Cláudio Messias*
O Clube Atlético Assisense tem de hoje até quinta-feira para, como diz a metáfora, sair das cinzas e materializar-se novamente. Sim, o Falcão do Vale vai precisar transformar na Fênix caso queira chegar à Série A-3 de 2014. Tarefa difícil, mas não impossível. Agora, tendo de contar com o fator sorte, sem depender da própria competência.
Agora chega o momento de eu criticar o formato de tabela que a Federação Paulista de Futebol estabelece para a disputa da Segundona. Dono de melhor campanha nas fases 2 e 3 do torneio, o Assisense chegou à quarta fase não sendo contemplado com a decisão do returno em seus domínios. Isso porque Água Santa e Inter de Bebedouro, donos de melhor campanha na soma geral de pontos e grupos, gozaram desse privilégio. Incoerência que repete-se, pois adversários diretos do Assisense no campeonato decidiram o último jogo de cada fase e deram adeus ao torneio. Relembremos o Fernandópolis e o Taboão da Serra na segunda fase, o União Suzano, na terceira e, agora, a própria Inter de Bebedouro. Vejamos o Cotia, o pior classificado entre os 8 em disputa, fazendo dois jogos em casa, no returno, enquanto o time de Assis, com melhor campanha, faz apenas uma.
O Assisense estreia no returno da quarta fase no próximo sábado. Vai a São Paulo, mais precisamente ao estádio da Rua Javari, do Juventus, onde o Cotia, que não tem estádio aprovado, excepcionalmente mandará seus jogos nessa reta final. É o primeiro de três jogos decisivos, dois deles fora de casa. Pior ainda, o time de Assis recebe, no único jogo em casa, o Água Santa, que não sabe o que é perder nessa quarta fase. Tarefa difícil, mas não impossível. Calculadora e terço na mão, vamos ao que tem de ser feito prática e holisticamente.
Vencer ou vencer - O primeiro e principal desafio do Assisense é vencer o Cotia, sábado, fora de casa. Com isso, o time de Assis vai a 6 pontos, fica 1 ponto à frente do rival e passa a ter dois jogos para somar pontos e manter-se na segunda colocação.
Assim, considerando que na rodada do meio da próxima semana o Cotia receberá a Inter, que terá saído de um jogo com possível derrota, na rodada anterior, na casa do Água Santa, e já estará eliminada, o Assisense recebe o líder do grupo, no Tonicão, com obrigação de vencer. Digo isso porque em caso de empate aqui em Assis e vitória do Cotia na mesma rodada, este abrirá novamente 2 pontos sobre o Falcão do Vale, jogando a decisão para a última rodada.
Percebamos que a essa altura da reta final chegamos à derradeira rodada da quarta fase com o Água Santa não só já classificado, como somando 11 pontos, caso advenha, na pior das hipóteses para eles, de empate com o Assisense. No confronto derradeiro, em casa, contra o Cotia, o líder do grupo teria de perder por diferença de pelo menos 4 gols para não confirmar a liderança da chave e, assim, ser um dos finalistas da temporada 2013 na Segundona. Uma relaxada do Água Santa, que é normal, e o Cotia pode tirar proveito, vencer o jogo por 1 a 0, por exemplo, e tirar a vaga que ainda seria sonho do Assisense.
Não resta outro objetivo ao Assisense a não ser repetir a determinação que o levou a vencer a Inter de Bebedouro, no Tonicão. E isso precisa ocorrer três vezes, contra Cotia, Água Santa e Inter, nesse returno. Ou seja, toda a estratégia usada durante o campeonato, de segurar resultados ou admitir hipóteses de empates dentro e fora de casa colocam em risco o planejamento de um ano inteiro. Que o time pense grande, definitivamente.
Se você, raro e exceto leitor, perguntar o que eu acho, sou sincero em responder: está difícil. O time do Assisense é bom, assim como é boa a comissão técnica. Só que nós temos um ótimo Cotia e um excelente Água Santa. À Inter de Bebedouro resta a condição de razoável, pois não creio que exista equipe ruim nessa quarta fase. Basta olhar para o grupo vizinho, o 19, e ver o equilíbrio com que Atibaia, Tupã, Paulistinha e Matonense estão digladiando, exatamente agora, pelas duas vagas. Nem lá, nem cá existem equipes ruins, pois essas ficaram pelo caminho até a quarta fase.
A questão é que agora existem equipes boas para ficar com as duas vagas de cada grupo na Série A-3 e equipes boas que não ficarão coim a vaga. De oito times, metade vai amargar o "quase".
Ontem, o que eu vi no Tonicão foi um Cotia que não se entregou em campo. Em momento algum eu vi um visitante que tivesse nos planos sair de Assis com o empate. Como ressalto, sempre, aqui, só falo sobre aquilo que vejo. Se não vi, não comento nem dou opinião. Mas, vi o empate Cotia 0x0 Água Santa, pela STI Esporte, na primeira rodada da quarta fase. E já lá teci elogios ao time que veio a Assis e foi o primeiro, nesse campeonato, a sair com 3 pontos. O Cotia foi melhor que o Água Santa naquele sábado à tarde. Ou seja, foi melhor que o melhor entre as 8 equipes que disputam a penúltima fase. E isso lhe dá a condição de ser melhor que o Assisense, como mostra a tabela de classificação nesse momento.
Recordemos que frente à Inter de Bebedouro o Assisense já precisou virar o jogo, depois de sair perdendo. Tudo bem, méritos do técnico Venâncio, que sabia gerir a equipe de maneira a inverter resultados adversos. Só que ontem ocorreu o inverso. O Assisense saiu na frente no placar, perdeu um jogador e foi para o intervalo vencendo. Na volta para a etapa complementar estava taticamente recuado e, como defini em postagem feita aqui no Blog, parecia sentar-se à espera das pancadas do Cotia. Por mais que os jogadores visivelmente quisessem sair para aumentar o placar, o sistema tático cobrado por Venâncio à beira do gramado não funcionava.
O treinador local tem seus méritos, reconheço, para chegar até aqui em condições de brigar pelo acesso. Mas, pelo amor de Deus, que se tenha mais coragem de armar um time que vença. Sinto nos jogadores a vontade vencer, mas não vejo uma estratégia tática que corresponda a esse coletivo de sede de vitória.
Cito, nesse ínterim, um momento de ilustração. Armei a máquina para registrar foto do excelente Kairo saindo do gramado no intervalo do jogo. Foi o único a empeitar o péssimo árbitro, que estava ao centro. Ganhou duplamente a minha consideração, pois entendo que Kairo não deveria ter sido substituído após a expulsão injusta de Fernando e não me conformo que a comissão técnica não oriente um jogador que seja para afrontar determinadas decisões do trio de arbitragem. Ninguém tem de agredir nem ofender juiz ou bandeirinhas, mas também não dá para ser passivo diante de barbáries como a protagonizada pelo senhor Vinícius de Araújo ontem. Apenas encerrando o assunto, não fotografei Kairo saindo para o intervalo porque vi seu semblante de impotência perante tudo, uma vez que havia sido substituído e parecia prenunciar o pior, que viria no segundo tempo. Kairo, eu e a torcida inteira sabíamos que ele não poderia ter dado lugar a um jogador de marcação.
Esse jogo de sábado que vem em Cotia é muito significativo. Primeiro, pelos problemas extra-campo. O Assisense vai a Indaiatuba sem Fernando, um dos principais responsáveis pela guinada de qualidade no meio-campo desse time, da segunda fase para cá. Em compensação, tem o retorno do excelente xerife William Goiano, zagueiro que cumpriu suspensão ontem e que, a meu ver, se estivesse em campo talvez impedisse principalmente o segundo gol do Cotia. A defesa do Assisense, pois, é uma, com Goiano jogando, e outra, sem ele. Jogadas aéreas são habilmente administradas por ele, que passa a ser arma, também, no ataque nas cobranças de escanteio e faltas.
O principal trabalho para a materialização disso tudo a que me refiro, porém, virá do diálogo. Vi uma equipe saindo de campo cabisbaixa e pouco retribuindo aos aplausos e gritos de incentivo da arquibancada, apesar da derrota. Jovens com idade abaixo de 23 anos, que precisam de orientação para que não vejam o Cotia como bicho-papão. Que eles saibam, tenham sabedoria de entender que não fosse a palhaçada do árbitro na expulsão de Fernando e o Assisense teria retornado para o segundo tempo, ontem, para ampliar o placar frente ao Cotia. Enquanto estavam em 11, os jogadores do Assisense eram superiores aos do Cotia. E, todos que fomos ao estádio, recordemos que mesmo com 10 em campo o Falcão do Vale acertou a trave adversária e obrigou o goleiro deles a excelentes defesas quando dos contra-ataques.
Vencer, lá, é possível, sim. E essa vitória dará moral para, no jogo de volta contra o Água Santa, fazer o jogo da vida contra o líder do grupo e, aparentemente, melhor time do campeonato. Vencer o Cotia significará um Tonicão com recorde de público e em festa para receber os guerreiros que tão bem levaram o nome da cidade para todo o Estado até aqui. Se for o caso, portanto, que cada um coloque na chuteira a força que sai de cada coração. Até porque, da parte da comissão técnica, agora, não pode sair outra orientação que não seja essa, a da vitória. E uma vitória de cada vez, pois voltar de Indaiatuba com derrota, todos sabem, significará apenas cumprir tabela.
Atualização - Passei as últimas postagens me referindo a Indaiatuba como cidade onde o Cotia receberia o Assisense no próximo sábado, mas, formalmente, a senhora Federação Paulista de Futebol ainda não havia confirmado o estádio "Ítalo Mário Limongi", do Primavera, como palco do confronto. Foi naquele local que o Cotia recebeu o Água Santa, no primeiro turno, mas, faltando menos de 10 dias para o jogo contra o Assisense, o status, no site da Federação que organiza o campeonato, havia a especificação "a definir". No dia 27, ou seja, sexta-feira passada, foi feita alteração de local para o estádio "Conde Rodolfo Crespi", o Estádio da Rua Javari, pertencente ao Juventus. Houve um tempo em que clube sem estádio não podia disputar campeonato. Época em que a Federação era mais séria, pois hoje, além do Cotia, também o Água Santa não tem estádio para mandar seus confrontos na Segundona. Não bastasse isso, basta lembrar de Diadema e Taboão da Serra, em 2013, só para citar adversários diretos do Assisense. E fica a pergunta: podem, eles, disputar a Série A-3? Claro que podem, pois, repito, os critérios das Federação Paulista de Futebol são uma piada, e de mau gosto. Aos clubes sérios, que oferecem seus estádios em condições mínimas, resta a situação de fazer o planejamento de viagens em cima da hora, pois clubes nem tão sérios não cumprem suas partes. Pasmem.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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