segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Mais do novo para a Sucupira do Vale

O que calço não é novo. O que visto não é novo. O que como não é novo. Nada, destarte, é mais velho do que a minha vontade de mudar. Minha mudança é o caminho para o meu novo eu.

Cláudio Messias*

Raros e excetos leitores, amigos ou não, cá estou, de volta. Quando interrompi as postagens, em agosto de 2015, o país tinha uma presidente da República e não uma primeira-dama. Assis, a Sucupira do Vale, tinha um prefeito sem primeira-dama, e não três primeiras-damas. Ou seriam terceiras damas? E a mais hegemônica das Nações do planeta tinha três primeiras damas e um presidente cuja rejeição faria o planeta ver-se às voltas com o nefasto cheiro do fascismo no ar.

Deixei esse espaço quase intacto para debruçar-me na construção de uma tese. Meu doutorado, iniciado em 26 de fevereiro de 2014, estender-se-iria até 26 de fevereiro de 2018. Motivos diversos, contudo, fizeram-me apressar o processo. E a tese está depositada, para defesa a ser programada, desde 20 de dezembro do ano passado, data também conhecida como 13 dias atrás. Catorze meses de antecedência para cumprir um objetivo traçado catorze anos atrás, quando decidi trocar as redações da vida, ou seja, o jornalismo, pela sala de aula.

Nesses dezessete meses de ausência tive surpresas. A mais grata delas foi saber que vocês, raros e excetos leitores, por motivos diversos continuaram abrindo essas páginas virtuais de postagens. São incríveis 78 mil acessos na minha ausência de produção escrita. Destaque para os causos, muitos deles, como é o caso do "tico-tico que imita joão-de-barro dorme feito morcego", tendo mais de uma centena de compartilhamentos nas redes sociais.

Também tive o contato com duas pesquisadoras, sendo uma de iniciação científica e outra de mestrado, de universidades públicas, que em suas coletas de dados trabalharam, respectivamente, a construção da opinião pública mediante produção intelectual autônoma e o choque cultural advindo de vivência simultânea em duas regiões geopolíticas distintas (Sudeste e Nordeste).

Da derradeira postagem, em agosto de 2015, até agora foram muitas as despedidas e muitas felizes permanências. Eu mesmo, em setembro de 2015, passei por mais um susto decorrente da cirurgia cardíaca de fevereiro daquele mesmo ano, atingindo um nível de anemia que quase não me fez permanecer. Igual sorte não tiveram meu padrasto Carlos Martins, nosso 'sobrinho' Zé Renato, o Incrível Zé Renato, e o eterno poeta Chico de Assis, meu padrinho no rádio (a quem dedicarei postagem especial).

Na imprensa de Assis, parte de meu foco principal cá nesse Blog, mudanças igualmente radicais. Voz da Terra desmaterializou-se da condição de mais tradicional e sólido veículo de comunicação do Médio Vale para algo que o gênero jornalístico contemporâneo, por mais complexo que seja, talvez não consiga definir ou conceituar. Aliás, dentro da sinceridade que me é parte, não sei se Assis tem, hoje, imprensa escrita. Aliás, difícil dizer se a cidade tem uma imprensa no sentido daquela busca cotidiana pela pauta que interessa ao leitor, e não a quem paga. Dentro de  minha utopia, talvez a cidade é que nunca tenha tido essa imprensa.

Aquele que defino como o maior fenômeno de comunicação do século (me refiro ao período de 2000 para cá, e não aos últimos cem anos), ou seja, o portal Assiscity, mergulhou-se numa crise de identidade, de agosto de 2015 para cá, que assusta tanto quanto o seu volume de acessos nos anos iniciais de funcionamento. Da certeza de fonte de notícias sobre fatos das últimas horas, todas as manhãs, nós, leitores, transitamos para a incerteza de depararmo-nos com aberrações do ponto de vista editorial. Citando apenas uma das tragédias editoriais, o que dizer das 10 dicas para uma mulher ficar mais atraente a um homem?

Já 17 meses atrás eu não ouvia mais as emissoras de rádio da cidade ou da região com a frequência de anos outros. E nas vezes em que sintonizei rádios AM ou FM concluí que grande coisa continuava a não perder. Bendita seja tecnologia, que nos permite colocar algumas centenas de músicas em dispositivos móveis e, em trânsito pela cidade ou nas rodovias, termos opções a emissoras de rádio, comerciais ou universitárias. Um dia, quem sabe, as músicas nos informem sobre o cotidiano.

Motivos para ser otimista com a imprensa local há. Vejo exceção na produção do canal TV Viena, na Cabonnet (que ao menos no site agora é de Presidente Prudente). Um canal com produção local e perceptíveis investimentos em tecnologia. Melhor imagem, melhor som, melhores equipes. Os trabalhos são visivelmente laboratoriais, o que significa dizer que os protagonistas que lá estão aprendem na prática. Mas, aprendem sabendo respeitar a vontade de quem assiste. E quem assiste TV local não quer ver brincadeiras ou gírias do "off", que por ser "off" pode até ser levado ao ar, desde que editado e não preenchendo o mesmo tempo de veiculação do conteúdo que, digamos, deu certo. Fazer TV, rádio ou jornal não pode ser entendido como brincadeira de ciranda. É um fazer sério, pois quem sintoniza, acessa ou compra determinados conteúdos o faz na prática cotidiana do pragmatismo. Até porque há boas e melhores opções de humor que, pagas, rendem risos mais francos.

Outro motivo para ser otimista reside, também, no portal Assiscity. Afinal, nos últimos meses de 2016 a cidade ganhou um importante veículo que mostrou a situação real da cidade. Buracos em ruas, vias mal iluminadas, serviços públicos não funcionando a contento, Tonicão repetindo a história dos últimos 20 anos e sendo interditado em dezembro, coleta de lixo com problemas, fincionalismo público municipal insatisfeito, saúde e educação com dificuldades. Esperança de 100 mil habitantes para que as mesmas cobranças editoriais sejam severamente repetidas nos primeiros 100 dias de governo do novo prefeito, uma vez que os 100 últimas dias do agora ex-prefeito tão expostos foram, com direito a coletiva de imprensa resumida a dois parágrafos, ou seja, com introdução, argumentação e sem a tão necessária conclusão.

Quando fiz a derradeira postagem cotidiana Assis tinha dois clubes de futebol profissional. E, ao menos naquilo que aparenta, continuará com duas agremiações disputando a Segundona Brava. O Tonicão, claro, terá os laudos liberados e receberá os jogos, sem que disso se faça baixo proveito político. Esperança de que se houver transmissão dos jogos via rádio, que isso contemple os dois clubes, e não apenas um só. E, aparentemente, pela primeira vez os torcedores de Vocem e Atlético Assisense testemunharão, em campo, as mesmas realidades administrativa e financeira para a disputa do certame.

No cenário político cá já estou sentado para assistir. Mais uma vez não votei em um prefeito que não represente parcela significativa dos votos necessários governar uma cidade com 100 mil habitantes. Lamentavelmente essa Sucupira do Vale repetiu o erro histórico de lançar SETE candidaturas, pulverizando os já poucos votos daqueles que foram às urnas em outubro passado. Nunca em nossa história local se compareceu tão pouco a uma eleição municipal para votar. Lamentável ver que um prefeito seja eleito em Assis tendo menos votos do que a soma de quem ou não foi votar ou simplesmente votou em branco ou anulou o voto.

Na Câmara Municipal fala-se em renovação, com grande número de vereadores eleitos pela primeira vez. Nomes fortes da política local não se reelegeram. E na composição da atual legislatura vê-se um coletor de materiais recicláveis ocupando igual cadeira que a de um sócio da Rede Avenida de Supermercados. Recebem, pois, hoje, os mesmos salários e dividem os mesmos poderes políticos dois sujeitos sociais que um ano atrás assim se dividiam: um descartava papelão no portão de fundos de seu supermercado e o outro, lá cataria. Recado das urnas, pois um vereador foi eleito a partir da revolta e da vontade popular geridas pelas redes sociais, enquanto o outro conquistou votos a partir de um controle de capital. É esse vereador, um dia coletor de materiais recicláveis, que me fará voltar a frequentar esporadicamente a Câmara, espaço que não frequento há algumas legislaturas. O outro vereador eu continuo encontrando vez ou outra em sua empresa, certamente sem receber seu cumprimento que, digamos, falta alguma me fez até aqui.

Cético em relação a crises, se não acreditava no fiasco econômico atribuído socialmente à ex-presidente em seus anos mais tensos, não será agora que darei crédito a especulações que mostram o país inerte ante a um planeta que igualmente não avança suas economias maiores. Vejo meus amigos comerciantes, sim, lamentando a falta de circulação de dinheiro na praça. Mais por cautela dos consumidores, assustados pelo discurso das mídias de contenção dos gastos, do que necessariamente por falta de crédito. Penso que em agosto de 2015 e em janeiro de 2017 o cenário seja o mesmo, com a diferença de que o país está sob governo de um presidente que certamente não teria sido eleito caso candidato fosse nas eleições gerais de 2014. Lembremos que Michel Temer, em sua última disputa eleitoral como candidato, ficou para suplente de deputado federal por São Paulo.

O ano está só começando. Meu foco continua sendo a cidade de Assis, local onde nasci e escolhi para viver e me despedir. Sou otimista que a Sucupira do Vale caminhe rumo a melhoras, pois seu povo é bom. Não por acaso somos conhecidos como moradores da Cidade Fraternal, que como tal merece ser assim gerida, conduzida e respeitada. Tal fraternidade não tem bandeira, sigla ou determinada ideologia política. Se tivermos que ajudar, claro, ajudemos. Crítica, certamente, faremos.

*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela/na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.


Um comentário :

Felipe Fittipaldi disse...

Seja bem vindo de volta professor.