26 Abril 2012
Cláudio Messias*
Quando iniciei no
jornalismo, lá pelos idos de 1985, ouvia de meu editor, Valdir Pichelli, na
rádio Cultura: “não vamos dar bola para as pesquisas”. À época a credibilidade
do levantamento, sob critérios pré-estabelecidos, da opinião pública competia a
Ibope, Vox Populi e Gallup. E o foco era duplo: o desempenho dos primeiros
meses do ‘democrático’ José Sarney na presidência da República e a cogitação
sobre os nomes que aspiravam por assumir o governo de São Paulo.
Sarney tornou-se o
“presidente do pé-quente” que “chegou na hora bendita”, conforme a música de
Tião Carreiro. E teve, ainda, seus fiscais. Os tais “fiscais do Sarney”, que
iam aos supermercados para flagrar remarcações de preços em um período em que a
inflação, de tão alta, sacrificava mais de 10% de um salário que, recebido em
folha de cheque na sexta-feira, fosse compensado somente na segunda-feira
seguinte. Essa tentativa de controle da economia, claro, rendeu certa
popularidade a um político que, sabe-se lá como, tem pé-quente fincado, também,
na Academia Brasileira de Letras. Pasmem, pois essa mesma figura, cujo império
está no Maranhão, hoje (e há muito tempo) é senador pelo representativo estado
do Amapá.
Em São Paulo Orestes
Quércia fez igualmente seu império. Em uma conversa de aeroporto, no aguardo de
uma entrevista, ouvi da própria boca dessa figura política, duas décadas atrás:
“quebrei, sim, meu Estado, mas elegi meu sucessor”. Não, ninguém me contou
isso. Eu ouvi essa célebre frase da boca do personagem em questão. Quércia já
não era mais governador. Havia passado o bastão e as senhas dos cofres públicos
a seu citado sucessor, Luiz Antônio Fleury Filho, cujas raízes são
relacionadas, politicamente, à segurança pública. O ex-governador, cujo jingle
(aquela musiquinha chata de campanha, que pega igual chiclete no cabelo) “o sol
nasceu para todos e também para você; vote em Quércia, vote em Quércia,
pe-eme-de-be”, vinha à região já com vistas à corrida presidencial que anos
depois colocaria frente a frente nas urnas Fernando Collor de Melo e Luiz
Inácio da Silva, o Lula.
Sarney e Quércia, em 1986,
eram muito bem avaliados nas pesquisas de opinião. Eleito e candidato,
respectivamente, agradavam à opinião pública (à exceção de Sarney, cuja
credibilidade durou pouco mais de um plano econômico). E os números dessa
aprovação eram lançados como bombas nas cabeças dos eleitores, principalmente
nos dias que antecediam ao pleito. Era uma época em que havia a comum menção à
véspera da votação: “vou votar em tal candidato porque ele já ganhou”. Sim,
Valdir Picchelli tinha total razão de restringir a exploração das pesquisas de
opinião como conteúdo jornalístico.
Os anos passaram, a
legislação eleitoral ficou mais rigorosa e igualmente criticável e o Brasil
acostumou-se com a abertura proporcionada pela democracia. Dos institutos de
pesquisa aqui citados no início, somente o Ibope permaneceu expondo-se com
levantamentos às vésperas de eleições. Nesse cenário, contudo, apesar das
alterações na legislação, as pesquisas continuaram aprontando das suas. Um dos
casos ‘interessantes’ é da revista IstoÉ, que mostrou, na década de 2000, em
encarte, projeção de desempenho de votos que garantiria o retorno do prudentino
Paulo Lima à Câmara dos Deputados, em Brasília. E a campanha do ex-deputado
realmente era marcante, estruturada e aparentemente bem gestada. Nas urnas,
Paulo Lima não foi o candidato a deputado federal mais votado nem em sua
cidade, Presidente Prudente, ficando mais um mandato fora do cenário. Aquela
pesquisa, portanto, não correspondeu à realidade das urnas.
Em Assis até hoje respingam
rusgas relacionadas a uma pesquisa publicada pelo jornal Voz da Terra nos anos
1990. O diário não foi o responsável pelo levantamento; apenas publicou. E o
candidato vencedor foi o prefeito Romeu Bolfarini. Entendo que talvez Bolfarini
tivesse, sim, sido eleito, independentemente do impacto dessa pesquisa tornada
pública por Voz da Terra. A grande questão que incide é o resultado, nas urnas,
comparado ao que fora feito no levantamento. De uma vitória antecipada como
fácil teve-se uma eleição apertada, fazendo surgir, então, uma nova liderança
que, coincidência ou não, anos depois chegaria ao paço municipal: Carlos
Nóbile.
Dias atrás eu tive acesso
ao que chamo de levantamento, e não pesquisa, sobre a aceitação pública aos
nomes que são cogitados como virtuais candidatos a prefeito de Assis. Existem,
sim, na cidade, duas pessoas por quem guardo respeito – também chamado de
crédito – quando o assunto é relacionado a gestão de pesquisa de opinião.
Profissionais que trabalham para, entre outros,
empresários interessados por
saber em qual campanha investir ou, simplesmente, fazem pesquisas a pedido de
partidos ou dos próprios candidatos. Os números, claro, não batem com exatidão,
mas representam, dada a forma criteriosa com que as análises são feitas
quantitativa e qualitativamente, um cenário bem próximo do movimento que,
depois, vemos resultar nos placares finais do Tribunal Regional Eleitoral. Eu
diria que esse tipo de pesquisa, que não é publicado, não faz parte do
espetáculo (Guy Debord) dos dados porcentuais explorados na e pela mídia.
No levantamento que li a
pergunta teria sido feita de forma espontânea. Ou seja, o agente chega até você
e pergunta: “em quem você pretende votar para prefeito?”. Esse tipo de pesquisa
é o que implica em resultados mais complexos, pois surgem nomes de
personalidades publicamente conhecidas ou simplesmente figuras anônimas. O
próprio pesquisador, nesses casos, classifica esses anônimos como “outros”, até
porque ali estão desde a sogra do entrevistado até os Tiriricas e as Xuxas da
vida. Estou entrando nesse detalhe porque justamente o “outros” abocanhou
percentual considerável da totalidade de intenção de voto nesse levantamento a
que estou me referindo.
A lista de prefeitáveis era
grande. Mais de dez nomes, alguns dos quais já integrantes da pauta política
municipal. Não me surpreendi com o nome que, vice-líder depois do “outros”,
estaria saindo na frente antes mesmo das convenções dos partidos, previstas
para daqui a pouco mais de dois meses. Voltei para casa, para meu escritório e,
enfiado em meio a livros, teorias e essa rotina de docente e pesquisador, parei
tudo e refleti. Afinal, que desafios um prefeito de Assis tem, hoje, a cumprir
e, assim, consequentemente, agradar a uma cidade centenária?
Já disse, aqui, em outra
ocasião, que certo dia peguei o carro e refiz uma trajetória que, quando
jornalista na ativa, sempre fazia acompanhado por, em ordem cronológica, Alves
Barreto (Cultura AM), Dagoberto Rodrigues Nogueira (A Gazeta do Vale), Paulo
“Cuca” Tito (Oeste Notícias) e Lúcio Coelho (Voz da Terra). Transitar na cidade
pela periferia. Mas não “na” periferia e, sim, “pela” periferia. Isso significa
sair de trás da Unesp pela Mário de Vito, passar pelo conjunto habitacional
Assis 3, na Maria Izabel, contornar o antigo frigorífico Cabral, adentrar no
Nova Assis, circundar o desativado Lagu’s, passar pela Chácara Bela Vista,
avançar pelas proximidades da antiga zona do meretrício, anda pelo Jardim
Canadá, verificar a situação atrás do Jairão, sair até a Água do Matão, cruzar
a Rui Barbosa, entrar no Jardim Morumbi, contornar rente à SP-270, passar em
frente à Unip, chegar ao Assis IV, analisar a situação da Casa das Crianças,
transitar por trás da Fema e, novamente, chegar em frente à Unesp.
Um giro de 360 graus em
torno da cidade faz, necessariamente, com que você observe a gestão do
município por completo. Uma curiosidade, por exemplo, é ver cada vez menos
varais repletos de roupas durante a semana e carregados aos sábados e domingos.
Residências, portanto, visivelmente habitadas mas com as portas fechadas. Sim,
as mulheres formalizam cada vez mais sua entrada no mercado de trabalho e,
consequentemente, exigem uma rede básica de ensino que acolha em condições suas
crias (não estou dizendo que essa obrigação de oferta é atendida).
Não está na cartilha, está
na práxis: jornalista que vive sentado perde o furo, sem intenção de trocadilho.
Girando a cidade tem-se uma noção complexa, reconheço, mas muito próxima da
realidade que integra a rotina dos sujeitos sociais tidos como consumidores de
conteúdos produzidos por rádios e jornais locais. O jornalista que dia desses
publicou em um jornal da cidade que um determinado fato ocorrera no Jardim
Aeroporto saberia que a localização geográfica daquela notícia estava ali,
pertinho da ADPM, e não “na saída para Presidente Prudente”, caso transitasse
mais pela cidade onde reside. Sim, um dia tivemos um aeroporto onde hoje é um
bairro formado.
Tenho acompanhado a rotina
de discursos das figuras políticas que constam na lista desse levantamento a
que me refiro desde o início do texto. São, portanto, nomes que estão na boca
de quem irá às urnas em outubro. Fazem parte de uma privilegiada preferência.
Já li e ouvi de tudo partindo dessas figurinhas. Da retomada da feira
agropecuária Ficar ao clássico compromisso de trazer novas indústrias, de tudo
tem um pouco. Até a linha férrea estão anunciando tirar do perímetro urbano, o
que acabaria com o faraônico sonho, plantado nos anos 1980, do trem-bala que
ligaria Assis e Cândido Mota. Viagem, mas na maionese.
Não entro nos méritos de
uma facção política ou outra, muito menos em nomes. Assisto, em EaD, aos
ensinamentos que a leitura dessa realidade aqui relatada propicia. E como um
aprendiz de desempenho mediano olho com desconfiança a essa lista de prefeitáveis.
Não pelas promessas e pelos compromissos que cada um, à sua estirpe, começa a
plantar, mas pelo desfecho que nesses anos todos foi implicado da relação
especulação/votação/gestão pública.
Assis continua sendo,
repito, a melhor cidade para se viver. Para eu viver. Aqui construí meus
sonhos, constituí minha família, executei minha vida. E é para cá que trago os
resultados de uma vida de pesquisa científica em permanente produção. Não
troco, portanto, Assis por nenhuma das cidades por onde passei a trabalho. Só
não digo o mesmo do meu voto, que vive em constante metamorfose. Talvez não
seja um bom eleitor, sei lá... Vejo tantos nomes, tantas falas que em nada
correspondem à realidade que miro na cidade, e me sinto feito um cidadão que
está de frente para um pé de mexerica carregado de frutos maduros. São tantas
mexericas que os olhos se perdem. E, nos últimos pleitos municipais, as
mexericas que vejo sendo colhidas têm apresentado, quando tirada a casca, gomos
secos e sem suco. Mesmo não sendo as mexericas que eu mesmo colhi, isso me
aspira cautela. Afinal, dada a situação do pé de mexerica, todos os frutos ali
podem estar com a casca amarelinha e brilhante por fora, mas os gomos secos e
duros por dentro.
* Historiador, mestre em
Ciências da Comunicação pela ECA/USP e docente no ensino superior.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
TARIFA NELES! – O governo
do Estado está anunciando investimentos na infraestrutura da SP-333, entre
Assis e a divisa com o Paraná. Com pedágio. Assim, a viagem até Londrina, para
mim caracterizada com a mais vergonhosa cobrança de pedágio do país, em
Sertanópolis, ficará ainda mais cara.
ESTRANHO – Dentro do
pacotão de obras viárias o governo paulista vai fechar o cerco aos motoristas
que fogem dos pedágios do trecho Assis/Prudente. Com as obras entre Quatá e
Martinópolis será atendido o irreverente pedido de instalação de pedágios
naquele trecho. Sim, os prefeitos estão pedindo pedágio.
VOZ FORTE – A jornalista
Sidneia Paião é a mais nova voz da Radio Ativa FM, de Paraguaçu. A partir das 7h00,
diariamente. Profissional competente em uma emissora que surpreende desde que
nasceu.
CRIAÇÃO – O designer
assisense Sérgio Bechelli acaba de assinar a campanha da marca Smooth Gel, da
linha de cosméticos. A campanha 2012 foi apresentada nas redes sociais na
semana passada. O rapaz é requisitado, atualmente, para criação em campanhas
dentro e fora do estado de São Paulo.
TUDO AZUL – A linha aérea
que ligará Assis a São Paulo com aeronaves ATR depende de aval de DAC e DAESP
para sair do papel. Da forma como está, a descida ocorreria em Campinas,
seguindo até Congonhas, na capital, por intermédio de ônibus.
CLUBE DA BOLINHA – Com
mediação do eterno professor Adílson Afonso passei a integrar o grupo da bocha
do ATC. Com o companheiro Boschilla farei, em agosto, jantar que terá como
prato principal no cardápio “arrumadinho de carne-de-sol”, quitute que aprendi
a preparar em minha estada por Campina Grande, na Paraíba.
TRIBUTAÇÃO I – Depois São
Paulo reclama da guerra fiscal e da perda de indústrias para estados
vizinhos... Dois meses atrás comprei uma calha Tashibra T-60 na Telhanorte do
Catuaí Shopping, em Londrina, por R$ 162,00. Ontem, na Telhanorte de Presidente
Prudente, paguei R$ 202,00 pelo mesmo item. Em tempo: em Londrina, por equívoco
do vendedor, em vez de duas unidades da luminária foi faturada apenas uma. Daí
a necessidade de compra da outra calha.
TRIBUTAÇÃO II – A
disparidade de preços da mesma luminária na mesma empresa deve-se à política
fiscal que praticam os estados de São Paulo e Paraná. Basta acessar o site da
Telhanorte e verificar os jornais de oferta disponibilizados online. A unidade
paranaense imprime, no tabloide de ofertas, os mesmos itens que a paulista. Os
preços, contudo, são mais baixos na unidade sulista.
PREÇO – Tive uma estada,
por compromissos profissionais, de nove dias em Florianópolis. E em Palhoça, na
Grande Floripa, fui a uma loja de redes que têm feito sucesso no Sul do país. A
preço único de 10 reais trouxe moletons, meias, cuecas, camisetas manga longa
em malha fria e, de quebra, uma mala em que coubesse tudo. Produtos de ótima
qualidade, fabricados nas regiões de Blumenau, Joinville e Brusque. Com
incentivo fiscal, claro.
MEDIDA INCERTA I - Nessa
estada em Floripa, caminhadas diárias desde a Praia do Sonho até a Ponta da
Pinheira, em um total de 8 quilômetros. No cardápio do restaurante Sussel, de
meu primo Ilonso Daniel Sussel, peixe em todas as refeições. Resultado: voltei
pesando 98,5 kg. Já são seis quilos deixados para trás desde o retorno de
férias de Bombinhas, também em terras e águas catarinenses.
MEDIDA INCERTA II – Aqui em
casa o cardápio também mudou. Se em 2011 o cardiologista Marcos Elias Nicolau
me fez cortar açúcares refinado e cristal (substituídos por açúcar light) e o
sal (reduzido a porções mínimas), agora o descarte da vez, na ordem médica, são
as gorduras animais. Carne vermelha perdeu a prioridade para frango e peixe.
MEDIDA INCERTA III – Que
fique claro, aqui, que a meta não é essencialmente perder peso; é equilibrar os
elementos que impliquem em desequilíbrio da pressão arterial. Em doze meses,
com a eliminação do açúcar e a redução do sal, foram controlados os colesteróis
bom e ruim, além de triglicérides e diabetes saírem da zona de risco.
Emagrecer, portanto, tem sido mera consequência disso, aliado a atividades
físicas permanentes.
PAUTA – Em meus tempos de
redação, se fosse hoje, já teria cruzado as estatísticas da semestralidade da
incidência de acidentes de trânsito em Assis. Seria um parâmetro interessante
verificar quantos acidentes, com vítima e sem vítima, foram registrados no
período de novembro de 2011 a abril de 2012, em comparação com igual período
anterior.
IMPRESSÃO – Na proximidade
de meus olhos e ouvidos não tenho dúvidas de que o índice de acidentes no
cruzamento entre a André Perine e a Santos Dumont diminuiu. Detalhe: quando
retiraram o semáforo do cruzamento todos achamos que de acidentes passaríamos a
ter mortes. Os números podem mostrar meu erro, mas a sensação é de que
acidentes e incidentes diminuíram com a implantação de mão única na André
Perine.
CULTURA DE TRÂNSITO –
Interessante como gradativamente os motoristas estão se adequando às alterações
no trânsito. No semáforo da avenida Glória, esquina do supermercado Vitória, a
faixa da esquerda era, no início, ocupada por motoristas que, desrespeitando a
sinalização, seguiam sentido bairro-centro e não convergiam à esquerda. Ao
menos nas vezes em que transito naquele trecho, ultimamente, forma-se uma fila
de veículos à direita, seguindo adiante. Nessas circunstâncias, quando não há
veículo que convergirá à esquerda, a faixa específica para esse movimento fica
vazia. Houve, pois, mudança de postura.
CABEÇA ERGUIDA – Meus
alunos Khalil Dib e Diego Faustino estão encarando novas empreitadas
profissionais. Promissores talentos do jornalismo da terrinha, estão ocupando
novos cargos, agora diretamente relacionados à comunicação. Tão novos, tão
talentosos, e já experimentaram, na mesma Comunicação, amarguras que antes
vinham mais tarde na profissão. Sucesso aos dois, sempre!
PERGUNTINHA BÁSICA
Por que já não duplicaram o
trecho Maracaí-Taciba, da Raposo Tavares, na primeira remessa da obra?
PAREM O MUNDO PORQUE EU
QUERO DESCER
Dizer que o movimento
diário de veículos no trecho Maracaí-Taciba aumentou depois da implantação de
três praças de pedágio na mesma rodovia é brincar com a nossa cara. Ou os
caminhões que estão destruindo a rodovia Assis-Paraguaçu-Martinópolis-Prudente
estão vindo de marte?
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