06 Dezembro 2011
Cláudio
Messias*
O
professor mexicano Guillermo Orozco Gómez, da Universidade de Guadalajara,
disse-me, em 2009, que uma pesquisa (científica) feita na parceria binacional
México/EUA mostrava que os americanos (no sentido de nascidos nas três
Américas, quais sejam, do Norte, Central e do Sul) são povos de maior crença em
relação aos povos do chamado Velho Continente. Uma das explicações estaria nos
processos de colonização, via de regra misturando a natureza pagã dos nativos
aqui encontrados pelos primeiros colonizadores com as missões
político-religiosas destes (vale lembrar que a Igreja tinha iguais interesses
dos reinados na descoberta de novas terras meio milênio atrás).
Orozco
estuda os impactos das novas tecnologias – especialmente as mídias novas, a que
ele chama de novas telas – na formação cognitiva de estudantes. Segundo o
mexicano, não é possível um mesmo olhar sobre as formas de sedução e
consolidação do consumo em ‘americanos’ e europeus e/ou asiáticos. Um mirar,
claro, sobre a comunicação pelo ponto de vista da cultura. Nossas convicções,
portanto, nos diferem enquanto identidade, enquanto povo.
Se por um
lado o sujeito norte-americano tem intrínseco o providencialismo que o torna o
salvador do planeta, por outro, o latino-americano é a negação concreta a esta
hegemonia. Fé e razão duelam em uma discussão que não é necessariamente o que
quero explorar aqui.
Não digo
que nasci dentro de uma igreja evangélica, mas foi na Igreja Batista que
iniciei na religião. Os primórdios de minha lembrança são de um Natal de 1974
na igreja da avenida 9 de Julho. Tinha, portanto, quatro anos de idade. Aos 13
anos interrompi aquela rotina de todos os domingos ir aos cultos. Aos 19 anos
conheci Rozana, hoje minha esposa, católica. Namoramos e noivamos por cinco
anos. E casamos. Na capela Santo Antônio. Sim, era minha iniciação ao
catolicismo.
Antes
disso, dos 13 anos aos 19 minha vida pessoal passou por transformações. Pais
separados quando eu tinha 16 anos, ingresso no jornalismo aos 15, a opção de
não ser ferroviário aos 17, contrariando uma tradição de avodastro, pai e irmão
mais velho vinculados à Fepasa.
Minha mãe
saiu de casa quando eu estava prestes a completar 17 anos de idade. Um ano e
meio antes eu já havia perdido minha avó paterna, com quem aprendi a cozinhar,
lavar louça e varrer a casa. Forçadamente, claro. Minha avó morreu com 82 anos
de idade e me contava histórias deliciosas que ainda hoje repito a meus filhos.
De caboclo d´água e caipora, lendas urbanas e rurais que igualmente cruzam fé e
razão.
Em 1997,
com a morte da matriarca, apareceram alguns urubus. Destes familiares que
reaparecem no faro de heranças. Junto com eles veio uma mulata que, diziam,
incorporava uma entidade. Todos hospedados na antiga casa de minha avó,
começaram a recontar histórias. Havia, ali, muita coisa negativa, polemizavam.
Aos 17
anos a gente não sabe se é criança, adolescente, quase adulto ou, simplesmente,
um bestinha qualquer. Se se é ameaçado, é-se criança; se é paquerado, a
juventude explode pelas veias; se a busca é por promoção no emprego, exubera-se
a maturidade. Uma coisa, contudo, é consoante: não engana-se facilmente um
sujeito nessa questionadora fase da vida.
Eu via
aquela turma aterrissando na vizinhança e desconfiava daquilo tudo. Um jantar
com todos entre a chegada da rádio Cultura, o banho e a saída para o Clybas,
onde fazia o segundo colegial, colocou-me frente a frente com a mulata. E
recomendaram: “quando chegar da escola, converse com ele”. Como assim
“ele”, se era ela? Ela era ele em determinadas circunstâncias.
Já em 1997
os professores da rede estadual mais faltavam do que davam aulas. Saí na hora
do intervalo e cheguei à antiga casa de minha avó com todos ainda
churrasqueando, bebendo, enfim, curtindo a vida na casa de outrem. A mulata já
não estava mais na cozinha, nem na sala. Estava no quarto de minha avó.
Recomendaram que lá eu fosse, para uma prosa com “ele”. Metido a besta – sim,
eu tinha 17 anos de idade! -, fui. Luz apagada, ouvi uma voz masculina me chamar:
“entre”. A vontade era ser criança de 17 anos e, no medo, pedir socorro e
correr. Mas, respiração profunda, entrei.
O cheiro
de cachaça era muito forte. “Ele” pediu para que eu saísse e buscasse água. Saí
e já estavam com um copo cheio de água... ardente. Pinga pura. Servi o
convidado – àquela altura estava convencido de que ela era ele, mesmo que
momentaneamente – e começamos a conversar. Ele sabia quase tudo de minha vida e
arriscava até comentar algo como se soubesse o que eó eu sabia – só não acertou
que minhas revistas prediletas eram Mad, Private e Fiesta, e não só Playboy.
Já era
quase 23h30, o sono pesava nas minhas costas – no dia seguinte teria de estar
na rádio Cultura às 6h00 – e aquela conversa parecia não ir para lado algum.
Havia, àquela altura, dúvida se era ele ou ela que estava ali falando, fumando
e bebendo feito uma caipora. Seja qual for a entidade, optei por cortar a
conversa. Tudo isso de forma educada, até porque aquilo tudo me dava uma
sensação de medo.
Se ele ou
se ela, o enunciado da despedida fez o sono sumir. “Cuidado com o dia 4 de
dezembro”, disse-me. Já em pé, quase na porta de saída, voltei. Claro,
perguntei : “por que dia 4 de dezembro?”. Ele ou ela riu entre uma baforada e
outra de fumaça à essência de cachaça e encerrou a sessão: “é o fim, meu filho,
é o fim”.
Virei as
costas e fui embora. Não, contudo, sem encafifar com essa data do 4 de
dezembro. Vinte e quatro anos se passaram desde então. Foram vinte e quatro
dias 4 de dezembro. O mais recente deles foi anteontem, domingo. Em seis dessas
datas passei por situações embaraçosas. Não vou entrar nos seis detalhes, pois
isso aumentaria o drama da conversa.
Não tenha
dúvida, contudo, que durante vinte e quatro ocasiões pensei pontualmente:
“amanhã é 4 de dezembro”. E o que é mais engraçado: em todas elas eu sempre
estive fora de casa. E você pode cruzar as coisas e dizer: dezembro geralmente
é férias e, por assim ser, viagens são comuns. Ao que eu rebato: em 1990 eu
estava desempregado nessa data e vivenciei uma das situações embaraçosas
estando na garupa de uma CG 180, azul calcinha, ano 1979, em plena SP 270,
próximo ao Posto Santa Lucia, em Ibirarema, e quase virei estatística do
fatídico corredor da morte.
Por mais
que não acreditemos nessas coisas a que chamamos de besteiras, elas mexem com
nosso imaginário. Um mês atrás meu orientador de mestrado, Ismar Soares,
convidou-me para compor mesa de discussão no III Encontro Brasileiro de
Educomunicação, na ECA/USP. A data: 3 de dezembro, um sábado. Logo, em fração
de segundos, veio o pensamento lógico: evento encerrado na tarde do dia 3,
ônibus pego na Barra Funda às 19h00 e chegada a Assis na madrugada... do...
dia... 4 de dezembro!!!!! Sair da Castello Branco à meia-noite e entrar no
antigo corredor da morte nas primeiras horas do bendito dia.
Nós, que
buscamos na ciência a fundamentação para o que chamamos de existência, temos um
ceticismo que, hoje vejo, esbarra-se em um limite. Como diz Orozco, trocamos
nossos medos de lobisomem pela paúra de sermos abduzidos por seres de outros
planetas. São os mitos da tradição oral dando lugar a mitos que se escondem nas
brechas do que a ciência não consegue comprovar ou desmentir. Cada vez mais
céticos, desmoronamos a um simples deparar de uma frase fatalista.
De
católico assim condicionado no contrato de casamento passei a católico quase
praticante no ano passado. Participei do Encontro de Casais com Cristo,
conheci, com minha esposa, um círculo de amizade que nos faz muito bem – nos
reunimos uma ou duas vezes ao mês, para refletir sobre a bíblia e nossas
vivências cristãs de casais – e tenho vivenciado situações que variavelmente me
fazem arrepiar. Igualmente, não vou entrar nos detalhes do dia em que passei a
assumir a condição de devoto de Maria.
O que
quero dizer é que existe um tênue fio que separa razão e emoção quando o
assunto é crença. Passados vinte e quatro anos, sei que há uma explicação
razoável para aquilo que me foi dito sobre o 4 de dezembro e, parafraseando os
interlocutores que desse assunto são conhecedores, tudo não passa de bobagem.
Bobagem até toda segunda quinzena de novembro, pois a proximidade da data vem à
minha memória de uma forma que não consigo administrar. E não titubeio em
afirmar: acho tudo aquilo, passado em 1987, uma grande, imensa bobagem. Imagine
se não achasse.
FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
AÍ, SIM!
Já está em
obras o trecho da rua André Perine, nas imediações do túnel da antiga Fepasa,
destruído pelas chuvas de 14 de outubro. A calçada, que ficou interditada por
alguns dias, está sendo refeita.
ESTRAGO
Poucas
pessoas se deram conta da estiagem dos últimos dias. Agricultor amigo meu
lamentou, ontem, sob a chuva que caía na Sucupira do Vale, que a água chegara
tarde. Terá perda superior a 30% da soja que plantou, pois faltou chuva
exatamente na fase pós-plantio. No caso dele, 17 dias de seca.
AGRADO
O mesmo
agricultor relata o caso paradoxo de um vizinho, que atrasou a colheita do
milho safrinha e plantou soja duas semanas depois em relação à sua propriedade.
Manhãs frias, tardes quentes e pancadas de chuva mediadas por períodos de sol
farão a safra do vizinho uma das melhores dos últimos anos.
SONHO MEU...
A
confraternização da velharada da hidromusculação do ATC aconteceu, neste ano,
no restaurante Farol. Rodízio de filés, quinta-feira passada, dia 1º. Pude
confirmar a expectativa criada no próprio ATC, dias antes, ocasião em que me
garantiram que o melhor chope de Assis estaria ali, no Farol. Confirmado, e ao
melhor estilo.
SEI LÁ...
Um
conhecido me procura no bate-papo do Facebook para me dizer que não é só a rede
Subway que está chegando a Assis. A avenida Dom Antonio ganharia uma loja do
Habib’s, no sistema drive-thru.
TOMEI I
Em rápida
passagem por Londrina no domingo, almoçamos no Catuaí. Aproveitamos para
consultar preços de um aparelho de TV 32’ full HD. Nosso parâmetro era de R$
1.499,00 para uma determinada marca, em cotação feita em três sites
costumeiramente visitados em situações de compra aqui em casa. Ficamos tentados
com o mesmo aparelho, do mesmo fabricante, a R$ 1.299, numa loja do shopping
londrinense.
TOMEI II
Hoje,
transitando com meus filhos por algumas lojas de Assis, eis a nossa surpresa. O
mesmo fabricante, um aparelho com iguais 32 polegadas full HD, mas com tela de
LED que, dizem adeptos, é melhor que LCD: R$ 1.399,00. No Catuaí, 200 reais
mais caro.
TRANS
Rancharia
está com uma retransmissora da Rede Transamérica de Rádio. A opção foi pela
faixa Transamérica Hits, que faz prevalecer estilo de programação popular que
toca de axé e pagode a sertanejo e brega.
DEDO DURO
Entra em
operação em 2012 o sistema de rastreamento veicular paulista. Sob concessão da
Artesp, o sistema fará o monitoramento de veículos que transitam pela malha
viária do Estado. A Cart, que administra o sistema Raposo Tavares, será
pioneira na gestão do novo sistema no interior.
DEDO DURO II
Pelo novo
sistema, um veículo roubado não conseguirá ser desovado para estado vizinhos,
por exemplo. Torres que estão sendo instaladas às margens de rodovias
estratégicas reconhecerão sinais emitidos por chipes, cuja instalação será
obrigatória a cada licenciamento anual. Para o Estado, uma vantagem a mais:
esse mesmo sistema flagrará proprietários cujos veículos estiverem com a
documentação vencida.
FUMAÇA?
Mais uma
pessoa me questiona sobre algo que inicialmente eu achava não passar de mera
bobagem: pedágio dentro de Assis? Se fossem uma, duas ou três pessoas, tudo
bem... mas essa estatística de questionamentos sobre o mesmo assunto já passou
da casa da dezena.
AUDIÊNCIA
Cada vez
me impressiona mais a audiência de plataformas virtuais como o Assiscity. E,
claro, estava demorando: lá vêm os aventureiros montando sites que de co-irmãos
não têm nem o branco dos olhos. Assis Notícias, Jornal da Segunda Online e
Assiscity têm competentes jornalistas por trás, como proprietários, e não
nasceram de meras aventuras de utopia lucrativa. Nos três casos, o capital
envolvido é a credibilidade associada ao nome, o que na comunicação faz uma
diferença...
COPIÃO
Essa
situação dos sites que começam a aparecer no Vale me faz lembrar a febre de
cataventos publicitários, no início dos anos 1990. Campanas de rodas de
caminhões serviam de base a uma engenhoca que, na cor preto, estampava o nome
da empresa em cores cítricas. O vento fazia o trem girar e, assim, uma empresa
podia expor, num efeito de ótica, nome/slogan/telefone, por exemplo. Tinha
tanta gente fabricando o cata-vento que chegou uma hora em que até criador de
canarinho colocou uma engenhoca em frente à casa para divulgar o negócio.
Resultado: calçadas abarrotadas daquela engenhoca e uma poluição visual que
matou o recurso publicitário por completo.
PERGUNTINHA BÁSICA:
Para que
tantas críticas à decoração natalina da cidade?
*
Jornalista, professor universitário e mestre em Ciências da Comunicação pela
ECA/USP.
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