segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ANÁLISE - O revés de favoritismo do Assisense na Segundona

Cláudio Messias*

Na história recente do futebol admirei dois técnicos por uma característica: conseguir modificar seus comandados, nos intervalos de jogo, sem precisar efetuar trocas. Assim foram Mano Menezes e Tite no comando daquele Corinthians que ganhou praticamente tudo que disputou com os dois comandantes. Se nada dava certo n os 45 minutos iniciais, bastavam as palestras de intervalo e lá retornavam os mesmos 11 jogadores para reverter o cenário.

Estou colocando um terceiro nome nessa lista. Queimando a língua e baixando, humildemente, a cabeça. Ademílson Venâncio leva seus 11 comandados titulares para os vestiários e os devolve em campo modificados taticamente. Talvez seja isso que faz com que o Clube Atlético Assisense saia da condição de azarão para assumir, agora, nesse exato momento, o posto de melhor time da quarta fase da Segundona do Campeonato Paulista 2013, ao lado da Matonense.

O Falcão do Vale comandado por Venâncio tem uma capacidade surpreendente de reverter resultados negativos. Quando tudo parece perdido bastam 15 minutos de diálogo, nos vestiários, e acorda um gigante que atropela favoritos. Relembremos a forma como caíram, aqui no Tonicão, "golias" como Taboão da Serra, Diadema, Paulistinha e, ontem, Inter de Bebedouro. Times tidos favoritos que chegaram convictos de segurar empate, entusiasmaram achando que dava para sair daqui com três pontos, porém amargaram derrotas que na estatística final custaram-lhes a eliminação.

Mantenho, sim, minhas críticas ao perfil retrancado do treinador. Mas, agora, não há como não reconhecer que se esse perfil faz parte do bojo maior, ou seja, do conjunto de um trabalho, que o Assisense jogue retrancado quando for necessário. Está dando certo, e é isso o que importa. De segunda pior campanha entre os 8 clubes que disputam a quarta e penúltima fase o Falcão do Vale elimina uma de seis partidas com a melhor campanha. E em futebol o que vale é o presente. Sim, o agora. E nesse momento eu vejo o Assisense à frente do todo poderoso Água Santa, no Grupo 20, e com um gol marcado a mais que a Matonense, do grupo 19. Ressaltando, claro, que os 3 pontos do time de Matão foram conquistados em vitória fora de casa, em Tupã, por apertado 2 a 1.

Fase final de campeonato exige um olho no peixe, outro no gato. Um piscar de olhos e quem é líder hoje pode ser terceiro colocado daqui a algumas horas, fechada a segunda rodada. Jogar quarta-feira no estádio Baetão, em São Bernardo do Campo, frente ao Água Santa, requer cuidados, mas, principalmente, estratégia. E pelo visto, Venâncio é um técnico estrategista. Sabe como ninguém buscar um ponto fora de Assis. Foram, até aqui, seis empates tirados da casa dos adversários, em 10 jogos disputados fora.

No universo das estratégias, das probabilidades, o Assisense entra em campo para enfrentar o Água Santa já sabendo do resultado do outro confronto da chave, entre Inter x Cotia, em Bebedouro, que jogam às 15 horas. O jogo do Falcão do Vale em São Bernardo do Campo começa às 19h30. Um empate, de preferência sem gols, entre Inter x Cotia, representaria a glória para o time de Assis, que também precisa segurar a igualdade no placar frente ao Água Santa. Com isso, retorna a Assis somando 4 pontos e mantendo margem de dois pontos em relação a Água Santa e Cotia, além de ver as coisas ficarem cada vez mais complicadas para os lados da Inter.

O foco, nessa quarta e decisiva fase, precisa estar centrado no quesito gols marcados. Dado o equilíbrio da composição das duas chaves em disputa, é possível que líder e vice-líder sejam definidos, ao final, pelos critérios de desempate. E pelo regulamento uma vaga é definida, caso haja empate, primeiro pelo saldo de gols e, depois, pelos gols marcados. Uma olhada, agora, na tabela, mostra o Assisense com apenas 1 gol de saldo, mas Água Santa e Cotia zerados. O time de Assis leva dupla vantagem, pois além de ter esse gol positivo de saldo, balançou as redes três vezes, enquanto os adversários diretos nada marcaram.

A confiança, portanto, incide sobre o perfil de formação da equipe que entrará em campo depois de amanhã, fora de casa, contra o Água Santa. Imagino o Assisense jogando com três defensores fixos, ou seja, com a dupla de zagueiros mais o apoio do primeiro volante. Laterais, assim, formando linha de defesa e sendo apoiados em ligação com o ataque pelos dois meias, o que faz com que o excelente segundo volante Fernando torne-se o xerife pelo meio. Um atacante joga fixo e o outro atua como pivô.

É dessa forma que tenho percebido, nos jogos fora, a atuação do Assisense comandado por Venâncio. Em se confirmando, creio que a possibilidade de encarar o Água Santa de igual para igual seja maior. Seremos, tenho convicção, atacados, pelo que vi no jogo Cotia 0x0 Água Santa, no sábado, com transmissão da equipe STI Esporte (www.stiesporte.,com.br). Digo isso porque vi muita disciplina tática no time que o Assisense enfrenta nessa quarta. Uma equipe que passou muitos sustos no confronto com o Cotia e só não perdeu porque tem um excelente goleiro, mas, em contrapartida, levou perigo ao gol adversário quando avançou em contra-ataque. Repito: o Água Santa, naquele jogo de sábado, postou como visitante que sabia que 1 ponto fora de casa era mais que necessário.

É exatamente isso o que espero do Assisense nesse jogo de meio de semana. Eu, o torcedor de Assis e o técnico Venâncio, claro, queremos isso. Tirar dois pontos do Água Santa é uma vitória a essa altura do campeonato, pois trata-se de confronto direto com o mais forte dos candidatos a vaga na fase. E essa vaga, convenhamos, carimba participação na Série A-3 de 2014.

A trajetória foi iniciada e mostra um Assisense a ser respeitado. Se as estatísticas dizem algo relacionado a respeito, é bom que todos recordemos que o Assisense não sabe o que é perder um jogo desde o dia 3 de agosto quando foi derrotado pelo Diadema (2x1) com aquele gol aos 47 minutos finais. De lá para cá são 9 jogos invicto. Em todo o campeonato, em 21 jogos disputados, o Falcão do Vale perdeu somente 3.

Estatística e campanha agora o Assisense tem, de maneira a encarar a todos em condições de igualdade. Para os apreciadores do bom futebol as perspectivas são as melhores possíveis. De minha parte, atribuo total credibilidade ao trabalho de Venâncio, pois já não quero apenas ver o Assisense na Série A-3 do ano que vem. Quero, antes, ver o time da minha cidade na final da Segundona de 2013. E só vai para a final quem ficar na liderança dos grupos 19 e 20.

Portanto, se Assisense x Água Santa tende a ser o melhor jogo do ano no Tonicão, no dia 9 de outubro, imagine, raro e exceto leitor, o que seria Assisense x Matonense valendo o título do campeonato! Elementos para acreditar nisso nós temos de sobra. Quem foi ao estádio e viu a vitória, nesse domingo, sobre a Inter de Bebedouro, sabe exatamente da força holística favorável a que estou me referindo para ser tão otimista.


*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.


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