quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As condições do Assisense frente ao líder Água Santa: uma análise

Cláudio Messias*

Até domingo passado, ao meio-dia, eu achava que a temporada mais angustiante que cobrira, como jornalista, no futebol profissional tivesse sido o desfecho do campeonato da Série B-1, em 2004, quando o Clube Atlético Assisense não atingiu o objetivo de chegar à Série A-3 por conta de 1 gol de saldo. Um ano inteiro de trabalho, investimentos e expectativas foi pelo ralo naquela ocasião em que recebemos o Campinas, do ex-atacante Careca (Guarani, São Paulo, Nápoli e Seleção Brasileira).

No fator emoção jamais esqueço da última rodada da Série A-2 de 1999, no épico jogo em que Paraguaçuense e Noroeste decidiam quem cairia para a Série A-3. No estádio Carlos Affini, em Paraguaçu, o apito estava sendo aposentado por Sidrack Marinho, que teve peito de marcar duas penalidades claras contra o time de Bauru, que vencia a partida e sofreu revés aos 42 minutos. Nas cabines de imprensa chorávamos eu, Siney Salomão e Luis Marcos Pereira, que transmitiam a partida pela rádio Marconi AM. Por trás das câmeras, Jorge Salim, cinegrafista da Central Globo e a serviço da TV Modelo, igualmente enxugava as lágrimas. De 2 a 0 contra o Paraguaçuense virou para 3 a 2 e mandou o poderoso time de Bauru para a terceirona.

Emoções distintas, mas nada comparável à inversão de favoritismo que está acontecendo nessa reta final da Segundona de 2013 do Campeonato Paulista. Agora, nesse exato momento, faltando horas para começar a rodada do meio de semana, a penúltima antes da definição daqueles que sobem para a Série A-3, oito times têm iguais condições de obter o acesso. Uns com um ou outro ponto de vantagem, outro com campanha que faz jus ao respeito, mas a realidade é que todos os gatos são pardos. Diante de tamanho e inédito equilíbrio, os quatro que caírem jamais poderão ser criticados pela frustração nos projetos. Terão, desde já, condições de planejar em 2014 com fortes indícios de êxito visando à Série A-3 de 2015.

O grupo 20, do Assisense, é mais complicado. Nele estão Água Santa e Inter de Bebedouro, times que caíram de produção na reta final mas que apresentam um retrospecto invejável. Cotia e Assisense, que chegaram como azarões, mostraram suas garras. Não por acaso, foi depois da derrota aqui, no Tonicão, que a Inter desandou o caldo na quarta fase, recuperando-se somente no returno e ainda sendo dúvida se realmente teve méritos na vitória sobre o Água Santa, nos domínios do adversário, ou se foi um acidente de percurso. Já o Cotia come pelas beiradas, faz uma estratégia fria e arriscada, mas além de somar pontos em todos os jogos, obviamente está invicto na fase, único caso dos dois grupos.

Chego, pois, à realidade do jogo da vida do Assisense, logo mais às 15h00, no Tonicão. Admito não ter parâmetros sobre o que espero do Água Santa nesse penúltimo jogo. Vi o visitante de hoje jogar três vezes, sempre pelas telas da STI Esporte, de São Bernardo do Campo. No empate sem gols com o Cotia, abrindo a fase, adotou a estratégia de somar ponto fora de casa, submetendo-se ao risco que realmente se concretizou, sendo bombardeado permanentemente e quase saindo derrotado. Já contra o Assisense, naquela fatídica noite de quarta-feira, foi a paulada que todos sabemos. O time de Diadema sobrou em campo, mas muito mais por uma pane no time de Assis. E contra a Inter, domingo passado, fez um jogaço em que experimentou o que é sair perdendo de 2x0, em casa, e ter de partir para o ataque, expondo-se aos contra-ataques.

Bobo o Água Santa não é. Sabe que o Tonicão é o inferno azul do Assisense e que a torcida, aqui, faz o time tirar energias de onde não tem. Imagino, pois, o visitante repetindo a estratégia levada a Indaiatuba, onde o Cotia alugou estádio para fazer jogo na primeira rodada da fase. Vem para segurar o mínimo de um ponto, mas, se preciso for e brecha houver, investir para liquidar a classificação desde já, uma vez que soma 7 pontos e com 10 está matematicamente na Série A-3 do ano que vem.

Se relembrarmos, o Assisense enfrentou a mesma estratégia três vezes aqui, no Tonicão. Foi jogando dessa forma, como o Água Santa jogou contra o Cotia no primeiro turno, que Diadema, Taboão da Serra, União Suzano e Inter de Bebedouro caíram. O caso mais agudo foi do Diadema, que na segunda fase estava tão embalado quanto o Água Santa e todos aqui o temiam. Jogou duro, franco, mas pagou o preço de quem aqui joga dessa forma, com direito a ir embora reclamando até de pernilongo.

As pancadas da vida têm de servir para alguma coisa para o técnico Venâncio. Kairo e Jaílton têm de jogar juntos, e nos 90 minutos. Se é Dainan ou Andrei que ajudarão nas articulações pelo meio, na frente, aí a opção já é realmente dúbia, só que Kairo, com a raça que tem e a força que oferece na marcação, além da facilidade de atuar revezadamente dos dois lados, não pode ficar de fora, principalmente no segundo tempo, quando o time como um todo costuma cair de rendimento.

Não omito opinião e me posiciono, sempre, antes dos jogos. Acredito demais no Assisense nessa tarde. O time de Assis marcará gols, mas tende a levar também. Assim, penso em um 3x1, de maneira a reduzir pela metade o saldo negativo de gols, que precisa pelo ser zerado até domingo, na rodada final. No outro jogo da rodada vejo uma Inter indo pra cima do Cotia, como fez com o Água Santa, mas, como o time mandante, de Cotia, sabe administrar esse tipo de situação, a tendência é que dê empate por lá (arrisco 1x1), o que ajuda sobremaneira o Assisense. Aliás, uma vitória do Cotia elimina os ânimos da Inter e é o placar que melhor convém.

Só que o caldo é tão denso que até mesmo uma vitória da Inter deixa todos os 4 clubes em condições, na última rodada, de chegar pelo menos à segunda colocação no desfecho dessa quarta fase.

Torcida - Somente um ônibus saiu de Diadema trazendo torcedores do Água Santa. Com a instalação de um telão na sede do clube a torcida optou por ver Assisense x Água Santa na transmissão da STI Esporte, que cobre o time.



*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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