Cláudio Messias*
A greve nacional dos professores das universidades federais ganhou, hoje, a adesão dos campi da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande). Assembleia que durou toda a manhã e invadiu as primeiras horas da tarde aprovou a adoção da interrupção das atividades docentes enquanto instrumento para cobrar melhores salários, mudanças no plano de carreira e, prioritariamente, a revisão de decisões formais, em políticas públicas, do atual governo em relação a cortes nos investimentos em Educação.
A votação na assembleia dos docentes da UFCG terminou há pouco, por volta de 13h30. Professores e estudantes compareceram, novamente, em número suficiente para praticamente lotar as instalações do ginásio de esportes do campus central da universidade, no bairro Bodocongó, em Campina Grande. A exemplo da primeira assembleia, realizada há três semanas, placar novamente apertado: 264 votos a favor da adesão à greve,nacional 249 contra.
Com a decisão dessa quarta-feira, professores e estudantes ganham um fôlego para, em sala de aula, dialogar a respeito dos procedimentos que serão adotados daqui pra frente. É que a interrupção das atividades fica programada para o dia 25 de junho, data que coincide com a semana de um dos principais feriados municipais de Campina Grande, qual seja, o Dia de São João, comemorado dia 24 desse mês. Muitas prefeituras municípios próximos igualmente adotam o feriado em seus calendários de festividades juninas e, assim, em ponto facultativo, não colocam ônibus de transporte de estudantes para circular. Ou seja, a greve iniciando dia 25 coincidirá com uma data do calendário letivo comumente de baixa frequência discente.
A Universidade Federal de Campina Grande já vinha registrando adesão à greve nacional em dois de seus campi no interior da Paraíba. A primeira unidade a parar foi a de Patos, cujo sindicato de classe difere da instituição representativa com sede em Campina Grande. Mais recentemente a decisão por parar as atividades foi tomada pelo campus de Cajazeiras, no extremo Oeste do Estado. Com peso acadêmico e orçamentário considerado respeitável dentro da universidade, Cajazeiras, com sua posição recente, serviu de base para o discurso da parte dos docentes favorável à greve.
Não bastassem os cortes em investimentos no setor de Educação, protagonizados pelo governo federal desde janeiro, as universidades federais ainda padecem de atrasos nos recebimentos de recursos cotidianos, previstos no orçamento da União. Atualmente, no caso da UFCG, em Campina Grande, é gritante a situação dos trabalhadores terceirizados. Algumas empresas prestadoras de serviços afirmam não receber o valor estabelecido em contrato há meses, deixando, assim, de pagar os trabalhadores terceirizados. Isso gerou situações como a interrupção do expediente no restaurante universitário e reduziu os contingentes de limpeza e manutenção do campus central.
Professores que antes eram contrários ou tinham dúvidas sobre a necessidade real de deflagrar greve enquanto instrumento de reivindicação tiveram, nas últimas semanas, motivos pessoais, profissionais, para refletir melhor sobre o momento crítico por que passam as universidades federais. Na UFCG, por exemplo, materiais básicos do cotidiano de ensino-aprendizagem ou esgotaram ou simplesmente estão sem manutenção. Salas de aula com recursos tecnológicos: ou com defeito ou sob necessidade de manutenção e, o que gera mais pressão, secretarias com funcionários em greve revezando-se para atender aos educadores e alunos, sob os mesmos preceitos reivindicativos.
A parte contrária à adesão, agora, à greve nacional, seja por conta de estudantes, seja por conta de professores, lamenta que o primeiro semestre letivo de 2015 esteja a um mês do período de avaliações que encaminha o fechamento de notas e frequência. Pelo calendário oficial da UFCG as aulas do semestre seriam encerradas dia 4 de agosto, ou seja, daqui a menos de 40 dias. E isso, dentro de um cronograma de reposição de aulas e atividades que se estende desde 2012, quando do término da greve de maior duração da história das universidades federais. Sem a greve deflagrada há quatro semanas as aulas do ano letivo de 2015 já se estenderiam até o final de dezembro, de maneira que em 2016 o calendário com recesso em julho e férias entre dezembro e fevereiro seria normalmente retomado.
* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.
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