Cláudio Messias*
Não estive em Assis nos dois primeiros jogos em que, respectivamente, Vocem e Atlético Assisense fizeram suas estreias no Tonicão. As duas agremiações venceram seus confrontos no estádio da Fonte dos Amores, como define, historicamente, meu amigo e companheiro de jornalismo esportivo Carlos Perandré. Considero-me, pois, agraciado com a oportunidade de, estando em minha casa nesse feriado santo de Domingo de Páscoa, poder contemplar o confronto entre os dois clubes. Fui ao Tonicão e vi uma partida disputada, digna do primeiro derby da história da Sucupira do Vale. E vi um Atlético Assisense muito bom tecnicamente e, do outro lado, um Vocem esforçado.
A tensão caracterizou o pré-jogo desse domingo. O Vocem, mandante do jogo, fez barulho. Promoveu carreata que, me disseram, foi bem menor se comparada à que antecipou a estreia na Segunda Divisão do Campeonato Paulista, duas semanas atrás. Também não vi a primeira e, portanto, não opino sobre aquilo que não vejo. Só que nesse sábado, também, não vi a tal carreata, que na outra ocasião passou pela André Perini e, se dessa vez repetiu o trajeto, não fez barulho suficiente para ser percebida. Mas, enfim, o que vale é a bola rolando. E ela rolou às 10h07 desse domingo, com atraso provocado, pasmem, pela comissão de arbitragem, que entrou em campo depois das duas agremiações.
O estádio Tonicão foi dividido em dois setores e duas entradas distintas, como antecipei, aqui no Blog, na Sexta-feira Santa. Ampla maioria de torcedores do lado do Vocem, que ficou no setor das cabines de imprensa. E uma discreta torcida do Atlético Assisense, no lado oposto. Como o mando de jogo é do Vocem e o controle da bilheteria idem, ficará difícil saber o número exato de torcedores que ficaram do lado do Atlético Assisense. De acordo com um policial militar com quem dialoguei no intervalo, algo em torno de 300 torcedores, ou seja, pouco abaixo da média do primeiro jogo do Falcão do Vale, domingo passado, nos 2x1 sobre o Osvaldo Cruz. Número tímido, porém razoável se comparado ao marketing feito pelo clube mandante.
Antes de a bola rolar foi feito um minuto de silêncio em menção à morte do narrador esportivo Luciano do Valle, ontem, vítima de infarto, em Uberaba/MG, deixando órfã a equipe de esportes da Rede Bandeirantes de Televisão. Inevitável recordar que foi Luciano quem, visionário, mandou a equipe de esportes a Assis para cobrir, em rede nacional, na "Bandeirantes, o canal do esporte", o jogo Vocem x Corinthians, na inauguração do mesmo estádio municipal "Antônio Vianna Silva", o até hoje inacabado Tonicão. As coincidências, infelizmente para o Vocem, não parariam nesse detalhe.
Jogo - A bola rolou e o Atlético Assisense parecia ser o mandante do jogo. Time técnico, de posse de bola e toque envolvente, o Falcão do Vale ignorou a massa branca e roxa que estava na arquibancada mandante. Impressionou-me, pois em 11 temporadas que assisto o Falcão do Vale jogar, nas vacas gordas e nas vacas magras, jamais vi um time com tamanha qualidade. Cada um sabe o que faz, onde joga, por onde avança, qual setor cobre em marcação. Existe um meio campo pensante, inteligente, no Assisense. Um setor de criação que faz a bola chegar às laterais ou mesmo coloca o ataque de frente para o gol, nas costas da zaga adversária. Time assim ganha meu respeito. Aliás, time, não; equipe assim, pois quem arquiteta essa qualidade que fez o Falcão do Vale ser o dono do jogo, hoje, no Tonicão, é a comissão técnica.
E digo comissão técnica porque além de melhor tecnicamente o Atlético Assisense também rendeu fisicamente muito mais do que o Vocem. Fico com a impressão de que o clima de euforia promovido pela equipe gestora do Esquadrão da Fé pode ter contagiado em demasia os inexperientes jogadores. Sim, vi um Atlético Assisense, no conjunto, mais experiente do que os mandantes do jogo. Nas quatro linhas o visitante soube administrar o fator emocional, o que explica seu domínio soberano da bola durante os 90 minutos, ao passo em que os mandantes, nervosos, não rendiam. E nunca é demais lembrar que qualquer jogo começa empatado, resultado que favorecia o Atlético Assisense e lançava sobre o Vocem a responsabilidade por abrir o placar.
Descontrole - A falta de controle do Vocem pode ser comprovada em números. No primeiro tempo o jogo ficou empatado em 0x0, mas o Vocem cometeu 14 faltas, contra 10 do Atlético Assisense. Em finalizações, foram 5 chutes a gol e um cabeceio do Falcão do Vale contra 2 chutes a gol e 4 cabeceios do Esquadrão da Fé. Justiça seja feita, aos 51 minutos, ou seja, nos acréscimos, o Vocem desperdiçou a chance mais clara de gol, em cabeceio pra fora que renderia um troféu do Inacreditável Futebol Clube. Nada, contudo, que se sobrepusesse à ampla e massacrante posse de bola do rival, que só diminuiu o ritmo aos 30 minutos, quando o razoável árbitro Raphael dos Santos Alves fez parada técnica de 2 minutos para que as duas equipes se hidratassem. Depois que a bola voltou a rolar o Vocem ameaçou uma pressão, mas ficou só na pressão e na ameaça.
Do lado do Atlético Assisense, lamento somente o comportamento do lateral esquerdo Felipinho. Autor dos dois gols do domingo anterior sobre o Osvaldo Cruz, ele visivelmente sentiu o peso da bobagem que fez ao acenar com gesto obsceno para a torcida do próprio time. Entrou em campo nervoso, em alguns lances violentos e prenunciava, inclusive, que não terminaria o jogos sem receber cartão vermelho. Tanto que foi 'amarelado' aos 22 minutos e passou o jogo inteiro recebendo broncas do árbitro da partida e do técnico Alisson Moraes. Acalmou na segunda metade da etapa complementar, justamente quando o Falcão do Vale definiu a partida. E comprova, pois, que é importante para o time, desde que tenha controle emocional.
Do lado do Atlético Assisense, lamento somente o comportamento do lateral esquerdo Felipinho. Autor dos dois gols do domingo anterior sobre o Osvaldo Cruz, ele visivelmente sentiu o peso da bobagem que fez ao acenar com gesto obsceno para a torcida do próprio time. Entrou em campo nervoso, em alguns lances violentos e prenunciava, inclusive, que não terminaria o jogos sem receber cartão vermelho. Tanto que foi 'amarelado' aos 22 minutos e passou o jogo inteiro recebendo broncas do árbitro da partida e do técnico Alisson Moraes. Acalmou na segunda metade da etapa complementar, justamente quando o Falcão do Vale definiu a partida. E comprova, pois, que é importante para o time, desde que tenha controle emocional.
Segundo tempo - No retorno para o segundo tempo, mais um atraso para colocar a bola em jogo. O árbitro exigiu que houvesse outra ambulância na beira do campo e assim que o veículo chegou a bola rolou, já às 11h15. Nada, contudo, diferente do primeiro tempo. Só que na etapa complementar o Atlético Assisense transformou a ampla posse de bola em números finais. Abriu 2x0 no placar, calou a bateria da Unidos da V.O. que animava a festa do lado da torcida mariana e começou a sobrar em campo. Nas estatísticas, cometeu menos faltas (10 faltas para o Vocem, 8 para o Assisense) só que também concluiu menos. Foram 7 chutes a gol e 2 cabeceios para o Vocem e 3 chutes a gol e 1 cabeceio pelos lados do Atlético Assisense. Vem daí, pois, o fascinante universo do futebol, pois em um cabeceio e um chute o Falcão do Vale definiu o placar final do jogo, em 2x0. Futebol, logo, é competência.
Com os nervos à flor da pele jogadores e torcedores do Vocem apelaram. Foram aplicados 5 cartões amarelos nos mandantes e 2 nos visitantes. Aos 31 minutos complementares, uma confusão. Torcedores do Vocem lançaram uma garrafa no banco de reservas do Atlético Assisense e isso implicou em uma das tantas paralisações que caracterizaram o confronto. O objeto não foi recolhido pela arbitragem, o que coloca em dúvida se o episódio será ou não relatado em súmula. À distância, interpretei que o árbitro Raphael Alves sinalizou para a mesa o registro do episódio, mas isso não representa nada. O que resta é aguardar a súmula final do derby. Tudo muito confuso, pois o imbróglio também serviu para a segunda parada técnica de reidratação.
110/220 - Sim, na etapa complementar também houve parada técnica. Só que dessa vez quem voltou com a posse de bola e o controle do jogo foi o Atlético Assisense, que ampliou o domínio. O técnico Alisson Moraes usou, então, de todas as opções que a diretoria do Falcão do Vale lhe ofereceu durante a semana e renovou o time. O resultado foi um Assisense com a bola no pé, a torcida bravando gritos de "olé" e o Vocem acuado em seu campo de defesa, sem reação. Em um certo momento, além do desânimo, observei esgotamento físico por parte do elenco do Esquadrão da Fé. Tudo bem, o sol escaldante de meio-dia pode ter influído nisso, mas é bom ressaltar que o Atlético Assisense não jogava na sombra e, portanto, estava submetido ao mesmo desgaste e sobrava em campo.
De minha parte, fiquei feliz com a vitória do Atlético Assisense, que representa a continuidade de um trabalho de 12 anos ininterruptos no futebol profissional da cidade de Assis. A vitória no derby é inquestionável e mostra que Assis, hoje, tem um dos melhores times dos últimos anos em disputa, e esse time tem as cores azul e branco. Vejo nesse Atlético Assisense de 2014 mais qualidades do que aquele time de 2004, que quase chegou à Série A-3. Meu parâmetro é o início de temporada, e naquele campeonato de dez anos atrás o começo não foi convincente. Esse Falcão do Vale, pelo contrário, fez brilhar os olhos de quem gosta de futebol. Um futebol de bola no chão, sem chutões, com toque de bola e de lances de futebol arte. Um futebol de quem foi o dono do jogo nesse domingo no Tonicão.
Domingo que vem terei a oportunidade de ver novamente o Atlético Assisense em campo antes de retornar para a minha Campina Grande, na Paraíba. Será, também, a oportunidade de rever o Bandeirante, de Birigui, aqui no Tonicão, uma vez que essa agremiação é uma das rivais históricas de Assis e já a vi passar por aqui diversas vezes, seja na Ferroviária, seja no Marcelino de Souza, seja no Tonicão. Preciso confirmar que o Falcão do Vale é esse mesmo e que o jogo de hoje não foi um acidente de percurso. Ouvi amigos e cronistas como Edmar Frutuoso, ontem, prenunciando que daria Vocem no derby, devido à qualidade díspar entre as duas equipes. E não foi só ele. Mas, com meus olhos, o que vi foi um verdadeiro baile nesse domingo de Páscoa, o que gerou muito otimismo para o que pode vir no campeonato. Faço votos que o meu Falcão do Vale avance, vença o Bandeirante, mantenha a liderança e que seu sólido e honesto projeto culmine no acesso à Série A-3 de 2015.
Não acredito em acaso no futebol. Acredito na competência, que atrai competentes. A diretoria do Falcão do Vale contratou, nessa semana passada, o atacante Davis, que veio do Sinop. O cara chegou, fez os dois gols do derby e silenciou o estardalhaço que pairava na cidade. O Atlético Assisense retornou ao estandarte de clube estável, que há 12 anos disputa competições oficiais, pagando ou não seus compromissos, com dificuldades ou receitas em dia. O presente, ou seja, o hoje, o agora, mostra o Assisense líder do grupo 1, rebaixando o Vocem para a vice-liderança no confronto direto e nos quesitos de desempate previstos no regulamento da Segunda Divisão. Vai de cabeça erguida para a quarta rodada e, o que é melhor, com contratações e reforços já anunciados, vindos do Marília Atlético Clube, o caçula da Série A-1 de 2015, para fechar o ciclo de contratações visando a essa Primeira Fase. Tudo sem super salários, sem provocar nem humilhar ninguém e, o que é melhor, com a situação regular na Federação Paulista de Futebol desde o conselho técnico realizado em janeiro.
Agora, nesse momento, jogadores, comissão técnica e diretoria do Atlético Assisense saboreiam dignamente o almoço do Domingo de Páscoa e, o que é melhor, com chocolate. Aguardam, em descanso, o desfecho do jogo Osvaldo Cruz x Grêmio Prudente, às 16h00, para saber se dormem plenamente tranquilos na liderança do grupo 1 (uma vitória do Grêmio o coloca na primeira colocação e embola o grupo).
Vocem 0x2 Atlético Assisense
Local: Estádio Tonicão, Assis/SP, 10h00
Transmissão: Rádio Assiscity Online
Público pagante: 2.137 pessoas
Renda: R$ 21.637,50
Fotos: Blog do Messias
Vocem, mandante, entra em campo
Pose para a histórica foto do primeiro derby
Atlético Assisense cumprimenta a torcida visitante
Execução dos hinos de Assis e Nacional
Dois times, uma só cidade. É o derby
Trio de arbitragem entrou atrasado em campo
Banco de reservas do Atlético Assisense
Parada técnica aos 31 minutos do primeiro tempo
Finalizada a partida, festa com a menor torcida
Familiares e amigos do jogadores foram ao alambrado
Ao final do jogo, a torcida do Vocem viu o apito final já na portaria
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
6 comentários :
Eu fui..grande jogo...e muita rivalidade..rss
bela analise do jogo feito por um jornalista que ate semanas atras se dizia ''imparcial'' mas agora coloca as manguinhas de fora e declara sua paixão pelo assisense.. n
Calma aí BOBO messias, o campeonato não acabou ainda, vamos ver lá na frente que vai aguentar !!! Foi só um jogo. P.S.- Por que estava escondido no tonicão seu covarde !!
ANTONIO ESSE MESSIAS É UM SAFADO, ELE É TORCEDOR DO ASSISENSE
É uma pena que a falta de respeito às opiniões e preferências dos outros seja uma constante em Assis... torço pelo VOCEM, mas respeito os divergentes... Dessa vez não deu... parabéns aos atletas do Assisense!
No ano de 2012 o assisense não participou do campeonato a sua frase " doze anos interrupto" é mentirosa e vc por um motivo que eu não conheço não consegue ser imparcial, porem respeito sua opinião.
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