Cláudio Messias*
Inicio, hoje, uma série de publicações, aqui no Blog, sobre o perfil sócio-econômico da cidade de Assis/SP, a minha denominada Sucupira do Vale, que considero, também, a Capital do Médio Vale (do Paranapanema). A ideia de criar esse dossiê surgiu a partir de interação dialógica, informal, com profissionais e empresários com relação direta e indireta a fatores primários e secundários da economia municipal. Tais conversas, em círculos de amizade, iniciaram alguns anos atrás, tendo como pauta, sempre, o poder econômico que Assis tem mas que a sociedade desconhece, ou por desinteresse ou simplesmente porque tais assuntos não entram na agenda setting da fraca mídia local.
Não é de hoje que critico a postura da ampla maioria dos jornalistas que atuam em Assis e exploram somente a mesmice das pautas que mudam apenas nomes e endereços dos interlocutores que estampam páginas de jornais impressos, telas de websites e da TV a cabo e sonoras de emissoras de rádio. Há uma viciosa e já histórica dependência da pauta pronta e uma preguiça exagerada de tirar a bunda da cadeira e enfrentar o front do fato cuja transição levará à notícia. E é da mente e dos dedos que sai a prostração transformada em textos que, generalizados, apontam para localidades mais próximas como o berço da prosperidade, fatalizando Assis como o epicentro do caos. Já abordei, em ocasiões anteriores, essa mania da Sucupira do Vale de entender que até as cavernas do Afeganistão são melhores para viver e sobreviver do que Assis.
Esse cenário de elogiar o externo e criticar o interno, porém, parece estar cristalizado na cultura local. Insistir nessa discussão é abrir espaço para um infindável debate protagonizado por interlocutores via de regra que saíram de Assis, prosperaram e usam parâmetros externos, de cidades com porte muitas vezes maior e localização logística mais favorecida, para dizer que isso aqui é o fim do mundo. Sim, claro, podemos estar no fim do mundo ou mesmo na antessala do inferno, como alguns definem. É fato, porém, que tem muito capeta prosperando nesse cenário e que muitas empresas encontraram um filão de mercado, vejam só!, no fim do mundo. Ressalto que o Dossiê não tem proposta de entrar nesse embate. Cá estão números, estatísticas, enfim, fundamentação para o que há por trás de uma Assis centenária, que atrai investidores e apresenta números respeitáveis.
Aproprio de um antigo slogan local, de que Assis seja a cidade dos 3 "esses" (letra 'S'). Em minha definição, o perfil da cidade que esmiucei em estudos, levantamentos e análises durante os últimos 30 dias, nesse início de 2014, remete igualmente a uma Assis de 3 S. Uma cidade com Sustentabilidade, Solidez Fiscal e Saber. São, pois, os três eixos norteadores de minha pauta nessa série de publicações, que se estenderá ao longo das próximas semanas. Minha indisponibilidade de tempo impede que as postagens relacionadas ao Dossiê ocorram com regularidade. Ao final, contudo, espero ter contribuído para que você, raro e exceto leitor, tenha acesso a informações que são tão públicas a mim, jornalista e educador, quanto a você, igualmente cidadão. Isso que faço é mediação da informação, de maneira a construir reflexões acerca de uma cidade revelada por números e definida por falas.
Assis no Top 200 Brasil em concentração de empresas
O Brasil possui, hoje, 16 milhões, 439 mil, 895 empresas ativas nas respectivas Juntas Comerciais. São Paulo é o estado com maior concentração desses negócios formais ativos, totalizando, de acordo com relatório atualizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), 4 milhões, 787 mil, 773 empreendimentos em franco funcionamento. Isso representa 29,11% do total em atividade no país nesse primeiro mês de 2014.
Com a desaceleração da economia do país no ano passado o ritmo de crescimento de novos negócios caiu. Isso pode ser percebido na variação de empresas ativas na transição anual de 2012>2013 e 2013>2014. Se um ano atrás, na fração da média de crescimento de 11,78%, a média de novas empresas paulistas abertas era de 0,98%, em janeiro passado esse patamar esteve em 0,47%. Minas Gerais, que é o segundo Estado com maior concentração de empreendimentos no país, apresenta desempenho melhor: 0,58%, ante crescimento de 13,25% no acumulado 2012>2013. São Paulo tem quase 4 vezes mais empresas ativas do que Minas.
O setor de serviços é o que mais empresas gera em terras paulistas. Em 2012 eram 1.917.639 empreendimentos ativos, chegando a 2.194.896 em 2013 e saltando para 2.207.702 em 20 de janeiro passado. O comércio é o segundo setor mais ativo na nossa economia, seguido pelo agronegócio, pela indústria e pelo setor financeiro. O setor de serviços públicos é o último da lista.
O ranking das 200 cidades brasileiras com mais empresas abertas ativas em janeiro de 2014 mostra Assis nessa lista que aqui defino como Top 200 Brasil. A Sucupira do Vale aparece como a 187ª cidade do país em empreendimentos ativos, atrás de pólos regionais próximos e mais desenvolvidos como Marília (92ª), Presidente Prudente (96ª), Bauru (46ª) e Londrina (24ª). Está, contudo, à frente de Ourinhos, Lins, Avaré, Tupã e Dracena, cujas estatísticas não as colocam no ranking das 200 cidades listadas pelo IBPT.
Assis tinha 11.632 empresas ativas em 2012, avançando para 12.847 em 2013, crescimento de 10,45%. Em 20 de janeiro passado a cidade havia registrado 46 novos empreendimentos nesse ano de 2014, o que representa crescimento de 0,36% em relação ao ano fiscal de 2013 e permite uma prospecção de crescimento de 6,48% para 2014.
Se o ranking for trazido somente para a realidade paulista, o Top 200 São Paulo do IBPT mostra Assis na 54ª colocação. Nesse caso aparecem as demais cidades com porte similar e que ficaram de fora do Top 200 Brasil: Ourinhos (61ª), Avaré (67ª), Lins (78ª), Tupã (85ª) e Dracena (127ª).
Das 12.896 empresas ativas em Assis no mês passado, 12.302 eram matrizes, ou seja, abertas e lançadas na própria cidade. As demais 591 eram filiais, ou seja, têm sede em outras localidades e apenas uma unidade por aqui. Em 2012 eram 589 filiais ativas na cidade. Em Ourinhos havia 534 filiais ativas no mesmo período.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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