sábado, 26 de abril de 2014

BAIXARIA - Árbitro registra em súmula acusação contra prefeito de Prudente

Cláudio Messias*

O confronto Grêmio Prudente 1x0 Vocem terminou em campo mas está longe de ter uma conclusão nos bastidores. A equipe mandante do confronto da tarde desse sábado no estádio Prudentão, em Presidente Prudente, foi duplamente registrada na súmula do árbitro Luis Fábio Abel de Almeida. Teriam havido ofensas da parte de um diretor do clube mandante e até mesmo do prefeito da cidade.

De acordo com a súmula da partida, quando a equipe de arbitragem dirigia-se para os vestiários do Prudentão houve abordagem de Edson Andrade, declarado formalmente como membro da diretoria do Grêmio Prudente. O dirigente teria proferido as seguintes palavras: "porr*, os caras falaram o jogo inteiro e vocês não marcaram nada, aí meu jogador vai comemorar o gol e vocês expulsam ele (vai tomar no c*)".

A revolta daquele que pode ser diretor do Grêmio Prudente refere-se ao último lance do jogo, aos 49 minutos do segundo tempo, ocasião em que Eder, autor do único gol do confronto, teria ido, na comemoração, em direção ao quarto árbitro, Bruno Alexandre Soto, e feito a seguinte provocação, também relatada em súmula: "olha o gol aí seus bandidos; vão si f*der, babaca, safado, ladrão". O jogador foi imediatamente expulso pelo árbitro principal da partida.

Isso corresponde à primeira metade do que foi relatado em súmula. Na segunda parte, o árbitro Luis de Almeida registrou o mais surpreendente. Diz ele, nos autos, que Mílton Carlos de Mello, o Tupã, prefeito de Presidente Prudente, também dirigiu-se até a porta do vestiário e ofendeu a equipe de arbitragem. Na versão do juiz, o prefeito prudentino teria afirmado:"vocês são uns ladrões, vagabundos, safados, vinheram (sic) roubar o Grêmio, cambada de filho da put*, vão pra put* que pariu, corja da Federação Paulista, vão tomar no c*". Feito isso, o político teria sido contido pela Polícia Militar.

Apesar da gravidade da situação e da seriedade das circunstâncias e, somado a isso, o fato de o próprio árbitro ter relatado haver presença física da proteção policial, não fica formalizado que o incidente tenha sido transferido para a esfera dos trâmites policiais, ou seja, não fica claro que o incidente dessa tarde de sábado tenha acabado em boletim de ocorrência. Tudo, no entanto, caminha para desdobramentos que podem implicar em punições ao Grêmio Prudente e restrições ao próprio estádio Prudentão, que é especulado como palco de ao menos duas partidas desse primeiro turno do Campeonato Brasileiro, incluindo o clássico paulista Palmeiras x Santos.

Esse lamentável episódio envolvendo gestor do Grêmio Prudente e o prefeito Mílton Tupã Mello em nada altera o resultado de 1x0 da equipe prudentina sobre o Vocem, uma vez que a partida já havia sido encerrada. O que surpreende é que as estatísticas lançadas na própria súmula do confronto mostram um jogo de poucas faltas (9 pelos mandantes, 15 pelos visitantes), o que teoricamente deduz ter sido uma partida de mediação não muito complicada. Em cartões amarelos, outro equilíbrio, uma vez que foram aplicadas 5 advertências a jogadores do Grêmio e 4 para atletas do Vocem. Na bola, portanto, o jogo foi limpo.

Na transmissão feita pela Rádio Assiscity Online a polêmica maior envolveu a marcação de uma penalidade a favor do Grêmio, depois revista e, mediante consulta aos árbitros auxiliares, convertida em cobrança de falta fora da grande área. Com ou sem essa sinalização, contudo, é fato que o clube mandante venceu o jogo, o que torna totalmente sem fundamento qualquer tipo de agressão verbal aos profissionais da arbitragem.

Histórico - O prefeito Mílton Tupã Mello, de Presidente Prudente, repetiu, hoje, os lamentáveis episódios protagonizados na década de 1990 pelo ex-deputado federal Paulo Lima, que em jogos contra o Vocem igualmente envolveu-se em pressão contra equipes de arbitragem e até mesmo contra a Polícia Militar. O ex-deputado, à época, acompanhava o hoje extinto Corinthians de Presidente Prudente, clube do qual integrava a equipe gestora.

Mílton Tupã já foi aliado político de Paulo Lima, que, por sua vez, afastou-se do futebol desde o mal sucedido projeto do também extinto Prudentino, dez anos atrás.

Foto: Reprodução/Site da Federação Paulista de Futebol
Trecho da súmula em que são registradas as 
agressões verbais feitas contra a arbitragem

*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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