domingo, 17 de maio de 2015

ANÁLISE DA RODADA - Atlético Assisense começa a sair da briga por acesso

Cláudio Messias*

Desde 2013, quando retomei o acompanhamento do(s) clube(s) de Assis na disputa da Segunda Divisão, o fundo do poço do Campeonato Paulista, debruço em análises que não ficam restritas à realidade dos clubes que disputam a chave 'política' regional decidida pela Federação Paulista, ou seja, o Oeste do Estado de São Paulo. Considero, nesse ínterim, o desempenho de todos os clubes que disputam o certame, no Estado inteiro. É nesse Ranking do Blog que, entendo, mostram-se forças passíveis de, mediante regularidade a ser confirmada, obter o acesso. E em 2015 essa projeção de acesso torna-se impreterível desde cedo, uma vez que a atual forma de disputa das divisões inferiores do Campeonato Paulista passará por radicais mudanças a partir da temporada de 2016.

Diferente dos dois anos anteriores, esperei passar 5 rodadas para fazer o primeiro prognóstico. Vi, nesse tempo, quatro jogos realizados no estádio Tonicão. Foram três confrontos do Atlético Assisense e um do Vocem. Gostei do que vi nas duas equipes, com ressalvas às restrições quanto ao primeiro tempo da goleada do Esquadrão da Fé sobre o Osvaldo Cruz (5x1) e ao desempenho do Falcão do Vale na vitória sobre o José Bonifácio (2x1) e a derrota para o Osvaldo Cruz (1x2). Um Vocem com dificuldades táticas nos primeiros 45 minutos e um Atlético Assisense que não consegue concluir em gols as oportunidades que cria. Circunstâncias normais de início de campeonato, que o Vocem soube superar e consertar, sob a competência de Sérgio Caetano, e que o Atlético Assisense vê piorar a cada rodada, para desespero do igualmente competente Carlos Alberto Seixas.

Recordo apenas de um início de campeonato tão avassalador quanto ao do Vocem de 2015. O mesmo Vocem, só que presidido pelo corajoso e solitário Mauro dos Santos em 1998, atropelou a tudo e a todos naquela Série B-2. E com a dificuldade de ter de viajar mais de 300 km para jogar, em um período em que a Federação Paulista de Futebol não guardava preocupação alguma com os clubes que buscavam sair do fundo do poço. Se hoje é caro, para a realidade da Segundona, disputar um torneio dividido por chaves regionais, naqueles anos de chumbo dos finais da década de 1990 era muito mais custoso. Sem apoio da cidade e driblando as dificuldades financeiras o Vocem de Mauro dos Santos concluiu mais uma campanha de 'quase acesso'. Deixou excelentes e dramáticas lembranças, e com certeza serviu de base para trabalhos futuros que tentaram tirar Assis do anonimato no futebol profissional do maior e mais importante campeonato regional de futebol do país.

O Vocem 2015 faz jus à condição de seu lema Vocem Forte 2015. Força para vencer todos os adversários que foram até Assis e força para abater quase todos os mandantes que o receberam. Já são 13 pontos no total, campanha semelhante à do Grêmio Prudente. Cinco jogos, quatro vitórias e um empate. No comparativo com os outros dois grupos da Segundona 2015 o Esquadrão da Fé soma a melhor campanha. Além do Grêmio, divide com o São Bernardo o mérito dos três clubes que ainda não perderam. Sim, de 30 clubes em disputa, somente os três ainda não perderam nesse certame. Melhor que isso, o Trio de Ferro abriu 5 pontos sobre aqueles que encontram-se no limite do G-12, ou seja, os doze clubes que hoje, por melhor campanha, estariam em francas condições de brigar por uma das 4 vagas na Série A-3 de 2016.

Minha metodologia para definir os clubes em condições gerais de buscar o acesso é simples. Parto da premissa que a proposta do regulamento da Segunda Divisão afunila os três grupos em disputa, de maneira que na penúltima fase sejam conhecidos os 4 promovidos. Logo, se as campanhas serão cruzadas no final, a lógica é que quem hoje está no Grupo 1, por exemplo, de Vocem e Grêmio Prudente, precisará ter campanha compatível à daqueles que estão nos Grupos 2 e 3 para, assim, dividir forças para decidir o acesso. Ter, portanto, a Classificação Geral, a que denomino Ranking do Blog, permite parâmetros sobre, primeiro, quem são os 12 clubes em condições, desde já, de chegar à próxima fase para, aí sim, iniciar o afunilamento para o G-4 definitivo.

É nesse ínterim que entra a preocupante situação do Atlético Assisense. Em 6 pontos disputados nas duas últimas rodadas o Falcão do Vale não somou nenhum e viu todas as gorduras acumuladas serem queimadas, zeradas. O clube de Assis aparece na quarta colocação do Grupo 1, ou seja, no limite da zona de classificação, igualado em pontos com o Fernandópolis e o Osvaldo Cruz. Com o primeiro tem a desvantagem no saldo de gols, enquanto no comparativo com o Osvaldo Cruz é esse fator que favorece no desempate. 

Mas, nos parâmetros gerais da Segundona, o Atlético Assisense perde força. Na semana passada o Falcão do Vale figurava como dono da 9.a melhor campanha, ou seja, mesmo perdendo em casa para o Osvaldo Cruz, ainda estava vivo na briga pelo acesso. A derrota de virada para o Fernandópolis (2x1), nesse domingo, soou como um golpe nos planos do clube de Assis, que distanciou dos outros clubes que estão nos grupos 2 e 3 e também sonham em chegar à Série A-3 ainda neste ano. Agora, o Atlético Assisense tem a 16.a campanha no Ranking Geral. Isso representa, estatisticamente, que em eventual repetição da história dos últimos três anos e uma classificação para a Segunda Fase, o Falcão do Vale passaria exposto a um tropeço e consequente eliminação.

Obviamente que ainda há muito campeonato pela frente e que a instabilidade, característica principal dos clubes que disputam a Segundona, pode estar por vir. Dificilmente, porém, Vocem e Grêmio Prudente deixarão, agora, a oportunidade de passar para a Segunda Fase. Mas, campanhas que se mostravam sólidas no início começam a revelar-se frágeis. A Portuguesa Santista teve, igual ao Atlético Assisense, uma retenção de rendimento nas duas últimas rodadas, ocasiões em que Olímpia, Elosport e Diadema também titubearam. Já Jabaquara, São Bernardo e São Carlos dão sinais de que começam a engrenar, fazendo jus à condição dos últimos anos de candidatos diretos a figurar o G-4 de seus respectivos grupos ao final dessa Primeira Fase.

Nos contatos que tenho mantido com colegas jornalistas que cobrem os clubes da Segundona aparece uma unanimidade de conclusão acerca do trabalho desenvolvido pelo Grêmio Prudente. Há, convenhamos, uma regularidade de frequência da agremiação prudentina na reta final do campeonato nos últimos três anos. O 'quase' tem sido um detalhe incômodo na história recente do Grêmio, que já superou, e muito, o que foi feito em tentativas passadas de investimento no futebol profissional de Presidente Presidente, como no caso do Prudentino e do Oeste Paulista, clubes hoje já extintos. Caso, no final do segundo semestre, seja confirmada essa trajetória merecida do Grêmio Prudente, haverá o coroar de um trabalho que desde 2013 profissionaliza o futebol na capital do Vale do Paranapanema, com solidez no projeto sócio-torcedor e ações de marketing que colocam boas e grandes empresas prudentinas para investir no sonho comum a todos.

Daqui a outras 5 rodadas estaremos no limiar da antepenúltima rodada da Primeira Fase. Haverá, pois, elementos mais sólidos de análise. Cinco jogos podem, nesse ínterim, colocar o atual lanterna geral da Segundona, Bandeirante, na briga direta pela liderança. Os mais céticos podem pensar assim, mas eu ainda prefiro acreditar na lógica do futebol, que diz que para o Bandeirante de Birigui brigar pela liderança será preciso, primeiro, que Vocem e Grêmio Prudente tropecem. Prefiro, eu, esperar ansiosamente pelo confronto direto entre essas duas equipes, marcado para o sábado, 30 de maio, às 15 horas, no estádio Tonicão. Jogo que não valerá somente a liderança do Grupo 1, mas, desde já, a condição do vencedor como consagração da melhor campanha da Segundona.



* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.

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