Cláudio Messias*
Continuo tentando entender o conceito de lotação de estádios
nessa temporada em que o Brasil está prestes a organizar uma Copa do Mundo. A
Arena Grêmio estaria lotada para o jogo de hoje, entre Brasil x França. Todos
os ingressos vendidos e lá estavam as cadeiras azuis vazias. Uma semana atrás,
no Maracanã “lotado”, inúmeras cadeiras igualmente vazias.
Em campo, o que vi foi uma Seleção Brasileira que continua
sendo a cara de Felipão. Só ele, teimoso, para segurar os laterais na marcação,
como se fôssemos nós os visitantes e o jogo valesse classificação com um
empate. Bastou o técnico francês reinventar a roda, colocar o time titular que
não escalara contra o Uruguai, e lá foi Felipão ter ataque de labirintite nos
vestiários. O homem temeu a mudança francesa, que de novo não trouxe nada.
Continuo não entendendo o que aquele volante Luiz Gustavo tem que só Felipão vê. A retranca do nosso técnico foi tamanha que em seu
sistema tático o futebol de Paulinho desapareceu. E cada vez mais fica nítida a
opção por Huck, que abandona a função de atacante e assume a condição de marcador. Impossível,
nesse contexto, querer que a bola chegasse redonda a Neymar e Oscar. Fred, como
lhe é característico, foi torcedor privilegiado.
O corte de Leandro Damião é a notícia que mais me preocupa
nessa fase pré-Copa das Confederações. Se com Fred a coisa está feia, com a
opção de Jô beiramos ao desespero. Ambos são altos, fazem gols, têm presença de
área, mas são totalmente instáveis. A cena característica de Fred, hoje, foi
colocar as mãos rente ao queixo e olhar para o nada depois de não ter feito
igualmente nada.
Não sei se é a camisa 10 da Seleção ou a contratação do Barcelona,
mas as canelas finas de Neymar estão mais fortes. O cai-cai característico está
sendo substituído por uma ereção permanente, de dar inveja a qualquer dilatador
das vias venais situadas na região pubiana. Até o corte de cabelo ficou mais
decente, deixando o perfil calopsita nas viradas páginas de um passado santista
não muito remoto. Vejo, cada vez mais, futuro nesse moleque.
Felipão só não foi vaiado no intervalo porque é da casa. O
jogo caminhava, sim, para um empate e uma amarga estatística de a Seleção não
vencer sob o comando do técnico que iniciou o rebaixamento do Palmeiras e de
Mano Menezes em 2012. Teimoso, não muda o sistema tático com a bola rolando e
se acovarda ao ponto de não antecipar alterações. Digo isso porque visivelmente
aquele sistema de jogar com dois zagueiros e um volante fazendo as partes de
terceiro zagueiro não dá certo com o elenco atual que ele mesmo chamou para
vestir a camisa nacional.
Por sorte, viramos o primeiro para o segundo tempo sem
estarmos em desvantagem no placar. E isso favoreceu para que Fernando, Lucas e
Ernanes entrassem e resolvessem. Parece ter sido trocar seis por meia dúzia,
mas não foi. Felipão tirou Oscar para colocar o volante Fernando. Fosse ele
mais ousado, coisa que não é, e manteria o trio Lucas, Oscar e Neymar em campo.
Àquela altura Felipão já tinha dado conta da burrice de recuar Marcelo e Daniel
Alves e revertera o sistema tático retrancado que deu posso de bola à França no
primeiro tempo e nula chance de gol ao Brasil.
Ernanes é, e faz tempo, um volante que joga avançado e que
faz, e muito bem, as funções de meia, jogando ora pela direita, ora pela
esquerda. Igual a Paulinho, penetra pelo meio com maestria e sabe posicionar-se
no ataque. Não por acaso, foi nessas condições que acertou bola no travessão da
Inglaterra no primeiro gol, semana passada, e fez o segundo gol, hoje, contra
os franceses.
O Brasil só passou a jogar nos contra-ataques nos 15 minutos
finais de jogo, comprovação da covardia tática de Felipão. Basta analisar todas
as substituições feitas pelo técnico nos 90 minutos e ver que ele mais salvaguardou
a defesa do que contemplou o ataque. Na cabeça de nosso comandante, podíamos até
passar sustos, mas só o gol de Oscar estava bom. Ao ponto de o autor do
primeiro gol ser substituído logo em seguida, com semblante de quem queria
ficar.
Concordo que nossa Seleção vá para a Copa das Confederações
mais confiante. Digo isso pela vitória de 3 a 0, e não pela vitória sobre a
França. Explico. A França era um pedaço de jenipapo em nossa garganta, e não
mais que isso. Só classificou-se para a última Copa naquele gol roubado, em que
Tierry Henry meteu a mão na bola e, assim, os franceses eliminaram os
irlandeses. De importante a França não ganhada nada há um bom tempo e não goza
de posição muito mais privilegiada que a nossa no ranking da Fifa. Importante,
mesmo, era ter metido os mesmos 3 gols na Inglaterra, há uma semana.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em
Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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