domingo, 9 de junho de 2013

EU, DA POTRONA - Brasil do Segundo Tempo 3 x 0 França. Esse Felipão...


Cláudio Messias*

Continuo tentando entender o conceito de lotação de estádios nessa temporada em que o Brasil está prestes a organizar uma Copa do Mundo. A Arena Grêmio estaria lotada para o jogo de hoje, entre Brasil x França. Todos os ingressos vendidos e lá estavam as cadeiras azuis vazias. Uma semana atrás, no Maracanã “lotado”, inúmeras cadeiras igualmente vazias.

Em campo, o que vi foi uma Seleção Brasileira que continua sendo a cara de Felipão. Só ele, teimoso, para segurar os laterais na marcação, como se fôssemos nós os visitantes e o jogo valesse classificação com um empate. Bastou o técnico francês reinventar a roda, colocar o time titular que não escalara contra o Uruguai, e lá foi Felipão ter ataque de labirintite nos vestiários. O homem temeu a mudança francesa, que de novo não trouxe nada.

Continuo não entendendo o que aquele volante Luiz Gustavo tem que só Felipão vê. A retranca do nosso técnico foi tamanha que em seu sistema tático o futebol de Paulinho desapareceu. E cada vez mais fica nítida a opção por Huck, que abandona a função de atacante  e assume a condição de marcador. Impossível, nesse contexto, querer que a bola chegasse redonda a Neymar e Oscar. Fred, como lhe é característico, foi torcedor privilegiado.

O corte de Leandro Damião é a notícia que mais me preocupa nessa fase pré-Copa das Confederações. Se com Fred a coisa está feia, com a opção de Jô beiramos ao desespero. Ambos são altos, fazem gols, têm presença de área, mas são totalmente instáveis. A cena característica de Fred, hoje, foi colocar as mãos rente ao queixo e olhar para o nada depois de não ter feito igualmente nada.

Não sei se é a camisa 10 da Seleção ou a contratação do Barcelona, mas as canelas finas de Neymar estão mais fortes. O cai-cai característico está sendo substituído por uma ereção permanente, de dar inveja a qualquer dilatador das vias venais situadas na região pubiana. Até o corte de cabelo ficou mais decente, deixando o perfil calopsita nas viradas páginas de um passado santista não muito remoto. Vejo, cada vez mais, futuro nesse moleque.

Felipão só não foi vaiado no intervalo porque é da casa. O jogo caminhava, sim, para um empate e uma amarga estatística de a Seleção não vencer sob o comando do técnico que iniciou o rebaixamento do Palmeiras e de Mano Menezes em 2012. Teimoso, não muda o sistema tático com a bola rolando e se acovarda ao ponto de não antecipar alterações. Digo isso porque visivelmente aquele sistema de jogar com dois zagueiros e um volante fazendo as partes de terceiro zagueiro não dá certo com o elenco atual que ele mesmo chamou para vestir a camisa nacional.

Por sorte, viramos o primeiro para o segundo tempo sem estarmos em desvantagem no placar. E isso favoreceu para que Fernando, Lucas e Ernanes entrassem e resolvessem. Parece ter sido trocar seis por meia dúzia, mas não foi. Felipão tirou Oscar para colocar o volante Fernando. Fosse ele mais ousado, coisa que não é, e manteria o trio Lucas, Oscar e Neymar em campo. Àquela altura Felipão já tinha dado conta da burrice de recuar Marcelo e Daniel Alves e revertera o sistema tático retrancado que deu posso de bola à França no primeiro tempo e nula chance de gol ao Brasil.

Ernanes é, e faz tempo, um volante que joga avançado e que faz, e muito bem, as funções de meia, jogando ora pela direita, ora pela esquerda. Igual a Paulinho, penetra pelo meio com maestria e sabe posicionar-se no ataque. Não por acaso, foi nessas condições que acertou bola no travessão da Inglaterra no primeiro gol, semana passada, e fez o segundo gol, hoje, contra os franceses.

O Brasil só passou a jogar nos contra-ataques nos 15 minutos finais de jogo, comprovação da covardia tática de Felipão. Basta analisar todas as substituições feitas pelo técnico nos 90 minutos e ver que ele mais salvaguardou a defesa do que contemplou o ataque. Na cabeça de nosso comandante, podíamos até passar sustos, mas só o gol de Oscar estava bom. Ao ponto de o autor do primeiro gol ser substituído logo em seguida, com semblante de quem queria ficar.

Concordo que nossa Seleção vá para a Copa das Confederações mais confiante. Digo isso pela vitória de 3 a 0, e não pela vitória sobre a França. Explico. A França era um pedaço de jenipapo em nossa garganta, e não mais que isso. Só classificou-se para a última Copa naquele gol roubado, em que Tierry Henry meteu a mão na bola e, assim, os franceses eliminaram os irlandeses. De importante a França não ganhada nada há um bom tempo e não goza de posição muito mais privilegiada que a nossa no ranking da Fifa. Importante, mesmo, era ter metido os mesmos 3 gols na Inglaterra, há uma semana.


*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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