Cláudio Messias*
O blogueiro encontra-se, como informado em postagem anterior, na fase final de cumprimento a quatro disciplinas no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, o PPGCOM-ECA-USP. Desde agosto passado a concentração das atividades remete à presença, semanal, de terças, quartas e quintas-feiras no espaço da pesquisa visando ao doutoramento, em andamento. Em semanas como a atual, o blogueiro permanece de segunda a sexta-feira na USP, honrando compromissos com eventos e congressos. Essa rotina de viagens semanais a Sampa delonga-se até a primeira semana de dezembro, a partir de quando a dedicação passa a ficar centrada na produção da versão preliminar de tese a ser depositada, para qualificação, no final de fevereiro de 2016. A previsão de defesa da tese é para outubro do ano que vem.
As notícias advindas da Sucupira do Vale, contudo, não cessam. Algumas delas fazem o blogueiro abrir exceção como essa. Informações relacionadas ao futebol dito 'profissional' de Assis e seus personagens. Sim, meus amigos, assim como os demais raros e excetos leitores, razão da existência do Blog, costumam dar identidade a esse espaço como sendo território do futebol da Segunda Divisão, dada a alta concentração de postagens relacionadas ao tema. Mas, há também seletos grupos de frequentadores assíduos, como é o caso de leitores que sequer conhecem Assis, mas que utilizam a emblemática postagem sobre o acidente que matou membros da família Moraes, do Grupo Votorantin, três anos atrás, para debater e repercutir acerca de assuntos relacionados à aviação civil de pequeno porte. Há de se ressaltar, nesse aspecto, que até hoje são feitas interações, em língua inglesa, com leitores que visitam o Blog advindos de países principalmente do eixo europeu.
Mas há, também, os leitores apreciadores da culinária caseira, rotineira. Por mais de uma vez o blogueiro foi acionado por outros e outras colegas blogueiros e blogueiras, dialogando sobre postagem que, também datada de três anos atrás, mostra como preparar arroz integral. Esse assunto é o terceiro no ranking de acessos do Blog, que hoje passa da casa dos 166 mil acessos, e de 1,2 milhões de visualizações. São, em todos os casos, postagens cuja finalidade é contribuir, de alguma forma, com essa complexa sociedade que forma a audiência das mídias sociais. O blogueiro, quando de atuação, por 28 anos, na mídia da modernidade, ou seja, da tecnologia analógica, escrevia seus conteúdos para um público pré-determinado pelo alcance das ondas do rádio, seja ele AM ou FM, e pela limitação da circulação dos jornais impressos, a maioria com uma territorialidade regional ou, quando muito, nacional. Hoje, no contexto das mídias pós-modernas e sob a desterritorialização da informação, dentro de uma perspectiva de convergência de todas as linguagens mediante uso de diversas plataformas tecnológicas, uma postagem, como essa, agora, que está sendo feita, ganha dimensões incomensuráveis do ponto de vista do controle de autoria. Há, pois, como estudamos cá, na USP, um novo apoderamento das formas de expressão, de maneira que o impacto de uma postagem feita ganhe, potencialmente, ainda mais impacto se comparado às formas de comunicação existentes duas, três décadas atrás.
Como dito no início dessa postagem, as informações advindas da Sucupira do Vale não cessam. A mais recente delas, e impactante, condiz a uma informação que, por questões éticas, certamente não será transformada em notícia. Mas, serve de parâmetro sobre o quão perigoso e danoso tem se resumido o universo da apropriação do poder da palavra, em especial nas redes sociais. Um indivíduo escolhe uma ou mais pessoas a quem quer atingir e ofender e dispara uma verdadeira metralhadora de palavrões, acusações infundadas e ofensas, muitas ofensas, com o perfil característico de, insatisfeito com a verborragia insana e desequilibrada, sair da palavra e materializar a ameaça, muitas vezes prenunciando agressões físicas. Plataformas como o Facebook e, recentemente, o Whatsapp são os territórios utilizados para esse tipo de covardia da mais cruel, pois, estratégico, o sujeito, quando escolhe seus alvos, via de regra os exclui, covardemente, de seus grupos de "amigos", para então apertar o gatilho da metralhadora repleta de verborragia.
Em minhas postagens, ao longo desses últimos três anos, fica evidente a minha confiança na Justiça desse país. Não poupo esse dito Poder Judiciário de críticas, uma vez que suas falhas, reconheço, advêm de seu pertencimento enquanto aparelho do Estado. Meus alunos de graduação e de pós-graduação cansam-se de ouvir, em minhas aulas, que minha concepção sobre a constituição dos poderes imagéticos, simbólicos, de constituição da sociedade civil mostra a imprensa como terceiro, e não o virtuoso quarto poder. Nesse ínterim, o primeiro poder constituído tem a centralidade do Estado, ou seja, Executivo, Legislativo e Judiciário são parte de um mesmo poder. O segundo poder é a Igreja. E o terceiro poder é justamente aquele emanado dos grupos de comunicação, agora agregados pelas redes sociais. A Justiça, em sua representação hegemônica, é a única de todas essas partes que tem poder absoluto, de maneira a afastar um membro do Executivo, condenar um membro do Legislativo e garantir direitos e deveres de comunicadores e comunicólogos sociais. Falta, ainda, avançar na sua relação sobre a Igreja.
Pois é a sentença emitida por essa Justiça que faz, nessa derradeira semana de outubro rosa, quem comunica e quem recebe comunicação, ou seja, os interlocutores dos processos comunicacionais, ter o verdadeiro sentido de justitia. Sim, justitia deusa em sua acepção contemporânea. Talvez o valor financeiro de uma condenação não finde o caminho das ofensas, uma vez que a construção de um sujeito social ocorre pela cultura, e não pelas ações de intervenção isoladas. Assim, pouca ou nenhuma esperança de que o sujeito agressivo, verborrágico, vá mudar em sua essência. Mas, com certeza, tende a pensar, a partir do bolso e pelo histórico civil que passa a constituir nos cartórios do Fórum, um pouco mais antes de, à base da arrogância e da certeza de impunidade, escrever sobre outrem. Há, pois, regras sociais necessárias para a harmoniosa convivência para com os pares.
Difícil dizer que a Justiça esteja feita na Sucupira do Vale. A condenação do arbitrário remete a uma utópica esperança de que pelo menos uma dezena de outras pessoas não terão mais seus nomes e suas opiniões reproduzidos e esculhambados no espaço restrito em que o dono da ofensa limita-se a sobreviver nas redes sociais. De tudo isso, a única certeza que resta alimentar é justamente essa cá, de agora, ou seja, as postagens do Blog vão continuar, no ritmo humanamente possível do blogueiro. Opinião, sabemos, cada um tem a sua. Mas, opinião vem exatamente da premissa de que todos temos liberdade de expressão, e, como entende a Justiça, com igual responsabilidade sobre cada enunciado emitido. Fugir disso, ultimamente, tem custado mil reais no modo romano, no latim tardio, de entender uma semana.
* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.
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