Cláudio Messias*
Li, no Jornal da Segunda Online, que o Vocem também teria enviado representante para o conselho técnico que nessa quarta-feira apresentou parte das cartas do jogo, na Federação Paulista de Futebol, para a disputa da Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 2014. Flexiono o verbo "ter" por força do hábito, pois, se saiu no Jornal da Segunda e das mãos de Reinaldo Nunes, o nosso Português, o correto é dizer que tinha, sim, um representante do Vocem naquela reunião formal.
Na condição de blogueiro/colunista tenho, cá, de render-me à minha própria contradição para escrever esse texto. Um ano e meio atrás publiquei no Assicity um texto em que dizia não ser assisense, mas, sim, vocemista. Trocadilho sobre minha natureza nessa Sucupira do Vale e meu coração que bate forte pelo futebol. Amo e eternamente amarei o Vocem, porém, reconheço, a página da história virou. O projeto do Clube Atlético Assisense de 2013 pegou-me direto no coração que bate pelo futebol. Fui ao estádio e tomei chuva e queimei a careca no sol, sintonizei rádios online e cheguei a ter amigos preterindo minhas postagens nas redes sociais, tamanho meu fanatismo pelo Falcão do Vale na temporada passada. Vocem, hoje, é um lindo passado. E basta.
Clube Atlético Assisense e Vocem no conselho técnico nessa tarde de quarta é mero detalhe. Que me desculpem aqueles que estão por trás do projeto do Vocem, mas seu ideal é natimorto. Por piores que tenham sido as condições em que o Assisense disputou, até 2012, a Segunda Divisão, Assis esteve representada pelo Falcão do Vale no Campeonato Paulista. O último Vocem remete a uma década de 1990 e sucessivas iniciativas frustradas. Além de Mauro dos Santos, competente, os demais não passaram de pessoas com as melhores das intenções. E boa intenção não leva ninguém a nada nesse mercenário universo chamado futebol. Que o diga o próprio Carlos Antunes, o Boi, que no período 2006/2012 comeu o pão que o diabo amassou com o rabo na gestão do único clube de futebol da história de Assis que leva o nome não da cidade, mas de seus habitantes.
Não renego meu histórico com o Vocem. Vesti aquela camisa um dia, ajudei a lotar estádios e quis, sim, o retorno da camisa branca e grená ao campo do Tonicão. Mas isso, até 2012. Em 2013 a massa da cidade recomeçou a rotina de ir ao estádio Tonicão. E eu faço parte da massa. Faço inimizades por causa do futebol, altero meu humor quando meu time perde. E meu time, raro e exceto leitor, é aquele que representa a minha cidade. Desde 2013, o Assisense voltou a ser meu, como em 2004, doa a quem doer. Vi, no grupo de empresários que abraçou o projeto, sangue nos olhos. Não, não os conheço nem faço parte de seus círculos de amizade. Apenas acreditei que eles amam o futebol com a mesma paixão que bate em meu peito e me faz ir às últimas consequências defendendo a agremiação que leva o nome meu, cidadão assisense, cá nascido e cá, futuramente, 'morrido'.
Ontem à noite soube que o grupo de empresários que apoiou o Clube Atlético Assisense em 2013 teria transitado para o projeto de retomada do Vocem. Optei por não acreditar. Afinal, aquele projeto que assisti um ano atrás (repito: jamais tive qualquer contato ou relação de amizade com esse grupo) era sério demais para chegar a uma situação dessa, de palhaçada. Sim, defino como humorística, não séria, qualquer sinalização que leve a uma troca de projetos entre Assisense e Vocem. É, na prática, a vivência futebolística do amor e da paixão. O Clube Atlético Assisense, metaforicamente, é o amor; o Vocem, a paixão. Na realidade dos últimos 15 anos, o Assisense é para casar; o Vocem, para ficar. Clube Atlético Assisense é sinônimo de casamento duradouro, enquanto o Vocem representa, por seu histórico das últimas décadas, uma aventura amorosa que pode findar quando a frágil chama ceder ao áspero cotidiano de vivências.
Sim, bons projetos surgiram com a marca Vocem nos últimos anos. Todos relacionados ou ao futsal ou a bons projetos que revelam craques desde a infância, nas quadras ou nos gramados. Enquanto isso, Carlos Antunes, o Boi, com, novamente, o perdão do trocadilho, comia grama para manter o Assisense em pé, submetendo-se a humilhantes situações amplamente divulgadas pela imprensa local. A dona Conti Bier patrocinava lá, de olho cá, pois a Malta, concorrente, havia sido a base econômica do melhor projeto da história do Assisense, em 2004, quando tínhamos Roberto Amorielli, o Mé, e Edson Fiúza, o troglodita, à frente de um projeto sóbrio que envolvia outros nomes de credibilidade como o ex-goleiro Marinho e o ex-atacante Vidotti. O "quase" impediu o projeto de acesso á Série A-3 naquele ano, enquanto em 2013 o nome dessa zica é Ademílson Venâncio, o retranqueiro técnico que não soube armar o bom time que tinha em mãos.
O que defendo, hoje, é a manutenção do projeto do Assisense. Para que o clube agora presidido por Carlos Antunes "Boi" não caia em igual rotina de incertezas que caracterizou o Vocem de duas décadas para cá. A pancada da ausência de apoio, da noite para o dia, já foi um baque danado na credibilidade de Assis perante as praças esportivas tradicionais do Estado de São Paulo depois do biênio 2004/2005, quando o clube experimentou seu grande projeto. Clubes que naquelas temporadas cá vieram jogar hoje encontram-se na Primeira Divisão, como é o caso do Linense. Ou seja, cidades com porte igual ou até menor do que o de Assis mantiveram seus projetos e colheram frutos. Custa, portanto, dar continuidade ao projeto nascido em 2013? E até quando, ao ir a jogos fora de Assis, ouviremos colegas jornalistas e~/ou gestores de clubes perguntando: "será que agora vai?".
Caso realmente haja essa transição de apoio empresarial, de maneira que o Assisense fique sem os apoiadores do ano passado e esses invistam no Vocem, muito mais que palhaçada, ficará comprovado que somos uma cidade sem identidade e com ausência total de seriedade. Faremos jus a uma Assis que tem um estádio com 21 anos de idade e ainda incompleto, sem arquibancada coberta e sistema de iluminação e com o mesmo péssimo gramado. Em textos anteriores critiquei esse perfil gestor de Assis, que começa projetos e os abandona antes da conclusão. É a confirmação de que a nossa classe política, de direita, de centro ou de pseudo-esquerda, é fraca, incompetente e incoerente, mirando apenas a ponta do próprio nariz e levando suas ações à base da emoção, em detrimento da razão. O Clube Atlético Assisense é razão; o Vocem, emoção.
Avançaremos, se isso se confirmar, na sustentação do vergonhoso título de cidade que tudo começa e nada termina. Eu e os demais centenas de torcedores, com famílias inteiras, que lotávamos gradativamente as arquibancadas do Tonicão na temporada passada para ver e apoiar o Falcão do Vale seremos desrespeitados de maneira que classificarei esse tipo de ação como imperdoável. As lideranças políticas envolvidas nessa suposta mudança de rumo de projeto que nos aguardem, pois além de adversários no universo do futebol, ganharão de nós, a massa, a rejeição plena. Portanto, aqueles que envolvidos estiverem nesse jogo obscuro saibam desde já em que vespeiro estão botando as mãos, pois se tem uma coisa que torcedor de futebol não tolera é trairagem. E tirar apoio do Clube Atlético Assisense é trairagem da pior espécie. Nada nada, 2 mil votos, já que o ano é eleitoral. E torcedor eleitor é, acima de tudo, consumidor.
Os empresários envolvidos nesses projetos precisam, igualmente, ficar atentos. Trocar o certo pelo incerto não é bom nem na Esbórnia, quiçá na Sucupira do Vale. Ceder, pois, ao oportunismo de gastar mais dinheiro e acreditar que Assis chegará à Série A-3 por outros caminhos e sedes é deixar claro que a paixão pelo futebol é secundária, lançada a segundo plano. O Assisense, meus amigos, é um projeto em andamento e nada comparado a um projeto que começa da estaca zero. E tenho certeza de que não vai parar, pois, estou sabendo, Carlos Antunes "Boi" continua assessorado por pessoas que entendem do mercado do futebol. Não têm o dinheiro dos empresários que lá colocaram suas marcas em 2013, mas sabem montar time e têm acesso aos corredores nebulosos da Federação Paulista de Futebol. Mais de meio caminho andado, para o bom entendedor.
Minha lamentação é que o nome do Vocem seja envolvido nesse tipo vergonhoso de jogo às escuras. Competentes fossem os responsáveis por essa articulação e o Vocem teria sido retomado em projeto em 2012, de maneira a ter, ele, clube, sido registrado em 2013 para a disputa da Segundona. Mas, não. Da noite para o dia vão ao conselho técnico da Federação e sinalizam com a possibilidade de também solicitar inscrição. Mau começo, pois projetos são sinônimo de planejamento. E planejamento de um clube de futebol tem de ser aberto com a essência chamada "público". E eu, que sou do público, não me recordo de uma publicação ou mesmo especulação, formal ou informal, sobre essa possibilidade de retorno do Vocem. Repito: é a troca do certo pelo incerto. No universo dos trocadilhos, Falcão é pássaro na mão, enquanto outros projetos são pássaros voando. Pardais, eu diria.
As notícias que estouraram nas últimas horas carecem até mesmo de elementos básicos do bom jornalismo para ganhar veracidade. Para sair da condição de fato e virar notícia formal precisaríamos saber, por exemplo, quem foram os representantes do Vocem que nessa tarde de quarta-feira estiveram na sede da Federação em São Paulo. A pergunta, na noite passada, nos círculos de amigos, era uma só: mas quem está por trás disso? Ninguém sabia responder. Diferente do Assisense, que tem diretoria e conselhos constituídos em franco trabalho de preparação para a disputa da Segundona.
Se tudo isso não passar de especulação, ótimo, é vida que segue. Se for realidade, que o Vocem convença a Federação Paulista de Futebol de que as pendências trabalhistas que arrastam-se há anos nos tribunais são passíveis de solução e que Assis, que tem um estádio incompleto, dota de condições para ter dois times cá jogando pelo mesmo torneio. Isso feito e Vocem e Assisense na disputa, que o Falcão do Vale obtenha o acesso para a Série A-3, pois é dele o projeto palpável, real, que está na boca do povo. Porque de promessa e falação eu, você e toda a população de Assis estamos de saco cheio. E faz um bom tempo.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
2 comentários :
Caro amigo e xará.
Concordo em gênero, número e grau. Também sou vocemista fanático, ou abrindo mais mais o baú, marianinho roxo, como eram chamados os torcedores do Vocem no seu início (Audite Vocem Dominus) como está escrito no brasão, complementado pela inscrição Non ducor duco. Acompanhei durante anos o Vocem, dentro e fora das 4 linhas, porém o que era sonho quase que realizado, que diga o ex jogador Renatão) hoje não passa de meras quimeras(desculpe a redundância). No início também olhei com desconfiança para o projeto do Assisense, mas depois da campanha de 2013, um lampejo de esperança voltou a brilhar e acredito que agora é hora de unir e não dividir. Já tivemos o CAC, o Paraguaçuense, o Pamiltal e hoje só nos resta o Assisense e é em torno dele que precisamos estar e quanto aos nossos políticos, bom deixa prá, aliás, prá que é que eles servem mesmo?
concordo com vcs plenamente, não acho certo isso que esta acontecendo, so que por outro lado seria sensacional a cidade ter dois times, mais os dois times com um bom apoio financeiro, com estrutura de trabalho e etc. Seria uma coisa surreal um clássico da cidade, mais nao esquecendo que ambos os times contassem com um bom apoio e nao esquecendo um ou outro. Desculpe se não escrevo bem igual a vcs sou apenas um torcedor apaixonado por futebol, Messias Gostaria que vc postace mais sobre esse assunto e mais sobre o que vai acontecer.
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