Cláudio Messias*
Faltando cravadas três semanas para o início do torneio da Segunda Divisão do Campeonato Paulista de Futebol a cidade de Assis ainda não tem certeza se contará com um ou dois clubes no certame. Sobram especulações, faltam informações oficiais e surgem versões que ora colocam o Vocem na disputa, ora o excluem. É fato, apenas, que o Esquadrão da Fé foi anunciado como tendo reintegrado as competições profissionais organizadas pela Federação Paulista de Futebol e retirado, pela mesma, de todos os dados cadastrais disponibilizados no site oficial daquela instituição. Não sobrou nem mesmo a notícia do badalado retorno vocemista.
Inteirei-me sobre a situação do Vocem na quarta-feira, também conhecida como anteontem. Vindo de frustradas tentativas de posicionamento junto à ouvidoria da Federação e à própria assessoria de imprensa da instituição, tracei a estratégia de acionar amigos jornalistas de longa data que atuam na imprensa esportiva do Grande ABC. Afinal, por que o Vocem, anunciado como inscrito na Segundona de 2014, não havia aparecido entre os clubes que obrigatoriamente têm de inscrever times nos torneios de categorias de base organizados pela FPF?
Mais de um jornalista buscou essa informação na sede da Federação nessas quinta e sexta-feira. Aqueles colegas jornalistas esportivos com relação mais estreita junto à assessoria de imprensa da instituição souberam não só sobre o status do Vocem, mas também os motivos que levaram àquela condição informada. Informações cruzadas, opiniões pessoais e profissionais seladas, o cenário fica ainda mais tenebroso nessa reta final de pré-temporada. A divulgação disso tudo, contudo, esbarra no problema de haver, com isso, mais uma pauta oficiosa para especulações, em uma cidade que já respira rivalidade antes mesmo de a bola rolar.
Dentro daquilo que concebo como ética posso dizer que há, hoje, duas correntes de possibilidades nessa situação toda. A primeira mostra um Vocem fora, não inscrito e sem qualquer possibilidade de disputa da Segundona. Isso porque o clube não estaria inscrito para o torneio, por motivos que nem o mais fuçado dos meus amigos jornalistas conseguiu levantar. A outra possibilidade, antagônica, dá conta de que isso tudo que está ocorrendo nos últimos dias em nada tem a ver com filiação/inscrição do Vocem e que o time está, sim, cumprindo seus prazos e detém de respaldo da própria Federação para continuar os preparativos normalmente. Essa posição, até agora, eu ouvi de apenas uma fonte consultada, que não é do jornalismo mas goza de profundo respeito de minha parte, e há anos. Fonte essa que tem trânsito dentro da Federação, conhece os corredores ora entendidos como atalhos para a solução de pendências administrativas e, por ser de fora de Assis, tem a tranquilidade de dizer que aqueles que apostam na exclusão do Vocem irão se decepcionar.
Diante disso tudo começa, a meu ver, se formar o caminho palpável por onde o trânsito de inscrição do Vocem tem caminhado. Estou falando de uma situação que mostra a Federação Paulista de Futebol como sendo de cunho privado, competindo ao seu próprio estatuto a condição de aceitação ou não de inscrição/filiação de uma agremiação que pleiteia o retorno enquanto membro, fora da égide da sociedade civil. Logo, se houve ou não acordo entre o atual grupo gestor do Vocem e o anterior, para a formação de conselho e diretoria e consequente registro disso em cartório, isso independe dos pré-requisitos de ingresso ao certame de 2014. Desde que os acordos com ex-jogadores e demais profissionais do passado sejam honrados e as pendências financeiras acertadas, nada impediria legalmente, sob os preceitos do futebol profissional paulista, que o Vocem volte a disputar um campeonato. E isso significa que a briga judicial travada em Assis, desde o final de fevereiro, envolvendo duas partes que reivindicam identidade como formadora civil do Vocem, em nada está relacionada ao que regimenta a Federação Paulista de Futebol.
Tudo isso seria lindo e maravilhoso para o Vocem não fosse um detalhe. Mesmo a inscrição/filiação não dependendo da Justiça Comum, o clube utiliza instalações públicas para a disputa de seus jogos sob o próprio domínio ou fora de Assis, e em eventual intervenção do Ministério Público, por exemplo, poderia ser impedido para tal. Livraria-se dessa ameaça caso tivesse estádio próprio ou utilizasse instalações privadas apropriadas para tal finalidade, como é o caso do estádio da Associação Atlética Ferroviária, mas compete lembrar que todos os prazos para inscrição e vistoria de instalações esportivas visando à temporada de 2014 já se esgotaram. Não bastasse isso, o Ministério Público do Trabalho também poderia somar-se à estrutura de obstáculos, uma vez acionado para que pendências trabalhistas do passado sejam acertadas e resolvidas para, então, a retomada de igual exercício profissional da mesma categoria entendida como prejudicada. Isso tudo, inevitavelmente, respingaria na Federação Paulista de Futebol, cujo presidente, Marco Pólo Del Nero, advogado que é, sabe muito bem medir as consequências de um imbróglio desse para a sua declarada candidatura a presidente da CBF, na sucessão de José Maria Marin.
Essas são algumas das versões que ouvi, nessa semana, sobre o que pode ter ocorrido, o que pode estar ocorrendo e o que pode vir a ocorrer na tentativa de colocar o Vocem na disputa da Segundona em 2014. Guardo expectativa, igual a todos, e não torço para que as coisas deem errado para o Esquadrão da Fé. Apenas lamento que existam, no momento, muitas empresas que, reconhecendo a força e vitalidade da marca Vocem, não decidem se apoiam aquele clube ou se ajudam o Atlético Assisense, que também leva o nome da cidade e tem salários a pagar. Daí a importância de os gestores atuais do Vocem virem a público e esclarecerem se é 8 ou 80. Se vão mesmo disputar e têm provas formais disso, que apresentem. Mas, se há pendências e isso representa dúvida, o incerto, que permitam que o outro clube receba os investimentos empresariais necessários, pois igualmente representa a cidade de Assis, e não uma facção.
Entendo que o que não pode ocorrer em Assis nesse início de campeonato é uma articulação que faça com que o Atlético Assisense prejudique o Vocem e/ou o Vocem prejudique o Assisense. Já manifestei, aqui, meu apoio ao Atlético Assisense em 2014, como forma de continuar o que foi iniciado em 2013, e não por reprovação ao Vila Operária Clube Esporte Mariano. Mas, se daqui a 30 dias, quando chegar o relatório que solicitei na Ouvidoria da Federação, eventualmente aparecer, por exemplo, que houve manobra do Atlético Assisense para emperrar a situação do Esquadrão da Fé, aí a coisa muda, pois a situação fugirá da transparência e da ética que entendo como necessárias para o bom fluir do futebol profissional. Nesse caso, não torcerei nem para Vocem e nem para Assisense, uma vez que os dois estariam prejudicados pela mesma ausência de valores que tanto defendo. Mas, saliento, ao menos por enquanto não é isso (manobras na FPF) que tenho visto. E o que fiz, agora, foi apenas uma suposição para fundamentar meu posicionamento individual.
Disputar a Segundona como Vocem e Atlético Assisense estão planejando e viabilizando aponta para fortes indícios de Assis, enfim, chegar onde Osvaldo Cruz, Tupã, Santa Cruz do Rio Pardo, Lençóis Paulista, Penápolis, Lins e outras cidades que antes cá mandavam seus representantes na última divisão do Campeonato Paulista já chegaram. Basta, contudo, olhar para a atual tabela da reta final da mesma Série A-3 e ver a pendenga de campanhas que Cotia, Tupã e Matonense estão fazendo, com sofrimento para fugir daquilo que seria o imediato retorno à Segundona. Logo, disputar a A-3 significa ter uma carteira de anunciantes forte, uma estrutura clubística decente e a ousadia de brigar pelo imediato acesso à A-2 de 2016. Caso contrário, caso persista essa sem-vergonhice que tenho visto em Assis nas últimas semanas, daqui a exatamente um ano será Assis a pauta do fiasco lá na A-3.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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