segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pau, pedra e o fim do(s) meu(s) computador(es)


18 Fevereiro 2013


Cláudio Messias*

Tenho amigos que amam a tecnologia. Se pai é o melhor amigo do filho, logo, filho também tem de ser o melhor amigo do pai. E nessa ordem, ou não necessariamente, meus filhos, esses amigos, são apaixonados pela tecnologia, materializada em forma de computador, videogame e telefones celulares. Metafísico e físico reunidos em expressões ora dentro, ora fora da razão.

Fossem meus computadores dignos desse sentimento de consideração que costumamos reservar a humanos e amanhã, terça-feira, 19, teria eu de encontrar um padre para rezar a missa de sétimo dia. E dupla, pois duas almas tecnológicas deixaram esse chão para nunca mais voltar. Sim, raro e exceto leitor, perdi meus dois computadores.

Tenho um histórico cômico de relação com computadores. Tecnologia doméstica que quinze anos atrás era privilégio de mais abastados, os computadores pessoais só tornaram-se artigo das Casas Bahia, pagáveis em a perder de vista 36 parcelas, de dez anos para cá. Aqui em casa fazíamos o que era moda: up grade em computadores velhos. Foi nesse tipo de aventura que meu filho mais novo, Júlio, de tanto ver as tentativas do pai, ora com êxito, ora sem êxito, de dar sobrevida aos PCs, aprendeu o suficiente sobre hardware e software para hoje, no segundo ano do ensino médio, estar decidido a fazer Engenharia da Computação na Politécnica. Chegou um momento, alguns anos atrás, que decidíamos juntos o que faríamos com ‘máquinas’.

Minha aventura nas autópsias de velhos microcomputadores aqui de casa resultaram, em 2003, de tanto pagar 40 reais por cada visita de técnicos. A cada visita esses profissionais ficavam, aqui, por volta de uma hora e meia, duas horas. Tempo em que faziam backup dos nossos arquivos e formatavam o computador. Até que um dia o HD não suportou mais ser formatado e tive de comprar outro, menos de um ano depois de ter adquirido aquele que morrera. HD novo instalado, resolvi entrar em sites, blogs e fóruns que falassem algo sobre perda de HD por excesso de formatação. Descobri, pois, que havia orientações sobre o passo a passo para solucionar a maioria dos problemas por que já tinha passado em se tratando de computador. E, melhor: que só se formata um HD em caso extremo.

Sim, para o técnico é mais fácil vir, fazer back up e formatar o HD do que necessariamente passar o dia à frente do computador tentando, às vezes sem solução, encontrar o problema e sua consequente solução. Nesse caso, o dia do técnico, em 2003, valeria 40 reais, o mesmo valor que pagávamos, honrados, pela diária de nossa auxiliar, que entrava às 7h30 e saía às 16h30, depois de lavar roupa, passa roupa e dar uma geral na faxina da casa. Diarista, claro, entra às 7h30 sabendo que solução dará a meu problema relacionado a roupa e limpeza da casa, privilégio de que não goza o técnico de informática diante do ovo chamado computador.

Mas não estou, aqui, para criticar a práxis dos técnicos de informática, pois até hoje sou amigo de todos eles. Meu assunto, pois, são os computadores que, novos ou velhos, param de funcionar. E de tanto ter problema com computadores velhos, resolvemos comprar um novo, com configuração que atendesse as necessidades, simples, de produzir textos, minhas e de minha esposa, e um pouco mais sofisticadas, de nossos filhos, entrando na geração de gamers. Dessa vez, cada um passou a ter seu próprio computador.

Família toda reunida, lá fomos para Pedro Juan Caballero. Se alguém acha pejorativo falar de ir ao Paraguai buscar computadores, tudo bem, mudo o discurso: viajamos, na Semana Santa de 2010, para Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, e aproveitamos para fazer compras no Shopping China no Sábado de Aleluia. Só não tomamos milk-shake no MacDonalds porque em Pedro Juan Caballero não tem MacDonalds. Mas, nos satisfizemos com o prato-feito que devoramos em um restaurante que ficava situado em frente a lojas cujos seguranças expunham o poder de força na cintura, traduzido em forma de pistolas automáticas.

Comprei placa-mãe, processador e pentes de memória em Pedro Juan Caballero. A esposa voltou de viagem com um netbook. Os filhos, com monitores LCD. E a família toda com uma antena e um aparelho AZ América, também chamado de sky gato –  sei por que não denominaram esse aparelho de sky cat -, que funcionou durante dois meses e foi descartado. Tudo declarado e sem extrapolar o limite de cota, em dólares, para cada uma das cinco pessoas que lotavam o carro.

Os computadores de meus filhos eu terminei de configurar na Santa Ifigênia, em São Paulo. Como ia semanalmente à capital durante a fase de cumprimento de créditos de meu mestrado, sempre dava uma esticada naquele centro velho de Sampa. E foi lá que busquei HDs, processadores, pentes de memória e, claro, os gabinetes. Tudo, portanto, novo, com configurações que atendiam às aspirações de cada um e, o que é melhor, com Windows, Office e demais softwares originais, também comprados à parte.

Com esse relato todo fica difícil acreditar que meus computadores morreram, não é mesmo. E isso porque não entrei em detalhes sobre os notebooks HP que comprei, mais recentemente, para mim e para minha esposa. E diretamente no site da HP. O melhor, mais bem configurado e potente deles morreu na Terça-feira de Carnaval de 2013, ao completar um ano e dois meses de idade. Não dá para acreditar, mas é verdade. Um problema no Windows 7 fez danificar o HD, indo para o espaço todo o conteúdo nele arquivado.

Comprei esse notebook para trabalhar e pesquisar. Nos congressos que vou, nas aulas que leciono, nas interações com meus orientandos de pós-graduação ou, simplesmente, deitado à rede ou fazendo uma cultural, lá estava o notebook funcionando. Jogo do Corinthians, lá está no notebook ao colo, seja provocando, seja me defendendo de provocações nas redes sociais. E a morte do HD acabou com todos esses registros.

Tudo bem, estou vacinado contra esse tipo de imprevisto. Afinal, para quem já perdeu 240 páginas de uma dissertação de mestrado e toda uma coleta de dados da pesquisa que deu base a essa dissertação, há sempre um arquivo reserva. E aprendi a fazer isso quando um HD novinho, em 2010 – antes da viagem a Pedro Juan Caballero – travou com força suficiente para nunca mais voltar a respirar. E, um ano depois, na experiência amarga de ter minha mochila furtada aqui mesmo em Assis. Nela estava meu netbook, comprado especificamente para a pesquisa de mestrado.

Se você, raro e exceto leitor, está pensando que a salvação de todos os meus arquivos estava garantida depois de tantas lições, sente-se, pois a história continua. Na mesma terça-feira de Carnaval, uma semana atrás, minha placa-mãe buscada em Pedro Juan Caballero apresentou um problema nunca antes visto. Ao tentar desligar meu computador, ao final daquele dia em que o notebook já havia pifado, achei estranho que ao mexer no mouse a tela do monitor não voltava. Percebi, então, que a luz vermelha do HD não piscava. E, curioso, não havia som de nada vindo de dentro do gabinete.

Acionei a tecla Caps Lock do teclado e a luzinha correspondente não acendeu. Características de computador travado. Forcei a reinicialização pelos botões, e nada. Control, Alt, Del... e nada. Apertei o botão de desligar no frontal do gabinete, e nada. Mantive o botão de desligar do gabinete acionado, e ainda assim, nada. Retirei o cabo de força do gabinete e, ufa, o computador desligou – se não desligasse eu chutaria, com certeza, pois seria macumba.

A saga dos computadores mortos começava. Com trabalho acumulado até a cabeça, tive de ficar a noite toda de terça-feira e a Quarta-feira de Cinzas tentando dar jeito, pois dependo quimicamente dos meus arquivos salvo nos dois computadores. Fui à Eletrônica Pólo incontáveis vezes. Consultando tutoriais e fóruns vi que meu problema poderia estar associado da falta de pasta térmica no processador a fonte de energia, botão de liga e desliga, cabos de ligação, pentes de memória e, pasmem, poeira, também conhecida como sujeira.

Troquei tudo isso, e nada. Nisso passaram a quarta-feira, a quinta-feira e quando chegou a sexta me dei por convencido. Além de levar a filharada para cortar cabelos no salão Lebaron, aproveitei para deixar, no prédio ao lado, meu gabinete lá na UDN Informática, que ao contrário do que se possa pensar não pertence a Ronaldo Caiado, mas, sim, a meu amigo Udenílson, a quem conheci através de outro amigo, igualmente professor e ainda mais fissurado por informática doméstica, Rodirlei Assis.

Tal qual médico que sai da sala de cirurgia de um paciente terminal de câncer, Udenílson e Marcão, seu técnico, vieram até o balcão de atendimento com aquele semblante de “fizemos o que foi possível para salvar o paciente, mas...”. Meu gabinete voltaria pra casa com um kit novo de placa-mãe, processador e pentes de memória, que somados a um HD, um pente de memória DDR 3  para um dos filhos e um console de volante e pedal para PS3 de toda a família, resultaram em mil reais a menos no bolso. Detalhe: o kit só chegaria dali alguns dias.

O leitor que fuça em computadores deve estar perguntando: cadê o HD do gabinete cujos processador, placa-mãe e pentes de memória queimaram. O HD, de 500 gb, continuou aqui em casa, pois para acessar meus dados e poder trabalhar no final de semana o coloquei como slave no computador de meu filho mais novo. Só coloquei, pois ele não funcionou. Sim, o que estava ruim ficou pior. E, aprenda: se a coisa está feia, ela pode ficar ainda pior. Perder dois HDs e todos os meus arquivos em um só dia é muito para a cabeça. E para a vida de professor, pesquisador, jornalista e, agora, blogueiro.

Ainda não sei se perdi meus arquivos do HD. Estou esperando que a encomenda de meu kit chegue, vinda de Pedro Juan Caballero ou arredores paraguaios. Foi essa a peregrinação que me impediu de manter a frequência de publicações no Blog. A causa é justa, e disso eu sei. Mas o que si, mesmo, é tal qual quando perdemos um ente querido, lembrar de meus arquivos, sejam eles textos, fotos da família, dezenas de milhares de músicas e diversos outros tipos de produção, dá uma vontade danada de chorar.

* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.

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