10 Fevereiro 2013
Cláudio Messias*
Ontem, dia
9 de fevereiro, completei 43 anos de idade. E aniversário é uma data que, além
de hipócrita, torna-te austero. As pessoas chegam-se, dão-lhe o cumprimento e
ora tecem elogios, ora desejam saúde, paz, felicidade e “muitos anos de vida”.
E você recebe tais pessoas com sorrisos, acolhe os abraços e/ou apertos de mãos
e diz “eu agradeço”.
Quarenta e
três anos de vida representam o equivalente a 15.695 dias de abrir dos olhos
após noites de repouso. Digo equivalente porque dia desses um rapaz de 14 anos
de idade, chamado João Navas, corrigiu-me na precisão de meu cálculos
referentes a dias consecutivos de determinados tipos de vivência. Ele se
referia a uma postagem que fiz pelos 18 anos de casamento que completei, em
2012, com Rozana Aparecida Lopes Messias. Navas, amigo de meus filhos, se
referia aos anos bissextos. E desde então tenho mais cautela em relação à exatidão
das exatas vivências cotidianas.
Acrescidos
os anos bissextos e consideradas as noites de sono que perdi/ganhei ora
trabalhando, ora cuidando das cólicas de meus filhos recém-nascidos, ou, então,
trabalhando como DJ na vida, creio que os 15.695 estejam praticamente ‘redondos’.
Não, não vou, raro e exceto leitor, entrar, aqui, nos detalhes do que ganhei ou
o que perdi nesses 43 anos de vida. Isso eu já o fiz e faço nos meus textos,
que chegam a meia centena aqui, neste Blog. O que quero, mesmo, é falar das
relações interpessoais.
Dia desses
li de Ruy Castro, a quem tive o privilégio de cumprimentar pessoalmente um dia
e a quem contemplei como testemunha de uma conversa/almoço lá pelos idos de
2009, que as redes sociais têm a frieza de uma lagartixa para as relações entre
pessoas. E dou-lhe razão. Ao que explico.
Ali no
primeiro parágrafo, logo atrás, eu defini o aniversário como uma data
hipócrita. Não, claro, que completar doze meses de vida seja hipocrisia. O que
considero hipocrisia é comemorar uma vez ao ano o Dia das Mães, Dia dos Pais,
Dias dos Namorados e Dia d@ Amante. Tudo bem, é uma oportunidade de nos
lembrarmos de pessoas importantes e, com tal referência, valorizarmos a
vivência cotidiana aproveitando a oportunidade. E se tem oportunidade, tem
oportunismo. Datas sazonais contemplam o comércio e pouco ou nada valorizam
pessoas.
Faço
aniversário um dia depois de minha mãe. E ela, seja no dia do aniversário, seja
no Dia das Mães, odeia receber panela, CD, DVD ou eletroeletrônico como
presente. E sabe por quê? Porque presente, para ela, tem de contemplar a sua
rotina, o seu eu, enfim, as suas necessidades mais condizentes ao momento em
que encontra-se sozinha consigo mesma. E os demais presentes listados
contemplam, direta ou indiretamente, o nós, e não o eu.
Já há
alguns anos eu presenteio minha mãe com perfumes ou peças de roupas escolhidas
com as sensibilidade feminina de minha esposa. Presentes que chegam recebidos
em forma de sorriso, de abraços de quem diz “obrigado, de coração”. E quer
retorno melhor ao ato de dar um presente de forma de valorização de outrem?
Então
retomo meu discurso relacionado à hipocrisia do aniversário. Pelas redes sociais,
como diz Ruy Castro, um amigo que você conhece ou conhece a você há mais de uma
década, pede solicitação para “ser seu amigo no Facebook”. Ao que você aceita.
E, então, passam a ser amigos.
Em um
rápido jogo de memória você se recorda dos anos em que convive com esse amigo,
que de real passou a virtual. Tudo passa em sua casa, menos circunstâncias que
envolvam aniversários. E de repente você faz aniversário e recebe uma mensagem assim desse amigo
real>virtual: “Parabéns, felicidades, muita saúde e fique com Deus”. Legal,
ele lembrou de seu aniversário e desejou-lhe parabéns. Mas, peralá. No seu jogo
de memória esse amigo nunca constou como quem tivesse lembrado um dia sequer
que você nascera naquela data, muito menos gastou pulsos telefônicos na época
em que não havia internet, muito menos reservou-se à tarefa de comprar um
cartão impresso sequer e mandar-lhe em forma de cumprimento.
No
Facebook esse cidadão é seu amigo. E foi o Facebook que lembrou esse seu amigo,
logo cedo, que havia um “evento” naquela data. E esse evento era justamente
relacionado ao seu aniversário. Tivesse você colocado que seu nascimento fora
em 25 de dezembro, sem sê-lo, e junto com Cristo o Facebook o tornaria um
privilegiado relacionado à data que representa um marco da era Cristã.
Ah, tudo
bem. Esqueçamos o Facebook e levemos em consideração que a data do seu
aniversário foi recordada por pessoas que mesmo antes das redes sociais já te
ligavam na data correspondente ao seu nascimento ou mesmo passavam pessoalmente
para deixar-lhe um abraço. Aí, sim, o contexto é outro. Tudo bem? Não. Nem
tanto. Continuamos a ser lembrados em datas específicas.
Você,
leitor, entenderá agora o que quero dizer. Vivemos, para boa parte dessas
pessoas, 364 dias anônimos. Se tivemos tristeza, dificuldade, êxito ou
felicidade, tudo será consultado na ocasião do cumprimento pelo aniversário,
naquelas inevitáveis perguntas que sucedem ao “feliz aniversário”: e aí, como
está a vida? Ao que você responde e o interlocutor, então, fica sabendo. Não.
Essas pessoas não são o que podemos chamar de amigos. São colegas, conhecidos ou
próximos. Amigo, mesmo, sabe de sua alegria, sua tristeza, de suas conquistas e
de seus tropeços. E não precisa ligar no dia do seu aniversário, muito menos ir
até você naquela data específica. Amigo, mesmo, é aquele que uma semana antes
prenuncia “já vai ficar mais velho, hein?!”.
Pode
parecer amargura, mas não é, não. Não tenho nada contra as redes sociais e,
sinceramente, as adoro. Passo mais tempo no Facebook do que cuidando de minhas
plantas, que são seres vivos tão importantes quanto meu canarinho, meus cães e
minha gata. Mas, sei bem separar o que é amigo, o que é colega e o que é
conhecido. Os aceito igualmente nas minhas interações virtuais, com a premissa
de que cada um tem um tipo de valor em afeto. Jamais, por exemplo, aceito o
convite para fazer parte e permitir que alguém desconhecido faça parte de meu
grupo de “amigos” do Facebook. Amizade, pois, é qualitativa, e não
quantitativa. Quem precisa de quantidade de amigos, virtuais ou reais, é político,
eleito ou não. E eu não tenho nem ensaio de político.
Meu
capital simbólico, quer queira, quer não queira, é a credibilidade. Desde os 15
anos de idade o que escrevo é consumido por interlocutores interessados em
informação. Uma pisada na bola, com uma barriga jornalística, e lá vou eu ter
de reencontrar o patamar de credibilidade antes atingido. E depois da
reativação deste Blog do Messias vi crescer o número de pedidos de amizade no
Facebook. Aproveito, pois, essa situação para esclarecer àqueles que tiveram o
pedido negado. Aliás, fundamentar e complementar, pois, como dito, minhas
interações são qualitativas e não quantitativas, falando a partir do senso
comum.
Recebi
muitos cumprimentos pela passagem de meu aniversário. Algo em torno de 20% do
total de “amigos” que tenho no Facebook. Pessoas que souberam de meu
aniversário pela seção de “eventos” da rede social e despacharam ora coisas
legais, ora coisas mais que legais sobre minha polêmica pessoa. Os outros 80%
deram mais importância ao fim de semana prolongado, ao descanso ou, simplesmente,
ao ato de ignorar o recado do Facebook de que determinadas pessoas estão
fazendo aniversário naquele dia.
Só no meu
rol de amigos somos em três que aniversariamos em 9 de fevereiro. Fora das
redes sociais conheço pessoalmente outros quatro que nasceram no mesmo dia que
eu. E alguns anos atrás cogitamos sobre a possibilidade de reunirmo-nos para
uma festa coletiva de aniversário. E nunca deu certo. Sabe por quê? Porque cada
um tem a sua rotina e seu valor social para a data. Aniversário, pois, é data
de passar com as pessoas que logo nos primeiros minutos em que você acorda
preparam-se para dar-te o abraço.
E nessa
hora do abraço do aniversário, meu amigo, nem a amante, para quem a tem, ocupa
espaço. Quem abraça primeiro é a esposa ou então a mãe. E depois vêm os filhos
ou os irmãos. Até o vizinho dá-te o abraço mais caloroso e valoroso do que o
colega ou conhecido que lembram-se de sua data de surgimento histórico. São as
pessoas que sabem qual o horário em que você desperta, tanto na semana quanto aos
finais de semana, coisa que “amigo do Facebook desconhece. E essas pessoas são
hipócritas por desejar-lhe “feliz aniversário”? Não, claro que não. Até porque
são as pessoas que dizem “feliz dia do advogado” no dia do advogado e caso você
seja advogado. E no Facebook a hipocrisia revela-se quando, coletivamente, o
desejo é de “feliz dia dos advogados a meus amigos advogados”.
A
hipocrisia a que me refiro, enfim, é relacionada à especificidade com que as
pessoas recordam-se de você. Gosto demais, mesmo no Facebook, de, quando
encontro um momento de 15 minutos de ócio, o que é raro, encontrar um amigo que
considero verdadeiro, chamar e dizer um simples “oi”. Desse cumprimento
chegamos à conversa que, mesmo virtual, levará a um reencontro, seja para um
chope, um suco ou um café. Amigos, os legítimos, permitem-se à conversa,
desdobram o diálogo e viabilizam o reencontro. Os demais, ou são colegas, ou
são conhecidos ou simplesmente não justificam a condição de pertencerem ao rol
dessas três categorias.
* Professor
universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação
pela ECA/USP.
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