terça-feira, 30 de dezembro de 2014

No Walmart de Assis,SP litrão não é retornável

Cláudio Messias*

Na noite dessa terça-feira fiz meu rotineiro rodízio e, assim, me dirigi ao Walmart para a compra de poucos itens. Com cerveja em lata em estoque para o reveillon, optei por comprar quatro embalagens de 'Litrão' de cerveja, em especial a Antártica Subzero, de minha preferência. Se você, raro e exceto leitor, me perguntar por que somente 4 litrões confessarei não saber, exatamente, responder. Mas, sei lá por que, quis comprar quatro litrões de Subzero, mesmo tendo latas na geladeira e fora dela.

Quando os litrões chegaram ao mercado, alguns anos atrás, adquiri meus primeiros vasilhames no hiper center Amigão. Lá, compravam-se litrões Conti e pagava-se somente o conteúdo líquido; o vasilhame vinha de brinde. E nesse tempo todo ganhei até camisinha para litrão, da Skol, nessas promoções comumente feitas nos verões. Meu objeto de desejo maior, porém, eu nunca consegui, mesmo procurando em supermercados, junto a promotores de venda, pontos de revenda e até mesmo na distribuidora 'sobrenomônima', minha, local: uma caixa plástica que acomode os litrões e favoreça no transporte.

Mas, voltando à minha ida, agora há pouco, ao Walmart, cheguei àquele estabelecimento na iminência de um temporal. Mesmo assim, optei por deixar os 4 vasilhames no porta-malas e, primeiro, perguntar se haveria um setor específico para deixar as garrafas vazias e, então, pegar as cheias, correndo o risco de ter de voltar ao estacionamento debaixo de chuva. Logo na portaria uma funcionária identificada com crachá me informa que não, não há setor de troca de vasilhames no Walmart de Assis. Ali, segundo ela, eu compro a cerveja litrão e já levo o vasilhame. Deduzi, pois, que repetia-se a promoção de veraneio em que paga-se somente o conteúdo e ganha-se a embalagem.

Desconfiei daquela, digamos, proposta. Mas, reconheci ter feito bem deixar os 4 vasilhames de litrão no porta-malas do carro. Esposa para um lado, marido para o outro, lá fui eu para o corredor de bebidas. Eis que deparo com os litrões na prateleira, intactos. Consumidores pegavam as latinhas e latões, mas preteriam as garrafas. Também, pasmem, um latão de 550 ml de cerveja Skol era vendido a R$ 3, enquanto o Litrão da mesma marca tinha estampado na etiqueta o valor de R$ 6,25. Claro, estava-se pagando pelo conteúdo mas também pela embalagem. Para não precisar desenhar: 2 latões = 1,1 litro. Logo, se paga-se R$ 3 por 550 ml, logo, tem-se 1,1 litro de Skol por R$ 6. Sai, pois, mais barato e mais cômodo levar os latões, sem o inconveniente do peso do vasilhame e o incômodo da embalagem a ser guardada.

Peguei 4 latões de Skol, paguei, mas deixei os litrões na patraleira. No caixa, perguntei ao funcionário sobre a política de retornáveis da empresa e ele confirmou que não, não há setor para isso no Walmart. Devolvi a pergunta, com ironia, claro, se o Walmart, depois, compraria os mesmos litrões, pagando a diferença entre o que vale o conteúdo e o que é cobrado pela embalagem e ele, compreensivelmente, apenas riu.

Consutlei, nas redes sociais, alguns amigos que trabalham com o setor de bebidas, não só em Assis, mas na região e também em Campina Grande. Fui informado de que não há uma norma para a comercialização de bebidas com embalagens retornáveis no Brasil, mas que o pressuposto de que a venda forçada do vasilhame, sem opção de troca prévia, fere o Código de Defesa do Consumidor. Ou seja, o Walmart pode, sim, vender líquido e vasilhame retornável de qualquer bebida, desde que, na entrada e todos os seus jornais de ofertas, especifique que não detém setor para a troca de embalagem e, portanto, ninguém seja forçado a levar, sem necessidade, a embalagem que já tem em estoque. Também,, é necessário especificar o preço do conteúdo e o da embalagem, separadamente.

O que me causa mais estranhamento é que Walmart e Bom Preço fazem parte do mesmo grupo empresarial. O primeiro tem lojas no Sudeste e o outro, no Nordeste. E em Campina Grande compra-se cerveja em garrafa, igualmente retornável, como no caso do litrão, sem a venda forçada que constato em Assis.

Não deixarei de comprar no Walmart, uma vez que lá encontro produtos e itens que via de regra os outros supermercados de Assis não oferecem. Mas, sinto cada vez mais que determinadas empresas, especialmente do setor supermercadista, fazem e refazem na cidade, ignorando que consumidor tem, muito mais do que direitos, poder consciente de compra. Somos seres com um mínimo de inteligência. E, uma hora ou outra, simplesmente decidimos não comprar mais em determinado estabelecimento. E quando isso acontece e determinada loja ou filial fecham, saem por aí dizendo que Assis é uma cidade ruim de negócio. Ruim de negócio é quem vei aqui, se faz por arrogante e enfia produtos goela abaixo, sem a mínima premissa de respeito.



*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.

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