28 Fevereiro 2013
Cláudio Messias*
Conheci Ulisses José de Souza na primeira metade da década de 1990. Foi numa noite de cujo dia da semana não me recordo. O então correspondente da Folha de S. Paulo para o Oeste Paulista veio até Assis e, no auditório da rádio Difusora, reuniu alguns gatos pingados da imprensa local interessados em provisionar o registro de jornalista profissional. Ulisses era representante para a região do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.
A amizade com Ulisses foi apresentada por Júlio Cezar Garcia e compartilhada juntamente com Reinaldo Nunes, o Português, Lúcio Coelho e Paulo César Tito, o Paulo Cuca. Juntos, faríamos, mais tarde - à exceção de Lúcio Coelho - parte da família Oeste Notícias, um ousado projeto editorial nascido em Presidente Prudente e afundado pela nefasta política, ora partidária, ora familiar. Ulisses e Júlio Garcia, respectivamente, editor executivo e editor adjunto. Eu, Paulo Cuca e Português, repórteres na sucursal de Assis.
Ulisses colocou-me numa fria em 1995. Era mês de outubro e a pauta predominante eram as ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST de José Rainha, Stedile, Gilmar Mauro e Diolinda. O editor executivo do Oeste colocou-me, logo no primeiro dia, junto com o fotógrafo Marcelo Hide, na berlinda de cobrir a desocupação dos barracões da CESP em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema. Na madrugada seguinte a tropa de choque da PM cumpriria ordem judicial. Passei a noite no acampamento do MST e jamais olhei para os movimentos sociais com os mesmos olhares dantes.
Ulisses saiu e voltou da editoria principal do Oeste Notícias por diversas vezes. Na mais recente delas, editou a última tiragem impressa e online, em fevereiro último. Exatamente n a véspera de completar 18 anos, o Oeste Notícias foi sepultado pela família Oliveira Lima, que tem entre os integrantes o ex-prefeito de Prudente, Agripino, e o ex-deputado federal Paulo Lima.
Nessas idas e voltas de Ulisses Souza, já aposentado da Folha de S. Paulo, trabalhamos juntos derradeira vez. As peças do jogo, como ele mesmo fez questão de ressaltar, em 2009, eram outras. Eu, coordenador do curso de Jornalismo na Faculdade de Presidente Prudente (Fapepe), do Grupo Uniesp, e ele, professor. Os choques de gestão, claro, repetiram-se. Insuficientes, contudo, para estremecer uma amizade que tem no Jornalismo sério, isento, o pilar básico. E continuamos pagando o preço por acreditar que Jornalismo é entrega, não tem chapa que não seja a de impressão gráfica e exige o maior de todos os compromissos: respeito a quem lê.
Eis, raro e exceto leitor, alguns dos motivos pelos quais decidi apresentar a você essa figura tão ilustre. Ao dialogar sobre essa entrevista que publico abaixo eu e Ulisses já acertamos o nosso reencontro: noite dessas próximas no João Porquinho, em Prudente.
* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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