quinta-feira, 21 de março de 2013

Assis encerrou verão mais seco dos últimos anos


21 Março 2013


Cláudio Messias*

A garoa que está caracterizando o início do outono dá a falsa sensação de que está chovendo o bastante no Médio Vale do Paranapanema. O clima, ameno, ajuda a enganar ainda mais. Mas, ao menos aqui no Blog, não é de agora que estou alertando sobre a estiagem que afeta a região de Assis, bem como o fato de a temperatura ter ficado abaixo da médias, para o período, em relação aos últimos anos. E as estatísticas mostram que às 8h01m59s de ontem foi encerrado o verão mais seco dos últimos anos.

Uma demonstração de que a incidência de chuvas está insuficiente são os rios da região. Quem transita com frequência entre os estados de São Paulo e Paraná pela SP-333 vê que o nível do rio Paranapanema continua baixo. As margens recuaram 90 metros no segundo semestre do ano passado, chegando a baixar o nível da lâmina d´água em 3 metros. A explicação, na época, relacionava o fenômeno à abertura das comportas das usinas hidrelétricas de Canoas e Capivara, de modo a permitir vasão que abastecesse a bacia do rio Paraná e, assim, a usina de Itaipu.

O período de chuvas, na região, é iniciado em outubro. Dezembro, janeiro e fevereiro costumam registrar o ápice das precipitações pluviométricas. As tais chuvas de verão, contudo, não vieram no ritmo médio histórico. No biênio 2011/2012 os verões foram os mais secos das últimas décadas. E também fez menos calor do que o normal para a época. E o que é mais interessante, esse fenômeno tem atingido espécies de “ilhas” de incidência atípica. Assis e Palmital, por exemplo, distantes 30 quilômetros uma da outra, mostram desempenho totalmente diferente nos dados relacionados ao clima.

Na média anual de 2012 Assis registrou temperatura máxima de 36 graus, enquanto Palmital marcou quase dois graus a mais: 37,9. No acumulado de chuvas Assis teve, no ano passado inteiro, 225 milímetros e Palmital, 144 mm. Em estimativa mais recente, relacionada a janeiro passado, essa disparidade incide na realidade de chuvas em Assis e Cândido, distantes apenas 8 quilômetros. Choveu, em Assis, o equivalente a 97 mm, enquanto em Cândido Mota esse índice foi muito maior: 127 milímetros.

Mas é o comparativo dos três últimos verões que traz preocupação. Segundo dados do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (CIIAGRO), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, de 740,1 milímetros de chuvas registradas no trimestre dezembro/janeiro/fevereiro, em 2010/11, a região de Assis caiu para 520,3 milímetros no trimestre que foi de dezembro de 2012 a fevereiro passado. O déficit de 220 milímetros equivale, por exemplo, a todo o acumulado de dezembro do ano passado. É como se não tivesse chovido o equivalente a um mês normal de chuvas no verão passado.

No cenário atual Assis encontra-se há 23 dias sem o registro de índice diário superior a 10 milímetros. No dia 17 de março o CIIAGRO definia como reposição de água necessária uma precipitação sequenciada de 28 milímetros. Isso coloca a condição de desenvolvimento vegetal em estado crítico, de maneira que, com reserva hídrica abaixo do necessário, as próximas culturas de inverno possam ter reflexo negativo na média geral de produção por hectare plantado.


CENÁRIO DAS CHUVAS EM ASSIS
Ano
Mês
Chuvas (mm)
2010
dez
174,5
2011
jan
352
2011
fev
213,6
740,1
2011
dez
117,7
2012
jan
336,4
2012
fev
98
552,1
2012
dez
225,7
2013
jan
97,8
2013
fev
196,8
520,3
Fonte: CIIAGRO


Ilustração: CIIAGRO
Percebe-se que a maior "ilha" de deficiência 
hídrica do solo começa, a sul, por Assis


Ilustração: CIIAGRO
A baixa reserva hídrica implica diretamente no 
comprometimento do desenvolvimento vegetal das culturas





*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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