27 Novembro 2012
Cláudio Messias*
Li, e não ouvi, a entrevista que o empresário João
Antônio Binato deu a meu amigo e eterno parceiro de reportagens Alves Barreto,
pela Cultura AM. Li porque o Jornal da Segunda Online transcreveu a entrevista
em seus principais trechos. O destaque, por conta do jornalista Reinaldo Nunes,
ficou para a possibilidade de Assis perder o Centro de Distribuição da Rede
Avenida de Supermercados.
Aqui, no Assiscity.com, li pelos mesmos dias que
João Antônio Binato poderia ser candidato a presidente da Associação Comercial
e Industrial de Assis, sucedendo Name Sabeh. Cargo elegível para um suplente de
deputado estadual que logo na primeira eleição pública que disputou quase, por
muito pouco, deu a Assis a condição de voltar a ter um representante na
Assembleia Legislativa do Estado. Para chegar a presidente da Acia, Binato
precisa somar votos, ter a maioria, mesmo que seja candidato único.
Citei os três níveis de relação direta ao nome de
Binato por um motivo simples: não acredito que João Antônio e seus irmãos
retirem de Assis o Centro de Distribuição da Rede Avenida. As questões
financeiras alegadas são fúteis perto de um fato diretamente envolvido nesse
bojo: o capital político. Estou falando de um capital simbólico que João
Antônio Binato tem. Não me refiro, pois, a qualquer outro Binato que tenha sido
eleito ou tentado eleger-se no passado recente ou remoto de Assis.
Das três circunstâncias envolvidas, uma delas tem
de não corresponder à verdade para que João Binato concretize a especulação de
que retiraria o Centro de Distribuição de Assis. Conheço pouco, muito pouco
desse empresário, mas o suficiente para saber que mentiroso ele não é. Já disse
aqui, nessas linhas, que trabalhei com ele na Rede Super Marca, em Marília, uma
central de negócios que reunia grandes grupos supermercadistas do interior
paulista. Eu, assessor de imprensa. Ele, presidente.
Também aqui, nesse espaço, admiti que a vivência
com João Antônio quebrou um paradigma. A imagem construída a seu respeito,
envolvendo, conforme Carl Jung, arquétipos e estereótipos da comunicação, não
correspondeu àquele presidente da Rede Super Marca com quem convivi. Sério,
claro, mas não arrogante. Uma pessoa que conversa olhando nos olhos, não manda
recado e cobra resultados. E tudo isso de maneira educada, condizente a um
gestor que tem sob seu comando milhares de funcionários.
Foram somente seis meses de vivência e convivência.
Nessa rotina de meio ano, ida a feiras como a Apas, na capital paulista, e a
inúmeros eventos relacionados à Super Marca. O suficiente para ter uma dimensão
do império chamado Rede Avenida e da representação que o grupo tem na economia
de mais de uma dezena de cidades paulistas e paranaenses por onde espalha suas
filiais.
Não estou, aqui, para rasgar elogios a João
Antônio. Quem sacrifica preciosas piscadas de olhos fixando leitura nessas
linhas que variavelmente aqui posto sabe muito bem que não é do meu feitio nem
puxar saco, nem rasgar ceda, muito menos atacar com ou sem fundamento. Apenas
escrevo, registro. Se alguém ler, legal. Se não lerem, tudo bem também. O
calendário maia não será alterado e o mundo não deixará de acabar em 21 de
dezembro por conta disso.
Igualmente, quem acompanhou meu trabalho na
imprensa de Assis, nas idas e vindas para e da cidade para outras localidades,
ao longo de duas décadas e três anos consecutivos, sabe ainda mais do meu
perfil de jornalista. Processado judicialmente, com mais de uma dezena de
reportagens escritas e jamais publicadas devido aos interesses hegemônicos das
empresas jornalísticas locais por onde passei, construí o meu capital
simbólico. Igualmente, fiz muitas besteiras também. Errei. E errei feio em
algumas dessas vezes. E meu nome, pois, não está associado a falcatruas,
esquemas ou simplesmente a reportagens fúteis. Se saía da redação para
trabalhar, era para retornar com fatos, e não suposições. Ou seja, nunca
precisei assinar um release, me apropriar de um texto que não era meu, durante
todo esse tempo.
Mas o assunto, aqui, gira em torno de João Antônio
Binato. Precisei, sim, justificar a você, raro e exceto leitor, o por quê de eu
não acreditar na tormenta que gira em torno da saída do Centro de Distribuição
da Rede Avenida de Assis. O respeito enquanto empresário. E dos bem sucedidos,
pois se olhar para trás, nas últimas três décadas, o que vejo são supermercados
que abriram, badalaram e... fecharam as portas em Assis. Nesse ínterim, um dos
negócios que tiveram os dedos de João Antônio e hoje representam uma marca
sólida é o Vitória, uma rede que nasceu em Assis e tem filiais em outras
cidades. Vitória que um foi A Barateira, que concorreu com o Avenida, fechou e cujo
gestor depois foi trabalhar... com João Antônio Binato.
A mágoa de João Antônio vem da nada razoável
votação que seu filho teve para prefeito de Assis. Uma dor que, sei, bate
igualmente em outro João, Rosa, vice-prefeito que apesar do bom capital
político também teve inexpressiva votação nas urnas em outubro passado. Fossem
candidatos somente eles e o eleito Ricardo Pinheiro e, todos sabemos, o
desempenho nas urnas poderia ter sido outro. O desempenho, e não
necessariamente o resultado. Mas, meu amigo, SETE candidaturas foi demais. E,
João Antônio Binato, você me desculpe, mas Kiko Binato tinha a reeleição para
vereador garantida. E, nesse ínterim, se houve um erro nessa história, esse
erro foi ter insistido na candidatura de Kiko para prefeito. O eleitor e a
cidade não erraram ao não elegê-lo. Até porque mais de 15 mil eleitores
simplesmente não foram votar, um contingente que elegeria outra composição da
Câmara se assim quisesse. A eleição como um todo, em 2012, tem de ser esquecida
pela cidade.
Essa ira, que por sinal já deveria ter passado, é
compreensível. Mas, para o bem do capital político de João Antônio, não pode
passar de polêmica fútil. Até porque entra em rota de colisão de coerência para
esse outro projeto político especulado, ou seja, assumir a presidência da
Associação Comercial e Industrial local. Eu, que também já fui assessor de
imprensa na Associação Comercial mais bem sucedida em um raio de 200 km ao
redor de Assis, ou seja, a Acim, de Marília, sei bem que um gestor do setor
comercial, que se propõe a representar a maior corrente econômica de qualquer
localidade, não pode querer tirar da cidade uma fonte geradora de receita e
tributos que corresponda às cifras citadas por João Antônio na entrevista a
Alves Barreto.
Compete a um presidente de Associação Comercial
prezar para que o setor cresça. E perder um Centro de Distribuição da magnitude
do da Rede Avenida representa, hoje, a maior perda que a cidade de Assis pode
imaginar, na contramão de conquistas significativas ocorridas nos últimos meses.
Decidir por isso, portanto, não pode coincidir com o projeto de assumir a Acia.
Eu, se comerciante fosse, jamais votaria em um candidato com tão bizarro
projeto de transferir para Ourinhos um patrimônio que foi construído a partir do
que a população de Assis consumiu ao longo de sofridas décadas de crise que o
país passou. Portanto, eleitor é uma coisa, consumidor é outra coisa,
totalmente diferente.
Mudanças no trânsito da cidade afetaram a todos. De
eleitores a consumidores, cada morador de Assis teve de se adequar a uma nova
cidade. Mas, João Antônio, as reclamações de um ano atrás deram, aos poucos,
lugar a um cenário inverso. Não somente ouço, mas leio e compartilho de
mensagens e postagens feitas por internautas assisenses ou da região, aqui no
Assiscity ou nas redes sociais, reconhecendo que o trânsito de Assis teve mais
resultados positivos do que negativos. Uma sinalização de que pode haver saldo
positivo nisso é o setor de funilaria e pintura de automóveis, que teve
drástica redução no movimento de recebimento de veículos com pequenas colisões
implicadas de acidentes de trânsito.
Tradicionalmente, por ser morador na vila Santa
Cecília, comprei e compro na loja da Rede Avenida da Dom Antônio, nas
proximidades da vila Rodrigues. A mesma filial que João Antônio disse que pode
fechar por causa do trânsito. Ele se refere ao bloqueio das passagens que
cruzavam a avenida Dom Antônio, agora fechadas por canteiro central, forçando
retorno por rotatórias. Mas, mesmo antes de o trânsito ter sido alterado eu já
percebia movimento mais tranquilo naquela filial da Rede Avenida. Queda de
movimento que, na minha opinião, coincide com outro mega-investimento de João
Binato, ou seja, o Avenida Max, que fica na mesma avenida Dom Antônio. No meu
caso, não deixei de comprar na outra loja, pequena. Mas se as pessoas o
fizeram, foi para transferir o local de consumo, e não necessariamente para ir
comprar no Amigão ou no São Judas, mas exatamente no Max. E não será a vinda do
Wall-Mart ou da Americanas que fará piorar o sufocamento do trânsito na Dom
Antônio. Cada coisa, cada realidade relacionada ao crescimento da cidade, no
seu devido lugar.
João Antônio Binato continua sendo o nome político
mais forte de Assis na atualidade. Mais forte, inclusive, do que o prefeito
eleito Ricardo Pinheiro e do próprio filho, Kiko. É ele o atual suplente de
deputado estadual do Médio Vale do Paranapanema. E tomar decisões radicais,
nesse momento, como a de mexer na sede do Centro de Distribuição do Grupo
Avenida, seria uma bobagem nada condizente aos mais de 20 mil votos creditados
a seu capital político nas últimas eleições gerais dois anos atrás. Quase, mas
por muito pouco mesmo, ele não se tornou o nosso representante na Assembleia
Legislativa mais importante do país. Sua trajetória mostra que daqui a menos de
dois anos as condições locais e regionais favorecem para que isso se
concretize.
O momento, pois, é de colocar a cabeça em ordem, os
projetos no papel e o capital político no patamar condizente à expectativa que
a cidade de Assis lhe colocou. Amigão, São Judas, Wall-Mart, Americanas só
vieram para cá porque fizeram pesquisa de mercado e concluíram pela viabilidade
do negócio. A mesma pesquisa de mercado que a Rede Avenida fez para ir a
cidades como Santo Antônio da Platina, Presidente Prudente e Ourinhos, cidades
que não só não tiveram supermercados fechados pela presença do empreendimento
da família Binato, como experimentaram crescimento do setor como um todo.
O que quero dizer é que, críticas e lendas à parte,
o mercado consumidor de Assis só foi descoberto como potencial porque um dia os
grandes que aqui estão tiveram o interesse despertado exatamente pela
competência de gestão da Rede Avenida, um dos cinco mais respeitados grupos
supermercadistas do país na atualidade. Se Ourinhos quer o nosso Centro de
Distribuição, então eles que justifiquem ter, um dia, o que Assis já tem:
solidez e qualidade de consumo. Não por acaso Assis está recebendo outros dois
Centros de Distribuição, sendo um de artigos esportivos e outro de materiais de
construção. É a vida que segue e não pode parar.
Passou da hora de a boca maldita existente e
sobrevivente de gerações frustradas pelo passado reconhecerem que empresas que
consolidam-se no mercado há décadas colaboram com o desenvolvimento, e não
travam-no. Um dia falaram que a Nova América impediu a vinda da Coca-Cola para
cá, da mesma forma que a Rede Avenida foi acusada de ter impedido o Sé de
instalar-se aqui. Nesse último caso, o prédio onde seria o Sé fora erguido para
ser alugado. E às vésperas da instalação do hipermercado a marca Sé foi
comprada pelo Grupo Pão de Açúcar, que parou todo o projeto de expansão e descatou
Assis. No lugar de um esqueleto de concreto
largado ao lado da Unesp a cidade ganhou o Avenida Max e o Centro de
Distribuição da Rede Avenida, um autocenter e a primeira franquia multinacional
de fast-dood de sua história. E aí fica a pergunta: isso é travar o
desenvolvimento da cidade ou contribuir? Eu tenho convicção de que é a segunda
opção.
*Professor universitário, jornalista e historiador,
é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
FORMATAÇÃO
No texto anterior essa coluna saiu fora de
formatação. Tudo emendado, feito texto de Saramago. A comparação com o escritor
português deve-se tão somente ao fato de o mesmo ter dito, em uma de suas
passagens pelo Brasil, quando vivo, resistir ao “enter” do teclado que dá
origem ao novo parágrafo. Falha minha, agora corrigida.
ÁGUA
Quem quiser tirar dúvidas sobre a legislação que
incide sobre o uso da água tem duas fontes de consulta. No Estado, o decreto
50.667/2006. Em nível nacional, a resolução 274/2005 da ANVISA. Em ambas são
estabelecidos critérios para cobrança por vasão de água em espaço público e
responsabilidades por tal gestão.
CADA CASO...
Leitor amigo questiona por que Marília, que tem
cinco fontes públicas de abastecimento com água, não fechou tais “minas”, que
na realidade são poços artesianos com vasão por pontos de distribuição. A
pergunta tem origem a partir do caso da demolição da popular Mina da
Cristalina.
... UM CASO
Acontece que em Marília os tais poços são
administrados pelo DAEM, que é uma autarquia pública do município. Sua
manutenção e, com o vigor da lei do uso da água, o controle de vasão e
consequente custeio passam a ser feitos dentro de uma política de gestão dos
recursos hídricos da cidade.
EM TEMPO
O prazo para adequação ao que estabelece a lei
estadual de uso da água venceu em 2006, e não vencerá em 31 de dezembro de 2012
como eu disse na coluna anterior. A tolerância de cinco anos resulta de bom
senso de quem fiscaliza, uma vez que mexe diretamente com a rotina e a cultura
de milhares de pequenos proprietários rurais paulistas, a grande maioria deles
isentos de cobrança mas obrigados a alterar a gestão de seus recursos hídricos.
FEDERALIZAÇÃO
A notícia foi tornada pública em 18 de outubro: a
confirmação de Assis como Núcleo Avançado do Instituto Federal de São Paulo. Em
2013, com sede na Fema, serão formadas turmas em dois cursos técnicos:
Administração, com duração de 3 semestres, e Manutenção e Suporte em
Informática, em 4 semestres. Cada turma com 40 vagas, no período vespertino.
Inscrições para o processo seletivo terminam nesse dia 28 de novembro.
PRESSÃO
Essa especulação existe há décadas, mas ganhou
força nas últimas semanas: uma possível proposta para que a família Camargo
venda o Sistema Cultura de Comunicação, formado pelas rádios Cultura AM e FM.
Um grupo religioso estaria disposto a assumir o comando total da empresa. Que
fique só no boato, pois a Cultura FM continua sendo a única sintonia do dial
regional em que não se ouvem, das 7h00 à meia-noite, o sertanejo, o pagode e o
funk, muito bem explorado por outras emissoras concorrentes.
PLANO B I
Acostumei ir a Bauru seguindo pela Raposo Tavares,
depois Orlando Quagliato, João Batista Cabral Rennó e, enfim, Comandante João
Ribeiro de Barros. Duzentos e dois quilômetros em duas horas e quinze minutos
de viagem e quatro praças de pedágio, com o transtorno de trecho de pista
simples e trânsito pesado entre o ponto referente ao final da Castello Branco e
Bauru.
PLANO B II
Domingo passado levei meu filho mais velho para o
vestibular da Fuvest, naquela cidade do sanduíche famoso. Fui pelo trecho já
citado, mas, por estar na Instituição Toledo de Ensino, ou seja, próximo da
saída para Marília, resolvi retornar por esse caminho alternativo. Uma hora e
quarenta de viagem, 167 km de trevo a trevo, nenhum pedágio pago e velocidade
autorizada de 110km/h. Mudei, claro, de costume e rota.
CÁ ENTRE NÓS...
...coisa feia ficar oito anos no poder e deixar a
cidade nessas condições, não?
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