Cláudio Messias*
Terminado o derby Atlético Assisense 0x1 Vocem, quando eu iniciava uma série de levantamentos relacionados ao confronto, fui acionado por alguns amigos que, presentes no chuvoso jogo do Tonicão, estranhavam o canhoto dos ingressos que receberam para adentrar ao recinto. Segundo eles, tratava-se de falsificação, fraude, pois o número oficial de torcedores presentes ao estádio não correspondia ao público anunciado no sistema de som.
Primeiramente, quero deixar claro que aprofundei nesse assunto por consideração, primeiro, aos meus amigos, pois a reclamação aconteceu via redes sociais, em diálogos reservados. Ratifico que estou em Campina Grande, na Paraíba, a 2.800 km de distância de Assis, e, portanto, casos complicados e polêmicos como esse eu sempre tratei e cobri, como jornalista, in loco, ou seja, mediante a consulta de fontes primárias. Demorei, pois, para levantar material que fundamentasse essa minha publicação. E o que aqui publico só está postado porque tenho, formalmente (ou virtualmente), as versões dos dois lados envolvidos.
Sempre fiz prevalecer o sigilo de minhas fontes. Mesmo nos processos em que fui acionado, jamais revelei a identidade daqueles que formalizaram a veracidade daquilo que publico. Logo, não será agora que revelarei quem são os torcedores que adquiriram ingressos para o derby, sentiram-se enganados e, enfim, reclamaram daquilo que entendem como suspeita de falsificação de ingressos no confronto Atlético Assisense 0x1 Vocem. E, que fique claro, não é porque o Falcão do Vale está por um fio, mais eliminado do que com chances de classificação, que estou fazendo esse tipo de postagem. Continuo, como torcedor, acreditando na classificação, crença essa que só esgotará quando for feito o apito final do último confronto, contra o Presidente Prudente, no Tonicão, daqui a duas semanas.
Razão e emoção, pois, ficam aqui separadas. A razão mostra uma insatisfação de minha audiência, no Blog, com a venda de ingressos. A emoção faz-me lamentar que esse seja mais um episódio que risque a imagem de um clube fragilizado por resultados (placares) injustos, e que, em resumo, é o clube pelo qual decidir torcer na temporada 2014, contrariando minha paixão histórica pelo outro clube da Sucupira do Vale.
Meus amigos acionaram a conversa nas redes sociais por volta de 12h30, quando chegaram em suas residências. A primeira cópia de ingresso tido como falsificado chegou minutos depois e, realmente, mostra bilhete que foge ao padrão da Federação Paulista de Futebol. Na ausência, online, de dirigentes como Carlos Antunes do Rosário e Roberto Carlos Amorielli, acionei o serviço de relações públicas da Ingresso Fácil, responsável pela confecção dos ingressos encomendados pela Federação Paulista de Futebol. Um posicionamento formal é aguardado para essa segunda-feira, uma vez que os responsáveis não são facilmente encontrados aos finais de semana.
A hora avançou tarde adentro e, enfim, obtive uma fala de Carlos Antunes do Rosário, o Boi, presidente do Clube Atlético Assisense. Outras reclamações iguais, sobre os bilhetes, já haviam sido feitas via redes sociais, para esse blogueiro, e o dirigente admitiu, via inbox, no Facebook, que esse tipo de procedimento - produzir lote à parte de ingressos, em gráfica particular - é normal em Assis e em qualquer outra localidade do país e do mundo. Não vou entrar nesse detalhe para questionar Boi, pois, repito, jamais estudei ou aprofundei investigações acerca dessa relação ingressos>público, mesmo estando há quase 30 anos no circuito das transmissões esportivas. O que posso afirmar, talvez com emoção sobrepondo-se à razão, é que soa estranho que uma Federação séria - ou, talvez, quase isso - como a FPF tenha contrato de cessão de direitos com a Ingresso Fácil e consinta que clubes mandantes façam, paralelamente, a gestão de seus próprios lotes de bilhetes que condicionam acessos, pagos, aos estádios. Mas, isso é estranhamento, e não posição editorial.
Nas mesmas redes sociais Boi dialogou publicamente com internautas que questionavam o detalhe dos ingressos e outros mais. De acordo com o dirigente, houve alteração no valor dos ingressos, o que exigiu a produção de bilhetes à parte para as vendas antecipadas. Daí, portanto, o fato de os tais ''ingressos brancos'' serem vistos nas mãos de torcedores. Tudo, segundo Boi, dentro da legalidade, pois essa atribuição de gestão dos procedimentos de acesso aos estádios é de responsabilidade dos mandantes, ainda mais em se tratando de decisões pontuais como a de alteração de valores na última hora. "O boletim provisório vem com o arbitro, o qual repassa paro
clube, que completa os dados, o qual é devolvido ao final do jogo ao árbitro. Normalmente, os clubes têm dificuldade em relação aos ingressos antecipados e as
cortesias distribuídas aos patrocinadores, que os repassam aos clientes. É responsabilidade do clube mandante", argumentou o presidente.
É fato, pois, que o boletim financeiro da Federação Paulista de Futebol trará, nessa segunda-feira, o público de 397 pagantes para esse derby Atlético Assisense 0x1 Vocem. Boi reconhece que ainda faltam, nesses números, as estatísticas de recolhimento do que foi vendido em postos distribuídos pela cidade. Na análise de quem esteve no Tonicão, então, podem ter sido vendidos mais de mil ingressos de forma antecipada, pois a estimativa é de que havia, nas arquibancadas, mais de 1.000 pessoas. O presidente do clube, nesse ínterim, diz poder fechar o balancete somente após o fechamento de caixa de cada um dos pontos externos, o que pode levar mais dias pela frente.
Essa situação toda, por mais que corresponda à normalidade, como afirma e justifica Carlos Antunes do Rosário, o Boi, representa mais um aprendizado. Confesso que sinto-me perdedor de tempo ao desperdiçar minutos e até mesmo horas semanalmente calculando o que cada jogo da Segunda Divisão, rodada após rodada, apresenta de público pagante. Oras, se o que consta nos boletins financeiros postados a cada rodada pelos árbitros e consentidos pela Federação não corresponde à realidade das bilheterias, então qual clube está sendo, na realidade, detentor da melhor média de público? Perde sentido o meu ranking de bilheterias, cuja fonte, eu acreditava, era um pseudo sério conjunto de boletins financeiros.
Mais uma vez, vou acionar o serviço de ouvidoria da Federação, pedindo um posicionamento agora sobre esse episódio. Confio e acredito sobremaneira em meu amigo Boi, presidente do Falcão do Vale, mas não consigo conceber a real finalidade desses tais boletins financeiros. Para a realidade de um universo boleiro que precisa cada vez mais confirmar-se como sério, lícito, não dá para entender até em que ponto somos ludibriados por falsas estatísticas. Sou de um tempo em que documento é coisa séria. E entendo boletim financeiro como coisa séria, até que a Federação Paulista de Futebol prove-me o contrário. E se isso acontecer (confirmação de veracidade parcial dos boletins financeiros), encerrarei minhas postagens sobre as competições organizadas por essa instituição.
Por fim, que não fique, aqui, como ação exclusiva do Atlético Assisense essa suspeita de manipulação sobre a venda de ingressos para o derby. Naquele domingo de Dia das Mães também chegou a ser comentado que o público presente no Tonicão seria superior a 2 mil torcedores, mas, no boletim financeiro, apareceu média inferior a isso. Desse jogo eu posso falar, pois lá estive e confesso ter estranhado a disparidade entre o que havia de massa torcedora nas arquibancadas e o que fora declarado oficialmente como público pagante.
Não fico em cima do muro e exponho minhas posições. Nesse caso dos ingressos, falar de falsificação talvez realmente seja equivocado. Ingresso falso tem de ser barrado na portaria de entrada de estádio. E, até onde sei, foram entregues a policiais militares ingressos tidos como 'brancos', mas já dentro do estádio. Logo, se o torcedor pagou por aquele ingresso, entrou no estádio e assistiu ao jogo, não foi lesado em nada. Isso, porém, em nada derruba qualquer possibilidade de ter havido dupla cobrança de bilhete de acesso, sendo um sob os auspícios da Federação e outro sob a exclusiva gerência do Atlético Assisense. Esse último fator, sim, carece de esclarecimentos maiores.
Imagem: Reprodução
Reprodução de bilhete considerado 'branco' pelos torcedores, adquirido na bilheteria do Tonicão |
Imagem: Reprodução
Reprodução de bilhete tradicionalmente vendido com selo holográfico, adquirido, também, na bilheteria do Tonicão |
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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