Cláudio Messias*
Você, raro e exceto leitor, é
testemunha de minha ausência por esses dias de disputa do Mundial de futebol no
Brasil. Bendito foi o momento em que mudei-me de apartamento (e de região da
cidade, em Campina Grande), fique sem internet e forçadamente rompi o protocolo
de acordos de colaboração para falar sobre meu pessimismo sobre a Seleção
canarinho. Ainda assim, o pouco que postei ainda causou indignação,
principalmente de brasileiros que, fora do continente americano, viviam mais
arduamente a utopia do melhor futebol do planeta.
Sim, errei em meus prognósticos.
No primeiro bolão em que entrei furei 60% dos resultados que chutei na Primeira
Fase da Copa. Não tinha dúvidas, contudo, que o Brasil passaria para as
Oitavas. Apenas apostei, errado, na Croácia, que continua, a meu ver, em
condições de ter feito mais que o México no decorrer do torneio. Mas, isso é um
passado mais longínquo e menos tenebroso do que as últimas horas para a
história do futebol brasileiro. Estou citando isso, apenas, para ratificar o que
venho dizendo desde as Eliminatórias: a Alemanha é, hoje, a melhor Seleção do
planeta.
Tivesse a Fifa mudado o
regulamento e a política de hospitalidade e valorização do anfitrião e a
Seleção Brasileira sequer teria, sob o comando de Felipão, classificado para a
Copa que o Brasil hoje sedia. Desde 2002 que digo que o nosso quinto título
mundial foi trazido por Ronaldo e Rivaldo, contrariando a vontade de Felipão.
Esse técnico é muito ruim, e sempre foi. Construiu uma história no Palmeiras,
todos sabemos, mas também determinou o caminho desse meu rival rumo ao segundo rebaixamento,
juntamente com Murtosa. Mas, criticar técnico da Seleção é muito fácil; quero
ver convocar um time, treiná-lo com suas vaidades e leva-lo ao apogeu do
universo boleiro. Nada demais, pois é isso o que o comedor de nhaca de nariz
está fazendo com o elenco alemão, e há 6 anos.
Nesse momento, os 65 mil
torcedores que vaiaram e hostilizaram Dilma na abertura da Copa, no meu
Itaquerão, devem um pedido de perdão. Quem tinha de ser mandado tomar no c* é
Felipão. Só que naquele momento a utopia do hexa era mais forte. Melhor atingir
quem investiu na infraestrutura da Copa, viabilizou o maior e melhor torneio de
toda a história, a colocar em xeque o trabalho de um técnico que foi campeão da
Copa das Confederações, aquele torneio que só perde em importância para o
campeonato de Solteiras x Casados, realizado, via de regra, em dezembro, sob
muita cachaça.
Ninguém viu, mas a Seleção, a
cada vez que entrou em campo, começou os jogos perdendo por 1x0. Perdia para as
demais seleções que, como a Alemanha, mantiveram, desde antes da Copa de 2010,
um planejamento. Ricardo Teixeira pode ser o que for, e o é, mas num momento de
ausência de soberba e imperialismo, tirou Mano Menezes do Corinthians, segunda
opção a Murici Ramalho, e iniciou o planejamento da Copa de 2014, no Brasil.
Mano ganhou autonomia para iniciar a renovação de uma Seleção recém-eliminada
pela Holanda, na África do Sul, sob iguais questionamentos sobre a competência
de um treinador, naquela ocasião, Dunga.
Mano só não convocou a mim para
jogar e, assim, testar a Seleção. Na busca pela renovação, filtrou craques.
Primeiro, ouviu o clamor nacional pelo nome de Neymar. E foi coerente, pois
Neymar, sob o comando de Mano, tinha a seu lado o jogador que igualmente
debutou para o universo futuros dos melhores do mundo na arte de jogar futebol,
ou seja, Ganso. No ataque, Hulck, Leandro Damião, Pato, assistidos por Ronaldinho
Gaúcho, Lucas e Kaká. Desses, só Neymar e Hulck foram para a Copa. E as opções
de banco mostraram, até hoje, o fraco Bernard e o péssimo Jô, que até brilharam
pelo Atlético Mineiro campeão da Libertadores de 2013, só que comandados por um
Ronaldinho Gaúcho preterido por Felipão.
A troca de Mano por Felipão é de
inteira responsabilidade de José Maria Marin. Parte da quadrilha da CBF, ele
quis dar pompas de honestidade ao trocar os treinadores e, assim, tentar, em
vão, apagar a relação hierárquica e corruptamente genética que tem com Ricardo
Teixeira, o capitão do time que o levou à Confederação. Não canso de relembrar
o episódio público mais impactante de Marin, qual seja, o furto de uma medalha
da Copa São Paulo de Futebol Jr., quando integrava a diretoria da Federação
Paulista de Futebol. Aliás, por coincidência, Marin está sendo sucedido, na
CBF, por Marco Polo Del Nero, que presidiu a eternamente suspeita FPF durante
longo império.
Marin tirou Mano e colocou
Felipão, anunciando o retorno do treinador como salvação do trabalho que visava
dar ao Brasil o hexa, dentro de casa, corrigindo 1950. Alguma dúvida, agora, de
que pioramos 1950. Antes, a história registrava 1 Barbosa. Agora, é uma
delegação inteira de Barbosa. E Felipão Barbosa vem a público pedir desculpas e
assumir o erro. Ora, que erro¿ E se houve erro e consciência desse erro, por
que nosso time, perdendo por 5x0, não passou por alterações nos 45 minutos
iniciais¿ Ou estou enganado quando vi Felipão tirar Neymar, contra Camarões, a
menos de 15 minutos do segundo tempo¿ Sim, ele faz alterações quando
necessário. Só não fez quando o leite derramou. Fique, Felipão, com suas
desculpas para ti, seu fraco e péssimo!
Que me chamem de pessimista, sim,
pois quando arrisquei palpites em bolões não coloquei o Brasil sequer como
finalista nessa Copa. Estranhei termos passado das Oitavas, com a sorte de
pegar um Chile apenas razoável. Nas quartas, passamos pela Colômbia, outro
Sul-americano azarão. Opa, impressão minha ou só pegamos latino-americanos
azarões¿ Vencemos a Croácia no mais árduo combate da Primeira Fase, depois de
sairmos em desvantagem no placar. Depois, só babas, e ainda assim tropeçando
para não passar carão antes da hora.
A hora da vergonha chegou na
véspera da festa. Quem viu aos jogos mais decisivos desse Mundial sabe que a
Argélia é muito mais time do que o Brasil. Os argelinos foram os únicos
adversários que enfrentaram a Alemanha em condições de igualdade. Tudo bem, a
França também foi osso duro de roer. Mas, a Argélia chegou a ameaçar a
classificação alemã, não fosse o excelente goleiro Neurer. Na etapa
complementar os argelinos estavam com cãibras, mas nem por isso deixavam de
marcar a Alemanha no campo dela e, na primeira oportunidade, finalizar. Perderam
por suados 2x1, com os jogadores alemães, após o apito final, deitados ao chão
e, em vez de comemorar, esticando os nervos das pernas, tamanho o sufoco
sofrido.
Nessa semifinal o Brasil de
Felipão perderia com Neymar e Tiago Silva. De repente, outro 2x1 a favor da
Alemanha, mas bola por bola, o futebol agradece que os alemães estejam na
final. O forte sistema de marcação pelo meio de campo impediu que a bola
chegasse aos atacantes brasileiros. Em contrapartida, o fraco meio de campo do
Brasil deu folga e excesso de liberdade ao setor de criação da Alemanha, cujo
ataque chegava a todo momento nas costas da confusa linha de zaga brasileira.
Coloquemos as três defesas de Júlio César no jogo e entendamos que poderíamos
ter perdido por 10x1.
Nada tenho contra os argentinos
e, na prática, só não os quero passando fome. Mas, nessa de o futebol
agradecer, a Holanda é mais seleção para enfrentar a Alemanha. Se a Argentina
passar amanhã, antecipem o Oktober Fest. E se der Alemanha x Holanda, preparemo-nos
para ver a melhor final de Copa da história. Duas seleções que jogam um futebol
pragmático, às vezes chato, porém muito eficiente. Igual ao Brasil que papou os
títulos de 1994 e 2002 sem ter um futebol brilhante. Ou alguém vai me dizer que
o Bayern, hoje, tem o mais belo futebol do mundo¿
Desisto de falar mais da Seleção,
pois é chover no molhado. Cada um tem sua opinião sobre o desastre de 90
minutos. Minha opinião, que está acima, advém de um ano e meio de angústia de
ver um técnico limitado assumir a Seleção. Mano Menezes também é limitado, mas
não perderia por 7x1. Pelo contrário, tanto ele quanto Tite ou Murici Ramalho
armariam uma Seleção fechada contra a Alemanha. Se não tomássemos gol, hoje, o
mínimo que ocorreria seria levar a decisão para as penalidades, já que nosso
meio de campo é imaturo e nosso ataque sempre teve Fred, o poste. Teria muito a falar sobre essa entrada forçada de Fernandinho, que foi o jogador que mais falhou nessa terça-feira. Seria igualmente em vão, pois a carniça estaria a ser chutada.
Dias atrás vimos a Holanda
surpreender o mundo ao trocar de goleiros para, após uma densa prorrogação,
decidir vaga nas penalidades. Naquele momento, a troca significou os imprecisos
50% de chance de dar certo, 50% de chance de dar errado. Felipão, contra a
Alemanha, foi 100% de passividade sobre a superioridade adversária. Quando
acordou, já tinha entrado para a história. E da pior forma possível. Logo,
guarde para sua biografia, Felipão, o lamento pelo selo de incompetência total.
*Professor universitário,
historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela
ECA-USP.