03 Janeiro 2012
Cláudio
Messias*
Há algum
tempo a cidade de Assis sofre com especulações que jamais se confirmam mas têm
danos irreparáveis porque perduram por anos e, muitas vezes, são incorporadas
pela cultura local. São mitos e lendas urbanas que misturam um pouco de saber
popular com outro pouco de saber social e resultam em verdadeiros estardalhaços
na vida de alguns personagens. Geralmente, são figuras bem sucedidas, daquelas
cuja competência incomoda e abre brechas para maldizeres.
O plantio
de boatos ou gestão (não autorizada) da vida de outrem não é exclusividade da
nossa Sucupira do Vale. Mas aqui há requintes de crueldade em uma verborragia
que, histórica, já trouxe muitos prejuízos à coletividade como um todo. Atitudes
inexistentes, ações improcedentes e fatos jamais ocorridos ainda hoje ecoam
como capítulos reais de nossa história recente, com direito a juras de “eu vi”,
“eu estava lá” ou, então, “é a mais pura verdade”.
Cresci
ouvindo dizer que Assis estava prestes a receber uma fábrica da Gessy Lever.
Melhor, a Coca-Cola já teria um terreno na cidade. Ali pelos finais dos anos
1980 era a Garoto que se instalaria por aqui. A retórica do desfecho era sempre
a mesma: a Usina Nova América impedia a vinda de outras indústrias para cá. Por
quê? Para ter exclusividade na exploração da mão-de-obra barata.
Estreei no
jornalismo impresso em 1993 com uma série de reportagens, depois de oito anos
no radiojornalismo. Minha pauta como free-lance na Gazeta do Vale era a série
Soja Ensaboada, ocasião em que sojicultores da região que haviam vendido ‘soja
verde’ para um intermediário da Anderson Clayton o viram anoitecer mas não
amanhecer no Médio Vale do Paranapanema. Naquela oportunidade mantive contato
com representantes da Gessy Lever e soube que os interesses da multinacional
por Assis eram historicamente os mesmos alicerçados em Ourinhos e em qualquer
localidade: a matéria-prima vinda da agricultura, para abastecer unidades
industriais já instaladas em outros grandes e médios centros próximos da
capital São Paulo. Não havia, pois, projeto para uma fábrica por aqui.
Recordo-me
de uma história de que na entrada de Tarumã haveria o esqueleto de uma
estrutura para receber a linha industrial da Coca-Cola. E que os construtores
teriam sido expulsos à base da bala, pois a fábrica absorveria a mão-de-obra da
localidade que, por sinal, ainda era distrito de Assis. Depois da emancipação
de Tarumã ouvi muitas versões sobre a tal estrutura. Uma delas dizia que tudo
estava debaixo dos prédios onde foram erguidas a prefeitura e a câmara de
vereadores.
Essas
estórias, como ensinou-me a distinguir dona Penha, minha primeira professora no
Clybas (segundo ela, estória vem do que não pode ser confirmado e história é
fato oficial do passado), beiram o absurdo, mas há quem acredite, sustente e dê
fé. Eu mesmo, aos quatro anos de idade, acreditava na história do lendário seo
Acrízio, um ferroviário aposentado por invalidez, que morava na Santos Dumont e
tinha apenas uma das pernas, pois a outra fora cortada em um acidente na linha
férrea. Segundo ele, os primórdios da origem do Buracão remontam a uma espécie
de formiga gigante, já extinta, cujos conjuntos habitacionais subterrâneos
cederam como tempo e formaram aquela enorme cratera. No meu imaginário, essas
formigas seriam pré-históricas e em vez de folhas, carregariam árvores inteiras
para dentro das covas. Daí, claro, a explicação para aquele amontoado de raízes
e troncos de árvores que predominava no cenário fétido e de lama do Buracão.
A origem do
Buracão é conto contemporâneo aos esforços para a não vinda de indústrias para
Assis. Preferiu-se ignorar a não vocação regional para os ramos industriais
especulados como potenciais interessados na nossa farta mão-de-obra.
Desacreditar, por exemplo, que a única qualificação de mão-de-obra urbana local
visava à ferrovia ou outros setores derivados. Basta lembrar etimologicamente
(origem pela palavra) da Escola Industrial de Assis e seu curso de torneiro
mecânico. Meu irmão mesmo, quando criança, dizia que quando crescesse iria
“fazer roda de trem”. Claro, ele fez o curso técnico de torneiro mecânico. Hoje
é sindicalista e tem graduações em Administração de Empresas e Direito.
A
satanização em torno de ações inibidoras da instalação de indústrias em Assis perdeu
força enquanto especulação recentemente. Para falar bem a verdade, perdeu foi o
sentido. Com um projeto de formação e qualificação profissional que cobri em
enquanto jornalista e, portanto, vi com esses olhos que a terra há de comer, a
Nova América investiu pesado em educação nos anos 1990. Ao ponto de, depois,
colher os frutos dessas ações de uma maneira que os negativistas do passado
sequer se atreveram a comentar ou a transformar em especulação, mito ou lenda
urbana. Experimentando a retomada dos estudos, a formação dos antigos primeiro
e segundo graus e recebendo incentivos com bolsas de 50% para pagar a
mensalidade de faculdades, os trabalhadores simplesmente não queriam mais
cortar cana.
Na
primeira década de 2000, iniciando a carreira de professor, dei aulas em
Maracaí. E me surpreendi com a quantidade de maranhenses que vinham lá da parte
de cima do país para, aqui, cortar a cana que não interessava mais a
assisenses, maracaienses, tarumaenses. Encontrei com Ana Rosa, da Fundação Nova
América, e ela me dizia que ônibus saíam daqui da região nas primeiras horas da
madrugada, todos os dias, buscando trabalhadores rurais na região de
Sertanópolis, no Paraná. Mão-de-obra de fora para completar a força de trabalho
necessária para a safra de açúcar e álcool.
Poucos
anos depois todos nós assistimos àquilo que na época do plantio dos boatos e
das especulações neste texto já citados ninguém jamais imaginaria: a venda da
Nova América. A maior indústria da história da região passou para o comando da
Cosan, em um tipo de gestão que em nada se compara à política patriarcal com
que a cidade e a região se acostumaram a conviver. E hoje, então, prevalece a
pergunta: para que, pois, haveria tão inútil interesse pela hegemônica posse da
mão-de-obra desqualificada que prevalecia por aqui trinta anos atrás?
Mais
difícil ainda, talvez, seja aceitar que alguém realmente acreditava naquilo
tudo, plantado em uma época em que eu ainda era criança. Imaturo, eu não
entendia bem aquilo que se comentava nas conversas adultas sobre a blindagem
para que outras indústrias não viessem buscar nossa mão-de-obra. Daquele tempo,
mesmo, eu prefiro resgatar as lembranças do que era sério e começar a guardar
um tempo para que, dia desses, consiga autorização para cavar arqueologicamente
alguns metros no Buracão, atrás de ao menos uma carcaça das formigas gigantes.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
DE VOLTA AO LIXO
Decidi
hoje, depois de três semanas consecutivas em dúvida: vou continuar separando os
materiais de nosso lixo doméstico, mas colocar tudo em um único saco plástico e
disponibilizar para que a coleta da Prefeitura faça o recolhimento todo final
de tarde.
DE VOLTA AO LIXO II
Desde a
semana anterior ao Natal os catadores que passam às terças-feiras não recolhem
todo o material que separo. Levam os sacos que contêm embalagens plásticas e
latinhas de alumínio, mas deixam o resto. Resultado: dias e mais dias com as
embalagens na calçada, até que veio uma chuva e levou tudo, Santos Dumont
abaixo.
DE VOLTA AO LIXO III
Há meses,
percebo, houve uma inversão: tenho certeza de que o lixeiro passará, e cada vez
mais dúvida de que os coletores de materiais reciclados virão. E, nesse último
caso, mesmo vindo, se levarão tudo o que separo.
NOVOS ARES
Com a
divisão societária feita no semestre passado a Chácara Bela Vista agora está
dividida em dois segmentos. As instalações com frente para a avenida Perimetral
são especializadas em orquídeas. O setor de plantas e viveiro de mudas fica no
mesmo complexo, porém com entrada pela rua paralela, à direita, onde foram
construídos novos barracões. E conforto de observar e escolher plantas ao som
de pássaros e perfume de flores continua o mesmo.
CRESCIMENTO
Enquanto
muita gente espera o movimento de consultas ao SCPC para ter um parâmetro sobre
eventual crescimento nas vendas do comércio de Assis no final de 2011, tem
comerciante que tem as próprias planilhas e comemora resultados positivos. Meu
amigo Vágner Stautt é um deles. As vendas foram 12,43% maiores se comparadas a
2010.
EXCEÇÃO
Stautt
lembra que somente em um mês de 2011 não vendeu mais que igual período de 2010.
Agregado a esses resultados estão investimentos em tecnologia, treinamento de
funcionários e, claro, qualidade dos produtos comercializados.
BOM FILHO...
Minha
amiga Alzimar Ramalho retorna a Assis depois de um ano de ausência.
Ex-coordenadora do curso de Jornalismo da Fema, a jornalista e professora
passou por Araras e hoje faz pós-doutorado na UnB, em Brasília.
FALHA
Leitor
entra em férias do trabalho, e não das leituras cotidianas. Capítulo básico da
cartilha do jornalismo vem sendo ignorado pela Folha de S. Paulo, que há duas
semanas não publica as seções Mude! e audiência/Ibope, além do suplemento Tec.
O puxão de orelhas da ombudsman do jornal não surtiu efeito.
GRÊMIO PRUDENTE
Reencontro
casual com Antonio Carlos e a novidade: ele, juntamente com Adriano, ex-lateral
do São Paulo, e um sócio anônimo, registrou o Grêmio Prudente para disputar a
Série B do Campeonato Paulista em 2012. Virá a Assis enfrentar ou Assisense ou
Vocem. Desta vez, longe da gestão da turma de Barueri.
PERGUNTINHA BÁSICA...
Há
legalidade em guinchar um veículo estacionado por vencimento do cartão de zona
azul em um local onde, sem aviso prévio, a cobrança foi iniciada antes de
usuários serem devidamente comunicados?
PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER...
Pagar 11
reais de pedágio e ficar 30 km atrás de um caminhão indo para Londrina é o fim
da picada.
*
Jornalista, professor universitário e mestre em Ciências da Comunicação.
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