quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Calor de janeiro de 2014 não foi o maior da história em Assis

Cláudio Messias*

Estou, reconheço, inquieto com o clima. Desde o ano passado tenho debruçado algumas horas em estudos sobre os fundamentos climáticos, fruto de um incômodo que advém do comparativo que faço entre as quatro estações que anualmente vivo e aquilo que vivenciei na infância e na juventude. Uma sensação, por exemplo, de que nossos invernos não têm sido tão frios como duas ou três décadas atrás e que os períodos de calor, no verão, são igualmente mais curtos.

Infelizmente, os parâmetros da região que órgãos como o Instituto Agronômico de Campinas, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, fornecem são recentes demais para comparar com as décadas de 1970 e 1980. Em todo o Estado, por exemplo, os controles relacionados a densidade pluviométrica (chuvas) e temperatura datam a partir de 1971, ainda assim sem dados precisos sobre o Médio Vale, coletados a partir de 1991.

Em 2013 fiz, à distância, online, estudos a partir de conteúdos disponibilizados e patenteados pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, órgão federal vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, com sede em São José dos Campos. Com dados consolidados, passei a transformar em estatísticas o que a estação experimental de Assis, mantida pelo Ciiagro (Centro Integrado de Informações Meteorológicas), do IAC, disponibiliza. A diferença entre um e outro é que o CPTEC trabalha com prognósticos de antecipação de fenômenos climáticos, enquanto o Ciiagro faz a gestão dos fenômenos já ocorridos. Enfim, um prevê o clima, o outro registra o que ocorreu com o clima.

Uma semana atrás, quando findava janeiro, a mídia explorou em demasia que encerrávamos o primeiro mês anual mais quente dos últimos 70 anos no Estado de São Paulo. Mais quente e igualmente mais seco, condição suficiente para gerar falta de água nas cidades maiores e, ontem, apagões no sistema elétrico nacional. Recorri aos registros pesquisados em 2013 para conferir a realidade de Assis diante de tal cenário que para muitos fatalistas é apocalíptico e prenuncia o caos. Não há razão para tanto. Vejamos.

Janeiro passado foi, sim, um mês quente e seco. Mas, se comparado aos 9 janeiros anteriores (Quadro 1), tivemos aberturas de ano piores em se tratando de incidência de chuvas e altas temperaturas. Exatamente um ano atrás, em janeiro de 2013, choveu menos do que mês passado, de acordo com o Ciiagro. A questão é que as chuvas de um ano atrás foram melhor distribuídas durante os 31 dias, enquanto em 2014 as precipitações pluviométricas ocorreram em forma de pancadões e trovoadas. Parece piada, mas em 2013 o janeiro teve 97,8 milímetros de chuva consolidada, enquanto no mês passado essa incidência foi de 215,7 milímetros. Ou seja, aquele que especulávamos ser o janeiro mais seco dos últimos anos foi, sim, 2,2 vezes mais chuvoso que o janeiro mais seco dos últimos dez anos (2013).

Nessa década analisada a partir de dados do Ciiagro janeiro de 2007 aparece como o mais chuvoso de todos. Naqueles 31 dias iniciais de ano choveu, em Assis, 504 milímetros, distribuídos em 13 dias. Em um só dia chegou a chover, naquele mês, 138 milímetros na cidade. O dia que menos chuva registrou marcou 6,6 milímetros. Nada comparado, porém, às estatísticas de janeiro de 2011, que teve 23 dias de chuva e um total de 352 milímetros. A distribuição regular de chuvas, que favorece a agricultura na safra de verão, é comprovada no índice máximo de precipitação, que totalizou, em um só dia, 45 milímetros.

Em se tratando de calor, quem reclama desse início de ano como o mais quente de sua vida só pode ter duas opções: tem 8 anos de idade ou padece de memória curta. Sim, 2006 teve o janeiro mais quente dos últimos 10 anos monitorados pelo Ciiagro em Assis (Quadro 2). Naquele ano, os 31 primeiros dias registraram temperatura média máxima de 31,3 graus, com pico de 35,1 graus. Mês passado, esse índice foi de 30,9 graus para a média, 33,9 graus para a máxima, com 9 dias de termômetros registrando até 32 graus. Em 2006 foram 16 dias com temperaturas até 32 graus para maior e 8 dias com 34 graus para maior. Mês passado não houve dias com registros de temperatura máxima de 34 graus para maior.

O janeiro mais agradável desses últimos dez anos foi registrado em 2008. Naquele ano, os 31 primeiros dias registraram, em média, 27,2 graus. A temperatura média máxima absoluta foi de 32,3 graus. Em somente um dia a temperatura chegou a 32 graus para maior naquele ano.

Enfim, em dados mais recentes a situação de estiagem e calor demanda preocupação maior. Não chove em Assis desde o dia 29 de janeiro, quando o acumulado não atingiu 1 milímetro (0,3 mm). A última chuva convincente data de 27 de janeiro, quando o acumulado chegou a 17 milímetros. O quadro de déficit de água armazenada no solo, contudo, tornou essas últimas chuvas insuficientes e isso começou a prejudicar o desenvolvimento vegetal de algumas culturas.

De acordo com o Ciiagro, de 27 de janeiro a 2 de fevereiro o acumulado de chuva em Assis chegou a 24,7 milímetros (Quadro 3). O déficit hídrico do solo bateu a casa dos 2 milímetros mas ainda mantém como favoráveis as situações de manejo do solo e desenvolvimento vegetal. O quadro cômico dessas análises é que Cândido Mota, que fica a 8 quilômetros de Assis, apresenta cenário totalmente diferente, favorável. Lá, o Ciiagro registrou, de 27 de janeiro a 2 de fevereiro, 79 milímetros de chuva, provocando um excedente hídrico de 36 milímetros.

A pior de todas as situações de estiagem está em Pedrinhas Paulista. Lá, o Ciiagro registra a média de temperatura mais alta do Médio Vale: 27,1 graus. Desde 27 de janeiro choveu, em terras da colônia italiana, 24,9 milímetros, porém o déficit hídrico chega a 4 milímetros, o mais alto da região.

Previsão - O cenário para os próximos dias é de desespero para os agricultores no campo e para os calorentos urbanos. A temperatura tende a cair um grau na média, batendo picos de 34 graus e não mais os 35 graus dos últimos 10 dias. A umidade relativa do ar, que chegou a 28% em Assis no dia 30 de janeiro, mantém a melhora verificada de uma semana para cá, acima de 30%, mas associada a índices de radiação solar na casa de 990, das 11h00 às 15h00, coloca em risco a saúde de crianças e idosos que ficarem expostos sem proteção.

De acordo com prognósticos do CPTEC/Inpe, na terça-feira, dia 11, pode haver uma pancada de chuva com trovoada, em Assis, no final da tarde. A probabilidade é de 80%, porém carece de mais proximidade da data para confirmação de que o aumento de nebulosidade, nesse dia, implicará em chuva. E caso chova, será em baixa incidência, ou seja, insuficiente para resolver o problema de estiagem e suficiente para aumentar a sensação de abafamento na cidade.

Na previsão estendida o CPTEC/Inpe mostra ausência de chuvas até o dia 18 de fevereiro, à exceção dessa possibilidade para o dia 11. O reposicionamento da Terra para com o Sol, de maneira que haja maior distanciamento entre os astros, implica, necessariamente, em dias e noites gradativamente menos quentes a partir de agora. Basta perceber que o nascer do Sol está ocorrendo à média de 1 minuto mais tarde a cada dois ou três dias, com consequente poente mais cedo. Hoje, por exemplo, a claridade do dia começou às 6h04 e terminará às 19h06. No dia 18 de fevereiro teremos nascer do Sol às 6h12 e poente às 18h58.

Outra boa novidade, típica desse período de segunda metade do verão, é que volta a ventar na cidade a partir do dia 10 de fevereiro. Tivemos, nos últimos dias, ventos com velocidade média de 4 a 5 km/h, ou seja, fracos, propiciando sensação ainda maior de calor e abafamento. A partir do dia 11 os ventos passam a soprar com velocidade moderada e, assim, abrem frentes para o gradativo esgotamento da massa de ar seco que predomina sobre a região, quadro que afeta complexamente as regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Essa mudança de cenário climático coincidirá com o fim do Horário de Verão, que ocorre no dia 16 de fevereiro. À zero hora desse dia os relógios devem ser atrasados em uma hora na Sucupira do Vale e demais localidades cujos Estados aderiram ao horário.


Janeiro de 2013 foi o que menos chuvas registrou em 10 anos

O calor verificado mês passado foi menor se comparado a janeiro de 2006

Cândido Mota é o município mais beneficiado pelas chuvas nesse início de ano



*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Nenhum comentário :