sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Álcool de Assis é um dos mais caros do Estado

Cláudio Messias*

Em um passado não muito distante o argumento dos usineiros para justificar e/ou compensar o impacto da presença de seus agronegócios na região tinha por premissa o preço, segundo eles mais baixo, pago pelos consumidores regionais pelo álcool combustível. Região produtora, preço menor. Podia comparar, somente, quem periodicamente viajasse por outras regiões ou Estados.

Naquele mesmo passado recente os usineiros alegavam gerar empregos, remunerar com valorização os proprietários das terras arrendadas e deixar, aqui, parte do lucro gerado com as produções de açúcar e álcool. Mais um discurso furado que caiu por terra com o passar do tempo. Hoje, a colheita mecanizada emprega 1/5 da força de trabalho humana de duas décadas atrás, o valor de arrendamento praticamente inviabiliza a vida dos proprietários de terras cada vez mais detonadas pela monocultura da cana-de-açúcar e o dinheiro entendido como lucro vai para outros bancos, inclusive internacionais, menos para a economia primária da região, resultado da venda e/ou fechamento das principais usinas e destilarias do Médio Vale.

O resultado disso tudo, claro, não traz elementos positivos para Assis e região. O monitoramento de preços praticado semanalmente pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) torna desnecessário que viajemos para outras regiões e, assim, comparemos o quanto somos esfolados pelas usinas produtoras de etanol que tanto sujam nossos quintais, matam queimados nossos poucos animais silvestres restantes e tornam improdutivas terras que pertencem a um dos cordões mais férteis do planeta. Sim, pagamos caro demais pelo litro do álcool combustível, que igualmente deixou de ser vantajoso em relação à gasolina, dada a oscilação de preços.

Dando sequência à publicação que iniciei ontem mostro, agora, o quadro de desempenho dos preços cobrados, na bomba, pelos postos revendedores de combustíveis, por cada litro de álcool, o etanol. Começo pelos parâmetros que a ANP nos dá para verificar os preços em nível nacional. Assim, em janeiro de 2013, um ano atrás, o preço médio do litro do combustível derivado da cana-de-açúcar era de R$ 1,95, resultado de pesquisa presencial feita em 39.584 postos. No estado de São Paulo, em 11.736 postos, o preço era de R$ 1,82. Em Assis, com 120 postos pesquisados, o valor era de R$ 1,86.

Em relação ao levantamento anterior, publicado aqui no Blog e relacionado ao desempenho dos preços do litro da gasolina, minha pesquisa junto aos dados da ANP contempla duas outras praças. Além de Assis, Marília, Ourinhos, Paraguaçu e Prudente eu busquei parâmetros em Barretos e Araras. Isso se deve ao fato de as duas regiões serem apontadas pela Secretaria de Estado de Energia como as principais produtoras paulistas de cana-de-açúcar. Afinal, realmente, quem produz etanol favorece a população regional com preços mais acessíveis? Os números mostram que não é bem assim.

Em janeiro de 2013 Marília era a cidade com litro de álcool mais caro entre as 7 localidades que monitorei via ANP. Na capital da Alta Paulista o litro do etanol valia R$ 1,87, somente um centavo a mais que Assis, Prudente e Araras, regiões produtoras. Ourinhos, que também é região produtora e centro distribuidor de combustíveis, vendia o álcool mais barato: impressionante R$ 1,55, ou seja, 22 centavos mais em conta do que Marília.

A entressafra da cana-de-açúcar vai da última semana de dezembro até o final de março. Nesse período o preço do litro do álcool, estocado nas usinas e distribuidoras, aumenta exatamente porque há consumo e não há demanda de produção. Daí a explicação para o fato de a unidade do combustível passar a R$ 1,98, em abril, em Marília, que continuou tendo o etanol mais caro entre as localidades monitoradas. Em Ourinhos o preço teve acréscimo de 19 centavos na entressafra, o mesmo ocorrendo na maior parte das demais localidades.

O auge da produção de etanol foi atingido pelas usinas em agosto, mês em que os canaviais atingem o ponto máximo de maturação e o acesso às zonas de colheita é facilitado pela estiagem e pelo clima ameno. Não por acaso, o valor de cada litro do etanol teve queda sensível. Em Ourinhos, por exemplo, atingiu o piso mais baixo do ano, comercializado a R$ 1,42, deságio de 13 centavos se comparado a janeiro. Em Assis, também, o preço mínimo foi registrado naquele mês de agosto, mas com comercialização a R$ 1,71. Marília e Araras venderam o litro mais caro entre as localidades pesquisadas: R$ 1,78.

No geral, as cidades que em 2013 venderam o álcool mais caro entre as 7 cidades consultadas no banco de dados da ANP estão Marília, Araras, Assis e Presidente Prudente. A novidade em relação ao levantamento anterior, da gasolina, é que Ourinhos dividiu o trono de combustível mais barato com Barretos. Em 12 meses, o preço barato de etanol foi encontrado por 10 meses em Ourinhos e por 2 meses em Barreto. Nessa última cidade o combustível chegou mais em conta às bombas nos meses de outubro e novembro.

Atualmente, em Assis, o litro do álcool combustível é encontrado por R$ 1,93, valor que, também praticado em Araras, é o mais alto entre as 7 cidades pesquisadas via ANP. Ourinhos continua com o preço mais acessível de todos: R$ 1,73. No estado de São Paulo, o preço por litro, em média, é de R$ 1,88. Em nível nacional, o valor por litro é de R$ 2,01.

O estado com o preço do litro de álcool mais caro, hoje, é o Acre, onde a unidade é vendida a R$ 2,65. O estado com menor preço é São Paulo, maior produtor do país e único da nação onde o etanol é vendido na bomba abaixo de 2 reais: R$ 1,88.

Na próxima postagem, parâmetros sobre os preços praticados por revendedores de gás de cozinha, o GLP.





*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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