terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Números que você queria saber sobre Assis, mas não sabia onde encontrar


10 Abril 2012


Cláudio Messias*

Há dez anos eu testemunhei uma discussão severa entre dois agentes políticos da cidade. Estava em pauta, na conversa que eu confortavelmente ouvia, o número exato de habitantes de Assis. E, claro, elucubrações sobre o que leva a números finais sobre a população de uma determinada cidade, em uma determinada região, sob os auspícios de determinados políticos.

Em uma das colunas anteriores eu citei os mitos e lendas urbanas de Assis. E, olha!, repercutiu, pois até ofensa eletrônica (via e-mail) eu recebi. Sim, tem gente que não quer, de forma alguma, que cascas sejam retiradas das feridas do tempo. Ainda mais se houver excesso de glicose no sangue. Feridas assim não cicatrizam.

Mas o assunto, correlacionado (de cor-relação, antes da reforma ortográfica) a mitos e lendas urbanas, é a população de Assis. Há uma corrente mais tradicional que diz que o IBGE, sob a égide do Estado (estado nação), manipula a contagem da população para que determinada localidade tenha repasses de verba menores, incondizentes à sua densidade demográfica. Outra corrente diz que a aspiração por uma população acima de 100 mil habitantes tem somente status, pois tal casa da centena de milhares denota desenvolvimento.

Um dia ouvi de José Santilli Sobrinho, em seu gabinete, na Prefeitura, que somente dois tipos de números relacionados à população lhe interessavam: número de vagas oferecidas pela rede municipal de ensino e capacidade de atendimento das unidades básicas de saúde. Sim, quanto maior a população, maior o problema. O segredo, dizia o velho rabugento, estava na qualidade de vida; e não na quantidade de vidas.

Zeca Santilli dizia aquilo em uma época em que o Japão pós-guerra ensinava ao mundo os princípios dos 5 “S”, quais sejam: Seiri>descarte; Seiton>arrumação; Seisso>limpeza; Seiketsu>saúde; e Shitsuke>disciplina. Tais fundamentos eram e são quesitos de competência e suficiência, ou seja, figuram como sinônimos de uma gestão de qualidade. Mundo afora, certificados das mais variadas nomenclaturas e números cobram de empresas e municípios a obediência a esses cinco princípios básicos de vivência coletiva, em sociedade.

Não só Santilli, mas outros muitos gestores que passaram pelo gabinete da Prefeitura de Assis foram cobrados quanto à vinda de indústrias para a cidade. Os distritos industriais I e II, ocupados por mato e entulho, faziam agonizar os olhos de quem sonhava com uma cidade recheada de chaminés e linhas de ônibus circulares lotadas de trabalhadores trajando jalecos.

Em 2004, na minha derradeira passagem formal pela imprensa de Assis, editei diversas entrevistas, semanalmente, do responsável pelo posto de atendimento local da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, Marcos Samponi. Eu estava na Rádio Cultura cobrindo (cobertura no sentido de substituição) o afastamento de Reinaldo Nunes, o Português, então candidato nas eleições municipais daquele ano. E Marcos Samponi, ora entrevistado por Bruna Fernandes, ora por André Thieful, toda segunda e sexta-feira citava uma determinada quantia de vagas para tratorista.

Numa tarde, dentro da práxis de um editor de jornalismo, liguei para Samponi. E perguntei sobre as tais vagas que ele semanalmente anunciava como abertas. Eu queria, na realidade, saber se eram as mesmas vagas ou se tratorista era a profissão do momento nesta região cuja economia é essencialmente agrícola. Sim, eram as mesmas vagas. Os profissionais em busca de emprego iam, manifestavam interesse pelas vagas de tratorista, eram encaminhados à empresa que terceirizava serviços para uma grande usina da região e simplesmente não se enquadravam no perfil. Por quê? Está bem. Fiz essa pergunta ao responsável pelo setor de recursos humanos da empresa em questão. E ele me respondeu: não há qualificação de mão-de-obra para que se encontre um profissional preparado para trabalhar em maquinários totalmente computadorizados. As eleições passaram, Reinaldo Nunes reassumiu o cargo, eu saí da emissora e as vagas na SERT continuaram vagas, sem tratoristas, por não sei mais quanto tempo.

Assis sempre quis quantidade de indústrias e habitantes, em detrimento de uma cultura de qualificação de mão-de-obra. Quer-se trabalhar em uma indústria, vender para uma indústria ou consumir mais barato o que essa indústria produz. No entanto, investir em formação dessa mão-de-obra é assunto descartado. Dependendo da circunstância, uma conversa nesse sentido acaba sem interlocutor. Poucos ou ninguém quer falar em trabalho a médio e longo prazos. O imediatismo é, sim, nosso maior defeito. Está intrínseco na cultura local e faz parte da identidade desse povo.

Quando Santilli, em 1995, falava em qualidade como fator mais importante que quantidade Assis tinha 81 mil habitantes, mas chegara a 85 mil pessoas em 1991, antes da emancipação de Tarumã. Hoje, em dados formalmente divulgados pelo IBGE e referentes a 2004, somos 95.144 habitantes. O censo de 2010 aponta para 98.715 habitantes. Estamos, portanto, há duas décadas brigando sobre vantagens e desvantagens de ter mais de 100 mil habitantes. E não chegamos nos 100 mil.

É, Ourinhos é mais nova que Assis e tem mais de 100 mil habitantes, segundo o IBGE. Já são dois os censos que mostram esses números. Marília, então, é mais nova ainda e está somando 216 mil habitantes. Os comparativos são inevitáveis e sustentam o discurso daqueles cuja retórica rebaixa Assis como sendo uma cidade não desenvolvida. Os parâmetros para isso são curiosos: Ourinhos e Marília têm lojas do McDonald’s e do Habib’s.

O assisense Sílvio Miléo detinha, em 1998, preferência para instalar uma loja da rede Mcdonald’s em Assis. O local escolhido ficava de frente para a estátua de lata de São Francisco de Assis, na rotatória da Rui Barbosa. O que inviabilizou o negócio, na época, era um critério da franquia, que preferia não ter duas lojas em raio de distância inferior a 100 km. Ou seja, o que fez o McDonald’s não vir para Assis não foi o potencial de consumo da cidade; foram critérios estratégicos que, por sinal, hoje não existem mais.

A marca McDonald´s estava em Assis naquela época, na inauguração do Assis Plaza Shopping. Um quiosque de sorvete, mas com a marca hegemônica do palhaço preferido da criançada. Quem explorava o espaço? O mesmo empreendedor de Marília, a quem também compete, hoje, a exclusividade de exploração da marca na cidade.

Assis é a ‘capital’ do Médio Paranapanema, uma região político-administrativa composta por 13 municípios de médio e pequeno portes. A vocação desta parte situada a sudoeste do Estado de São Paulo é a produção agrícola. É daqui um dos consórcios de municípios mais fortes e sólidos do Estado, o Civap, que um dia foi Cierga e hoje avança por outras regiões do Macro Paranapanema. Como fruto da ação política desse grupo de prefeitos está a duplicação da rodovia Raposo Tavares entre Maracaí e o trecho final da rodovia Castello Branco, no final dos anos 1990.

Os treze municípios que integram a região administrativa de Assis são: Cândido Mota, Tarumã, Paraguaçu Paulista, Pedrinhas Paulista, Maracaí, Florínea, Cruzália, Platina, Palmital, Campos Novos Paulista, Oscar Bressane, Echaporã e Lutécia. Destes, os três últimos são os que mais têm identidade com Marília, dada a proximidade geográfica.

Treze cidades paulistas consomem em Assis. Assim, o quadro populacional fica desta forma distribuído, com os respectivos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e Renda per capita, referente ao número de salários mínimos médio que cada habitante recebe:

Cidade
População 2000 (IBGE)
População 2010 (IBGE)
População
2011 (Seade)
IDH
(Seade)
Renda per capita

Assis
87.251
98.715
95.908
0,829
2,63

Cândido Mota
29.280
29.608
29.944
0,79
1,72

Tarumã
10.743
12.873
13.100
0,775
1,58

Paraguaçu Pta.
39.618
42.232
42.535
0,773
1,79

Pedrinhas Pta.
2.861
2.913
2.947
0,819
2,29

Maracaí
13.003
13.190
13.363
0,773
1,53

Florínea
3.127
2.829
2.803
0,759
1,12

Cruzália
2.610
2.913
2.246
0,786
1,79

Platina
2.867
3.192
3.223
0,735
1,23

Palmital
20.701
21.160
21.233
0,783
2,64

Campos Novos
4.181
4.539
4.573
0,761
1,32

Oscar Bressane
2.552
2.535
2.536
0,752
1,81

Echaporã
6.827
6.318
6.274
0,780
1,53

Lutécia
2.897
2.680
2.698
0,755
1,41

TOTAL
228.518
245.697
           -
           -
          -




O IDH do Estado de São Paulo é 0,814, ou seja, o índice de desenvolvimento humano de Assis, que é 0,829, está acima da média do Estado mais rico e desenvolvido do Brasil. Vamos, então, comparar esses índices que a ONU considera fundamentais para traçar o perfil de localidades onde a vida é desenvolvida com qualidade. O comparativo, abaixo, coloca em xeque os números de Assis, Marília e Ourinhos:

Cidade
Assis
Marília
Ourinhos
População 2011
95.908
218.641
103.930
Densidade demográfica (hab/km2)
207,72
186,86
350,88
IDH
0,829
0,821
0,813
Renda Per capita (salários mínimos)
2,63
2,77
2,24
PIB per capita (R$)
12.746,55
15.197,38
14.062,85
Agropecuária (Participação em %)
1,72
0,89
1,73
Indústria (Participação em %)
14,10
22,17
24,99
Serviços (Participação em %)
84,18
76,94
73,29
PIB do Estado (Participação em %)
0,116
0,316
0,135



Fonte: Seade


Os números mostram que Assis, em qualidade de vida, ou seja, na soma de todos os fatores que, mínimos para uma vivência digna em sociedade, pouco ou nada difere das outras cidades com que é comparada quando o assunto é desenvolvimento. Uma avaliação quantitativa e qualitativa mostra uma cidade com IDH acima da média do Estado e com renda per capita melhor. Leia-se, neste caso, poder de consumo, de compra.

Daí, então, a razão para Assis estar recebendo empreendimentos que para muitos são entendidos como loucura. Primeiro, o Hiper Center Amigão não viraria um ano. Muito mais do que completar aniversários em Assis, o grupo empresarial de Lins expandiu a rede a partir da experiência pioneira feita aqui e chegou a virar pauta no especulativo mercado imobiliário, setor que cogitou a compra da loja daqui pela rede Super Mufatto. Depois, veio o Avenida Max, na boca dos pessimistas um elefante branco que esvaziaria as lojas da própria Rede Avenida e significaria um tiro no pé da família Binato. Mais uma vez a rede especulativa estava errada. A franquia da rede Bob’s tem movimento permanente no hiper center, bem como a Pax Pneus tem, ali, uma das lojas de maior movimento. O movimento nas demais lojas da Rede Avenida caiu? Talvez até sim. Mas, convenhamos, os clientes dessas lojas (nenhuma delas foi fechada desde a inauguração do Max) ganharam em qualidade de ambiente para consumo.

A instalação da filial local da rede São Judas deixou os cotovelos dos especuladores pessimistas em carne viva. O maior empreendimento da história do comércio de Assis até 2011 surpreendeu e surpreende em resultados. A praça de alimentação, com infraestrutura elogiável, dá qualidade de consumo a um polo comercial chamado Complexo Prudenciana, onde estão mais de 35% das vendas a varejo feitas na cidade. Numa divisão imaginária, é a Classe C, tão famosa na transição de governos Lula/Dilma, materializada na distribuição socioeconômica da cidade de Assis. Ou seja, os pessimistas podem dormir mais cedo e sonhar com outro tipo de frustração, pois a fidelidade de público no São Judas garante a prosperidade do negócio.

Lembra-se que falei, há pouco, sobre o IDH de Assis? Pois bem. A soma de todos os fatores que dão jus à qualidade de vida da cidade atraem cada vez mais investidores. O setor de compras da empreendedora que está por trás da construção das instalações do WalMart em Assis já está cotando a aquisição dos materiais de acabamento. A rede com sede em Barueri tem duas opções de instalação: proximidades do ginásio Jairão ou área no final da avenida Rui Barbosa, próximo à SP-270.

É nessa área, ao final da Rui Barbosa, que estarão três empreendimentos distintos e que focam as classes A, B e C. O primeiro é o residencial Dhamas, seguido por um centro de compras de piso térreo com capacidade para mais de 90 lojas e um centro de lazer com espaço para a prática de golfe. Todos os investimentos, agregados, obedecem ao Plano Diretor da cidade e não alteram os traçados de delimitação do perímetro urbano. Isso significa que a cidade não corre risco de passar por qualquer tipo de intervenção urbana que a desconfigure em infra-estrutura.

Chegar ou não aos 100 mil habitantes não tornará Assis uma cidade melhor ou pior para se viver. Se não temos a melhor cidade do mundo (coisa que o Brasil como um todo não tem em nenhum de seus estados), também não estamos na pior delas. Os números relacionados à qualidade de vida também são expressivos se comparados às localidades neste texto citadas. Vejamos:


Cidade                                 
Assis
Marília
Ourinhos
Taxa analfabetismo (em %)
6,52
6,65
7,55

População com Ensino Médio (em %)
51,53
49,48
36,02

Média de anos de estudos
8,18
8,00
7,40

Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos)
12,23
13,13
8,16

Dimensão Riqueza - IPRS
39
41
38

Dimensão Longevidade - IPRS
71
73
73

Dimensão Escolaridade - IPRS
73
72
65

Mães adolescentes (abaixo de 18 anos, em %)
7,42
5,92
7,95




Fonte: Seade



Os investimentos feitos em educação, em Assis, nos anos 1980, surtem efeitos até hoje. A cidade tem uma das mais baixas taxas de analfabetismo do Estado e consequentemente do país. Aqui, mais da metade da população concluiu o ensino médio. Nossos estudantes também permanecem mais tempo estudando. Números positivos em educação são, óbvio, alicerce para estatísticas políticas e públicas positivas no futuro.

Enfim, Assis está bem, muito bem. A cidade ideal está na utopia, e não é de hoje que o pensamento humano reflete sobre isso. O que é real, factível, é que vivemos muito bem por aqui. Basta olhar para o lado ou relembrar nossos círculos de amigos e veremos quantas pessoas advêm de outros grandes centros para viver aqui. Há, sim, violência. Não podemos mais dormir de janelas abertas em noites de verão, ficar conversando nas calçadas até 22 horas ou simplesmente acordar 5 horas da manhã para fazer caminhada. Mas a insegurança não é exclusividade desta Sucupira do Vale. O pós-11 de Setembro fez nascer a Era da Insegurança no planeta, uma realidade que sai do global e recai aqui, no local.

Mas de uma coisa eu tenho certeza nisso tudo por que passei neste texto. Cada um vive feliz no seu espaço, no seu. E felicidade é uma questão de conceito, de ponto de vista. Apenas não concordo com a retórica pessimista que rebaixa Assis para um lugar que não é dela. Até que me provem o contrário, vivo na melhor cidade do mundo. Do meu mundo.

* Jornalista e professor universitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.


FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA


MEDIDA INCERTA – Reduzi um buraco do cinto, mas não tenho parâmetros sobre peso desta vez. A balança em que peso foi retirada da sauna do ATC. Quem sabe na próxima postagem...

AUDIÊNCIA I – O acidente que matou 7 pessoas em frente à Fundação Casa, em Marília, na semana passada, rendeu recorde de acessos aos sites com conteúdos jornalísticos de Assis. Este Assiscity.com teve, no dia, 9.623 acessos naquela quinta-feira, 5 de abril.

AUDIÊNCIA II – Aliás, o Assiscity.com é o que eu considero como maior fenômeno da comunicação local nos últimos anos. A média de acessos diária passa dos 5 mil. O site tem apenas seis meses desde o nascimento.

AUDIÊNCIA III – O maior fenômeno de comunicação que conheci nesses 26 anos de jornalismo tinha um nome: Isaías Silva. O Baiano Branco, como era carinhosamente chamado por Nílton Matos, na Rádio Cultura, lá pelos idos de 1988, saiu da condição de operador de mesa de som para locutor; da Cultura AM para a Integração do Vale FM. Na emissora de Cândido Mota recebia a surpreendente média de 2 mil cartas por dia. E detalhe: via Correios.

AUDIÊNCIA IV – Isaías morreu em 2004.

NÔMADE – O narrador esportivo Luis Marcos Pereira está integrando a equipe da Rádio Super FM, de Sorocaba. O jornalista, formado pela Fema, tem feito transmissões do São Bento pela Série A-2 do Paulista. A Super FM está entre as vinte emissoras mais ouvidas da Grande São Paulo durante jogos do Paulista Chevrolet.

ORATÓRIA – Meu amigo João “De Bem Com a Vida” Merlim está formando mais uma turma do tradicional curso de oratória que ministra. As aulas acontecerão aos sábados, no Colégio Xereta, a um preço acessível. Já prestigiei essa iniciativa de Merlim e recomendo.

PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER
Pago, em uma passagem de ida e volta de Presidente Prudente a São Paulo, comprada com 30 dias de antecedência, mais barato do que a passagem só de ida em ônibus leito no trajeto Assis/São Paulo. De avião, 50 minutos; de ônibus, 6 horas, com direito à insuportável parada no Rodoserv às 3h00 da madrugada.

PERGUNTINHA BÁSICA...
Quando um prefeito de Assis sairá do Paço Municipal com a mesma equipe de primeiro escalão que o ajudou a se eleger?


Nenhum comentário :