domingo, 28 de julho de 2013

Assisense começa bem, retranca e cede empate no final

Cláudio Messias*

É difícil separar raiva e paixão nesse complexo universo do futebol. Digo isso porque foi apaixonante ver o Clube Atlético Assisense jogar nos primeiros 45 minutos do confronto dessa manhã no estádio Tonicão, contra o Fernandópolis, pela primeira rodada da segunda fase da Segundona do Paulistão. Empolgamos nos primeiros 50%, nos decepcionamos nos demais 50% do tempo que dedicamos para ir ao estádio na ensolarada manhã de domingo sem cerveja. Sim, os 45 minutos finais foram de muita raiva.

Assisense e Fernandópolis empataram em 1 a 1. Mas, o Assisense fez 1 a 0 com o artilheiro e indispensável Jaílton, um atacante nato, desses em quem você pode descarregar responsabilidade porque o retorno é certo. Cheguei, nesse ínterim, a colocar em xeque o favoritismo que as estatísticas traziam ao Fernandópolis, um visitante ainda invicto nessa pedreira chamada Segundona. Afinal, o Falcão do Vale não dava chances ao visitante, marcava sob pressão e, enfim, tinha um sistema tático definido. Era outro Assisense naquele início de jogo.

Abro lacuna, agora, para uma situação que precisa ser resolvida urgentemente. Se Assis quer ter futebol de qualidade compatível ao Vocem dos anos 1980, tem que ter um estádio com gramado condizente, ou seja, à altura. Arrisco dizer que o Assisense é extremamente prejudicado pela tal da grama esmeralda que desde a inauguração do Tonicão tanto trabalho dá à equipe de manutenção. O mundo inteiro joga pelo menos em grama matogrosso, mas em Assis, na Sucupira do Vale, até hoje não apareceu um prefeito macho o suficiente para meter máquinas naquele ex-brejo, retirar meio metro de terra abaixo da grama e trocar tudo, inclusive o sistema de drenagem que, para quem não sabe, foi feito à base do uso de bambu que, isso, sim, todos sabem, apodreceu menos de 5 anos após a inauguração. Recado a você, Ricardo Pinheiro: seja o primeiro e único a ter essa coragem, pois é vergonhosa ver os visitantes chegando, pisando no gramado e fazendo cara de quem viu mosca na sopa.

Mas o gramado estava ruim para as duas equipes e, sinceramente, caso tivéssemos ali um tapete o que haveria, com certeza, era um placar mais elástico do que 1 a 1. O Assisense alternou taticamente seu sistema no primeiro tempo e isso deu certo. Encarou o 3-5-2-1 do Fernandópolis com avanços na formação 3-4-3 e na defensiva com um clássico 4-4-2. Jaílton era o homem de referência no ataque, enquanto Fernando Seedorf, volante, comandava tudo na defesa. Já disse aqui, e repito: nossa defesa é boa, segura, e tem o mérito de contar com um excelente goleiro. Sejam quais forem os planos para 2014, o primeiro deles é segurar, desde já, esse goleiro em Assis.

Foto: Blog do Messias
Jaílton ouve, hoje, 'conselhos' do marcado adversário


Com o Fernandópolis apostando em jogadas costuradas pelo meio, o Assisense fez, e bem, a distribuição das jogadas pelas extremidades. Não por acaso nossos laterais sentiram o calor de meio-dia na metade do segundo tempo e o time ficou sem fôlego. Mas enquanto esse fôlego existiu o Assisense não repetiu os jogos de chutão de bola pra frente da primeira fase. Colocou, na medida do possível, a bola no gramado e trocou passes rápidos. Tudo bem, foi de uma cobrança de falta que Jaílton apenas encostou na bola e abriu o placar no final do primeiro tempo, por volta de 42 minutos. Mas, prefiro ir à origem do lance que resultou na falta, pois o Fernandópolis teve de parar dessa forma um lance que fatalmente culminaria no primeiro gol do jogo. Lance pela esquerda, aberto.

No segundo tempo o Falcão do Vale fez o que Charles Müller já sabia que não se poderia produzir no futebol quando a redonda ainda era feita de couro de boi: recuar quando se ganha por apenas um gol de vantagem. Foi o Fernandópolis o dono do jogo no segundo tempo. Impaciente, a torcida novamente xingou a comissão técnica pela improdutividade do time em campo. Ganhávamos por 1 a 0 e ouvíamos vaias e xingamentos das arquibancadas. Claro, torcedor, além de boca suja, é filósofo da bola. Além de curtir uma boemia da noite anterior sabe, e bem, que segurar resultado contra um adversário invicto foge da racionalidade do universo do futebol.

O gol do Fernandópolis saiu após os 45 minutos do segundo tempo. Um castigo, pois antes de entrar a bola ainda raspou na luva do nosso goleiro, tocou no pé da trave direita e só foi atingir a rede do lado oposto. Gol chorado. Literalmente chorado, pois o Assisense, pelo que apresentou no primeiro tempo, merecia ganhar. Só que futebol tem dois tempos de 45 minutos, e na etapa complementar quem merecia o resultado era o Fernandópolis. Um lado para cada time, tudo igual no placar e, agora, fazer om planejamento de maneira que nos dois próximos jogos, fora, consigamos ao menos um empate e uma vitória sobre Taboão e Diadema. Dois empates fora também não são tão ruins assim, mas, já que o Taboão é o único dos 4 do grupo que perdeu, que tiremos vantagem disso na quarta-feira que vem, em Jundiaí.

Como não fujo de minha opinião, confesso decepção com o sistema tático do Assisense nesse domingo. Tínhamos o resultado nas mãos e jogávamos o suficiente para fazer 2 a 0. Bastaria repetir a ação ousada da vitória sobre o Grêmio Prudente, no Tonicão. Mas, não. O time recuou na etapa complementar, talvez sem orientação para tal. Retrancar é normal, eu reconheço, principalmente quando se joga contra um Fernandópolis que chega com fama de excelente aproveitamento. Só que respeitar demais é um exagero. O máximo que arrisco dizer é que o Fernandópolis está no mesmo patamar do Assisense, e olha lá. E tem mais: pelo que vi hoje, se o Assisense chegar à última rodada, no returno, precisando vencer esse mesmo Fernandópolis lá, consegue ganhar. Só que antes disso tem um detalhe: tem de querer vencer.



*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Um comentário :

VALMIR DIONIZIO disse...

Estive no estadio e seu comentário foi o que assisti!
Claro que não poderia escrever com tanta clareza!
Parabéns Messias!
Faltou vontade de vencer!