Cláudio Messias*
Você, raro e exceto leitor, é testemunha de meu silêncio. Há
exatas três semanas nada posto aqui no blog. Não, necessariamente, por motivos
relacionados a Copa do Mundo. Mais precisamente, uma tentativa de livrar minha
identidade blogueira do viciante universo do futebol. Não deu. Felipão fez
romper o silêncio. Do jeito que está, não dá.
Antes de entrar nos pormenores, vou nos pormaiores.
Primeiro, Hulck foi o melhor jogador em campo contra o fraco, mas muito fraco
Chile. Que vergonha do Válter, o espanhol, vendo esse medíocre Chile nas
oitavas e a Fúria, atual líder do ranking mundial de Seleções, desembarcando em
Madrid. Sorte do bigodão sulista, que preferiu vencer Camarões a enfrentar a
laranja holandesa. Fosse a Holanda, hoje, e agora estaríamos chorando o suco de
laranja derramado.
E, nesse ínterim, que fique registrada a pífia participação
da torcida mineira. Meia dúzia de chilenos fez mais barulho do que a ampla e
massacrante maioria que, quando muito, cantou o chato e ridículo “eu sou
brasileiro com muito orgulho e muito amor”. Pelo amor de Deus, virem o disco
dessa merda. Sou brasileiro, tenho orgulho, tenho amor, mas, também, tenho ódio
dessa forma única de apoiar a Seleção nas arquibancadas. Que cantem “Brava
gente, brasileira, longe vai temor servil...”. Pelo menos, cantaremos nossa
comprovada independência do resto do mundo. Nota zero à mineirada, que não
perde uma oportunidade de mandar São Paulo tomar no c*, mas vê a paulistada ao
menos apoiar a Seleção com mais repertório, assim como o fizeram os cearenses,
etc... Quando muito, o Mineirão – pasmem – esbravejou um “eu acredito”. Não, eu
não acredito na saída de Felipão, única alternativa para mudar tudo, começando
pelo que decidiu o ladrão de medalhas Marin.
Agora, dentro das quatro linhas, o que vi hoje foi a mesma
Seleção que venho criticando, aqui, no blog, desde a transição de eras Mano
Menezes>Felipão. Quero que um santo torcedor me diga onde está o meio-campo
de criação dessa Seleção que está disputando a Copa. Mano tinha Ganso e
Ronaldinho Gaúcho. Ah, tá... Felipão tem Oscar. E cadê Oscar contra o péssimo
Chile? Sim, a opção seria William. Ok,
William não fez nada na prorrogação e ainda errou uma penalidade de forma
infantil, amadora. E a alegria das pernas de Bernard está no meio das pernas de
Bernard, para Felipão.
Um festival de incoerências fez o Brasil passar para as quartas
de final nessa tarde de sábado. Nós, torcedores, carregamos no rosto o sorriso
de velório, naquelas piadas contadas à margem do defunto já em decomposição e
só esperando o sepultamento. Comemorar o que com um futebol que tem Jô, o
enganador, no ataque. Felipão deve ser míope e, ano passado, confundiu a negra
pele de craque de Ronaldinho Gaúcho com a negra pele de perna de pau de Jô, no
Atlético Mineiro. Chamou o mais alto, o maior, pois tamanho, no prazer do nosso
técnico, parece fazer tanta diferença quanto a alegria que isso proporciona
através do meio das pernas.
Parece-me que até ontem Felipão, o burro, tinha dúvidas se
colocaria Paulinho, titular, ou Fernandinho, que com sorte fez um gol contra os
‘perigosos’ Camarões. Optou pelo segundo, mas, quando viu que não daria certo,
trocou esse por... Ramires. Oras bolas, o que foi aquilo? Se Fernandinho
substituiu Paulinho e não deu certo, por que entrou Ramires? E o que fez
Ramires no jogo todo quando esteve em campo? Respondo: somou-se a Jô e apenas esboçou
um esforço para mudar a realidade em que o Chile, rezando pelas penalidades,
administrou o jogo com – pasmem – mais de 60% de posse de bola.
Continuo advertindo que desde a convocação para a Copa
Felipão olha para o banco de reservas e vê mais-do-mesmo. Se tira Fred, coloca
Jô. Se sacrifica Oscar, coloca William. Se tira um volante, coloca Ramires ou
Hernandes. E quando não tem um meio de campo criativo, talvez recorde-se que
deixou Ganso, Lucas e Ronaldinho Gaúcho fora de sua lista. Sorte nossa que
David Luiz, o ídolo, sobressaiu-se à lesão e entrou em campo, livrando-nos do
risco de ver Henrique entrar. Sim, o Felipão de hoje corria o risco de colocar
Henrique e não Dante.
O resultado disso tudo pôde ser visto imediatamente após as
cobranças de penalidades. Basta olhar as imagens para ver que os jogadores
titulares e reservas correram para o centro de campo para comemorar a
vergonhosa vitória nos pênaltis sobre o choroso Chile. Ninguém, mas
absolutamente ninguém foi abraçar, primeiro, Felipão ou sua bola esquerda
chamada Murtosa. Parreira, com aquele sorriso plastificado, ficou com cara de
bobo procurando mariposas por abraçar.
Agora, chegou o momento que eu aguardava para essa Copa.
Repito, entrei na rotina de reativação do Blog antes, por não suportar essa
fraqueza da nossa comissão técnica. Minha intenção era voltar exatamente nas
quartas-de-final, uma vez que muito antes do início da competição eu já
imaginava que desse estágio não passaríamos. Triste ver a Seleção anfitriã assistir
a uma festa de meia dúzia de chilenos em um Mineirão calado. Hoje, torcida e
jogadores foram farinha do mesmo saco. Apáticos, sem sangue nos olhos. Nem vou
entrar no detalhe de Valdívia, craque, ter ficado no banco e sequer aparecer
nos relacionados adversários, o que poderia ter feito a diferença.
Seria acreditar demais que um técnico jogasse a toalha em
plenas oitavas de final e deixasse uma Seleção que representa o país que sedia
um mundial de futebol. Como isso, eu sei, não vai acontecer, fica aqui a utopia
de acreditar que haverá uma mudança significativa. Basta olharmos e vermos quem
são nossos destaques no jogo de hoje. Júlio César está quites com o orgulho
nacional 4 anos depois, da mesma forma que Hulck, o verde, correu por 9
jogadores de linha nos 120 minutos em que a bola formalmente rolou. Neymar,
esforçado, joga isolado e não recebe a bola com qualidade. Seu colega de
formação no Santos, Ganso, foi preterido pela comissão técnica, mesmo sendo um
dos melhores meias do futebol mundial na atualidade.
Definitivamente, agora entendo que em 2002 foram Ronaldo e
Rivaldo que nos deram o penta. E se depender de Felipão e sua comissão técnica,
daremos vexame contra Colômbia ou Uruguai. Temos time, temos técnica, mas não
temos comandante à altura de um título importante como o de uma Copa do Mundo
realizada em nossa casa. Fora, Felipão. E depois não me acusem de oportunismo
na crítica, pois por mim o comando ainda estaria com Mano Menezes. Jamais me
iludi com a Copa das Confederações nem com as incoerências desse comando das
camisas amarelas.
*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre
e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.
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