terça-feira, 3 de junho de 2014

TJD pega pesado contra Atlético Assisense por ingressos 'brancos' do derby de maio

Cláudio Messias*

Existem situações em que o molho sai mais caro de que o peixe. O Clube Atlético Assisense aprendeu isso quando confeccionou lote de ingressos paralelo para o derby contra o Vocem, na semana passada. Nessa segunda-feira, no Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de Futebol, o Falcão do Vale recebeu punição que assustou até mesmo aos mais pessimistas. Multa de R$ 3 mil, em meio a uma crise em que sequer salários de jogadores são pagos em dia.

A ata n.o 16/2014, do TJD, foi tornada pública na tarde dessa terça-feira. Nela, o Atlético Assisense foi enquadrado no artigo 191, parágrafos 1 e 3, do Regulamento Geral das Competições organizadas pela Federação, que prevê condições para a confecção de ingressos para jogos oficiais. Somado a isso, os membros do Tribunal ainda deram prazo de 72 horas, a contar da sessão, realizada na noite dessa segunda-feira, para que o clube de Assis comprove, documentalmente, os recolhimentos previdenciários referentes ao jogo contra o Vocem, ocorrido no dia 25 de maio, no estádio Tonicão.

A punição do TJD pegou pesado contra o Falcão do Vale. Falava-se em multa de R$ 750,00, mas o valor de R$ 3 mil surpreende. Serve, contudo, de lição à diretoria do clube, que publicamente justifocou, nas redes sociais, como normal a postura de alterar o valor do ingresso para o derby, de R$ 10 para R$ 15, mediante confecção de ingressos sem o consentimento da FEderação e sem vínculo com a empresa Ingresso Fácil, detentora da exclusividade de controle do acesso aos estádios paulistas em competições como a Segunda Divisão. O Atlético Assisense, pois, foi enquadrado na condição de quebra de contrato, com o agravante de ter produzido bilhetes de acesso a praça esportiva sem apólice de seguro, condição contratual de participação no torneio.

Fontes por mim consultadas na Federação garantiram que a pena, apesar do valor monetário alto, ainda é tênue diante das possibilidades de punição previstas. Por exemplo, pelo fato de ter vendido ingressos sem seguro pessoal, individual, para o torcedor que foi ao derby, caso acontecesse algum tipo de incidente com a ou as pessoas assim condicionadas, com necessidade de acionamento de seguro, o Falcão do Vale simplesmente poderia, ontem, ter sido eliminado de qualquer possibilidade de disputa da Segundona em 2014. Melhor, pois, pagar R$ 3 mil do que ficar fora e ter elementos de empecilho para voltar em 2015. E que o que parecia normal passe, agora, a ser visto ao menos como risco, situação mínima para um clube que se diz profissional.

Com a multa aplicada pelo TJD, o Atlético Assisense praticamente empata entre o que arrecadou com o derby e o que terá de recolher para os cofres da Federação. Na renda formal declarada, o Falcão do Vale vendeu pouco mais de 3 mil reais em ingressos. Não tenho mais esse controle, pois, como postado no Blog, perdi a confiança nesse tipo de referência que parte da FPF. Refiro-me, pois, ao ranking de bilhbeterias que eu fazia, nesse espaço, semanalmente. Digo que não tem sentido tomar como base o que a Federação divulga como boletim financeiro de uma partida, se um clube pode, como fez o Atlético Assisense, produzir lote grosseiro de ingressos à parte, em gráfica de sua escolha. No caso em voga, claramente, o TJD soube do caso dos ingressos do derby a partir de cobrança de posicionamento desse blogueiro. Mas, mas demais partidas realizadas, quem garante que os boletins financeiros não foram igualmente manipulados.

Providências estão visivelmente sendo tomadas. A ponto de, agora (20h06), o site da Federação não ter um boletim financeiro sequer acessível na plataforma de dados da Segunda Divisão. Quem faz a gestão do futebol,paulista deve estar, desde ontem, envergonhado com as brechas de corrupção que a formalidade das competições permite.


*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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