quarta-feira, 13 de março de 2013

MUNDO AFORA: Dois caminhos de Assis a Curitiba


13 Março 2013 


Cláudio Messias*

Nessa segunda-feira, 11, tive compromissos em Curitiba, capital do vizinho Paraná. Iria de ônibus, mas os únicos horários disponibilizados pela viação Princesa não favoreciam a agenda. Afinal, a previsão era de reunião das 9h30 às 11h30 no Instituto Federal do Paraná, campus tecnológico de EaD, e o retorno, de ônibus, se daria somente às 23h35. Ficaria, portanto, ocioso, por quase 12 horas.

Nesse tipo de circunstância compensa ir de carro. A decisão foi tomada concomitante a outra opção: ir um dia antes. Portanto, sair de Assis no domingo, passar a noite em um hotel e não correr risco de perder o compromisso da manhã seguinte. Sábia decisão, pois se tivesse deixado para sair na madrugada da segunda talvez tivesse chegado atrasado ao compromisso, pois choveu excessivamente e isso fez com que a viagem atrasasse mais de uma hora e meia.

Saí de casa às 15h30. Abasteci no Posto Brasil, calibrei os pneus do carro e segui viagem. Alguns anos atrás eu fazia o trajeto Assis>Palmital>Nossa Senhora Aparecida>Barra do Jacaré>Santo Antônio da Platina. Mas, o estado de abandono a que aquele trecho fora submetido na primeira metade da década de 2000, dez anos atrás, fez com que, em nossas viagens rumo à Grande Florianópolis, nos inícios de ano, mudássemos a rota.

Quem nos sugeriu a rota alternativa foi o casal Carlinhos e Djane Antonucci, candidomotenses que há quase duas décadas moram em Ponta Grossa e fazem periodicamente o mesmo trajeto. Carlinhos já havia insistido anteriormente para que eu optasse pelo caminho Assis>Ourinhos>Jacarezinho>Santo Antônio da Platina. Mas, além do pedágio mais sem sentido do mundo, na divisa entre Paraná e São Paulo, no distrito de Marques dos Reis, aquele caminho aumenta a distância em mais de 20 quilômetros e tem o outro pedágio, de Palmital, para agregar. Descobri, contudo, que mesmo assim há compensação nessa opção.

No final da tarde desse domingo cheguei a Jacarezinho depois de 55 minutos de viagem. E a Santo Antônio da Platina, passada uma hora e dez minutos. Pelo outro caminho, dependendo do trânsito principalmente de caminhões carregados com soja e milho, que prejudicam as ultrapassagens no trecho excessivamente marcado por curvas e subidas, chegar a Santo Antônio da Platina pode levar de 1h40 a 2h10, fora o estresse. Ir por Ourinhos significa desembolsar 11 reais de pedágio e vergonhosamente transitar por pistas simples, mas com trechos de faixa adicional.

Quando passei Santo Antônio da Platina começou a chover. O céu escureceu, de maneira a obrigar-nos, motoristas, a usar os faróis. Até chegar a Ibaiti a velocidade racional era inferior a 80 km/h, ainda assim com sustos. Aquela rodovia federal passou ou está passando (está mais para o tempo passado, pois não há sinal de maquinário ou homens trabalhando) por recapeamento e alguma alma não muito portadora de neurônios inventou de aplicar a nova camada asfáltica sem encobrir as faixas amarelas centrais. Algo em torno de 5 centímetros de profundidade de um canal que, por estar entre as duas novas pistas, obviamente enche de água pluvial que não tem por onde escoar. Foi nesse canal que as rodas direitas de meu carro aquaplanaram quando fiz a ultrapassagem de um Parati (modelo Gol Geração III), cujo condutor dirigia a menos de 40 km/h e colocava a segurança de todos em risco. Frações de segundo no meu retorno à pista da direita depois da ultrapassagem e, por sorte, retomei o controle sem dar o famoso giro de 360 graus. Não, claro, sem dirigir por pelo menos 20 quilômetros sem sentir as pernas, que bambearam de susto.

Depois de Ibaiti praticamente inexistem as faixas adicionais. Até chegar a Ventania fiquei quase uma hora transitando a uma velocidade que variava de 20 km/h a 40 km/h, atrás de uma fila imensa de caminhões cujos condutores não respeitavam o espaço mínimo que desse lugar aos veículos mais rápidos para as devidas ultrapassagens. De minha parte, se já não ultrapasso, à noite, sem as mínimas visibilidade e condições de segurança, piorou em noite chuvosa. Naquele trecho, ainda, minha atenção é redobrada, bastando lembrar que foi ali, mais precisamente em Piraí do Sul, que no ano passado um ônibus de turismo perdeu o controle e matou, numa ribanceira, mais de 30 estudantes nordestinos que se dirigiam para um congresso em Curitiba.

Cheguei à rodovia duplicada que liga Piraí do Sul a Curitiba por volta das 20h30. Quase cinco horas depois de ter saído de Assis. E tinha pela frente praticamente 1/3 da viagem. A chuva tinha diminuído a intensidade, concomitante ao despencar da temperatura. Passei por Ponta Grossa às 21h10, debaixo de neblina e garoa. Exatamente uma hora depois entrei em Curitiba e fiz a pior das opções. Em vez de ligar o GPS do carro, parei em um posto de combustíveis e perguntei ao frentista onde ficava o hotel Íbis Budget, antigo Fórmula 1. O cara confundiu com o autódromo da cidade e me mandou para o lado anverso. Só fui dar conta disso quando parei em outro posto de combustíveis e pedi informações. Daí, então, liguei o GPS e rodei os absurdos 8,6 km até o ponto correto, por volta de 22h40.

Sou cliente da rede Íbis há anos e concordo com as críticas que meus amigos fazem a esse grupo hoteleiro multinacional. Mas, ratifico o que sempre disse: em algumas ocasiões, preciso de um lugar para tomar um banho quente, dormir em uma cama limpa e confortável e seguir viagem. Era a circunstância desse domingo e o Íbis, com uma diária de R$ 104,00 + R$ 10 do café da manhã, caiu como uma luva. Ao ponto de, na manhã seguinte, eu estar em pé às 7h00, fazer meu café da manhã e às 8h10 ter concluído o check-out. Vinte minutos depois eu estava na Vila Oficinas, ao lado da ALL, preparando meu compromisso no Instituto Federal.

O retorno – Minha reunião, juntamente com os demais 110 professores convocados para o curso Agente Comunitário de Saúde, que será oferecido a 9 mil cursistas de todo o país, em plataforma de EaD (sistema em que as aulas, ao vivo, são transmitidas para polos do Instituto Federal de Educação em todos os estados, locais estes com salas de aula e tutores, que fazem o controle obrigatório de presença dos alunos), terminou às 11h20. Missão cumprida, retorno à base.

Dessa vez, fui vítima do GPS. Se estava a 6 km do hotel Íbis Budget, que por sua vez está a 4 km da saída para Ponta Grossa, meu trajeto teria de ser de no máximo 10 km até sair de Curitiba. Mas, o GPS definiu como rota a BR-153, a Régis Bittencourt. Fiz uma rota que faz lembrar o Rodoanel, em São Paulo, e circundei a capital paranaense por intermináveis 22 km, em meio a obras, paradas, desvios e aquela incessante voz da gravação dizendo no meu ouvido “novo cálculo da rota, novo cálculo da rota”. Claro que me dei conta desse caminho totalmente sem sentido quando parei em um posto BR para abastecer e fui informado pelo frentista de que saí de Curitiba pelas portas dos fundos.

O trajeto entre Curitiba e Ponta Grossa é caracterizado por inúmeros pontos comerciais interessantes aos olhos de viajantes e turistas que por ali transitam. Aqui em casa temos consumo compulsivo por porcelanas vendidas naqueles arredores. E como havia esquecido de calibrar novamente os pneus do carro na saída de Curitiba, parei em um posto Ipiranga que tinha, agregados, um restaurante simples e uma loja denominada Ponto da Porcelana. No restaurante Jusita comi uma polenta com linguiça cuja definição deixo para a imagem da foto abaixo. Paguei R$ 11 e, garanto, vale mais do que qualquer prato feito ou mini-rodízio que se encontram pelas beiras de rodovia.

Foto Blog do Messias
Restaurante Jusita, onde almocei


Foto Blog do Messias
Minha intenção era comer um salgado e tomar um
suco, mas, como se vê, a opção era melhor


Refeição feita, entrei na loja de porcelanas. Interessante, entendo, ver o quão diverso é o domínio sobre o que ora pode ser chamado de arte, ora pode ser chamado de produto. E se a sua pergunta, raro e exceto leitor, é relacionada a preço, digo desde já que compensa. E compensa muito. Por exemplo, um jogo de jantar top de linha da Schmidt sai por R$ 46,90, com 4 peças de cada item (total de 60 peças). Um quadro de baiana com vitral em porcelana, feito à mão, por R$ 28. Aumentei, claro, meu arsenal de cumbucas para servir o tradicional arrumadinho de carne-de-sol cuja receita trouxe de Campina Grande, na Paraíba. Cada um, em ponta de estoque, saiu por R$ 6, em porcelana branca sem estampas. O preço normal de uma cumbuca dessa é de R$ 20. No caso da minha escolha, as cumbucas tinham agregado cinza do forno no fundo, no interior, o que faz cair o preço de mercado mas não a higiene e a qualidade da mercadoria.

Foto Blog do Messias
Porcelanas, nesse trecho próximo a Curitiba, costumam ser
50% mais baratas em relação ao que se paga nas lojas aqui na cidade



Peguei a estrada, definitivamente, às 14h10, debaixo, claro, de chuva. Tinha como destino Assis, mas, como afirmo no título deste texto, por outro caminho. Programei uma parada na casa de minha mãe, Luzia, em Chavantes. E isso significa chegar a Piraí do Sul e seguir à direita, rumo a Tomazina, e não Ventania. Rodovia pedagiada e com razoável conservação até Arapoti. No trecho até Siqueira Campos acaba o pedágio e piora o estado da pista, que começa a ter buracos. Com chuva, redução da velocidade para a média de 80km/h.

Na chegada a Wenceslau Brás uma cena triste. Uma carreta de soja parada no meio da pista. Passo ao lado, vejo o eixo direito do caminhão quebrado, assim como o para-choque e o para-lama. Algumas pessoas à beira da pista. Estaciono e, no declive ao lado do acostamento, a traseira de uma Fiorino. O condutor não resistiu ao impacto. Polícia Rodoviária chega, eu saio. Sigo viagem. Em Joaquim Távora, entro. Avanço até o cruzamento que tem um posto de combustíveis à esquerda e viro à direita. Sigo em frente e estranho carros, casas e ruas repletos de material de campanha eleitoral. Deduzo que por lá a lei da ficha limpa tenha prevalecido em 2012, havendo necessidade de nova eleição para prefeito.

Passando Carlópolis há uma barraca onde tradicionalmente paro no retorno de nossas viagens de férias – sempre passamos em Chavantes nesses retornos. Nessa barraca são vendidas cebolas e alhos em réstias. E também pimentas feitas pela família que habita de maneira rústica aquele casebre transformado em venda. Trouxe duas réstias de cebola, uma de alho e uma abóbora, ao preço de R$ 5 cada unidade. Tinha R$ 20 e fiquei na dúvida entre levar a abóbora, grande, ou uma moranguinha. Trouxe as duas abóboras, pois a menor veio de presente do vendedor, a quem conheço há mais de dez anos. Relações interpessoais que só o interiorzão caipira proporciona.

O trajeto entre Carlópolis e Ribeirão Claro é, na minha opinião, um dos mais confusos por onde já transitei nessa vida. A coisa ali é tão estranha que até o GPS dá denominação de “estrada sem nome” e tem hora que mostra o cursor-guia ‘sobrevoando’ o nada, ou seja, sobre o verde imenso, como se ali não houvesse estrada. E pode um motorista perder-se no local por onde passa há mais de dez anos? Pode, sim. Pode porque eu, de novo, errei um dos trevos que, por sinal, não tem placa indicando para onde cada destino vai. Já começava a cair a noite quando entrei no lugar que imaginava ser Ribeirão Claro. Avance duas quadras, virei à direita e procurei a placa indicando “Chavantes”. Para minha surpresa, a cidade acabou antes da hora. Avistei um menino, perguntei para onde ficava Chavantes e tive como resposta um enunciado assustador para esse tipo de momento:
_ Chavantes? Vixe, o senhor tá longe, hein!

Delícia de resposta para quem costuma perder-se naquele trecho. Quando perguntei se ali era Ribeirão Claro, o menino foi mais enfático ainda:

_ Que Ribeirão Claro? Aqui é Cachoeira!

Ah, sim. Cachoeira. E eu nunca tinha ouvido falar daquele distrito na vida. Mas, fui orientado a retornar até o trecho onde entrei à direita. O correto, dizia o menino cachoeirense, era manter-me à esquerda e seguir. Retornei e no primeiro trevo vi que não havia opção de seguir para a esquerda. Havia, ali, uma estrada cascalhada, que com a chuva tinha imensos buracos. E, óbvio, eu não me recordava de nas viagens anteriores ter feito qualquer trecho em cascalho. Deduzi que em vez de cascalho tratava-se de rodovia castigada pelas chuvas e segui. Tudo escuro e eis que a estrada termina em uma porteira. Fiz o retorno, perseguido por alguns cachorros nada simpáticos, passei novamente pelo trevo de Cachoeira e fiz o caminho inverso.

Foto Blog do Messias
Trecho em que me perdi, próximo ao distrito de  Cachoeira


Foto Blog do Messias
Nuvens baixas, garoa e a noite chegando: estranha sensação 
de estar perdido na estrada por onde sempre passo


Passados uns dois quilômetros, uma carroça parada em cima da pista de asfalto. Um velho senhor amarrava o burro debaixo de chuva e proporcionou uma cena perigosa: a carroça dele parada numa pista, meu carro parado na outra. Não há acostamento naquele trecho todo, de maneira que estacionar na grama pode significar, com chuva, não conseguir sair. Com toda paciência do mundo o velho senhor, cego de um dos olhos, pediu um pouco de tempo para terminar de amarrar o burro, “senão ele sai em disparada”. Esperei, de olho nos retrovisores, atento a eventual aproximação de outros veículos. Feito o serviço de segurar o burro o velho veio e respondeu que para seguir a Ribeirão Claro e depois Chavantes eu teria de retornar quatro quilômetros e, no trevo, seguir à direita, e não à esquerda, como teorizara o menino em Cachoeira.

Agradeci, retornei e encontrei o tal trevo. Na realidade, uma pequena rotatória que tem três caminhos possíveis. A indicação de destino a Ribeirão Claro, parece piada, está em uma placa instalada depois da rotatória, e não antes. Desavisados como eu passam direto e seguem até Cachoeira, pois para esse destino não se entra na rotatória. E o detalhe nisso tudo é que por mais vezes que tenha passado por ali, não me recordo dessa rotatória nas viagens anteriores.

Lamentei, apenas, que o registro de imagens daquela região tenha sido feito somente até Cachoeira. Depois, quando passei por Ribeirão Claro, já era noite. Os enormes paredões, bem como o lago formado pelas usinas hidrelétricas, proporcionam imagens muito belas.

Cheguei a Chavantes às 20h30. Jantei arroz, feijão, bife e salada de alface com tomate, cardápio típico de dona Luzia. Exagerado, repeti três vezes e paguei o preço, pois o corpo pediu repouso da longa jornada. Mas, tinha 90 km pela frente ainda, até Assis. Saí da casa de mamãe às 21h20, peguei mais chuva forte entre Chavantes e Ourinhos e entrei em Assis às 10h15.

Atualização 1 - 16h47: Alguns amigos do Facebook cobraram fotos relacionadas à 'vendinha' onde comprei, em Carlópolis/PR, as réstias de cebola. Uma das réstias deixei com minha mãe, Luzia, em Chavantes. A outra está aqui em casa, ao lado da churrasqueira, na cozinha dos fundos da casa, local onde fazemos mais de 90% de nossas refeições cotidianas no ano. As demais fotos são das porcelanas e do quadro, todos comprados na viagem.


Foto Blog do Messias
Uma das réstias de cebolas já está ao lado de minha churrasqueira


Foto Blog do Messias
Duas travessas, seis cumbucas, um jogo de três travessas, dois cinzeiros 
(para visitas fumantes), oito pratos e um cofre do Timão, para minha sobrinha Tamires


Foto Blog do Messias
De todos os artigos, o que mais me surpreendeu pela relação qualidade/preço
foi esse quadro de baiana estilizada em vitral de porcelana


Atualização 2 - 17h13: Tem, também, o curioso que quis ver a abóbora e o alho. Pedido atendido, eis a foto:

Foto Blog do Messias
A abóbora e o alho comprados em Carlópolis. A moranguinha 
já foi pra mesa no almoço de hoje




·       * Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

2 comentários :

Scolaro disse...

Claudio, duas sugestões: 1º- próxima viagem a capital paranaense experimente o trajeto Assis-Palmital-Jacarézinho-Sto Antonio da Platina, estrada boa e sem pedágio, a distância é a mesma, 2º- quanto a hotel, no contorno sul de Curitiba vai encontrar com fácil acesso o Hotel10, mesmo padrão Ibis, mas com acomodações mais amplas, preço final talvez alguns reais mais barato, sem o inconveniente de pagar o café, o estacionamento e a internet separados da tarifa do quarto, além do que tem um belo restaurante ao lado do mesmo.

Scolaro disse...

Ia me esquecendo, obrigado pela dica da polenta com linguiça.