domingo, 27 de abril de 2014

Atlético Assisense bebe do próprio veneno e toma 2x0 no Tonicão

Cláudio Messias*

O futebol exige provas e comprovações. Não basta, pois, vencer uma partida. É necessário ter uma sequência para que, então, surjam confirmações. É a lógica específica da bola, que ora ergue, ora faz despencar os créditos. Nesse domingo, o Clube Atlético Assisense colocou, dessa forma, em xeque o que parecia uma convincente vitória sobre o Vocem (2x0) no derby de uma semana atrás. O Falcão do Vale entrou querendo reassumir a liderança perdida provisoriamente para o Grêmio Prudente, ontem, e saiu do Tonicão com a possibilidade de dividir, com o próprio Vocem, a quarta colocação do grupo 1. Mais elucubrações desse fascinante universo do futebol.

Atlético Assisense e Bandeirante de Birigui entraram no Tonicão, às 10 horas, em situações opostas, sabedores da vitória do Grêmio Prudente, ontem, sobre o Vocem (1x0). Os mandantes dependiam de uma vitória para reocupar o posto de líder, assumido pelo rival de Presidente Prudente. Já os visitantes vinham de resultados adversos que, em combinações, poderiam colocá-lo fora até mesmo da zona de classificação entre os 3 melhores quartos colocados que avançam para a segunda fase. Era vencer ou vencer, para ambos os lados.

De minha parte, precisava acreditar que o futebol dos 2x0 no derby contra o Vocem realmente correspondia à realidade do grupo do Atlético Assisense ou se foi situação isolada implicada do clima de rivalidade criado na cidade desde o início do ano. Nem vou delongar no texto e usar de análise do que foram os momentos bons e ruins da partida de hoje para tirar e externar minha conclusão. Sim, o Atlético Assisense que vi hoje, contra o Bandeirante, não é nem sombra daquele time da semana passada. Parece ter jogado tudo numa partida só e esgotado o repertório. Tem, na minha opinião, que recomeçar da estaca zero.

O Bandeirante começou o espetáculo futebolístico desse domingo de maneira que considero digna. Não esquecendo nem ignorando o lamentável episódio que manchou seu histórico, três semanas atrás, quando de jogo contra o Vocem, em Birigui, a comitiva visitante condenou publicamente as manifestações de racismo. Uma faixa levada pelos jogadores ao centro do gramado do Tonicão deixava claro que o Bandeirante não compactua com o comportamento de parte de sua torcida, que fez xingamentos ao técnico Buião, do Vocem, naqueles 2x0 sofridos para o time de Assis na segunda rodada.

Já o Atlético Assisense vinha de uma semana tranquila, com anúncio de reforços e um clima interno positivo favorecido pela vitória no derby da cidade. O discurso era de cautela, mas parece que isso foi traduzido em excesso na postura dos atletas dentro de campo. Havia mais torcedores apoiando o clube local nas arquibancadas do Tonicão, em comparação com os 423 pagantes do confronto Assisense 2x1 Osvaldo Cruz, duas semanas atrás. A determinação de conseguir a terceira vitória em 3 jogos consecutivos dentro do mesmo estádio ruiu com a meta de 100% de aproveitamento dentro de casa no primeiro turno da primeira fase.

Até os 20 minutos iniciais a postura tática do Falcão do Vale foi boa. Não havia o mesmo sangue nos olhos dos 90 minutos de derby contra o Vocem, mas a principal característica do time de Assis prevalecia, ou seja, o toque de bola e o domínio com ela, a redonda, no chão. O cenário na ensolarada manhã de futebol no Tonicão era de um mandante tecnicamente bem armado e um Bandeirante mais forte fisicamente, porém  visivelmente limitado. Seria a consumação proverbiana de água que fura de tanto bater, uma vez que o Assisense tinha a posse de bola e o visitante, a retranca oportunista de explorar o contra-ataque.

Em números, o cenário do jogo mostrava o Atlético Assisense tendo chegado ao ataque, com perigo, em cabeceio ao gol adversário logo a 1 minuto de bola rolando. O Bandeirante ameaçou a meta do goleiro Augusto somente aos 20 minutos, na primeira falha coletiva da zaga.

Passada a primeira metade do tempo inicial, contudo, o Bandeirante mudou sua forma de jogar. Ao contrário do que fez no derby, o técnico Alison Moraes segurou os laterais e fortaleceu a marcação pelo meio. Ignorou, contudo, que era o mandante e que esse sistema de plantar 4 defensores submete o setor de criação à forte marcação adversária. A ficha caiu e o Bandeirante é quem inverteu as regras do jogo. A partir dos 25 minutos do primeiro tempo o time de Birigui formou um 3-5-2 veloz, que explorava as costas da linha defensiva armada por Alison Moraes. Era sair um gol e a casa cairia. O gol saiu e a casa, claro, caiu pelos lados do Falcão do Vale.

Não demorou mais do que 10 minutos essa fase de transição entre o domínio do Atlético Assisense e a demonstração de poderia tático do Bandeirante. Aos 30 minutos iniciais o time visitante abriu o placar em falha generalizada da defesa local, incluindo o goleiro Augusto, e fez 1x0. Era óbvio que a derrota, mesmo que parcial, não fazia parte dos planos de um Falcão do Vale que vinha de vitória em clássico nos domínios do adversário. Perder para o Bandeirante, em queda, significaria reabilitar o adversário e retornar à sensação de desconfiança do início do campeonato. Estava aí, pois, a pressão que faria diferença na cabeça dos jovens que vestiam a camisa do Azulão de Assis.

Com 1x0 no placar o Bandeirante passou a abusar da condição de visitante. Extremamente faltoso, o time de Birigui minou o emocional dos donos da casa. Levou o jogo para o intervalo em meio a uma sensação de que sabia exatamente o que fazer, ao passo em que o Atlético Assisense parecia não saber o que nem como fazer para sobressair ao sistema tático adversário, que passou a ser o tradicional 4-2-3-1, com apenas um atacante isolado na frente. Do lado mandante, prevaleceu uma certa confusão tática, infinitamente diferente daquela que foi a principal virtude no histórico jogo de uma semana antes.

Raça - Na etapa complementar o Bandeirante não teve vergonha de ser um legítimo time de Segunda Divisão. Goleiro caído fazendo cera antes dos 10 minutos, massagista lerdo e chutões; muitos chutões para o lado em que o nariz apontava. Do lado do Atlético Assisense a conversa de vestiário parecia ter surtido efeito. O time mandante ao menos esboçou uma tentativa de recolocar a bola no chão, porém não contava com a barreira tática feita pelo adversário visitante.. O sistema 4-3-3 do Bandeirante fazia com que as laterais se fechassem atrás e houvesse um meio-campo marcador o suficiente para neutralizar o setor de criação do Falcão do Vale. Eu diria que o Bandeirante fez, hoje, o que faltou ao Vocem no domingo passado.

Com um nó tático difícil de desatar o Atlético Assisense caiu com o próprio desespero. Imaturo, o técnico Alison Moraes teve uma desnecessária discussão com um dos árbitros auxiliares, por motivo fútil. Em campo, a instabilidade emocional contagiava os jogadores, que não rendiam o esperado, nem com as substituições feitas pelo treinador. Time apático em campo, torcida impaciente nas arquibancadas. Não faltaram provocações vindas da torcida, que por diversas vezes bradava que era para o Atlético Assisense ao menos fingir que o adversário era o Vocem.

O golpe de misericórdia na infeliz manhã do Atlético Assisense foi dado aos 39 minutos. Penalidade infantil e 2x0 para o Bandeirante, que se reabilita na Segundona a tempo de ainda sonhar com a liderança do grupo 1 nesse primeiro turno. Os 574 torcedores que pagaram ingresso para o jogo deixaram o estádio vendo um Falcão do Vale derrotado não só pelo placar, mas pelas próprias forças. Não repetiu o bom futebol de uma semana atrás, começa a semana precisando resgatar o prestígio e vai para a última rodada do turno precisando vencer o Presidente Prudente FC, no estádio Prudentão, para dar sequência ao projeto de 2014.

De minha parte, confesso que saí do estádio Tonicão frustrado, mas não surpreso. Questionei, domingo passado, se a vitória inquestionável sobre o Vocem, no derby, seria fruto de um estímulo de momento ou se aquilo correspondia ao que viria a ser a melhor formação do Atlético Assisense desde a sua criação. Fico mais com a primeira opção, reconhecendo que, igualmente, hoje, contra o Bandeirante, pode ter ocorrido o contrário e os visitantes é que encontraram o jeito único, isolado, de forçar o adversário mandante ao erro. Nós táticos que precisam ser desatados pelo técnico Alison Moraes, que por sua vez precisa ser chamado pela comissão técnica para uma conversa séria, de maneira que, como comandante que é, não seja mais imatura do que o próprio grupo com idade predominante abaixo de 23 anos. Se cheguei ao Tonicão de olho no lateral esquerdo Felipinho, cujo temperamento preocupou-me no derby, saí de lá com olhares cautelosos sobre o treinador, que parece não ter comando à beira do gramado e quase nenhum poder tem sobre os comandados nas situações adversas de jogo.

Queda - Terminada a rodada, o Bandeirante passou a ter o mesmo número de pontos que Vocem e Assisense, na tabela de classificação. Os três clubes dividem os mesmos 6 pontos e ficam atrás do Grêmio Prudente, que é líder isolado do grupo 1. O prejudicado maior é o Atlético Assisense, que de líder caiu para quarto colocado, pelos critérios de desempate, uma vez que os 2 gols sofridos hoje o deixaram novamente com saldo negativo (1 gol). Já o Vocem, apesar da derrota de ontem para o novo líder Grêmio, sai ileso, pois tomou somente um gol, mantém o saldo zerado mas fica à frente do Bandeirante, na vice-liderança, no critério de confronto direto (venceu em Birigui por 2x0, três semanas atrás).

O duelo Osvaldo Cruz x Presidente Prudente terminou com vitória, no final da tarde, dos mandantes por 2x1. Isso torna o grupo 1 um dos mais equilibrados da Segundona 2014, já que o Osvaldo Cruz subiu aos mesmos 4 pontos que o Presidente Prudente, mas é favorecido pelos critérios de desempate que igualmente primam pelo confronto direto.

Vocem e Assisense voltam a campo, na última rodada, em situações igualmente distintas e com apenas uma coincidência: entram em seus jogos conhecedores do principal duelo da quinta rodada, entre Bandeirante x Grêmio Prudente, na noite de sexta, em Birigui. O Falcão do Vale retorna ao estádio Prudentão para enfrentar, no sábado, o Presidente Prudente. Não pode, jamais, sonhar com mais uma derrota, já que isso o distanciaria dos três primeiros colocados, colocaria pressão na campanha do segundo turno e daria chances de o Presidente Prudente FC continua na briga, nem que seja pela quarta vaga do grupo. Voltar de Prudente com 1 ponto não seria o mais desastroso dos resultados para o Falcão.

Já o Vocem recebe o Osvaldo Cruz, que como o Presidente Prudente é lanterna do grupo. Precisa fazer o dever de casa, domingo que vem, no Tonicão, e se for favorecido por um empate entre Bandeirante x Grêmio Prudente, pode fechar o primeiro turno como líder da chave. Perder esse confronto seria trágico, pois o terceiro resultado negativo consecutivo, além do impacto no projeto traçado, dificultaria a trajetória rumo à classificação, considerando a proximidade de pontuação dos demais concorrentes que se encontram nas últimas posições.

Fotos: Blog do Messias
Blog do Messias

Ao entrar em campo, mensagem do Bandeirante
contra o racismo de sua própria torcida

Trio de arbitragem não comprometeu
nos 90 minutos em que a bola rolou

Equipes durante execução dos hinos de Assis e Nacional

Antes de a bola rolar, reunião no centro do campo

O público desse domingo foi de 574 pagantes





*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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