06 Fevereiro 2013
Cláudio Messias*
Saíram Felipão, Dunga e
Mano. E voltou Felipão. O comando da Seleção tem novamente o técnico
pentacampeão de 2002. Mas, já se passaram onze anos desde aquela conquista
marrenta sobre a Alemanha, em uma Copa do Mundo dividida por um oceano
(Coreia/Japão).
Tão esquisito quanto isso
tudo foi ver o time titular de Felipão nessa tarde contra a Inglaterra no Wembley
em Londres. Nada contra os mais gordinhos e menos cabeludos, pois faço parte
desse time há um bom tempo. Mas a saliência abdominal de Ronaldinho Gaúcho e Luís
Fabiano era tão grande quanto as respectivas morosidades no ataque.
Talvez a gordura abdominal
de Gaúcho tenha aparecido mais. Exposto nos segundos que antecederam a fatídica
cobrança de penalidade, o meia que um dia, naquele mesmo ano de 2002, fez um gol,
digamos, diarrégico contra a mesma Inglaterra acumulou mais 45 minutos de
incertezas sobre seu verdadeiro talento. Nada de anormal para um jogador que
voltou para o Brasil com a intenção de aposentar-se e demorou semanas para
decidir pela melhor opção, que acabou revelando-se a pior opção.
Seleção Brasileira não é
Flamengo nem Atlético Mineiro. E também não é Santos. Igualmente, amistoso
internacional entre duas potências do futebol mundial não é Campeonato
Paulista. Neymar não conseguiu repetir o chapéu/lençol/boné que aplicou sobre o
marcador contra o Botafogo de Ribeirão Preto e fez lembrar a atuação frente o
Barcelona em dezembro de 2011. E Arouca, que no meu time disputaria diariamente
a posição de titular, confundiu Paulinho com Durval. Catastrófica a aparição
das duas figuras santistas no jogo.
Felipão armou a Seleção, no
primeiro tempo, com uma mescla de 4-4-2 com 3-5-2. Virou uma bagunça, pois
tinha Luís Fabiano e Ronaldinho Gaúcho plantados, observando Oscar e Neymar,
nanicos, com a responsabilidade de armar perante o paredão inglês. No segundo
tempo, com a entrada de Fred fixo na frente, logo aos 3 minutos havia um Golias
para duelar com o paredão e empatamos a partir de jogada comandada, aí sim, por
Oscar e Lucas.
O sistema de Felipão,
então, passou a ser o 4-2-3-1. Neymar passou a ser a segunda opção de ataque,
com Oscar centrado e Lucas atuando como meia direita avançado. Perfeito para a
rápida ligação que Daniel Alves está acostumado a fazer no Barceleçona. Em questão
de segundos quase viramos o jogo, sempre pela direita.
Todo time, contudo, joga
conforme a cabeça de seu técnico. E aos poucos o sistema tático da Seleção
ganhou a cara de Felipão no primeiro tempo. O setor esquerdo, com Adriano,
ficou desguarnecido com a entrada de Arouca, que fechava no sentido centro/direita.
E centro/direita só dá certo no Estado de São Paulo de Serra e Alckmin. Os
ingleses, conservadores, tiveram paciência para recobrar o sistema Felipão dos
45 minutos iniciais e pela direita, de novo, cavaram o placar final. E Deus
salve o Arouca!
Tudo bem, o primeiro jogo
já foi. Felipão, nas saunas que faz com Marin e Del Nero, optou por marcar
jogos mais difíceis, contrário aos amistosos contra Guiana Francesa, Suriname e
Afeganistão. Se esquece, porém, que escolher adversário mais difícil, ir lá,
bater e subir nas cordas – ops, alambrado – é coisa de Anderson Silva. Itália,
Rússia, Chile e de novo a Inglaterra é pedir para apanhar, com direito ao adversário
sentado às costas e mordendo o protetor bucal.
Não vi nada de diferente na
Seleção de Felipão, em comparação à de Mano Menezes. As inovações de convocação
e escalação não deram certo. Pelo contrário, Mano estava em franco processo de
rejuvenescimento do elenco, enquanto Felipão optou pelos jogadores que
literalmente têm de pintar o cabelo, ou para aparentar jovialidade, ou para
aparecer em detrimento do futebol pífio.
Ouvi de tudo nas narrações
pelas quais acompanhei o jogo dessa tarde. De Kaká e sua necessidade de ser
aproveitado ao aproveitamento de Leandro Damião e Alexandre Pato, todos
remeteram aos testes já feitos por Mano Menezes, um técnico que teve a coragem,
ao menos, de assumir o risco de fiasco da Seleção olímpica, justamente pelo desafio
lhe atribuído de dar cara nova ao elenco nacional.
Gostei do retorno de Júlio
César ao gol, um dos pecados de Mano que jamais perdoarei. E vejo lugar, nesse
time, para Ganso, craque sem quem Neymar não aparece. Paulinho já é volante
titular na Copa, assim como David Luiz. E Fred, Ronaldinho Gaúcho e Luís
Fabiano já podem começar a fazer laboratório para aperfeiçoar dicção e impostação
de voz, pois as emissoras tendem a dar valor a ex-craques para a função de
comentaristas na Copa de 2014.
Já Felipão pode colocar o
bigode de molho, já que quer cobrança rápida. Afinal, a linha de diferença
entre o trabalho dele e o de Mano é tênue, muito tênue. Mais fina do que um fio
de bigode.
Minhas notas para a Seleção
de hoje:
Titulares
|
|
Júlio Cézar
|
8
|
Daniel Alves
|
7
|
David Luiz
|
7
|
Dante
|
4
|
Adriano
|
5
|
Ramires
|
7
|
Paulinho
|
7
|
Ronaldinho Gaúcho
|
3
|
Oscar
|
6
|
Neymar
|
5
|
Luís Fabiano
|
2
|
Substitutos
|
|
Miranda
|
4
|
Filipe Luis
|
6
|
Arouca
|
3
|
Lucas
|
7
|
Jean
|
5
|
Fred
|
6
|
Felipão
|
5
|
* Professor universitário,
historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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