03 ABRIL 2013
Cláudio Messias
Os frequentadores do Parque Buracão conhecem, e bem, a manhosa gata que habita as proximidades daquele espaço que um dia foi uma estufa para o cultivo de orquídeas mantido pela Associação dos Orquidófilos de Assis. Com pelagem nas cores branco e amarelo, ela curiosamente não tem nome. Mesmo tendo um incontável número de 'donos'.
Avistei pela primeira vez aquela gatinha em 2003, fazendo caminhada com Rozana, a esposa. O que chamou atenção é que era um filhote com poucas semanas de vida, solto, ali, acompanhado por duas vasilhas plásticas, de margarina: uma com ração, outra com água. Interrompi a caminhada porque a felina, quando dei atenção, veio, miando, com o rabo em riste, como que pedindo adoção.
Fiz carinho nela, que deitou-se com a barriga pra cima. Mas, quando passei a mão em sua barriga, um abrupto fechar das patas, cravando as unhas e, em seguida, uma mordida. E a gatinha saiu em disparada, parando alguns metros à frente, olhando para trás como quem acabara de colocar limites na forma de afago.
Nos últimos dez anos comecei e interrompi minhas prometidas caminhadas, ora matinais, ora de finais de tarde, no Parque Buracão. Ganhei peso, perdi peso, e nesse efeito sanfona lá esteve, sempre, a gatinha amarela.
Um detalhe, desde o início, chamou atenção. Mesmo fazendo aquele de chiado com a boca, com que chamamos os felinos caseiros, a gatinha não atendia. Experimentei fazer o som com que espantamos os gatos caseiros, e nada. Bati os pés no chão e, aí sim, a gatinha olhou. Sim, aquele pequeno ser, além de abandonado, é surdo.
Não sei, ao certo, se aquela gatinha é abandonada. Não lhe faltam ração e afagos. Toda caminhada que faço, desde que a encontre, paro para, com cuidado, dar afago. Imagino que ela seja castrada ou que algum voluntário periodicamente lhe dê vacinas. Mas pode ser, também, que trate-se de um exemplar macho. Afinal, nunca tive coragem, depois da mordida sofrida, de entrar nesses detalhes de obervação.
Nessa segunda-feira, 1/04, reencontrei aquela moradora ilustre do Buracão. A achei abatida, talvez pela idade avançada. Dizem que 1 ano, para os gatos, corresponde a 10 anos vividos por um ser humano. Se isso proceder, a gatinha amarela está prestes a ser centenária.
É mais um ser que chegou sem pedir, instalou-se, conquistou a todos e pelo fato de nem sempre ser visto, quando partir, pouco será lembrado. É nesse aspecto que gatos, cachorros e passarinhos assemelham-se a seres humanos. Damos valor à vivência com aqueles que avistamos. E quando não mais avistamos porque a perda, pela morte, ocorreu, até mesmo a lembrança, com o tempo, acabará. E muitos, assim, nem sentem saudade.
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