quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Água Santa e Assisense empatam e veem Cotia chegar primeiro à Série A-3

Cláudio Messias*

Se o futebol contemporâneo é mais estratégia do que técnica, o Cotia está comprovando essa teoria desportiva agora, no desfecho da Segundona do Campeonato Paulista 2013. Sem derrotas na quarta fase, cumpriu o dever de casa contra a Inter de Bebedouro (4x1) e agora, de camarote, vê Água Santa e Assisense angustiados até domingo, para saber quem fica com a segunda vaga do grupo 20. Ele, Cotia, já está na Série A-3 com uma rodada de antecedência e com 9 pontos somados.

Essa penúltima rodada da quarta fase colocou em campo, simultaneamente, Assisense x Água Santa e Cotia x Inter. No Tonicão o time visitante chegou com torcida e esquema de segurança armado pela Polícia Militar, fazendo com que pela primeira vez no ano as arquibancadas fossem divididas em dois setores. Trouxe na bagagem uma estratégia que já havia usado em Indaiatuba, exatamente nas mesmas proporções do 0x0 com o Cotia naquele início do primeiro turno. Segurou o jogo e quando deu, avançou com perigo.

Já o Assisense visivelmente sentiu a responsabilidade de vencer ou vencer para sonhar com a classificação. A rapaziada de cá demorou para pegar o ritmo do jogo, errou muitos passes e em determinados momentos parou para ver o visitante administrar tempo e placar. Quem assistiu Portuguesa 4x0 Corinthians, duas semanas atrás, pelo Brasileiro, pode imaginar a Lusa sendo o Água Santa e o Corinthians sendo o Assisense naquele segundo tempo. A diferença é que o Água Santa estava demasiadamente satisfeito com um empate sem gols.

Passei a temporada toda com dúvidas em relação ao potencial do time do Assisense, mas revi esse conceito na reta final. Jovens guerreiros, que colocaram o coração no bico da chuteira e, todos sabemos, deram o melhor em campo. Não, não temos o melhor time do campeonato que, por sinal, também não é o Água Santa. Mas o Assisense está, sim, entre os 4 melhores dos 8 clubes que restaram na quarta fase. É melhor que o Cotia, pois tem mais técnica, ante um adversário fisicamente privilegiado e estrategista. E pelo que o Água Santa mostrou hoje e domingo passado, não seria injusto dizer que o time de Assis é, no mínimo, igual àquele algoz de Diadema.

Nesse frigir dos ovos continuo reticente com o trabalho do técnico Venâncio. Elogiei, rodadas atrás,  sua capacidade de mexer com o time nos intervalos, suficiência que não funcionou nos 4 últimos jogos. De 12 pontos disputados ele somou apenas 2, afora a vitória sobre a Inter na primeira rodada. Ou seja, o Assisense parou de funcionar nos segundos tempos de jogo. O que era carta na manga virou desespero de um time plasticamente armado para não tomar gols, mas que também não marca gols.

Hoje, frente ao Água Santa, Venâncio repetiu o sistema tático de sempre. Fez três linhas de zaga>meio-campo>ataque, em 4-3-3. E, raro e exceto leitor, não tem jeito. Os jogadores estão desde janeiro trabalhando sob o mesmo sistema tático. Só em jogos foram 27 ao todo, até hoje, sempre treinando com a mesma formação e as mesmas orientações. Chega uma hora em que por mais que a equipe queira jogar diferente, flui para o mesmo sistema tático. Vira uma retranca mecânica, automática, com Jaílton tendo de voltar para a intermediária defensiva buscar bolas, quando deveria estar acompanhado por outro atacante forçando a formação menos ofensiva do Água Santa. Se foram 27 jogos, imagine quantas vezes o time treinou sob esse esquema! É muita coisa; daí minha isenção à equipe e condenação à comissão técnica.

E quando a tarde está ruim e os planos não dão certo, parece que tudo vai contra. Kairo fez, na minha opinião, sua pior partida no ano. Era a figura do nervosismo, marca da equipe como um todo. E, ainda por cima, tinha um árbitro em campo que realmente merece apitar partidas da Segunda Divisão e do Amadorzão, como tem feito ultimamente. O jogador do Assisense, caçado em campo, sequer sofria faltas assinaladas pela arbitragem. Assim, Kairo saiu aos 15 minutos finais, e com razão, pois a torcida já ensaiava hostilizá-lo. Injustamente, pois em muitos jogos Kairo saiu do Tonicão como melhor em campo nessa temporada.

Eu diria que o Assisense foi mais time que o Água Santa, porém não foi melhor que o visitante. E aí você, raro e exceto leitor, cobra-me coerência nesse enunciado. E eu explico. O Assisense cometeu 20 faltas, ante 15 do Água Santa. E foi ao ataque com 9 finalizações, contra 6 do time de Diadema. Ficou em uma situação de impedimento no ataque, contra 4 do Água Santa. Cobrou 9 escanteios e viu o visitante bater 3. Nos cruzamentos na área adversária foram 9 do Assisense e 4 do Água Santa. Desses parâmetros todos, o Assisense teve mais iniciativa de buscar o gol, porém o Água Santa teve a competência de sair daqui com o objetivo traçado. Daí, o melhor time nem sempre é o que sai de campo com êxito. E hoje quem saiu do Tonicão fazendo festa foi o visitante.

Já o torcedor que foi ao Tonicão vai dizer que eu não citei o desempenho geral de Jaílton. Não citei no decorrer do texto porque na minha opinião o 9 do Assisense é o talismã do time. Jaílton em campo é sinônimo de domínio, de poder do time local. Sem ele, substituído por lesão aos 30 minutos iniciais, o Assisense perdeu seu referencial. Foi a partir dali que o time apagou. Fruto, claro, do clima de nervosismo e responsabilidade que pairava na equipe. Clima esse que levou a uma séria discussão envolvendo jogador e o técnico Venâncio no banco de reservas, por situação de reclamação contra a arbitragem. Clima que mostrava para a arquibancada que as coisas realmente não estavam saindo conforme o programado.

Das arquibancadas a torcida também sentia o peso. Vibrou menos em comparação ao jogo contra o Cotia e perdeu a paciência como havia tempo não se via no estádio. E quanto maior era a pressão da massa, pior era a resposta em campo, com jogadas desconexas. Somente a partir dos 35 minutos finais houve um ensaio de pressão, com oportunidades de gol desperdiçadas. No saldo geral, quem trabalhou mais foi o bom goleiro Jeferson, do Água Santa, em comparação ao que pouco fez Carlão, do Assisense. Pena que ambos não buscaram a bola no fundo das respectivas redes, não houve vencedor e, agora, tudo fica reservado para o domingo, na última rodada.

Às 10 horas desse domingão todos os 4 jogos da quarta fase serão realizados concomitantemente. O Assisense precisará vencer a eliminada Inter, em Bebedouro, e torcer para que Água Santa e Cotia não façam jogo de compadres e subam juntos para a Série A-3. Esse empate mantém o Água Santa na vice liderança do grupo e elimina o Assisense. Ainda assim, seria preciso que o Assisense eliminasse a diferença de saldo de gols que tem para com o Água Santa, que é de 8 gols, e passasse a trabalhar com hipótese de vaga.

A prospecção geral mostra tendência de um jogo que não seja de compadres entre Água Santa e Cotia. Digo isso porque imagino que o time de Diadema, mandante nesse confronto, tenha interesse em disputar o título da Segundona, projeto que só pode ser consolidado se terminar na liderança do grupo 20, posição hoje ocupada pelo Cotia. Água Santa precisa, pois, vencer o Cotia e partir pra cima, expondo-se a eventuais contra-ataques que garantiriam a emoção do jogo.

Enfim, a única combinação de resultados que interessa ao Assisense, agora, é aplicar 5x0 na Inter e torcer por um 4 a 0 do Cotia sobre o Água Santa. O que eu penso disso? Eu penso que mesmo para a disputa da Segundona em 2014 o estádio Tonicão precisa passar por reforma. Ou seja, que o planejamento, a partir de agora, tenha como foco um passo de cada vez, sabendo que no ano que vem iremos buscar, da estaca zero, a vaga na Série A-3, disputando novamente a Segundona. É mais fácil mudar de assunto do que acreditar no revés.

Uma vitória sobre a Inter será honrosa, com certeza, para encerrar esse belo trabalho desenvolvido por toda a diretoria do Clube Atlético Assisense. Diretoria, empresas apoiadoras, atletas e torcida estão de parabéns pelo espetáculo e pela paixão que proporcionaram a nós todos, apaixonados por futebol. A todos, nesse momento, eu bato palmas em pé, com o chapéu tirado!



Fotos: Blog do Messias
Jogadores cumprimentam a torcida, que 
compareceu ao Tonicão e fez sua parte

Trio de arbitragem fraco em comparação às outras 
equipes que a FPF enviou a Assis em jogos anteriores

O Água Santa trouxe torcida e jogo marrento a Assis nessa quarta

Formação para execução dos hinos de Assis e Nacional

Jogadores também fizeram a parte deles, mas faltou sistema tático

Sem setor B, ocupado pela torcida do Água Santa, 
setor A ficou quase que totalmente lotado







*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Nenhum comentário :