 mil acessos. No ritmo do início do ano a marca de meio milhão de acessos poderia acontecer coincidindo com o aniversário de Assis, em 1º de julho. Mas, o JSOL, nas últimas semanas, voltou à casa da média dos 800 acessos/dia e postergou essa conquista.

MAIS 13

Meu amigo e companheiro de profissão Reinaldo Nunes, o Português do PT, está fora do ar na Rádio Cultura. Férias e, depois, afastamento para candidatura a vereador. Toda sorte de Assis a ele.

TALENTO ATRAI TALENTO

Outro grande amigo, Rodrigo Bertolucci, jornalista assisense que hoje atua como produtor cultural no Rio de Janeiro, está produzindo o espetáculo atual de Bia Bedran. Apresentação, na Lona de Jacarepaguá, no Rio, dia 22 de junho, às 17h00. A geração hoje com idade a partir de 30 anos vai lembrar-se de Bia do tempo em que ela compunha o quadro “Lá Vem a História”, na TV Cultura dos anos 1990. Artista completa, ela tem 2 DVDs gravados ao vivo, 8 CDs com histórias populares e canções e 10 livros lançados.

VIOLÊNCIA

Meu sobrinho foi assaltado duas vezes em menos de três semanas em Ourinhos. A primeira, em um arrastão durante a Fapi. A segunda, nesta semana, em plena 21h00, no centro da cidade, com direito a faca riscando o pescoço.

ACUMULADO

Os moradores cujas residências ficam no setor entre o Tênis Clube e a rua André Perine têm lamentado a incidência de chuvas às terças-feiras, dia da semana em que a coleta seletiva é feita. Chove, a coleta não vem e o material fica acumulado em dobro ou acaba descartado como lixo comum.

ARRAIÁ

A comissão organizadora da festa junina da Fema está com um olho no céu, outro no site da Climatempo. É que o serviço de meteorologia prevê 34 milímetros de chuvas para esta quinta, 20/06, data para a qual foi remarcado o ‘arraiá’. O primeiro adiamento, no início do mês, já foi provocado justamente pelo temporal que caiu na cidade naquela ocasião.

CAOS I

As alterações no trânsito de Assis tiveram, sim, saldo positivo. Isso, em dias de sol. Em dias chuvosos como nesta semana os congestionamentos fizeram com que muita gente atrasasse compromissos marcados na área compreendida entre as avenidas Glória, José Nogueira Marmontel, Marechal Deodoro e Rui Barbosa. Quadrilátero urbano complicado aquele.

CAOS II

Aqueles que criticam a possibilidade de retirada do terminal urbano, do Mercadão para a antiga Estação, podem mudar um pouco de ideia ao transitar pelas duas únicas ruas que cruzam a Marechal Deodoro no trecho entre a Sabesp e a Praça da Bandeira. Com chuva o trânsito fica parado em até duas quadras. Leva-se mais de dez minutos para conseguir cruzar ou adentrar à Marechal.

CÁ ENTRE NÓS...

... retirar de pauta não é o mesmo que abortar um projeto.

CONTRAPONTO

O ano era 1986 e chovia demais naquele janeiro de verão. Eu, técnico de som na Cultura FM, estava, numa tarde de sábado, com José Carlos “Pé na Cova” Domingos e Celsinho “Magui”, na emissora. O primeiro, operador de som no AM e o outro, discotecário que de tanto amar o que fazia virava tardes de sábados, domingos e feriados em sua empoeirada sala cujas paredes eram repletas de vinis. Tarde de sábado chuvosa, característica para quedas de energia nos transmissores da emissora, situados no início da rodovia Benedito Pires, saída para Cândido Mota. Era raio para todo lado, num temporal que deixou a cidade com aspecto de noite em plenas 16h00. Havia eletricidade na rádio, mas não no transmissor. Ficamos eu, Magui e Pé na Cova conversando na central do AM. Histórias vão, histórias vêm, surgiu a recordação de meus colegas de trabalho sobre uma situação em que a voz de Lourival Servilha, famoso locutor assisense morto anos antes, seria ouvida nas caixas de som mesmo quando tudo estivesse desligado. Pé na Cova, então, foi até a sala de gravação e pegou uma fita de rolo que continha materiais arquivados com a voz do saudoso Lourival. Enquanto aguardávamos o retorno da eletricidade nos transmissores iríamos ouvir aquela gravação, admiradores que éramos do saudoso amigo. Rolos acoplados no gravador/reprodutor Akay, ficamos olhando para o aparelho aguardando a execução da primeira gravação. Quando ouvimos o chiado característico que anunciava conteúdos gravados, deu um estalo. O para-raios instalado na antena da emissora atraiu uma das faíscas e o que vimos foi uma ‘língua’ de fogo saindo de trás da central de técnica onde estava o gravador/reprodutor Akay, seguida de um apagão geral. Emoção e razão misturaram-se feito café com leite e antes de qualquer reflexão correta sobre o ocorrido saímos os três correndo escada abaixo. Recordo-me de, por ser o mais novo, ter largado na frente naquela corrida, mas, não sei como, ter sido ultrapassado por Celsinho Magui em plena escadaria. Ficamos os três nos protegendo da chuva debaixo da fachada da loja Traços e Passos, do outro lado da rua, na Capitão Francisco Rodrigues Garcia. Ninguém arriscava falar nada, ou pela falta de assunto ou simplesmente pelo medo mesmo. Mais ou menos meia hora depois a energia voltou, as instalações internas da rádio ficaram novamente iluminadas e tivemos coragem de voltar para dentro. Eu e Pé na Cova, pois Magui fechara a sala da discoteca e fora embora. Subíamos as escadas e ouvíamos Lourival Servilha declamando um poema em alto e bom som. Não titubeamos. Voltamos. Abri a redação, ligamos para a casa da mãe de Maurílio Siqueira, supervisor técnico. Ele compareceu à emissora meia hora depois e, com a frieza que lhe é peculiar, foi até a central técnica e parou a fita de rolo com as gravações antigas de Lourival. Fez isso, olhou para a nossa cara, disse “vocês são cagões mesmo, não?” e voltou embora. Até concordo que tenhamos sido cagões, mas que bateu uma dúvida, momentos antes, sobre a origem da voz do saudoso locutor, isso bateu!

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